A busca pelos ascendentes de Ramayana de Chevalier tem-me levado a repetir este nome onde me encontre. Foi num papo festivo, na noite de sexta-feira (21), que fui presenteado pelo autor deste texto expressivo, aqui compartilhado, sobre o distinto manauara. Agradeço a citação ao meu trabalho.
A publicação original de autoria de Pedro Lucas Lindoso ocorreu no Jornal do Commercio, edição de 6 de janeiro de 2015.
Detalhe da crônica de Pedro Lindoso, circulada no JC (6 jan. 2015)
Importante obra
literária da Índia antiga, o Ramayana é um épico sânscrito atribuído ao
poeta Valmiki. O belo texto tem profundo impacto na arte e na cultura da Índia.
O poema Ramayama não se reduz a um simples monumento literário. É
destaque na tradição do hinduísmo. A reverência é tal que o mero ato de lê-lo
ou ouvir tem o poder de libertar os hindus do pecado. E mais. A sua leitura
pode garantir todos os desejos do leitor ou de quem ouve o magnífico poema.
Um dos mais
ilustres membros do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), do
qual tenho a honra de ser membro efetivo, foi o Dr. Ramayana de Chevalier.
Imortalizado no IGHA onde têm sala com seu nome e outras honrarias, Chevalier
foi médico e escritor. Produziu livros sobre a Amazônia e possuía destacada
oratória.
Segundo
Roberto Mendonça, outro nosso confrade no IGHA, Chevalier "graduou-se em
medicina na Bahia, sem que exercesse a profissão, pois optou pelo jornalismo em
sua forma mais abrangente, de redator contundente a polemista por
vocação". Ramayana de Chevalier, que foi morar com a família no Rio de
Janeiro, com certeza transmitiu essa verve, esse "savoire faire", a
pelo menos dois de seus quatro filhos. Ronald de Chevalier e Scarlet Moon.
Ambos como o
pai, jornalistas, polêmicos e de aguçada inteligência e sofisticação intelectual.
Segundo conta Ruy Castro, no livro "Ela é Carioca", o economista
Roniquito de Chevalier, irmão da jornalista Scarlet Moon, às vezes entrava num
botequim e se anunciava: "Senhoras e senhores, aqui Ronald de Chevalier.
Dentro de alguns minutos... Roniquito!". E tudo podia acontecer. Scarlet
Moon foi casada com Lulu Santos por quase três décadas. Rita Lee escreveu a
música "Scarlet Moeu", gravada por Lulu Santos para ela. Scarlet é
citada na letra da canção "Língua" de Caetano Veloso.
Conheci pessoalmente
outra filha de Ramayana, Barbara de Chevalier. Foi diretora de Eventos da
Embratur, no início dos anos 90. Também brilhante como todos os Chevalier, foi
minha dileta colega de trabalho. À época exercia o cargo de Procurador-Geral da
Embratur.
O outro
grande Ramayana foi meu tio avô Salim Daou. Assinava seus trabalhos
jornalísticos com o pseudônimo de S.D. de Ramayana. “S”, provavelmente de Salim
e “D” do sobrenome Daou. Também de inteligência sofisticada e personalidade
cativante, Salim Daou, o Ramayana libanês, gaúcho, não ficou em Manaus. Seus
irmãos Philippe Daou e José Daou ficaram por aqui. O primeiro, meu avô materno
e o outro pai do Dr. Philippe Daou, presidente da Rede Amazônica de TV, primo
de minha mãe, Amine Daou Lindoso.
A única
irmã dos Daou sêniores, que também era Amine, seguiu com o marido para Nova Zelândia,
do outro lado do mundo. Tio Salim, S.D. de Ramayana, publicava crônicas e
poesias semanalmente no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Também
era responsável pelo noticiário do interior do Rio Grande do Sul. Tio Salim
teve dois filhos com tia Maria: Salim Junior e Daniel.
Ramayana de
Chevalier faleceu no Rio de Janeiro em 1973. S.D. de Ramayana, Salim Daou, em
Porto Alegre, em 1986. Ambos, homens de letras, jornalistas, intelectuais
brilhantes e de forte personalidade. Portavam esse peculiar e sonoro nome:
Ramayana, nome de herói, de divindade. A Enciclopédia Britânica ensina que ramayana
é uma encarnação de um deus, partícipe da Trindade no hinduísmo. O principal
propósito da sua encarnação é demonstrar o caminho correto, que eles intitulam
de dharma, na vida na Terra.
Ambos os
Ramayana, tanto o Chevalier quanto o Salim mostraram um caminho, não só
correto, mas cheio de sabedoria, de belos e inesquecíveis textos jornalísticos
e literários. Ambos encantaram sobremaneira àqueles que tiveram o privilégio de
conhecê-los e saborear de suas verves, seus escritos e ensinamentos.
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