Acabou a sessão nostalgia, ou melhor, agora somente restou
a nostalgia. Quantos frequentaram aquela plateia imensa, a fim de aplaudir os
artistas do palco e da tela. Lembro-me de ter assistido o filme sobre um desastre
nos Andes - em uma tarde domingo, portanto, vendo geleiras por todos os lados, menos dentro
do cinema Ypiranga (mantendo a desusada ortografia). Quando captei a mudança de
placa comercial, recorri ao amigo Ed Lincon, que escreveu esta postagem, com a
capacidade de quem sabe, porque pesquisou sobre todos os cinemas de Manaus.“The end” para o Ypiranga!
Ipiranga, o fim de um cinema!
Ed Lincon
Recebi por estes dias a
informação de que o antigo prédio onde funcionou o maior cinema de Manaus será
transformado em igreja evangélica, apagando as lembranças de uma época feliz e
sem a violência dos dias atuais. Infelizmente, é o preço do progresso! Depois,
o local que serviu como cenário de diversões, namoros, troca de gibis e
espetáculos musicais, funcionou por mais de 30 anos como loja de
eletrodomésticos. Em seu palco passaram cantores como: Altemar Dutra,
Teixeirinha, Moacir Franco, Waldik Soriano, Ângela Maria, entre outros.
Sua inauguração ocorrida a 8 de
outubro de 1959, aconteceu com grande pompa com a presença do governador
Gilberto Mestrinho, demais autoridades e, claro, os proprietários da Empresa A.
Bernardino. O filme de estreia foi Adeus às armas, com Rock Hudson,
Jennifer Jones e Victorio de Sicca.
Durante muitos anos levou
alegria e entretenimento aos moradores da Cachoeirinha e bairros
adjacentes. Grandes produções do cinema
americano e mundial foram exibidas em sua tela grandiosa. No seu belo salão de espera havia os painéis
dos filmes a serem exibidos posteriormente. Logo na entrada da sala de projeções,
a reprodução do quadro de Pedro Américo, O Grito do Ypiranga, a receber
os frequentadores. Havia também o Ipiranga Bar, para a venda de refrigerantes,
doces, salgados e sorvetes.
Assisti vários filmes neste
cinema: King Kong, Os Trapalhões na Guerra dos Planetas, Marcelino Pão e Vinho,
Cinderela Trapalhão, Tarzan e o Vale do Ouro, Simbad e o Olho do Tigre,
Superman, entre outros.
Em janeiro de 1980 a empresa
Bernardino fechou o Ipiranga para uma reforma em suas estruturas. A sala de projeções foi diminuída de 1.500,
para 500 lugares, além da construção de um salão para fumantes. Reabre em 10 de
outubro do mesmo ano, com o filme “O Império contra Ataca”, segunda produção da
trilogia “Guerra nas Estrelas” (hoje chamada de Star Wars).

Agora, "ajoelhou, tem que orar..."
Mas a trajetória do Ipiranga
estava fadada ao fracasso. A sala antes
bem frequentada começou a decair cada vez mais, filmes como “Roller Boll, a
onda dos Patins”, “A Volta do Incrível Hulk”, “Heidi”, “Annie, a Órfã”, não
foram suficientes para atrair público.
Então, os proprietários do Ipiranga passaram a exibir pornochanchadas de
péssima qualidade. Outro motivo para o fim do Ipiranga foi a concorrência com
os cinemas do Joaquim Marinho, que começavam a ganhar público e lançando filmes
simultaneamente com os cinemas do Sul do país, o que não acontecia com as salas
da empresa Bernardino, que levavam anos para chegar em Manaus. Despesas com
energia elétrica, impostos, pagamentos dos funcionários contribuíram para o
fechamento definitivo. E ele não tardou
a chegar. Na tarde de 1º de novembro de 1983, após a exibição de mais uma
pornochanchada, “Corrupção de Menores”, o Ipiranga encerrou suas atividades
definitivamente. Com o fechamento,
chegava ao fim o último cinema de bairro de Manaus.

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