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quarta-feira, fevereiro 24, 2021

CAMPANHA DE CANUDOS

 Ao elaborar a segunda edição do livro ESTADO DO AMAZONAS EM VERBETES (Manaus: Novo Tempo, 2002), o professor doutor Francisco Jorge dos Santos, da Ufam, um dos autores, convidou-me para escrever o verbete sobre a campanha de Canudos. A obra da SEDUC destinava-se aos estudantes do Ensino Fundamental, daí meu cuidado ao resumir esse episódio ligado, por meio transverso, ao Amazonas.


 GUERRA DE CANUDOS

Um telegrama para o governador do Amazonas, Fileto Pires Ferreira, resumindo a derrota da 3ª Expedição contra Canudos e a morte de seu comandante, coronel Moreira César, trouxe preocupação. Aliás, o desastre repercutiu em todo país. Por isso, em todos os Estados, inclusive o do Amazonas, houve promessa de ajuda militar para acabar a luta na Bahia. Foi assim que o nosso Estado, muito distante do local da disputa, se empenhou na guerra de Canudos.

Afinal, que guerra foi essa? Vamos aos fatos, começando por Canudos e seu fundador. No final do século XIX, entre 1895 e 1897, existiu uma cidade com o nome de Canudos. Seu fundador foi Antônio "Conselheiro", que preferia chamar o lugar de Belo Monte. O "Conselheiro", na verdade, era o cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, nascido em Quixeramobim, em 1830. A cidade estava instalada à margem do rio Vaza-Barris, na província, hoje o conhecido estado da Bahia. Situada no sertão mais agreste, perto da fronteira do estado de Sergipe, porém, distante das duas capitais.

Por esta simples razão, imagine, como era difícil chegar a esse lugarejo!

Os caminhos eram muitos em direção a Canudos, percorridos quase sempre a pé, porque o sertanejo não dispunha de transporte, e era costume. Nesta época, o hábito de caminhar pelas cidades, fez de "Conselheiro" um homem bastante conhecido. Também colaborou para aumentar reconhecimento, a maneira como se vestia um camisolão de cor azul, que lhe alcançava os pés, e tendo a mão um bastão. Destacava-se por sua longa barba branca, e um aspecto um pouco doentio, ou como se diz em nossos dias, "aparecia" com destaque na multidão.

Em 13 de maio de 1888, foi extinta a escravidão negra no Brasil. A Lei Aurea, da princesa Isabel, concedia aos negros total liberdade. A lei parece não ter "pegado", pois em nossos dias ainda se afirma que os negros sofrem discriminação. Então, podemos pensar nas dificuldades após o 13 de maio, como, sem a mão-de-obra escrava, o esvaziamento das fazendas. A situação crítica da população negra da Bahia, então em bom número, fez esta se encaminhar para as terras de Canudos, esperando ali encontrar conforto.

Os proprietários, à frente o barão de Geremoabo, também políticos, reclamaram da situação ao governador, Luís Viana. Entendiam que a atuação de "Conselheiro", em Canudos, prejudicava a administração estadual. Daí as providências tomadas pelo governo da Bahia para encerrar a questão.
A primeira iniciativa do governador foi religiosa, conversando com o bispo da Bahia. Dois frades capuchinhos seguiram para Canudos, com a missão de pregar uma "missão" (uma série de exercícios religiosos em determinado período), com o fim de chamar os "pecadores" para a obediência das leis estaduais. Apesar dos esforços dos religiosos, não deu certo a pregação.
O governo então recorreu aos militares.

Em novembro de 1896, saiu a 1ª Expedição, uma tropa do Exército de cerca de 80 soldados, sob o comando do tenente Pires Ferreira. Foi um fracasso. A derrota dos militares fortaleceu o conceito de "Conselheiro". Com isto, outros mais sertanejos se dirigiram para Canudos. Já em dezembro, seguiu a 2ª Expedição, sob o comando do major Febronio de Brito, levando cerca de 600 soldados. De novo, o pessoal do Exército perdeu, porque eram enormes as dificuldades da marcha entre Salvador, a capital baiana, e o sertão onde se encontrava Canudos.
O governador do Brasil, em abril de 1897, organizou a 3ª Expedição contra Canudos, sob o comando do coronel Moreira César. Levou cerca de 1200 soldados e armas diversas, e marchou quase sem parar de Salvador até Canudos. No arraial, o comandante, mesmo cansado, decidiu enfrentar os conselheiristas e para mostrar disposição na luta, decidiu avançar à frente. Nesta ocasião, foi ferido grave com dois tiros. Com a morte do comandante, houve uma tremenda confusão entre soldados. A tropa, com receio dos "jagunços" (apelido dado ao pessoal de Canudos), fugiu desesperada. No caminho, muitos e muitos soldados morreram.
Com mais este desastre, em junho de 1987, o governo chama o general Arthur Oscar para o comando da 4ª Expedição. Depois dos primeiros combates, a tropa federal quase fracassa. No país todo, houve preocupação. Quando os jornais divulgaram as notícias, de todo o país se ofereceu ajuda.
Do Amazonas, o estado mais distante da Bahia, seguiu um batalhão da Polícia Militar, com 245 policiais e 24 oficiais. Viajou de Manaus, em 4 de agosto de 1897, sob o comando de tenente-coronel PM (tenente EB) Cândido José Mariano, e permaneceu em Canudos até o final da luta.
A viagem de navio até Salvador durou dias. Até Canudos, parte da viagem acontecia de trem, com 12 horas de viagem até Queimadas. Daí em diante, somente a pé. De Queimadas até Monte Santo, mais dois dias. Até Canudos, mais três dias. Como era difícil encontrar água e alimentos, os soldados sofriam bastante para chegar à cidadela de "Conselheiro". Muitos não aguentavam, morreriam de doenças infecciosas, como aconteceu com o capitão Floresta, enterrado em Monte Santo. Este foi o duro caminho percorrido pela tropa da Amazonas.
E, por que razão os policiais amazonenses seguiram para a guerra de Canudos? o fator mais evidente foi a capacidade financeira do Estado. Neste
período, o Amazonas arrecadava muito dinheiro com a exploração da borracha. Assim, foi possível pagar a despesa de tantos soldados, enquanto defendiam a ordem. Também, este benefício permitiu a construção de muitos edifícios em Manaus, sendo o Teatro Amazonas o mais simbólico.
Em 5 de outubro de 1897 acabou Canudos. Os soldados vencedores procuram pelo beato, mas apenas descobrem seu corpo. "Conselheiro" havia falecido em 22 de setembro sem ver o triste final de seu Belo Monte. Para sempre Canudos!

MRLM

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