Meu pai, ao se mudar do bairro de Educandos, levou a família
para o Morro da Liberdade,
no final de 1959. O bairro estava em implantação, daí a “fartura” que
enfrentamos. Os irmãos mais jovens encontraram embaraços com a ausência
de escola.
Catando em periódicos, recolhi do matutino O Jornal (16 de outubro de 1966) a notícia sobre a inauguração de
uma escola, que a matéria jornalística tão simpática sequer informa a
localização no bairro.
Este registro serve para os futuros contadores da vida do Morro.
Dia da Criança no Morro
Inauguração da Escola Sarah Kubitschek nº 7
Hoje, 12 de outubro, Dia da
Criança, a Fundação das Pioneiras Sociais, pela sua Delegacia do Amazonas,
estará inaugurando o prédio novo da Escola Sarah
Kubitschek, no Morro da Liberdade, - e nenhum ato poderia ser mais expressivo,
mais eloquente e mais apropriado para celebrar esta data e para rendar tributo de
homenagem à Infância, que a efeméride consagra.
Ainda mais significativo o
acontecimento porque se trata de um prédio de boa e segura construção funcional,
construído em alvenaria e madeira, de linhas sóbrias e elegantes, com três salas
de aula com luz e ventilação diretas, sala da diretoria e secretaria e dependências
constantes de cozinha e sanitários.
Tem área de circulação compatível
e, na parte posterior do terreno onde está edificado, amplo pátio destinado a
recreio. Ainda mais, e principalmente, não está vazio, está sim, completamente
mobiliado, com carteiras individuais para os alunos, mesas para as professoras,
quadros- negros, além de material escolar de primeira ordem; mapas de
Geografia, de História, de Matemática ilustrados, globo terrestre, livros,
cadernos.
E não está vazio porque
ali estudam 200 crianças pobres, em dois turnos de aulas, pela manhã e à tarde,
lecionando-as as professoras normalistas Dulcineia Leite, Walenda Afonso e Vera
Lúcia Arruda Cabral.
A
Escola Sarah Kubitschek
Existe há oito anos, a
princípio funcionava em Anamã [AM], posteriormente foi transferida para o Morro
da Liberdade, até agora mantida precariamente em um barracão coberto de palha,
e a partir de hoje, em sua nova sede, mais satisfatórios resultados poderá
oferecer na educação das crianças, naquele bairro, onde outra unidade escolar não
existe.
E' está uma das 14 Escolas
que as Pioneiras Sociais mantêm em todo o Estado do Amazonas, com a
responsabilidade total e completa, inclusive financeira, de seu funcionamento,
e fiscalizadas pela Educação Pública estadual.
O ato inaugural, marcado
para 10 horas, terá a presença do Governador do Estado [Arthur Reis], do general Comandante
do GEF, do Secretário de Educação, do Prefeito de Manaus e outras autoridades,
devendo, na oportunidade, pronunciar palavras alusivas a vereadora Léa Alencar
Antony, presidente e delegada das Pioneiras Sociais no Amazonas, ora afastada
dos cargos por motivo de ser candidata a uma cadeira na Assembleia.
Recorte de O Jornal, 16.10.1966 |
D. Léa afastou-se espontaneamente,
por escrúpulo de consciência, e passou o comando à professora Maria Júlia
Fernandes Alencar. Mas é muito justa a sua presença no ato, pois a Escola Sarah Kubitschek nº 7 é obra sua, obra
do seu coração e do seu espírito criador, obra da sua bondade e da sua
sensibilidade, como as outras unidades escolares das Pioneiras no Amazonas, em
Manaus, em Itacoatiara, no Careiro e outros municípios.
Para melhor entenderem os
leitores as dificuldades que devem ser enfrentadas para manter uma unidade
escolar no Morro da Liberdade, basta dizer que naquele subúrbio não há água
encanada, nem luz elétrica. Uma lata d'água, posta na porta, custa 200
cruzeiros, e foi com estes ônus que a obra se ergueu. As crianças do bairro são
de famílias paupérrimas, seus pais não podem adquirir nem o mais elementar
material escolar, e tudo, tudo é fornecido pelas Pioneiras Sociais.
Do mesmo modo a Escola fornece
alimento às crianças, bem assim água filtrada, tudo por meio de equipamento
próprio instalado na sua cozinha. A obra total da Escola Sarah Kubitschek custou seis milhões e cem mil cruzeiros.
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