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segunda-feira, outubro 25, 2021

ACERCA DE RAMAYANA(S)

A busca pelos ascendentes de Ramayana de Chevalier tem-me levado a repetir este nome onde me encontre. Foi num papo festivo, na noite de sexta-feira (21), que fui presenteado pelo autor deste texto expressivo, aqui compartilhado, sobre o distinto manauara. Agradeço a citação ao meu trabalho.

A publicação original de autoria de Pedro Lucas Lindoso ocorreu no Jornal do Commercio, edição de 6 de janeiro de 2015.

 

Detalhe da crônica de Pedro Lindoso, circulada no JC (6 jan. 2015)

Importante obra literária da Índia antiga, o Ramayana é um épico sânscrito atribuído ao poeta Valmiki. O belo texto tem profundo impacto na arte e na cultura da Índia. O poema Ramayama não se reduz a um simples monumento literário. É destaque na tradição do hinduísmo. A reverência é tal que o mero ato de lê-lo ou ouvir tem o poder de libertar os hindus do pecado. E mais. A sua leitura pode garantir todos os desejos do leitor ou de quem ouve o magnífico poema.

Um dos mais ilustres membros do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), do qual tenho a honra de ser membro efetivo, foi o Dr. Ramayana de Chevalier. Imortalizado no IGHA onde têm sala com seu nome e outras honrarias, Chevalier foi médico e escritor. Produziu livros sobre a Amazônia e possuía destacada oratória.

Segundo Roberto Mendonça, outro nosso confrade no IGHA, Chevalier "graduou-se em medicina na Bahia, sem que exercesse a profissão, pois optou pelo jornalismo em sua forma mais abrangente, de redator contundente a polemista por vocação". Ramayana de Chevalier, que foi morar com a família no Rio de Janeiro, com certeza transmitiu essa verve, esse "savoire faire", a pelo menos dois de seus quatro filhos. Ronald de Chevalier e Scarlet Moon.

Ambos como o pai, jornalistas, polêmicos e de aguçada inteligência e sofisticação intelectual. Segundo conta Ruy Castro, no livro "Ela é Carioca", o economista Roniquito de Chevalier, irmão da jornalista Scarlet Moon, às vezes entrava num botequim e se anunciava: "Senhoras e senhores, aqui Ronald de Chevalier. Dentro de alguns minutos... Roniquito!". E tudo podia acontecer. Scarlet Moon foi casada com Lulu Santos por quase três décadas. Rita Lee escreveu a música "Scarlet Moeu", gravada por Lulu Santos para ela. Scarlet é citada na letra da canção "Língua" de Caetano Veloso.

Conheci pessoalmente outra filha de Ramayana, Barbara de Chevalier. Foi diretora de Eventos da Embratur, no início dos anos 90. Também brilhante como todos os Chevalier, foi minha dileta colega de trabalho. À época exercia o cargo de Procurador-Geral da Embratur.

O outro grande Ramayana foi meu tio avô Salim Daou. Assinava seus trabalhos jornalísticos com o pseudônimo de S.D. de Ramayana. “S”, provavelmente de Salim e “D” do sobrenome Daou. Também de inteligência sofisticada e personalidade cativante, Salim Daou, o Ramayana libanês, gaúcho, não ficou em Manaus. Seus irmãos Philippe Daou e José Daou ficaram por aqui. O primeiro, meu avô materno e o outro pai do Dr. Philippe Daou, presidente da Rede Amazônica de TV, primo de minha mãe, Amine Daou Lindoso.

A única irmã dos Daou sêniores, que também era Amine, seguiu com o marido para Nova Zelândia, do outro lado do mundo. Tio Salim, S.D. de Ramayana, publicava crônicas e poesias semanalmente no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Também era responsável pelo noticiário do interior do Rio Grande do Sul. Tio Salim teve dois filhos com tia Maria: Salim Junior e Daniel.

Ramayana de Chevalier faleceu no Rio de Janeiro em 1973. S.D. de Ramayana, Salim Daou, em Porto Alegre, em 1986. Ambos, homens de letras, jornalistas, intelectuais brilhantes e de forte personalidade. Portavam esse peculiar e sonoro nome: Ramayana, nome de herói, de divindade. A Enciclopédia Britânica ensina que ramayana é uma encarnação de um deus, partícipe da Trindade no hinduísmo. O principal propósito da sua encarnação é demonstrar o caminho correto, que eles intitulam de dharma, na vida na Terra.

Ambos os Ramayana, tanto o Chevalier quanto o Salim mostraram um caminho, não só correto, mas cheio de sabedoria, de belos e inesquecíveis textos jornalísticos e literários. Ambos encantaram sobremaneira àqueles que tiveram o privilégio de conhecê-los e saborear de suas verves, seus escritos e ensinamentos.

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