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quarta-feira, julho 02, 2025

ANTONIO CARLOS VILLAÇA (1928-2005)

 

Quando em 2004 iniciei as pesquisas sobre a produção literária do padre-poeta L. Ruas (1931-2000), foi-me indicado pelo amigo comum, poeta Elson Farias, um livro de Antonio Carlos Villaça (1928-2005). “O Nariz do Morto” era o livro contendo uma referência ao Ruas, que foi colega de Villaça no seminário do Rio Comprido, em 1953. Entusiasmado, consegui conversar com o Villaça pelo telefone. Um único bate-papo. Vinte anos depois, pouco recordo de nosso papo, mas me ficou gravado o entusiasmo que ele possuía pelo “Ruas, de Manaus, um moreno inteligente, líder nato, falava muito bem mesmo, como poucos ouvi até hoje”.

Antonio C. Villaça (1928-2005)

Em janeiro do ano seguinte, lendo a coluna de Carlos Heitor Cony circulada em A Crítica, soube do fim de Antonio Carlos Villaça. E, passadas duas décadas, o texto vai postado em homenagem ao morto e ao seu colega, o falecido L. Ruas.

 

Detalhe da coluna, em A Crítica,
07 junho 2005

Antônio Carlos Vilaça

RIO DE JANEIRO - E assim mesmo. Morreu Antônio Carlos Vilaça, no sábado, 28 de maio. Apenas uma pequena informação, na seção dos anúncios fúnebres, noticiando o seu falecimento, providência de anónimos que o admiravam. Estava abrigado no asilo São Luís, destinado a idosos sem família e sem recursos, em fase de doença terminal. Durante algum tempo, por iniciativa de Marcos Almir Madeira, ocupava um quarto na sede do PEN Club do Brasil. Com a morte de Madeira, acho que foi despejado e foi parar num asilo. Vilaça escreveu uma obra-prima, “O Nariz do Morto”, que foi saudado pela crítica como ponto alto de nossa memorialística, colocado acima de Joaquim Nabuco, de Gilberto Amado e de Pedro Nava.

Na realidade, escrevia melhor do que todos eles, tivera apenas uma existência mais modesta, nada de espetacular em sua vida. Ganhou a mais alta láurea da nossa literatura, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que já premiou Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Fernando Sabino e, neste ano, premiará Ferreira Gullar.

Poucos escreveram tão bem, tão limpamente e tão profundamente. Conhecia a literatura universal como um ‘scholar’, sabia de cor trechos e mais trechos dos clássicos, de Homero e Juan Rulfo.

Mas seu grande assunto era a santidade que não encontrou nas diversas ordens religiosas em que foi buscar o caminho não para se tornar santo, mas para entender a santidade dos outros. Fez noviciado entre jesuítas, dominicanos, beneditinos, buscou diversas ordens monásticas e até mesmo o sacerdócio secular. Na solidão, o grande crente parece que se tornou descrente de tudo.

A doença deformou-o, mas não afetou a sua lucidez, a ânsia de entender o homem. Morreu só. Se existe um céu, seja lá de que religião for, Vilaça estará nele, pela sua alegria e pelo seu sofrimento.

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