Em 30 de outubro de 1930, surgiu em Manaus O Jornal (conhecido pelas iniciais OJ), matutino que liderou a imprensa amazonense durante décadas. Fundado por Henrique Archer Pinto, funcionava em prédio próprio na avenida Eduardo Ribeiro. Rivalizando com o Jornal do Comércio, do velho Vicente Reis, cuja redação ficava praticamente ao lado do OJ na mesma avenida. Segundo o saudoso professor Mário Ypiranga, Henrique e Vicente não se davam bem. O Jornal, no entanto, detinha a maior tiragem, disponho dos melhores jornalistas e a melhor impressão - à rotativa.
Essa
liderança era conhecida por um jingle que rodava nas rádios de Manaus nos anos
1940 e 50: “Só acredito, só posso acreditar, se O Jornal de Manaus
confirmar. Olha O Jornal!... O Jornal de Manaus…” Esse matutino detinha
uma força junto ao público, permitindo eleger políticos e influenciar os
governantes. Promovia concursos públicos, tal como uma espécie de loteria
intitulada “Concurso de Palpites”, e também as sensacionais corridas ciclistas
e pedestres, além do Festival Folclórico e os concursos de Rainha do Carnaval.
Em 1932, Henrique
criou o vespertino intitulado Diário da Tarde, com seis páginas diárias
e oito aos domingos, enquanto o OJ circulava com oito páginas diárias e doze ou
dezesseis aos domingos. Por sua redação passaram jornalistas como Philippe
Daou, Milton Cordeiro, Almir Diniz, Ajuricaba de Menezes, Irisaldo Godot,
Ulisses Paes de Azevedo, Ana Maria, Heliandro Maia e tantos outros.
Recorte da primeira página do vespertino |
Com o
falecimento de Henrique Archer Pinto, assumiu a direção do OJ seu filho
Aguinaldo, com a morte deste em 1956, e¸ posteriormente do seu irmão Aloisio, assume
a viúva de Aguinaldo, dona Maria de Lourdes Archer Pinto, em 1961, que ascendeu
ao cargo após ganhar a questão na Justiça.
Todavia, a
derrocada se acentuava, em particular com o episódio que ocorreu no início da
década de 1970, em função da saída dos jornalistas de Daou e Milton (para
cuidar da instalação da TV Amazonas em 1972), e Ulisses Paes e outros, autênticos
esteios do matutino. Maria de Lourdes (Betina) restou praticamente isolada no
comando e direção do OJ. Era muita atividade para ela realizar, devido sua inexperiência.
As dificuldades acumularam-se e não havia solução nenhuma. A redação e a
oficina foram esvaziando aos poucos. O material usado prejudicava a impressão
devido ao uso intenso e o desgaste, devido a inexistência de manutenção ou
renovação. Mais grave, começou a atrasar o pagamento dos funcionários. De outro
modo, os concorrentes melhoravam as suas redações e oficinas com impressão no
sistema “Off Set”. assim, o OJ foi aos poucos perdendo a liderança da imprensa amazonense.
Breve melhoria
ainda aconteceu em 1972, quando o Grupo TAA assumiu a direção de OJ, realizando
enorme investimento que permitiu contratar novos profissionais e adquirir novos
materiais. Desse modo, a tiragem aumentou, os anunciantes, que haviam
abandonado as páginas, voltaram, e o pagamento dos funcionários foi normalizado.
Todavia, menos de um ano depois, o grupo se desfez e a direção voltou a Lourdes
Archer Pinto, que se viu novamente em “maus lençóis”, fazendo extremo esforço para
manter O Jornal em circulação. O então INPS (Instituto Nacional de
Previdência Social) cobrava uma dívida vultosa, acumulada durante muitos anos. Na
tentativa de quitar o débito, alguns bens foram penhorados. E mais uma ruína: em
outubro de 1975, o Diário da Tarde do grupo deixa de circular
definitivamente.
A redação
ficou reduzida a três funcionários: o secretário, o subsecretário e um repórter
esportivo, que se desdobravam para gerenciar O Jornal. Dos dez
linotipistas restaram seis, e de cinco máquinas de impressão funcionavam apenas
duas, depois, uma, a outra parou por falta de manutenção. Os anunciantes
simplesmente sumiram e os poucos exemplares eram destinados aos órgãos
oficiais. E o desastre foi se acumulando: o material para impressão começou a
faltar, o papel era conseguido utilizando tocos de bobina; o pagamento era realizado
através de vales; e os poucos funcionários decidiram faltar ao trabalho. Por fim,
os anúncios pertenciam aos amigos que apenas desejavam ajudar.
Contudo, o
dia fatídico chegou: em 14 de fevereiro de 1977, às vésperas do
Carnaval, a então CEM (Companhia de Eletricidade de Manaus), cortou o
fornecimento de energia. Findava assim, triste e melancólico O Jornal, definitivamente
fora de circulação. O prédio e os equipamentos foram penhorados para pagamentos
de dívidas. Enfim, o prédio foi demolido em outubro de 1980, e, em nossos dias,
no local funciona uma agência do banco Santander.
(*) A postagem e a ilustração pertencem ao Ed Lincon, estudioso da história de Manaus, tendo no prelo uma viagem pelos cinemas da Capital. Segue copiando com sua aptidão artística as fotos mais representativas de Manaus.
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