CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, maio 06, 2016

INSTITUTOS HISTÓRICOS: COLÓQUIO BRASILEIRO

Exercia a presidência interina do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), em 2001, quando compareci ao III Colóquio dos Institutos Históricos do Brasil, sob a convocação do Instituto matriz, do Rio de Janeiro.

Detalhe do painel existente no Auditório do IHGBrasileiro
Elaborei e li um discurso na abertura dos trabalhos, que tiveram a duração de três dias, em outubro daquele ano. 

Este discurso vai aqui reproduzido em duas postagens.


Senhoras e Senhores


Participante deste III Encontro, em prol da cultura nacional, deveras fortalecedor, o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) deseja, antes de qualquer manifestação, agradecer o afável convite do Instituto primaz do Brasil para estar aqui, abrindo esta semana de debates. A nossa expectativa sincera é pela aprovação de medidas e de propostas que, mais e mais, ajudem no crescimento do saber brasileiro, especialmente quanto ao imprescindível conhecimento de seu passado. Assim, na condição de intérprete do pensamento do Instituto amazonense, espero, atendendo à orientação da Comissão Organizadora, presidida por Vitorino Coutinho Chermont de Miranda, contribuir com alguma ideia distinta.
Como sempre, para ilustrar uma conjuntura quase nacional de nossos Institutos, vou reproduzir uma breve história.

A criação do IGHA, em 25 de março de 1917, aconteceu durante o período áureo da borracha (1890-1920), portanto, próximo do início de sua derrocada. Antecedeu em meses a instalação da Academia Amazonense de Letras (1º.01.1918), e um pouco depois da fundação da Universidade Livre de Manaus (1909). De pronto, o IGHA conquistou, por doação governamental assinada pelo governador Pedro de Alcântara Bacellar (1917-21), sua sede própria. Trata-se de um casarão assobradado, construído no Centro Histórico, que hoje, depois de reiterados consertos, presta-se condignamente à destinação do Instituto.

É notória a afirmativa de que a produção da borracha, na Amazônia, nos primórdios do século passado, exerceu forte influência nos índices de progresso de Manaus. Com o definhamento da vida econômica, todavia, os mais afortunados manauenses, onde se incluía o melhor de sua intelectualidade, acorreram para outros centros maiores. Desembarcou um grande contingente na cidade do Rio de Janeiro, em busca de novos aprazimentos intelectuais e sociais. A capital baré que permaneceu firmada à margem esquerda do rio Negro, e que houvera copiado os mais refinados costumes europeus, ou importado como ícone do “esplendor da borracha” o Teatro Amazonas, por pouco não reverte à condição de “porto de lenha”, ou seja, uma das tantas esquecidas localidades ao longo dos rios amazônicos onde os barcos a vapor atracavam apenas para ser abastecido de lenha, a fim de mover suas caldeiras.

Apesar de todos este desconcerto, o IGHA permaneceu cumprindo sua principal atribuição: de guarda zeloso, ainda que bastante taciturno, dos manuscritos e outras peças da memória provincial, formada por documentos pessoais e por outros exemplares da vida intelectual da Terra de Ajuricaba.

Logo em seus primórdios, em nível estadual, o Instituto foi considerado de “utilidade pública”, consoante a Lei nº 897, de 24 de agosto de 1917. Somente quase sete décadas depois, em 22 de outubro de 1973, pela Lei nº 1071, foi consubstanciado o reconhecimento municipal. Tais dispositivos, que julgo terem servido, em algum tempo, apenas para a dispensa de impostos governamentais, já se esfumaram no emaranhado da legislação pátria.  Ainda em nossos dias, os encargos tributários afligem a Instituição, pois, qualquer serviço, dependendo da quantia contratada, exige pagamento do ISS (municipal) e do IR (federal). Não possui o IGHA qualquer outra legislação beneficiária, capaz de auxiliar por exemplo, na obtenção de recursos seja do governo, seja de particulares. Consequentemente, o resultado é conhecido: diante da premência de necessidades básicas, o IGHA recorre ao poder público. Falo pelo Amazonas. E, com esta informação, satisfaço a um questionamento suscitado pela Comissão.

Como salientei, o IGHA obteve durante a década de 1980, diante da condução firme e competente na presidência do consócio Roberio dos Santos Pereira Braga, um vantajoso progresso. Sua sede foi novamente restaurada e adequada aos serviços que se dispunha a prestar. Para tanto, foi restabelecido o Museu Crisanto Jobim, disposto em duas seções: uma, composta de peças da etnografia amazônica, que pertencera ao Museu Rondon, criação e manutenção do próprio homenageado. O acervo deste museu foi doado ao IGHA pelo interventor federal, capitão Nelson de Mello, na década de 1930.

A outra seção, bem mais diminuta, expõe objetos e peças de diversas procedências, entre estas, a mais destacada é decerto a espada do comandante Plácido de Castro, que rememora a Revolução Acreana (1900-04).

Também nesta gestão foi organizada sua biblioteca, que tomou o nome do falecido sócio efetivo Walmiki Ramayana de Paula e Souza de Chevalier. Ramayana de Chevalier – seu nome literário – nascido em Manaus, era médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, também coronel da Polícia Militar do Estado, mas que se notabilizou pelos escritos, pelos debates jornalísticos, especialmente os mantidos nesta cidade do Rio de Janeiro, onde viveu por anos e faleceu, mas onde ainda vivem seus filhos e netos.

Esta biblioteca, há décadas, tem o privilégio de preservar uma coleção de jornais provinciais, a coleção de João Batista de Faria e Souza, que a compôs desde o primeiro jornal a circular no Amazonas, o Cinco de Setembro, que acaba de completar seu sesquicentenário. E mais, acondiciona manuscritos, livros raros, e busca ampliar a coleção denominada – Amazoniana –, destinada a compilar os principais escritos sobre a região.

Com o encerramento da gestão do presidente Roberio Braga, o IGHA passou por um estado de letargia. O imóvel da sede, como assinalado, por se tratar de uma construção centenária, paulatinamente foi se deteriorando. A mudança de presidentes, mais a sempre sublinhada falta de recursos e o afastamento costumeiro de sócios, aceleraram a decomposição. Nesta situação, apenas o governo poderia sanar a questão, mas havia que aguardar, entre outras providências, a liberação dos recursos.  Foi o que aconteceu.
Após entendimentos entre a diretoria, então sob a presidência do sócio Arlindo Augusto dos Santos Porto, além da iniciativa de outros abnegados associados, e o governo do Estado, na gestão do governador Amazonino Mendes, ocorreu a reforma almejada e a entrega do prédio.

Enquanto isto ocorria no IGHA, o IHGBrasileiro promovia o I Colóquio Nacional. E sou conhecedor de como prosperou este primeiro ciclo de debates, posto que as reuniões dos Institutos Históricos do Nordeste já alcançaram a terceira edição, enquanto o Instituto Histórico de Santa Catarina deu partida nas conversas entre os sulistas.

Enfim, o edifício do IGHA ficou pronto. Contudo, após o seu recebimento, surgiu outro empecilho, os reais para a sua montagem interna. Todavia, para gáudio dos sócios do IGHA, este entrave vem sendo superado, com o retorno à presidência da Casa, no final do ano passado, do sócio Roberio Braga. Como nosso presidente também exerce a direção da Secretaria de Cultura do Estado, reconheço e assinalo que se tornou mais funcional a assinatura de convênios para a reformulação enunciada. (FIM DA PRIMEIRA PARTE)


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