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segunda-feira, novembro 24, 2025

YPIRANGA: DE CINE À IGREJA EVANGÉLICA

Acabou a sessão nostalgia, ou melhor, agora somente restou a nostalgia. Quantos frequentaram aquela plateia imensa, a fim de aplaudir os artistas do palco e da tela. Lembro-me de ter assistido o filme sobre um desastre nos Andes - em uma tarde domingo, portanto, vendo geleiras por todos os lados, menos dentro do cinema Ypiranga (mantendo a desusada ortografia). Quando captei a mudança de placa comercial, recorri ao amigo Ed Lincon, que escreveu esta postagem, com a capacidade de quem sabe, porque pesquisou sobre todos os cinemas de Manaus.
“The end” para o Ypiranga! 

Ypiranga - último registro

Ipiranga, o fim de um cinema!

Ed Lincon 

    Recebi por estes dias a informação de que o antigo prédio onde funcionou o maior cinema de Manaus será transformado em igreja evangélica, apagando as lembranças de uma época feliz e sem a violência dos dias atuais. Infelizmente, é o preço do progresso! Depois, o local que serviu como cenário de diversões, namoros, troca de gibis e espetáculos musicais, funcionou por mais de 30 anos como loja de eletrodomésticos. Em seu palco passaram cantores como: Altemar Dutra, Teixeirinha, Moacir Franco, Waldik Soriano, Ângela Maria, entre outros.

    Sua inauguração ocorrida a 8 de outubro de 1959, aconteceu com grande pompa com a presença do governador Gilberto Mestrinho, demais autoridades e, claro, os proprietários da Empresa A. Bernardino. O filme de estreia foi Adeus às armas, com Rock Hudson, Jennifer Jones e Victorio de Sicca.

    Durante muitos anos levou alegria e entretenimento aos moradores da Cachoeirinha e bairros adjacentes.  Grandes produções do cinema americano e mundial foram exibidas em sua tela grandiosa.  No seu belo salão de espera havia os painéis dos filmes a serem exibidos posteriormente. Logo na entrada da sala de projeções, a reprodução do quadro de Pedro Américo, O Grito do Ypiranga, a receber os frequentadores. Havia também o Ipiranga Bar, para a venda de refrigerantes, doces, salgados e sorvetes.

     Assisti vários filmes neste cinema: King Kong, Os Trapalhões na Guerra dos Planetas, Marcelino Pão e Vinho, Cinderela Trapalhão, Tarzan e o Vale do Ouro, Simbad e o Olho do Tigre, Superman, entre outros. 

     Em janeiro de 1980 a empresa Bernardino fechou o Ipiranga para uma reforma em suas estruturas.  A sala de projeções foi diminuída de 1.500, para 500 lugares, além da construção de um salão para fumantes. Reabre em 10 de outubro do mesmo ano, com o filme “O Império contra Ataca”, segunda produção da trilogia “Guerra nas Estrelas” (hoje chamada de Star Wars).

Agora, "ajoelhou, tem que orar..."

    Mas a trajetória do Ipiranga estava fadada ao fracasso.  A sala antes bem frequentada começou a decair cada vez mais, filmes como “Roller Boll, a onda dos Patins”, “A Volta do Incrível Hulk”, “Heidi”, “Annie, a Órfã”, não foram suficientes para atrair público.  Então, os proprietários do Ipiranga passaram a exibir pornochanchadas de péssima qualidade. Outro motivo para o fim do Ipiranga foi a concorrência com os cinemas do Joaquim Marinho, que começavam a ganhar público e lançando filmes simultaneamente com os cinemas do Sul do país, o que não acontecia com as salas da empresa Bernardino, que levavam anos para chegar em Manaus. Despesas com energia elétrica, impostos, pagamentos dos funcionários contribuíram para o fechamento definitivo.  E ele não tardou a chegar. Na tarde de 1º de novembro de 1983, após a exibição de mais uma pornochanchada, “Corrupção de Menores”, o Ipiranga encerrou suas atividades definitivamente.  Com o fechamento, chegava ao fim o último cinema de bairro de Manaus.

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