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quarta-feira, abril 16, 2025

OS BONDES DE MANAUS

 A paralização do serviço de bondes em Manaus já produziu páginas e opiniões e, talvez, ocupe ainda bastante espaço na cidade. Acabo de recolher no matutino A Crítica (19 março 1995) o texto da mestra Etelvina Garcia, que explica com simplicidade o motivo pelo qual os bondes saíram dos trilhos. 

Detalhe da subusina, hoje Amazonas Energia

Por que os bondes desapareceram?

Etelvina Norma Garcia (*)

Recorte de A Crítica (19 mar. 1995)

Lembro de uma reportagem de página inteira que o nosso Irizaldo Godot (falecido), meu chefe de redação nos jornais da empresa Archer Pinto, publicou no começo dos anos 50, na edição do “Diário da Tarde”. Título: Cemitério dos Bondes. Ele fez uma denúncia grave e séria da criminosa situação aos bondes, abandonados a céu aberto na chamada subusina da Cachoeirinha, lá no fim da Sete de Setembro.

Infelizmente, porém, Manaus não é uma caixa de ressonância eficiente para esse tipo de denúncia, que acaba tendo efeito contrário. Ou seja, desperta a atenção dos vândalos, dos desonestos... E os bondes se acabaram, foram desmontados peça a peça e transportados em pedacinhos para os fornos privilegiados das metalúrgicas...

Com eles acabou-se um pedaço delicioso da história social de Manaus. Chegamos a ter uma frota de cerca de 60 bondes, com 46 ou 47 em plena circulação, limpos, ágeis, elegantes, correndo nos trilhos com pontualidade britânica... Saíam da Praça do Comércio, depois chamada Osvaldo Cruz, onde ficava o prédio da Manáos Tramways, com seu relógio sorridente, que abria um olho e fechava o outro, tinha cheiro de pipoca e gosto de sorvete Mimosa....

Alguns bondes tinham uma só lança, eram pequenos, faziam as linhas mais curtas. — Saudade, Nazaré-Remédios, Fábrica de Cerveja. Outros, os grandes, tinham duas lanças e faziam os percursos mais longos, os chamados “circulares”.

O governador Plinio Coelho tentou botar os bondes nos trilhos outra vez, mas o sistema gerador de energia elétrica estava falido. Deles, agora, de concreto mesmo, só alguns pedaços de trilho que teimam em empurrar o asfalto e voltar a aparecer...

·        *  Etelvina Norma Garcia é jornalista

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