Prossigo com a segunda parte de meu texto analisando a atuação bisonha da PMAM, exposto quando do lançamento do livro de Eneida Ribeiro Ramos no Centro Cultural Palácio Rio Negro: Ribeiro Júnior: Redentor do Amazonas.
No início da noite de 23 de julho, o
comandante do 27° BC, aquartelado na Praça General Osório (hoje Colégio Militar
de Manaus), capitão José Carlos Dubois, apetrechou o trem de guerra e marchou
sobre o Palácio Rio Negro. Desceu a avenida Eduardo Ribeiro, tomou à esquerda
na rua Henrique Martins e assim alcançou a avenida Treze de Maio (hoje Getúlio
Vargas), estacionando atrás do Colégio Estadual. Havia uma pedra no caminho a
suplantar, a Força Policial instalada logo adiante no quartel da conhecida
Praça da Polícia.
Sobre o ataque e os desdobramentos
subsequentes, translado a Parte Especial do oficial de dia, extraída do boletim
regimental 173, de 25|07|1924.
"Ontem, cerca de 19 horas, foi este
quartel inopinadamente atacado por forças do vinte e sete Batalhão de
Caçadores, havendo forte tiroteio que durou mais ou menos trinta minutos;
quando depois de se encontrarem feridos o coronel comandante Pedro José de
Souza e o primeiro tenente Manoel Correa da Silva, combinamos parlamentar com
os adversários, o fazendo por considerar imprudência uma resistência com força
bastante superior, pois, apenas contávamos com dezesseis homens contra duas
companhias; resultando esta Corporação entregar-se em virtude dos motivos
acima, pelo que aderimos, coagidos, ao movimento revolucionário, como nos ditou
as circunstâncias do momento. Quartel em Manaus, vinte e quatro de julho de mil
novecentos e vinte e quatro. (a). Augusto Vaz Sodré da Costa, capitão Oficial
de Dia".
Algumas digressões em torno deste prefalado
documento: a Força Policial tinha um efetivo previsto de 344 policiais. Como
havia um claro de 115 praças, segundo registra a Mensagem governamental,
"por não comportarem as finanças estaduais a integração do efetivo",
e subtraindo-se os destacados no interior do Estado, muito provavelmente, 160
policiais guarneciam a capital. Desse resultado, menos de duas dezenas se
encontrava no quartel na hora do ataque. Quanto era ridículo esse quantitativo,
diante do efetivo do Regimento estadual ao final do século 19. Justamente para
conhecer a história, a força do Regimento assegurou ao governador Eduardo
Ribeiro (1892-96) se contrapor à guarnição federal, negando-se a entregar o seu
cargo injustamente exigido.
Em 1924, com o Amazonas já demonstrando
sinais de decadência, o pessoal da Força Policial se apresentava, além de
depauperado, desestimulado por uma razão simples: o soldo aviltado sem receber
desde fevereiro! A lealdade ao comandante em momento tão crucial estava
comprometida, muito mais ao governador, que cuidava da saúde própria na Europa.
Outro pormenor, duas companhias do 27° BC correspondiam a cerca de 180 homens.
Como estivessem apoiadas por fração com material bélico de porte, a prudência
recomendava não se opor, como assentiu o oficial de dia.
Enfim, a presença no quartel do comandante
da Força no horário do assalto, reforça-me a convicção de que os policiais
conheciam da sublevação, pois, "desde o início de julho, corriam em Manaus
boatos sobre um levante militar". Apenas a impunidade dos membros do governo
não permitia crer no que o povo (e os próprios militares) a boca pequena
propalava. Não conseguiu o coronel Pedro de Souza, isto sim, arregimentar um
número maior de praças, porquanto também essas ansiavam por uma mudança no
Poder Executivo. [segue]
Nenhum comentário:
Postar um comentário