Quando em 2004 iniciei as
pesquisas sobre a produção literária do padre-poeta L. Ruas (1931-2000), foi-me
indicado pelo amigo comum, poeta Elson Farias, um livro de Antonio Carlos Villaça
(1928-2005). “O Nariz do Morto” era o livro contendo uma referência ao Ruas,
que foi colega de Villaça no seminário do Rio Comprido, em 1953. Entusiasmado,
consegui conversar com o Villaça pelo telefone. Um único bate-papo. Vinte anos
depois, pouco recordo de nosso papo, mas me ficou gravado o entusiasmo que ele possuía
pelo “Ruas, de Manaus, um moreno inteligente, líder nato, falava muito bem
mesmo, como poucos ouvi até hoje”.
![]() |
Antonio C. Villaça (1928-2005) |
Em janeiro do ano seguinte, lendo
a coluna de Carlos Heitor Cony circulada em A Crítica, soube do fim de
Antonio Carlos Villaça. E, passadas duas décadas, o texto vai postado em
homenagem ao morto e ao seu colega, o falecido L. Ruas.
Detalhe da coluna, em A Crítica,
07 junho 2005
Antônio Carlos Vilaça
RIO DE
JANEIRO - E assim mesmo. Morreu Antônio Carlos Vilaça, no sábado, 28 de maio.
Apenas uma pequena informação, na seção dos anúncios fúnebres, noticiando o seu
falecimento, providência de anónimos que o admiravam. Estava abrigado no asilo
São Luís, destinado a idosos sem família e sem recursos, em fase de doença
terminal. Durante algum tempo, por iniciativa de Marcos Almir Madeira, ocupava
um quarto na sede do PEN Club do Brasil. Com a morte de Madeira, acho que foi
despejado e foi parar num asilo. Vilaça escreveu uma obra-prima, “O Nariz do
Morto”, que foi saudado pela crítica como ponto alto de nossa memorialística,
colocado acima de Joaquim Nabuco, de Gilberto Amado e de Pedro Nava.
Na
realidade, escrevia melhor do que todos eles, tivera apenas uma existência mais
modesta, nada de espetacular em sua vida. Ganhou a mais alta láurea da nossa
literatura, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que já
premiou Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Fernando Sabino e,
neste ano, premiará Ferreira Gullar.
Poucos escreveram
tão bem, tão limpamente e tão profundamente. Conhecia a literatura universal
como um ‘scholar’, sabia de cor trechos e mais trechos dos clássicos, de Homero
e Juan Rulfo.
Mas seu
grande assunto era a santidade que não encontrou nas diversas ordens religiosas
em que foi buscar o caminho não para se tornar santo, mas para entender a
santidade dos outros. Fez noviciado entre jesuítas, dominicanos, beneditinos,
buscou diversas ordens monásticas e até mesmo o sacerdócio secular. Na solidão,
o grande crente parece que se tornou descrente de tudo.
A doença
deformou-o, mas não afetou a sua lucidez, a ânsia de entender o homem. Morreu só.
Se existe um céu, seja lá de que religião for, Vilaça estará nele, pela sua
alegria e pelo seu sofrimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário