A paralização do serviço de bondes em Manaus
já produziu páginas e opiniões e, talvez, ocupe ainda bastante espaço na
cidade. Acabo de recolher no matutino A Crítica (19 março 1995) o texto
da mestra Etelvina Garcia, que explica com simplicidade o motivo pelo qual os
bondes saíram dos trilhos.
Detalhe da subusina, hoje Amazonas Energia
Por que os bondes
desapareceram?
Etelvina Norma Garcia (*)
![]() |
Recorte de A Crítica (19 mar. 1995) |
Lembro de uma reportagem de página inteira que
o nosso Irizaldo Godot (falecido), meu chefe de redação nos jornais da empresa
Archer Pinto, publicou no começo dos anos 50, na edição do “Diário da Tarde”. Título:
Cemitério dos Bondes. Ele fez uma denúncia grave e séria da criminosa
situação aos bondes, abandonados a céu aberto na chamada subusina da Cachoeirinha,
lá no fim da Sete de Setembro.
Infelizmente, porém, Manaus não é uma caixa de
ressonância eficiente para esse tipo de denúncia, que acaba tendo efeito
contrário. Ou seja, desperta a atenção dos vândalos, dos desonestos... E os
bondes se acabaram, foram desmontados peça a peça e transportados em pedacinhos
para os fornos privilegiados das metalúrgicas...
Com eles acabou-se um pedaço delicioso da
história social de Manaus. Chegamos a ter uma frota de cerca de 60 bondes, com
46 ou 47 em plena circulação, limpos, ágeis, elegantes, correndo nos trilhos
com pontualidade britânica... Saíam da Praça do Comércio, depois chamada Osvaldo
Cruz, onde ficava o prédio da Manáos Tramways, com seu relógio
sorridente, que abria um olho e fechava o outro, tinha cheiro de pipoca e gosto
de sorvete Mimosa....
Alguns bondes tinham uma só lança, eram
pequenos, faziam as linhas mais curtas. — Saudade, Nazaré-Remédios, Fábrica de
Cerveja. Outros, os grandes, tinham duas lanças e faziam os percursos mais
longos, os chamados “circulares”.
O governador Plinio Coelho tentou botar os
bondes nos trilhos outra vez, mas o sistema gerador de energia elétrica estava
falido. Deles, agora, de concreto mesmo, só alguns pedaços de trilho que teimam
em empurrar o asfalto e voltar a aparecer...
· * Etelvina Norma Garcia é
jornalista
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