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Jorge Tufic, 1952 |
Compartilhando mais um texto do saudoso poeta Jorge Tufic, que foi quem mais escreveu sobre o tema, sobre este movimento, por isso, entendo que seus nomes se vinculam. Lembro aos neófitos que a placa de latão que Tufic alude e dela reproduz o texto, encontra-se agora afixada em concreto ao pé do mulateiro.
O texto foi sacado do Jornal Cultura, de setembro de 1975, acervo do Arquivo Público. A foto do repórter policial Jorge Tufic circulou na edição do extinto O Jornal, em 2 de agosto de 1952, portanto, há 66 anos.
Jornal Cultura -setembro 1975
As origens mais remotas do
Clube da Madrugada residem na Caravana dos Quatro Monges, composta por quatro
jovens da década dos anos 50, do século passado: Alencar e Silva, Jorge Tufic,
Farias de Carvalho e Antistenes Pinto. Estes jovens, sufocados pelo acanhamento
intelectual da província, aproveitaram as benesses de uma passagem Manaus-Rio
de Janeiro, em 1951, por um avião da FAB, chegando ao Rio deslumbrados, com
seus versos parnasianos e seus poemas marcados pelas influências românticas e
simbolista. Mas, o contato com a nova literatura brasileira fê-los renunciar,
sem, demora, aos calhamaços que conduziam pesados na glória de tantos outros
poetas do passado, egressos da província. Foi um terrível “auto-de-fé” aquele,
quando milhares de suspiros poéticos tiveram que ser incinerados.
O verso livre e a poesia
moderna haviam inoculado o seu vírus benéfico, contudo, porque desse
reconhecimento do tempo presente nasceria depois o Clube da Madrugada. Isto
porque a Caravana de Monges desfez-se para uma nova concepção do mundo em que seus
fundadores viviam e ansiavam para afirmar-se.
Deste modo, voltando a Manaus,
juntaram-se eles a outros jovens que faziam do Pavilhão São Jorge (Café do
Pina) o seu ponto preferido na véspera da cada noite. Deste retorno, novos
encontros com novas mentalidades, com novos elementos de outras áreas
(pintores, sociólogos, economistas, políticos, filólogos, juristas etc.) foi
germinando a ideia de uma agremiação eclética, universal, aberta a todas as
manifestações do pensamento, que seria, ao mesmo tempo, o prenúncio da
antecipação de uma Universidade Livre, sem fronteiras, sem preconceitos de
raça, cor ou ideologia.
"Não seria preciso frisar
que semanas mais tarde, tendo-se deflagrado a cápsula mágica do Clube da
Madrugada, estaria o mesmo ancorando os seus ideais de cultura o liberdade ao
pé do velho Mulateiro que, hoje, numa
vivência física e espiritual do Clube resolve absorver lentamente em sua
carnadura vegetal a velha placa de latão que lhe fora pregada com os seguintes
dizeres:
“Pois
foi. Jovens se reuniram sob a fronde desta árvore, e aconteceu. Quando madrugada,
o Clube surgiu. Era novembro, vinte e dois. 1954, e fez-se.”