CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, outubro 16, 2017

ARMANDO DE MENEZES

O homenageado, em 2004
Na sexta-feira 13, a Academia Amazonense de Letras promoveu um Sarau para recordar o acadêmico Armando Andrade de Menezes, que faleceu em junho passado.

A organização do encontro lítero-musical coube ao associado Zemaria Pinto, que conseguiu junto à presidência da Casa autorização para que membros do Chá do Armando cumprissem o programa.

Dessa maneira, coube-me narrar a trajetória de mais de 15 anos dessa confraria, que foi instituída e mantida pelo homenageado.
Abaixo, minha exposição.

Último Chá do Armando

Há pessoas que costumam acenar às estrelas quando alguém pergunta pelo seu ente querido morto. Nesse sentido, antes de iniciar este convescote literário, passei o olhar pelo firmamento e, acreditem, o venturoso Armando de Menezes me sorriu. Ao menos, foi isso que percebi quando certa estrela paidegua deu uma piscadela em minha direção.

Voltei a sentir aquele beijo fraterno com o qual o Dr. Armando saudava seus pupilos, quando estes adentravam ao salão onde era consumido o Chá que lhe emprestou o nome. Esse afago ocorria com todos, mas eu me considerava privilegiado, porque, por um momento, eu me sentia seu filho, acariciado, incentivado, mas, oportunamente ralhado. E, repetindo o cancioneiro popular, “mas que seu filho, eu me tornei seu fã”.

O Chá do Armando foi esse movimento lítero-musical- etilista, que nunca foi anônimo. Começou no IGHA, no início do século, quando esta agremiação empenhava-se em colocar de pé sua Casa. Eu estava lá, era o vice-presidente, e cuidava do layout e da acomodação do acervo. Os recursos financeiros existentes permitiram festejos, conduzidos pelo tesoureiro Humberto Figliuolo, homem de boa boca e do melhor gosto, que promoveu suntuosos chás acadêmicos.



No entanto, o dinheiro escasseou. Então, passamos a reunião para o térreo, quando por obra e soldo de Armando de Menezes surgiu à mesa, ora o Red ora o Black de paladar quase unanime. Ali, os confrades discutiam o avanço da Casa de Bernardo Ramos, os entreveros políticos e fechavam a sessão marcando o próximo encontro. Sempre às sextas, encerrando a tarde, abrindo a noite.

Sempre há um desencontro. Nesse fugaz desacordo, a reunião se abrigou aqui, na Casa de Adriano Jorge. Ajeitamo-nos na secretaria, espaço que também servia de biblioteca. Era presidente da Academia o poeta Max Carphentier que, ao anunciar o Chá do Armando, batizou esse divertimento e lhe crismou a notoriedade. O inesperado selo carphentiano pegou, e serviu de logomarca por mais de uma década.

Todavia, o espaço diminuto e impróprio para tal tipo de afluência obrigou a mudança, que foi decididamente benfazeja. Pois, abrigou-nos o falecido multiartista Anísio Mello em sua mansão provincial. A despeito da reduzida comodidade, tornou-se o emblema desse encontro. Como me agradava rever as telas de Anísio, a cada sexta. Chegamos a estabelecer a musa do Chá (a tela que retratava uma donzela desnuda, em ambiente amazônico), cujo quadro encontra-se hoje em “lugar incerto e não sabido”.

Naquela mesa de trabalho, festejamos os 80 anos de Armando, com uma caprichada tartarugada, brinde do jornalista Simão Pessoa. Dona Ivete esteve presente enlevando o festim. Esposas e namoradas de convivas estiveram no jantar.

Como a vida humana tem “prazo de validade”, chegou o dia do Anísio Mello. Ao curso de um largo período de convalescença, em abril de 2010, Anísio Mello passou à imortalidade. Em consequência, o Chá teve que buscar nova instalação.

Não sei se pela ordem, mas o Chá passou pelo Sebão do Diniz (do Antônio, sobrinho do acadêmico Almir Diniz), ali na rua Joaquim Sarmento. Cercados de livros e de importunos flanelinhas, curtimos algumas sextas-feiras. Então, experimentamos a Lanchonete Pina, na avenida Joaquim Nabuco. A passagem durou pouquíssimo, pois a escada que levava os convidados ao pátio superior e o cardápio “salgado” do português Chico Mendes espantaram a tribo.

Na mesma calçada da mesma avenida, fomos nos abrigar no Salão dos Belos Quadros, uma dependência da Universidade Federal ocupada por terceiros. Alguns transtornos depois, veio, então, a sala da presidência do Ideal Clube, por deferência do presidente Humberto Figliuolo, até que aconteceu a derradeira mudança, novamente no citado prédio da Ufam.

O Chá ocupou o Ideal por bom tempo, até que os males da idade atingissem ao patrono do movimento. Armando de Menezes foi diminuindo a presença, até que uma prescrição médica vetou seu comparecimento, impedindo de ver seus pupilos. E a mesa, sem ele, doía tanto.

Ainda assim, ele os mantinha confortados com os destilados e outros petiscos, mas exigia saber da presença dos seguidores e dos debates acontecidos. Para tanto, seguia para ele uma espécie de Ata da sessão. (SEGUE NO PRÓXIMO POST)

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