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sábado, janeiro 09, 2021

FORTIFICAÇÕES NO AMAZONAS

Desfrutando da amizade do coronel Lauro Pastor, da reserva do Exército, empenhado ele na restauração da história da Força Terrestre na Amazônia, fui contemplado com esta retrospectiva. Seu empenho findou com sua morte no início de novembro passado, atingido pela moléstia presente.

Em sua homenagem, vou compartilhar um trecho deste trabalho, no tocante às onze edificações construídas no Amazonas. Dado o volume de informações, vou me limitar à primeira fortificação, a implantada em Manaus.

1. Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro - 1669

A Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro, também referida como Fortim de São José, ou Forte de São José do Rio Negro ou Fortaleza do Rio Negro, localizava-se na margem esquerda da barra do rio Negro, um pouco acima da sua confluência com o rio Solimões, no “Logar da Barra”, depois “Villa da Barra”, na Capitania de São José do Rio Negro no estado do Maranhão e Grão Pará, atual cidade de Manaus (AM).

Maquete do Forte São José da Barra

http://www.manausonline.com/turismo-historia.asp

A questão da fundação

Os estudiosos não são acordes nem quanto à data de início nem quanto ao construtor desta fortificação, ligada à fundação da atual Manaus. A disparidade entre datas varia entre 1667, 1669 (SOUZA, 1885:57; BETTENDORF, Pe. João Felipe. apud: MONTEIRO, 1994:35; GARRIDO, 1940:18), 1670 (BARRETTO, 1958:45), anterior a 1691 (FRITZ, Pe. Samuel. apud: op. cit., p. 35), 1691 (MORAES FILHO, Melo. apud: op. cit., p. 35), 1697 (VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. apud: op. cit., p. 35). REIS (1966) não dispõe desta data, admitindo como solução provisória a data de 1669 para a obra de Francisco da Mota Falcão. (OLIVEIRA, 1968:751)

O Forte de São José

A Provisão-Régia de 15 de dezembro de 1684 determinou a construção. Iniciado por determinação do governador do Maranhão e Grão-Pará, capitão-general Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1685-1690), foi uma das quatro fortificações erguidas pelo maranhense capitão Francisco da Mota Falcão às próprias expensas nos sítios que lhe fossem indicados, em troca da mercê do governo vitalício de uma delas. Sua construção igualmente é atribuída a Manuel da Mota Siqueira, em 1697, o que nos remete ao mesmo contexto, uma vez que tendo Mota Falcão falecido, deixando as obras desses fortes inacabadas, seu filho, Mota Siqueira, assumiu e concluiu a empreitada.

Simples fortim, provavelmente de faxina e terra, apresentava planta no formato de um polígono quadrangular, sem fosso. Estava artilhado com quatro peças de calibres 3 e 1. De sua guarnição (270 homens), saíam os destacamentos para guarnecer os fortes e presídios dos rios Negro, Branco, Solimões e Içá, bem como para os registros do rio Madeira. O seu primeiro comandante foi o capitão Ângelo de Barros. O nome deste comandante também é grafado como Angélico de Barros.

Em 1720 o governador e capitão-general Bernardo Pereira de Berredo e Castro propôs a sua mudança para o furo do Jauaperi, o que chegou a ser aceite por João V de Portugal, mas jamais se consumou. Serviu como quartel para as forças portuguesas envolvidas nas demarcações decorrentes do Tratado de Madri (1750).

Dele existe iconografia: (Prospecto da Fortalezza do Ryo Negro) nos Prospectos das Fortalezas do Rio Negro, Tapajós, Pauxis, e Gurupá, mandados fazer, no ano de 1756, pelo capitão-general Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Presidente da Província do Pará e 1° Comissário das Demarcações dos Reais Domínios de Sua Majestade Fidelíssima da parte Norte.

Foi visitado pela expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira, que nos relata que, em 1774 a guarnição ordinária do forte era composta de cem praças e de uma companhia de infantaria auxiliar com o mesmo efetivo. A farda dessa tropa: calções brancos, apresilhados sob o joelho, meias brancas compridas, banda e casaco vermelhos, chapéu armado de dois bicos, galões de ouro, adereço de espada, chifarote, facão de mato e espingarda. OLIVEIRA (1968) refere que o mesmo naturalista, em 1785, observou, no interior do “fortim”, quartel (casa de palha) para dois oficiais e alguns soldados. Mais tarde, quando ali passou em 1788 em viagem pastoral, D. Frei Caetano da Anunciação Brandão, a seu respeito registrou que "(...) não tem mais que o nome.".

O Logar da Barra, povoação que se desenvolveu à sombra do forte sob o governo do brigadeiro da infantaria de Marinha Manuel da Gama Lobo D’Almada, tornou-se a sede da Capitania de São José do Rio Negro (1791), sendo elevada a Vila da Barra do Rio Negro para esse fim, a 29 de março de 1808.


Decadência, abandono e demolição

Com o crescimento urbano e a evolução do armamento no século XIX, a estrutura perdeu importância tática. Foi considerada como fortificação de 2ª Classe pelo Aviso do Ministério da Guerra de 14 de fevereiro de 1857, até que um novo Aviso, a 22 de maio de 1875, determinou o seu abandono.

GARRIDO (1940) esclarece que os seus vestígios foram arrasados para dar lugar ao Palácio do Governo da Província, à época (1940), ocupado pela Prefeitura Municipal de Manaus. BARRETTO (1958) complementa que à época (1958), sobre os vestígios dos seus alicerces, erguia-se a edificação da Estação de Rádio da 8ª Região Militar. REIS (1966) informa que, sobre o seu local foi erguido o edifício da Tesouraria da Fazenda, depois Diretoria da Fazenda Estadual. (OLIVEIRA, 1968).

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