Ao elaborar a segunda edição do livro ESTADO DO AMAZONAS EM VERBETES (Manaus: Novo Tempo, 2002), o professor doutor Francisco Jorge dos Santos, da Ufam, um dos autores, convidou-me para escrever o verbete sobre a campanha de Canudos. A obra da SEDUC destinava-se aos estudantes do Ensino Fundamental, daí meu cuidado ao resumir esse episódio ligado, por meio transverso, ao Amazonas.
GUERRA DE CANUDOS
Um telegrama para o governador do Amazonas, Fileto Pires Ferreira, resumindo a derrota da 3ª Expedição contra Canudos e a morte de seu comandante, coronel Moreira César, trouxe preocupação. Aliás, o desastre repercutiu em todo país. Por isso, em todos os Estados, inclusive o do Amazonas, houve promessa de ajuda militar para acabar a luta na Bahia. Foi assim que o nosso Estado, muito distante do local da disputa, se empenhou na guerra de Canudos.
Afinal, que guerra foi essa? Vamos aos fatos,
começando por Canudos e seu fundador. No final do século XIX, entre 1895 e 1897, existiu uma cidade com o nome de Canudos.
Seu fundador foi Antônio "Conselheiro", que preferia chamar o
lugar de Belo Monte. O "Conselheiro", na verdade, era o
cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, nascido em Quixeramobim, em 1830. A cidade estava instalada à margem do rio
Vaza-Barris, na província, hoje o conhecido estado da Bahia. Situada no sertão
mais agreste, perto da fronteira do estado de Sergipe, porém, distante das duas
capitais.
Por esta simples razão, imagine, como era difícil
chegar a esse lugarejo!
Os caminhos eram muitos em direção a Canudos,
percorridos quase sempre a pé, porque o sertanejo não dispunha de
transporte, e era costume. Nesta época, o hábito de caminhar pelas
cidades, fez de "Conselheiro" um homem bastante conhecido.
Também colaborou para aumentar reconhecimento, a maneira como se vestia
um camisolão de cor azul, que lhe alcançava os pés, e tendo a mão
um bastão. Destacava-se por sua longa barba branca, e um aspecto um
pouco doentio, ou como se diz em nossos dias, "aparecia" com
destaque na multidão.
Em 13 de maio de 1888, foi extinta a escravidão negra
no Brasil. A Lei Aurea, da princesa Isabel, concedia aos negros total
liberdade. A lei parece não ter "pegado", pois em nossos dias
ainda se afirma que os negros sofrem discriminação. Então, podemos pensar
nas dificuldades após o 13 de maio, como, sem a mão-de-obra escrava, o
esvaziamento das fazendas. A situação crítica da população negra da
Bahia, então em bom número, fez esta se encaminhar para as terras de
Canudos, esperando ali encontrar conforto.
Os proprietários, à frente o barão de Geremoabo,
também políticos, reclamaram da situação ao governador, Luís Viana.
Entendiam que a atuação de "Conselheiro", em Canudos,
prejudicava a administração estadual. Daí as providências tomadas
pelo governo da Bahia para encerrar a questão.
A primeira iniciativa do governador foi religiosa,
conversando com o bispo da Bahia. Dois frades capuchinhos seguiram para
Canudos, com a missão de pregar uma "missão" (uma série de
exercícios religiosos em determinado período), com o fim de chamar os
"pecadores" para a obediência das leis estaduais. Apesar dos
esforços dos religiosos, não deu certo a pregação.
O governo então recorreu aos militares.
Em novembro de 1896, saiu a 1ª Expedição, uma tropa do
Exército de cerca de 80 soldados, sob o comando do tenente Pires
Ferreira. Foi um fracasso. A derrota dos militares fortaleceu o conceito
de "Conselheiro". Com isto, outros mais sertanejos se dirigiram
para Canudos. Já em dezembro, seguiu a 2ª Expedição, sob o comando do
major Febronio de Brito, levando cerca de 600 soldados. De novo, o pessoal do Exército
perdeu, porque eram enormes as dificuldades da marcha entre Salvador, a
capital baiana, e o sertão onde se encontrava Canudos.
O governador do Brasil, em abril de 1897, organizou a 3ª Expedição contra Canudos,
sob o comando do coronel Moreira César. Levou cerca de 1200 soldados e armas diversas, e marchou quase sem
parar de Salvador até Canudos. No arraial, o comandante, mesmo
cansado, decidiu enfrentar os conselheiristas e para mostrar disposição
na luta, decidiu avançar à frente. Nesta ocasião, foi ferido grave
com dois tiros. Com a morte do comandante, houve uma tremenda confusão
entre soldados. A tropa, com receio dos "jagunços" (apelido
dado ao pessoal de Canudos), fugiu desesperada. No caminho, muitos e
muitos soldados morreram.
Com mais este desastre, em junho de 1987, o governo chama o general Arthur Oscar
para o comando da 4ª Expedição. Depois dos primeiros combates, a
tropa federal quase fracassa. No país todo, houve preocupação. Quando os
jornais divulgaram as notícias, de todo o país se ofereceu ajuda.
Do Amazonas, o estado mais distante da Bahia,
seguiu um batalhão da Polícia Militar, com 245 policiais e 24 oficiais. Viajou de
Manaus, em 4 de agosto de 1897, sob o comando de tenente-coronel PM (tenente
EB) Cândido José Mariano, e permaneceu em Canudos até o final da luta.
A viagem de navio até Salvador durou dias. Até
Canudos, parte da viagem acontecia de trem, com 12 horas de viagem até
Queimadas. Daí em diante, somente a pé. De Queimadas até Monte Santo,
mais dois dias. Até Canudos, mais três dias. Como era difícil encontrar
água e alimentos, os soldados sofriam bastante para chegar à cidadela de
"Conselheiro". Muitos não aguentavam, morreriam de doenças
infecciosas, como aconteceu com o capitão Floresta, enterrado em Monte
Santo. Este foi o duro caminho percorrido pela tropa da Amazonas.
E, por que razão os policiais amazonenses seguiram
para a guerra de Canudos? o fator mais evidente foi a capacidade
financeira do Estado. Neste
período, o Amazonas arrecadava muito dinheiro com a
exploração da borracha. Assim, foi possível pagar a despesa de tantos
soldados, enquanto defendiam a ordem. Também, este benefício permitiu a
construção de muitos edifícios em Manaus, sendo o Teatro Amazonas
o mais simbólico.
Em 5 de outubro de 1897 acabou Canudos. Os soldados
vencedores procuram pelo beato, mas apenas descobrem seu corpo.
"Conselheiro" havia falecido em 22 de setembro sem ver o triste final
de seu Belo Monte. Para sempre Canudos!
MRLM
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