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quarta-feira, fevereiro 19, 2025

L. RUAS EM A CRÍTICA

 O matutino A Crítica, fundado em Manaus em 1949, ao completar 60 anos resolveu homenagear seus colaboradores. O padre-poeta L. Ruas foi colunista deste jornal entre 1957-58, porém falecido em 2000. A par desta constatação fui à direção do matutino, que publicou em novembro de 2009 o tributo aqui postado.

A Crítica, 24 novembro 2009
Recém ordenado padre, o jovem Luís Ruas (1931-2000) ingressou no mundo das letras como membro do mais importante grupo literário do Amazonas, o Clube da Madrugada, na década de 50. O exercício da escrita está presente em vários artigos que publicou em jornais locais e em quatro livros - o mais conhecido deles é “Aparição do Clown”, reeditado pela editora Valer.

Estreia

A estreia do padre escritor, que assinava como L. Ruas, nos jornais ocorreu nas páginas de A CRÍTICA, em agosto de 1957. A passagem de L. Ruas pelo jornal foi curta - ele parou de escrever em março de 1958 -mas o suficiente para deixar saudades nos leitores e admiradores, que ficaram inconformados com o fim (voluntário) de suas publicações. “Os leitores reclamaram sua ausência. Duas ou três dessas cartas foram publicadas após sua saída”, diz o pesquisador e escritor Roberto Mendonça, que, atualmente, realiza uma investigação sobre os textos de L. Ruas nos jornais de Manaus e que nunca chegaram a ser reunidos em livros.

A coluna mantida por L. Ruas foi batizada de “Ronda dos Fatos”. O autor tinha liberdade para escrever o que quisesse, seja em prosa ou em verso. Mendonça diz que L. Ruas escrevia sobre problemas urbanos e sociais, mas também transitava no mundo das artes, versado sobre cinema e literatura. A publicação era diária, mas não seguia um cronograma permanente. Houve um momento em que ele escrevia apenas uma vez por semana.

Apresentação

L. Ruas foi “apresentado” ao fundador do jornal, Umberto Calderaro, pelo professor Orígenes Martins, que na época iniciava sua bem-sucedida carreira como proprietário de escola particular. “O jornal estava em fase de crescimento. O professor Orígenes era colega de seu Calderaro e sugeriu o nome do padre para a coluna”, conta Mendonça. Para Mendonça, L. Ruas, porém, não conseguiu encontrar disponibilidade para desenvolve suas atividades na Igreja, no magistério, no Clube da Madrugada e na coluna do jornal.

Despedida 

Em seu último texto no jornal, publicado no dia 28 de março de 1958, L. Ruas justifica (ou tenta justificar) o fim da coluna, após se deparar com os protestos dos leitores. O autor, em um estilo introspectivo, diz em determinado trecho: “Bem que eu poderia jogar a responsabilidade do desaparecimento da Ronda as costas desse velho larápio que nos rouba tudo. Tudo. Rouba-nos os amigos, as coisas, as paisagens, a preciosa mocidade, a própria vida. Mas seria injusto com o famigerado ladrão. Daria, sim. Não, não era o tempo. Seria antes falta de disposição. Cansaço talvez. Falta muitas vezes aquela disposição orgânica indispensável. E a gente cede aos reclamos do corpo. Não é possível roubar este mínimo de recreação das forças despendidas".

“Universal”

Antes de escrever para A CRÍTICA, L. Ruas possuía uma coluna em um semanário da Igreja Católica chamado “Universal”. Ele ainda manteria, nas décadas seguintes, outras colunas, escrevendo, ocasionalmente, em veículos como “O Jornal” (já extinto) e “Jornal do Commercio”. O padre e escritor voltaria a escrever em A CRÍTICA nos anos 80, segundo Roberto Mendonça, mas em períodos esparsos.

Coletânea

Roberto Mendonça, que possui uma coletânea dos textos de L. Ruas –“jornais, incluindo “Tempo e Disposição”, conta que o autor escrevia com “competência e destemor”. “Ele procurava levar ao leitor informações diversificadas. A condição dos ônibus, a situação dos bairros, com destaque para o de São Jorge, onde era pároco, literatura, cinema, fazendo apreciação dos filmes em exposição. Também falava de teatro, do qual participou como ator e diretor e debates políticos, como o que travou com o saudoso Jeferson Péres, então dois jovens intelectuais. E também noticiava assuntos da Igreja, da qual era sacerdote”, diz Mendonça, que estima um total de 800 textos escritos por L. Ruas nos jornais de Manaus.

Seminarista

L. Ruas era o nome artístico de Luiz Augusto de Lima Ruas. Nasceu em Manaus, em 1931, na avenida Joaquim Nabuco. Foi filho de Horizontino e Emília Ruas, e sobrinho do pintor e decorador Branco Silva. Ruas ingressou no Seminário São José, aos 12 anos, onde concluiu o curso de humanidades, conhecido hoje por ensino médio. O curso de filosofia encerrou no seminário da Prainha, em Fortaleza e, no Seminário do Rio Comprido (RJ), inicia o de teologia (1952-53). Foi ordenado padre em 1954, na Catedral de Manaus.

Currículo

É considerado o fundador da paróquia de São Jorge. Também lecionou na Faculdade de Filosofia, antes de ser absorvida pela Ufam. Era seu diretor, quando foi preso pelo Governo Militar (1964). Ingressou no Clube da Madrugada em 1955, convidado pelo poeta Jorge Tufic. L. Ruas também esteve envolvido no movimento cinematográfico e teatral da Cidade.

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