CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, dezembro 03, 2020

A REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR EM 1924 [PARTE I]

Em 1974, Eneida Ribeiro Ramos lançou no Centro Cultural Palácio Rio Negro, em Manaus, o livro Ribeiro Júnior: Redentor do Amazonas, um resgate da memória política de seu pai. Participante do movimento conhecido na História brasileira como tenentismo, Ribeiro Júnior foi figura importante da política amazonense na segunda década do século passado.

Recorte da página do matutino A Crítica

Paralelo ao lançamento literário foi organizada uma exposição com fotos da época e reportagens de jornal repercutindo o movimento político da década de 20, informa o matutino A Crítica.

Aproveitei aquela oportunidade para lançar um folheto cotejando a participação da Força Policial no conflito. Agora, aproveito para corrigir minha definição sobre o movimento: tratou-se de uma Rebelião, nunca Revolução. Enfim, o folheto será aqui tripartido para melhor exame.

Parte I

Recorte da página do jornal

O calendário das melhores reminiscências da Cidade reserva à Revolução de julho de 1924, chefiada por oficiais do lendário 27° BC, um lugar proeminente, a despeito de transcorrido mais de sete decênios. Não intenta o autor relembrar o acontecimento, apenas para repetir os encômios aos seus mentores. Com excelência, os pormenores do evento foram dissecados pela professora Eloína Monteiro, em seu livro de Mestrado. À mestra se juntaram os nomes das letras de Manaus, bem como os privilegiados cidadãos que vivenciaram aquele momento de capacidade cívica, representado pela retomada do poder político, melhor ainda, o exercício da cidadania, para resumir em bordão hodierno.

Membro da Polícia Militar aprendi desse episódio unicamente: a milícia estadual ao ser derrotada pelos insurretos foi, por um ato de bravata, extinta e substituída pela Guarda Cívica. Ambiciono nesta tarefa relatar a resistência imposta aos vitoriosos pelos ocupantes do quartel da Praça da Polícia, sob o comando do coronel Pedro José de Souza, nascido no Piauí, em 15 de agosto de 1866. Ainda que estivesse reformado por "asterio Scloraz" (termo da época), exercia o comando da Força pela terceira vez (curiosidade, em todos foi destituído por movimentos insurrecionais), conduzido pela amizade pessoal do governador César do Rego Monteiro (1921-24). Talvez por esta singela razão, o comandante também foi acusado de estar mancomunado com a oligarquia dominante. 

Somente para reentronizar os demais personagens deste acontecimento. Governava interinamente o Estado o deputado Turiano Meira, na condição de presidente do Poder Legislativo. Médico de profissão, integrava a Força Policial, no posto de capitão. No outro extremo, os tenentes do Exército Ribeiro Júnior, Magalhães Barata e Aloísio Ferreira. Estes se consagraram: o primeiro, no Amazonas; com o advento da Revolução de 1930, Barata no Pará (onde foi interventor e governador), em cuja capital recebeu de seus conterrâneos um memorial; e Aloísio, no então Território Federal do Guaporé, hoje estado de Rondônia. É sabido que os tenentes chegaram na guarnição do Amazonas transferidos por "castigo", devido ao cometimento de infrações disciplinares. Pelo menos um —o tenente Barata, já havia tentado semelhante proeza em outra praça militar. Portanto, a situação caótica reinante no Estado forneceu o pretexto para a tomada do Poder, reflexo da movimentação político-militar corrente no país, conhecida na historiografia pátria como tenentismo. Juntou-se, pois, em Manaus, — ilustrando o adágio — a fome do povo amazonense por liberdade e desenvolvimento, com a vontade de militares em se saciar em novas sortidas no campo político. [segue]

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