CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, outubro 29, 2024

EUCLIDES DA CUNHA E OS SALESIANOS

Enquanto continuo a estudar o livro "De Tupan a Cristo" (1965), publicado pelos Salesianos, compartilho uma passagem sobre Euclides da Cunha (1866-1909), uma figura de grande relevância na literatura brasileira, com quem os Salesianos tiveram contato em Lorena (SP) e,
assim, fizeram uma valiosa reflexão a seu respeito. Euclides esteve no Amazonas cumprindo uma missão diplomática, navegando pelos rios Solimões e Javari.
Euclides da Cunha

 Essa memória é atribuída a dom Pedro Massa SDB (1880-1968).

Recorte da página sobre o autor de Os Sertões

 Euclides, apesar de seu caráter reservado, de sua conversa sóbria e reticente, apreciando mais o silêncio e a palavra alheia do que a própria, comprazia-se com aquele meio intelectual: padre Emanuel Gomes, futuro arcebispo de Goiânia [GO]; Helvécio, seu irmão, futuro arcebispo de Mariana [MG]; César Mourão, mais tarde bispo de Cafelândia [SP]; Aquino Correa, futuro acadêmico e arcebispo de Cuiabá [MT]; João Ravizza, latinista e membro da Arcádia Romana, Marcigalia, escritor e poeta, Lorandi, humanista e poeta, apreciado por Machado de Assis.

Compensava-se assim da monotonia daquela atrasada cidade do interior, onde o haviam chamado e o detinham serviços públicos de engenharia, e os salesianos retribuíam a amizade, estabelecendo-se – embora tão separados pelo pensamento e pela fé – uma relativa intimidade com o grande literato e escritor. De fato, como sinal dessa amizade ofereceu ele ao colégio a mesa paupérrima onde ele havia escrito no Rio Pardo os seus “Sertões – Campanha de Canudos”, publicado no ano anterior, despertando admiração e críticas na opinião pública.

Todos nós (eu também estava no meio deles) admirávamos o esplendor de seu talento, a beleza máscula de seu estilo retorcido, feito de “cipós literários”, as críticas elegantes e contundentes sobre os personagens de seu livro, que ele fotografava com traços profundos, eivados quase sempre da mais fina ironia, e seu trato modesto, às vezes revestido de ingenuidade tão chocante, dada sua alta personalidade intelectual: só lamentávamos nele a mais completa ausência de qualquer sentimento, mesmo de qualquer ideia sobre assuntos abstratos do sobrenatural: sua consciência honesta e digna, sua inteligência viva na abstração de números e cálculos, sempre preocupado pela ciência, não tinham um ponto sensível onde penetrasse um vislumbre sequer de luz; estava defendido, ou escravizado por uma couraça feita de aço, fria e invulnerável pela aridez do ceticismo: mas, educado e elegante, sabia respeitar a opinião alheia e as   fraquezas humanas.

Em fins de janeiro de 1904, nós clérigos havíamos de ser ordenados pelo Núncio Apostólico dom Júlio Tonti e, com licença do Superior, ousamos convidá-lo para paraninfar a nossa ordenação: aceitou, assistindo atento e respeitoso à longa cerimonia. Após o almoço festivo, Euclides com admiração de todos levantou-se e falou:

“Meus amigos, grato pela honra que me conferistes, admiro-vos sinceramente, acompanhando-vos na alegria desta hora tão auspiciosa para vosso coração. Minha inteligência, porém, na aridez de sua estrutura, rastejando na terra, tem pena em não vos poder acompanhar nos surtos de vossa vocação, de vossa alta miragem, do destino vosso: no entanto, se quanto se passou nesta hora tiver a substância luminosa da verdade, eu vos peço que rezeis por mim. Aceitai do vosso paraninfo não um conselho, que eu não posso vô-lo dar, mas apenas uma advertência amigável: se um dia as renúncias que acabais de aceitar, como herança do vosso futuro, pesarem sobre o vosso coração, sustente-vos na luta a alegria desta hora e a beleza que nunca se vele ou se tisne, da vossa vocação, porque é sempre doloroso, é humilhante, é indigno retroceder”.

Cinco anos depois, em 1909, não nos surpreendeu a triste notícia – porque acompanhávamos a tragédia de seu lar – de seu inesperado desenlace, quando no Rio de Janeiro, na antiga Estrada Real de Santa Cruz, uma bala assassina ceifava, pela morte prematura e trágica, a preciosa existência do atormentado escritor, de quem muito esperavam a história e as letras do Brasil. Como recordação e homenagem ao eminente aluno, há mais de quarenta anos foi fundado e funciona regularmente no Colégio “São Joaquim”, o grêmio literário “Euclides da Cunha”.

domingo, outubro 27, 2024

POEMA DOMINICAL

Este poema  de Auri Silva Braga, integrante do Clube do Arrebol, foi compartilhado do Jornal do Commercio (25 abr. 1958), publicado ao tempo em que era praxe os periódicos de qualquer tamanho assim procederem. Em nossos dias, os jornais encurtaram o tamanho e extinguiram a coluna de poesias. 

 

Recorte do mencionado jornal

ENCONTRO COM A FELICIDADE

AURI SILVA BRAGA

(Do Clube do Arrebol)

Sempre ouvira falar da felicidade

Qual meiga fada para mim desconhecida

Então parti a procurá-la pela vida

Com ardente desejo, com imensa vontade.

 

Busquei-a nos brilhantes píncaros da glória,

No deslumbrar das riquezas a ela não vi,

Nas ilusões fugazes busquei com frenesi,

Ainda nos triunfos não logrei vitória.

 

Onde está a felicidade que procuro?

Em vão meu peito fraco e inseguro,

Clamou por ela sem poder a encontrar.

 

Por fim cansada voltei desiludida

E na humildade do meu ponto de partida,

A felicidade veio-me abraçar.


 

sábado, outubro 26, 2024

HAMILTON RICE E OS SALESIANOS

Para celebrar o Jubileu de Ouro de atuação no Rio Negro (AM), em 1965, os Salesianos, sob a liderança de dom Pedro Massa editaram um livro que registra as trajetórias percorridas e os personagens – tanto eclesiásticos quanto leigos – que contribuíram para a obra. Deste livro – De Tupan a Cristo (1965), tenho postado páginas bastante informativas, repletas de pormenores sobre a história do Amazonas.

Alexander Rice

No livro, outra lembrança do prelado é sobre Alexander Hamilton Rice (explorador americano da bacia dos rios Negro e Branco) que, acompanhado da esposa Eleanor Rice, visitou São Gabriel da Cachoeira em duas oportunidades: no início de 1917 e em outubro de 1919. Na primeira, o casal cooperou com a missão dos salesianos na instalação de uma escola. Na segunda viagem, os Rice puderam aferir os resultados da iniciativa e o progresso proporcionado à cidade. Qual a situação desta escola?

 

HAMILTON RICE (1875-1956)

Este ilustre engenheiro e explorador americano, muitas vezes milionário, casado com a viúva do rei do aço, falecido no desastre do Titanic, perlustrou durante anos o Rio Negro e o Rio Branco; do alto do seu pequeno “aéreo” explorou sobre todas as formas aquela região desconhecida; os trabalhos fotométricos, geográficos, trigonométricos, as pesquisas do solo deram-lhe conhecimento exato de suas riquezas, de suas possibilidades, levadas naturalmente ao conhecimento americano.

Foi nosso amigo e, atendendo aos meus pedidos, ofereceu-nos abundante material escolar, centenas de camas, milhares de folhas de zinco, equipamentos farmacêuticos e hospitalares. Na Sociedade de Geografia de Londres elogiou em suas conferências “as atividades da missão evangélica salesiana no Amazonas”, afirmando que “tinha a mesma lançado bases seguras de um grande movimento civilizador”.

Em 1926, convidado por ele, fui a Nova Iorque, onde quis me apresentar ao presidente da Rockfeller Fondation, situada na 5ª Avenida, onde, na ausência do presidente, encontramos o Dr. Vicent Smille, vice-presidente em exercício. Depois de ouvir a longa explanação de Hamilton e as minhas poucas e tímidas expressões, num inglês fraquíssimo e titubeante, assim se expressou:

“A Rockfeller deu um milhão de dólares para a exploração do Rio Negro e do Rio Branco e está pronta a ajudar a Missão Salesiana, se apresentar um plano dentro do nosso programa, talvez mesmo um milhão”.

Espantei-me com o programa, a dependência, a abundância do dinheiro e fiz-lhe entender que eu solicitava apenas um auxílio limitado, dentro do programa da missão. A Rockfeller – respondeu-me – “não dá esmolas, nem oferece recursos parcelados: tem como programa financiar planos de obras também assistenciais, mas dentro de critérios que ela estuda, antes de custeá-los; financia-os, depois de organizá-los, e os fiscaliza”.

Não era o nosso caso: regressei ao Brasil sem dinheiro, mas livre e desimpedido de compromissos, satisfeito com minha independência na ação missionária. “Um milhão de dólares”! era muita riqueza e quando a esmola é grande, o santo desconfia... E, depois, muito dinheiro não faz bem a ninguém, nem mesmo a missionários.

quinta-feira, outubro 24, 2024

PMAM NA XV CORRIDA ARCHER PINTO:1969

 Quatro décadas e cinco anos atrás, em vez do Halloween, a verdadeira festa acontecia na avenida Eduardo Ribeiro, em frente à sede de O Jornal e Diário da Tarde, onde começava e terminava a Corrida Pedestre Archer Pinto. Naquele ano, durante a realização da XV competição, a Polícia Militar do Amazonas contou com 18 atletas inscritos. A equipe se destacou ao vencer tanto na classificação por grupos quanto com o desempenho individual de Jurandir Ferreira.
Título do matutino promotor

O evento ocorreu em 31 de outubro de 1969, festejando a fundação dos extintos periódicos, sob a presidência da então dirigente da organização jornalística: Maria de Lourdes Archer Pinto.

Inscrição de atletas da PMAM

Resultado da competição (acima)
premiação (abaixo)

 


terça-feira, outubro 22, 2024

CAPUCHINHOS EM MANAUS

As ordens religiosas têm diligenciado a publicação de seus feitos nas terras amazônicas. Conheço ao menos três publicações editadas pelos padres Salesianos e Espiritanos, e a terceira pelos Capuchinhos, que acabam de inaugurar uma Exposição fotográfica no Centro Cultural Palácio da Justiça, marcando a sua mais que centúria atuação missionária. A publicação dos capuchos A Igreja sobre o rio, originalmente em italiano, o governo do Amazonas fez reproduzir pela Secretaria de Cultura, em 2012.

Da Igreja... recortei alguns tópicos já postados neste Blog, ora faço nova transcrição referente à instalação da igreja paroquial de Adrianópolis. Devo lembrar que a paróquia da antiga Vila Municipal encontra-se sob o encargo dos missionários do PIME.

Igreja de Nazaré em Adrianópolis

Diversas eram as motivações que sustentavam a construção de uma igreja no bairro chamado Vila Municipal; centro de muito peso com um número considerável de habitantes, mas, sobretudo, pertencentes a um grupo social que vem definido como “de uma certa condição”. Já em 1913 o bispo dom Frederico Benício de Souza Costa tinha concedido a faculdade de celebrar a missa numa residência privada, mas a esperança de que se procedesse à construção de uma igreja; assim foi comprado um pedaço de terra; “quarenta metros de fundo situado no ângulo direito da praça Silvério Nery [hoje de Nossa Senhora de Nazaré], foi instituída a tradicional comissão, da qual vem chamado a fazer parte também Frei José [de Leonissa], e finalmente em dois de agosto de 1914 se procede à colocação da primeira pedra.

A cerimônia foi imponente e viu a participação de todas as autoridades civis e religiosas, mas justamente naquele dia chefiou a Manaus “o sinistro anúncio da conflagração europeia”; um raio em céu sereno -- escreve no seu relatório Frei Evangelista -- que contrariou todos os projetos começados.

No grupo de capuchinhos que já havia mais de dez anos encontrava-se em missão no Amazonas, merece ser recordada, sobretudo a atividade de Frei José de Leonissa; depois de ter ido recuperar-se no Pará de uma “gravíssima doença nos olhos” que não lhe permitia nem mesmo celebrar a missa, insistiu com o prefeito para construir uma igreja no bairro Vila Municipal de Manaus. Um lugar “um pouco longe da igreja paroquial” [a de São Sebastião], mas, segundo Frei José, “um centro que promete e se pode dizer o melhor lugar de Manaus no presente, iluminado com luz elétrica, servido pelo bonde e residência já de muitas famílias. Merece toda a atenção de um pastor de almas.

domingo, outubro 20, 2024

DIA DO POETA

 Ao pesquisar subsídios para diferentes estudos nos jornais de Manaus, frequentemente me deparei com poesias ali publicadas. Era evidente a presença dos autores dessa vasta produção – os poetas. Encontrei obras de diversos níveis, desde poetas já renomados até aqueles que ainda se tornariam conhecidos, além de uma infinidade de ilustres anônimos. No mês passado, concentrei meus esforços em organizar o material coletado, com a intenção de talvez publicá-lo; no entanto, como não tenho habilidades métricas, estou em busca de uma parceria para a finalização do projeto.

Outro detalhe marcante foi a reprodução da arte poética em todos os periódicos, sejam estudantis ou gremistas ou comerciais. Enfim, a ampliação de colaboradores verificava-se em dia festivo, sendo o Dia das Mães o de maior prestígio.

Para saudar este Dia do Poeta, exponho dois poemas: o primeiro, recolhido na pesquisa, do saudoso mestre Guimarães de Paula, publicado em A Gazeta, (26 out. 1951), há quase 73 anos; coincidência, a idade de Renato Mendonça, autor do segundo poema, ilustre coparticipante deste espaço.

Recorte do periódico citado

SONETO DA FLOR

Quanta paz e delicadeza de cor...

São as mãos benditas da natureza,

Usando as tintas do Criador!

Refletindo-nos tão pura beleza. 

            Seriam as azaleias e a rosas,

            Dignas representantes do mundo da flor?

            Não só estas, mas tantas, formosas,

            Que a Natureza nos abona, com amor. 

E, para fazer jus à imagem do belo,

Diria que, apenas estas duas flores,

Revigoram os sentimentos meus. 

            Não há pintor a imitar um fulgor singelo,

            Nem nos faça esquecer todas as dores.

            Apenas um é capaz de nos prover: Deus! 

                                                           Renato Mendonça

 

sábado, outubro 19, 2024

SENADOR LOPES GONÇALVES (1870-1938)

 
Ao comemorar o Jubileu de Ouro de atuação no Rio Negro (AM), em 1965, os Salesianos então sob a direção de dom Pedro Massa publicaram um livro registrando os caminhos percorridos e os personagens – eclesiásticos e leigos – que cooperaram na obra. Abuso do livro editado – De Tupan a Cristo, postando algumas páginas bem esclarecedoras, páginas que fornecem pormenores da história amazonense.

O senador Lopes Gonçalves é o personagem desta postagem, e quem conta o fato é o próprio prelado. Augusto Cesar Lopes Gonçalves nasceu em Vitória do Mearim (MA) em 1870 e faleceu no Rio em 1938. Bacharel pela Faculdade do Recife, foi senador (1915-23) pelo Amazonas e Sergipe (1924-30). Houve uma Escola com o nome deste senador em Manaus, localizada na esquina da rua Luiz Antony com Dez de Julho, ora pertencente ao sistema SENAI. 

Página do livro referente ao senador 

Certa vez, discutia-se no Senado o projeto que declarava o dia 25 de dezembro, dia festivo em comemoração da data cristã universal. Ele opunha-se com maior ou menor felicidade aos argumentos apresentados por João Luiz Alves, senador pelo Espírito Santo, que defendia o projeto. Este havia me pedido que ficasse perto de sua cadeira para sugerir-lhe alguns argumentos que não lhe ocorressem no momento, na emergência da refrega que subia de calor e intensidade, interessando vivamente os senadores.

Rui Barbosa estava ausente, mas defenderia o projeto se estivesse presente, como em seguida declarou.

Lembro-me que em determinado momento, Lopes Gonçalves disse: “A Constituição não reconhece a Deus. Este nome aqui não deve ser pronunciado e dou minha razão que agradará ambas as partes. O nome de Deus (desculpem reproduzir a palavra que ele usou), suja a pureza do nosso regime e também a política suja o nome de Deus; é por esse motivo que nos é proibido pronunciá-lo aqui”.

Por grande maioria o projeto foi aprovado e o Dia de Natal entrou no número dos feriados da República. O senador, embatendo-se comigo, pois não havia notado minha presença, pela escuridão do recinto, não se alterou dizendo-me: Padre, eu defendo a religião, não a ataco. Talvez fosse esta a sua intenção.


domingo, outubro 13, 2024

DIA DA PADROEIRA E DAS CRIANÇAS

N.S. Aparecida
 A postagem pertence a apreciação de Renato Mendonça, meu distinto irmão e cooperador bissexto, nesta data sempre confusa. Acrescento eu, que a festa do 2º domingo de outubro, portanto, hoje 13, acontece em Belém do Pará venerando a Mãe de Deus, com o Círio de Nazaré. Que as bençãos de Nossa Mãe santíssima seja pródiga com nosso
país. Amém.


APARECIDA DAS CRIANÇAS

12.10.2024

 O dia hoje sempre desperta uma curiosidade para saber porque o Dia das Crianças está no mesmo pacote de comemoração com o da Padroeira. O contexto histórico sempre nos facilita a ver como esses dias entraram nas nossas vidas. O Dia de Nossa Senhora Aparecida remonta ao século XVIII, em 1717, quando a santa foi encontrada por três pescadores no rio Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo, próximo ao vilarejo de Guaratinguetá. Dezessete anos depois, foi construída a primeira capela no Morro dos Coqueiros, próximo ao local onde fora encontrada. E somente cem anos depois, em 1834, iniciou-se a construção da Igreja em Aparecida, onde hoje está situada a Basílica Velha.

Nesta Basílica, durante a comemoração do jubileu dos 50 anos do dogma da Imaculada Conceição, em 1904, foi feita a coroação da Santa, utilizando-se a coroa de ouro doada pela Princesa Isabel, que diz a tradição era uma fervorosa devota. Daí então passou a ser considerada Rainha e Padroeira do Brasil. Mas, somente em 1930, após decreto do Papa Pio XI, foi oficializado a cerimônia, que cinquenta anos depois passaria a ser instituída como Feriado Nacional, após a visita do Papa João Paulo II ao Brasil.

O Dia das Crianças precede a data do decreto papal. Iniciou-se após o Congresso Sul-americano da Criança, no Rio de Janeiro, então Capital Federal, em 1923, quando foram discutidas pautas de educação e alimentação, principalmente. Talvez uma incipiência do Estatuto da Criança e Adolescente, criado por Lei em 1990. Um ano depois da realização do Congresso o Dia a Criança foi oficializado por decreto, mas sem ser considerado feriado. Somente em meados da década de 1950, com a campanha publicitária da fábrica de brinquedos Estrela, iniciou-se a popularização do Dia das Crianças no Brasil.

Sendo assim, vemos que não há nenhum conflito de interesses nestas datas comemorativas. Pelo contrário, devemos juntar o aspecto devocionário de Aparecida ao lúdico das Crianças. E Aparecida quer ser a mãe de todos os brasileiros; quer abençoar e proteger não só devotos cheios de fé, mas principalmente todos os futuros cidadãos e cidadãs do nosso porvir. Quer retirar dos adultos incautos todas as mazelas sociais impostas nos últimos anos, corrigir os desvios de condutas e comportamentos inescrupulosos; mostrar à sociedade um caminho melhor para evitar os ‘becos-sem-saída” do ódio, da discriminação, do desamor e da misoginia.

Círio de Nazaré em Belém PA

“Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças” (Lucas 18:16-22). Este é, também, um dos mandamentos adotado por Aparecida, para prosseguir a evangelização do seu filho, Jesus. Quer por questões de credo, carência de fé ou ceticismo não há porque ignorar a existência de Aparecida, ela é Maria!

Podemos fazer outras ilações sobre os desejos de Aparecida. Ela deseja uma sociedade mais humana, mais solidária e mais fraterna. Afinal, somos todos filhos dela. E devemos nos sentir honrados por isso; para que essa maternidade possa nos aproximar dos nossos irmãos, criando laços cada vez mais apertados entre nós, produzindo a unidade. Quando houver alguma desavença, procure a reconciliação e exerça o sentimento do perdão, com humildade e paciência.

Quanto às crianças, respeite-as e delibere para que exerçam também o respeito com os pais ou os mais velhos. Não há motivos para deixar a educação para os canais de televisão ou as redes sociais. Nossos pais e avós deixaram um legado fabuloso de educação familiar, basta fazer um upgrade desses ensinos e melhorar o que já era bom.

Para finalizar esta minha simplória crônica, deixo dois sonetos, escritos em épocas distintas da minha vida. Quero evocar sempre, a importância da mãe de Jesus e, por extensão, a mãe nossa de cada dia.

Fiquem na paz da mãe de Deus!

 

quinta-feira, outubro 10, 2024

DESASTRE DO PP-PDE EM MANAUS

 No curso de 2022 empenhei-me em publicar um relato sobre o acidente com o Constellation PP-PDE da Panair do Brasil, ocorrido nas matas próximas de Manaus, matando os tripulantes e passageiros, em dezembro de 1962. Portanto, há então 60 anos. Todo meu esforço sucumbiu, me parece na floresta amazônica, pois não consegui editar o livro.
Capa do livro

De mudança para Curitiba redobrei as diligências, e até consegui, porém, utilizando o serviço de editora que funciona pela internet. Tudo efetuado por essa “máquina”: desde o contato e a assinatura do contrato, passando pela troca de arquivos, até o apronto e a aquisição via encomenda postal.

Foi desse modo que recebi o meu exemplar. E, por se tratar da primeira vez em que utilizo tal processo em publicação própria, ainda estou aleitando o “filhote”=livro. Como sei de muitos interessados na conclusão deste trabalho, seguem os dados para a aquisição.

https://clubedeautores.com.br/livro/desastre-do-pp-pde


terça-feira, outubro 08, 2024

PMAM: NOTA PARA SUA HISTÓRIA

 Após passar pela Casa Militar do governador (1982-83), dediquei-me ao estudo da história da Polícia Militar do Amazonas. Para tanto, tomei cuidado com mais afinco dos arquivos da corporação, do Museu Tiradentes e de outros centros de coleta de dados espalhados pela cidade e cidades alhures. Com esse empreendimento, “renunciei” aos comandos de tropa, permanecendo seguidamente em função burocrática.

As lições aprendidas no decurso dessas atividades me estimularam a redigir o Relatório aqui postado, o qual não granjeou do destinatário – coronel Guedes Brandão – qualquer afago.  

Antigo quartel da PMAM na Praça da Polícia

RELATÓRIO               Manaus-AM, 27 de outubro de 1992

Ao: Sr. Coronel PM Comandante-Geral

Venho pelo presente encaminhar a Vexa. algumas informações que julguei de interesse deste Comando, fruto do trabalho que dirigimos, mesmo sem obrigação funcional, diante da condição do signatário. Trata-se do ARQUIVO GERAL e do MUSEU TIRADENTES, além da melhor divulgação de nossa BANDA DE MÚSICA, órgãos integrantes de nossa história, de nossa parte cultural.

Particularmente, estive presente ao II Encontro Cultural do Estado, presente o subsecretário de Cultura, do Presidente do Conselho de Cultura, de dirigentes da Fundação Universidade do Amazonas. Na ALE, contatamos o deputado Sebastião Nunes (PT) que preside a Comissão de Cultura daquele Poder.

Algumas providências tomadas junto ao Comando anterior: contato com a TV Educativa para a confecção de um VIDEO CLIP com a Banda de Música, cujo trabalho já se iniciou e breve se tornará realidade. Precisamos de algum patrocinador. Contrato verbal com empresa de vídeo para elaboração de vídeo com os ex-comandantes. Trabalho já iniciado com o coronel Neper.     

Ofício à Superintendência do Teatro Amazonas solicitando data para a apresentação da BANDA DE MÚSICA em um AUTO DE NATAL, congregando a família policial militar. Data já fornecida. Recebi convite da direção cultural do Shopping Center para apresentação da Banda de Música, em tarde de sábado ou domingo, na praça interna. Falta marcar a data. Ensaiar o programa. Se possível, um fardamento (melhorado) para os músicos.

Quanto ao Arquivo Geral encaminhei um relatório ao comando anterior, cuja cópia segue em apenso. Já estabeleci contato com a FUA (Fundação Universidade do Amazonas), falta prosperar. Permita-me convidar o Magnífico Reitor e dirigente da Faculdade de Biblioteconomia para uma visita.

Peça existente no
Museu Tiradentes

Sobre o Museu Tiradentes. Gostaria de receber ordens para dirigi-lo. Tenho voltado emu empenho em recolher objetos de nossa história, da história da corporação. Ainda não escrevi um relatório, por falta de maiores recursos técnicos. A vontade de acertar, vai suplantar estes óbices. Tenho a promessa de ajuda do subsecretário de Cultura para este setor, a quem já convidei para uma visita, seguida de almoço. Urge ampliar e modernizar o Museu, utilizando as dependências do Comando-Geral. Já possuímos material bastante e plano acerca da ampliação.

Registrei as ajudas prometidas: de alguns empresários, de pessoas ligadas à corporação para pagamento dos vídeos programados com os ex-comandantes. Intitulado de MEMÓRIAS, já foi iniciado. Do Consulado peruano, cujo titular tem convite para visitar este quartel, Museus e seus conterrâneos. Falta agendar a data. De museus locais, alguns de caráter nacional, com reservas capazes de melhorar e contribuir financeiramente. Da Emamtur (Empresa Amazonense de Turismo), cujo órgão permite novos trabalhos, nova apresentação de nosso Museu. Permitir a visita de turistas, mediante pagamento. Órgãos de Imprensa, através de seus setores culturais.

Para concluir, senhor comandante, permita me colocar ao dispor de VExa. para dar prosseguimento ao proposto. Esperamos receber a colaboração de companheiros, para que o progresso se faça mais adequado. 

Roberto Mendonça Tenente-Coronel PM

sexta-feira, outubro 04, 2024

PICO DA NEBLINA

Ao comemorar o Jubileu de Ouro de atuação no Rio Negro (AM), em 1965, os Salesianos sob a orientação de dom Pedro Massa publicaram um livro registrando os caminhos percorridos e os personagens – eclesiásticos e leigos – que cooperaram na obra. Abuso do livro editado – De Tupan a Cristo, postando algumas páginas bem esclarecedoras, páginas que fornecem pormenores da história amazonense.

Pico da Neblina, em Santa Isabel

A postagem de hoje descreve o esforço empreendido a fim de instalar no topo do Pico da Neblina (2.995,30 metros, consoante o IBGE 2015) uma estátua do Cristo e uma bandeira nacional, portanto, no ponto culminante do país, localizado no município de Santa Isabel do Rio Negro. Como desconheço a fixação ou a permanência do monumento, recorri à “enciclopédia livre”, onde nada alcancei nas várias fotos expostas. Por isso, o (des)apontamento. 

 

 

Deve ser assinalada, em destaque luminoso, a descoberta do ponto mais alto do sistema orográfico do Brasil, o pico da Neblina, que se eleva a 3.014 metros sobre a planície amazônica, realizada pela Comissão Demarcadora de Fronteiras entre o Brasil e a Venezuela, e onde a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas Arqueológicas conduziu, em janeiro deste ano, a primeira expedição, com a colaboração elementos das vizinhas missões salesianas de [rio] Cauaburi e Maturacá.

Pretende a mesma Associação, com o auxílio das missões salesianas, realizar a escalada definitiva daquele pico, a fim de proceder a pesquisas do mais alto interesse científico, diante dos indícios e informações colhidos.

Ocorrendo neste ano [1965] o jubileu áureo das missões, julgou a Prelazia do Rio Negro que não haveria arremate melhor para suas comemorações festivas do que, aproveitando os esforços da nobre Associação, levantar, no ponto mais alto do Brasil, o símbolo sagrado da fé da primeira nação católica do mundo, chantando, na solidão olímpica daquela altura, a Cruz do Redentor, como um reclamo secular que há quatrocentos anos sobe silencioso e solene da mata brasileira até o alto dos céus, nas cintilações benditas do Cruzeiro do Sul.  (...)

Outra vista do Pico da Neblina

Para esse fim, será constituída comissão destinada a realizar o grande cometimento, recolhendo os recursos necessários e — o que mais importa — vencendo as dificuldades de transporte até o Pico da Neblina.  Distintas autoridades federais e estaduais já prometeram seu valioso concurso, que a missão salesiana põe, num gesto de grande e ilimitada confiança, sob os auspícios e a proteção da maior organização jornalística do Brasil “O Globo” e de sua recém inaugurada estação de televisão.

Triunfadores em tantas vitórias, tendo já encampado várias outras campanhas que traduziram ideias generosas em esplendidas realidades, a nova campanha, lançada pelo “O Globo”, do Pico da Neblina, não poderia ter garantia mais segura para sua plena realização. Esta página consigna e lança a luminosa ideia, que, realizada ainda neste ano jubilar missionário, até agosto de 1966, cantará o hino glorioso da fé nos grandes destinos da pátria, pelo gesto de bênção divina do novo Cristo Redentor do alto do Pico da Neblina.

Antecipando a gloriosa campanha, em 15 de agosto, um modesto cruzeiro e a Bandeira Nacional, irmanada à Bandeira da Prelazia fulguram no Pico da Neblina lá conduzidas pelo presidente da Associação de Estudos Arqueológicos, na segunda escalada, que seguiu para este fim no mês de julho. A 22 de julho, no Palácio das Laranjeiras, o presidente da República, marechal Castelo Branco, às 9h30, na presença de alguns membros de seu Gabinete Presidencial, autografou a Bandeira Nacional e o pavilhão salesiano do Jubileu Áureo das Missões, desfraldados agora no Pico da Neblina ao sopro daqueles ásperos ventos, aguardando a Imagem do Cristo Redentor.

quarta-feira, outubro 02, 2024

18 ANOS SEM ROBERTO, FILHO

 o dia de hoje me relembra o sepultamento do filho que faleceu no dia anterior, em 2016. Passam-se dezoito anos, porém, a despeito de atenuadas, as dores ainda ferem. trata-se do Roberto Souza Mendonça, carinhosamente tratado por Betão, nascido em 1971, um dos meus herdeiros. aconteceu em um domingo de eleições gerais e no dia imediato à queda de um avião GOL, que voava de Manaus a Brasília. na ocasião, Lula se reelegeu presidente; haverá neste domingo próximo a festa democrática  para eleição da administração municipal.