CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, dezembro 03, 2020

A REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR EM 1924 [PARTE II]

Prossigo com  a segunda parte de meu texto analisando a atuação bisonha da PMAM, exposto quando do lançamento do livro de Eneida Ribeiro Ramos no Centro Cultural Palácio Rio Negro: Ribeiro Júnior: Redentor do Amazonas.


Recorte do folheto 

No início da noite de 23 de julho, o comandante do 27° BC, aquartelado na Praça General Osório (hoje Colégio Militar de Manaus), capitão José Carlos Dubois, apetrechou o trem de guerra e marchou sobre o Palácio Rio Negro. Desceu a avenida Eduardo Ribeiro, tomou à esquerda na rua Henrique Martins e assim alcançou a avenida Treze de Maio (hoje Getúlio Vargas), estacionando atrás do Colégio Estadual. Havia uma pedra no caminho a suplantar, a Força Policial instalada logo adiante no quartel da conhecida Praça da Polícia.

Sobre o ataque e os desdobramentos subsequentes, translado a Parte Especial do oficial de dia, extraída do boletim regimental 173, de 25|07|1924.

"Ontem, cerca de 19 horas, foi este quartel inopinadamente atacado por forças do vinte e sete Batalhão de Caçadores, havendo forte tiroteio que durou mais ou menos trinta minutos; quando depois de se encontrarem feridos o coronel comandante Pedro José de Souza e o primeiro tenente Manoel Correa da Silva, combinamos parlamentar com os adversários, o fazendo por considerar imprudência uma resistência com força bastante superior, pois, apenas contávamos com dezesseis homens contra duas companhias; resultando esta Corporação entregar-se em virtude dos motivos acima, pelo que aderimos, coagidos, ao movimento revolucionário, como nos ditou as circunstâncias do momento. Quartel em Manaus, vinte e quatro de julho de mil novecentos e vinte e quatro. (a). Augusto Vaz Sodré da Costa, capitão Oficial de Dia".

Algumas digressões em torno deste prefalado documento: a Força Policial tinha um efetivo previsto de 344 policiais. Como havia um claro de 115 praças, segundo registra a Mensagem governamental, "por não comportarem as finanças estaduais a integração do efetivo", e subtraindo-se os destacados no interior do Estado, muito provavelmente, 160 policiais guarneciam a capital. Desse resultado, menos de duas dezenas se encontrava no quartel na hora do ataque. Quanto era ridículo esse quantitativo, diante do efetivo do Regimento estadual ao final do século 19. Justamente para conhecer a história, a força do Regimento assegurou ao governador Eduardo Ribeiro (1892-96) se contrapor à guarnição federal, negando-se a entregar o seu cargo injustamente exigido.

Em 1924, com o Amazonas já demonstrando sinais de decadência, o pessoal da Força Policial se apresentava, além de depauperado, desestimulado por uma razão simples: o soldo aviltado sem receber desde fevereiro! A lealdade ao comandante em momento tão crucial estava comprometida, muito mais ao governador, que cuidava da saúde própria na Europa. Outro pormenor, duas companhias do 27° BC correspondiam a cerca de 180 homens. Como estivessem apoiadas por fração com material bélico de porte, a prudência recomendava não se opor, como assentiu o oficial de dia.

Enfim, a presença no quartel do comandante da Força no horário do assalto, reforça-me a convicção de que os policiais conheciam da sublevação, pois, "desde o início de julho, corriam em Manaus boatos sobre um levante militar". Apenas a impunidade dos membros do governo não permitia crer no que o povo (e os próprios militares) a boca pequena propalava. Não conseguiu o coronel Pedro de Souza, isto sim, arregimentar um número maior de praças, porquanto também essas ansiavam por uma mudança no Poder Executivo. [segue]

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