O homenageado, em 2004 |
Na sexta-feira 13, a Academia Amazonense de Letras promoveu um Sarau
para recordar o acadêmico Armando Andrade de Menezes, que faleceu em junho
passado.
A organização do encontro lítero-musical coube ao
associado Zemaria Pinto, que conseguiu junto à presidência da Casa autorização
para que membros do Chá do Armando
cumprissem o programa.
Dessa maneira, coube-me narrar a trajetória de mais
de 15 anos dessa confraria, que foi instituída e mantida pelo homenageado.
Abaixo, minha exposição.
Último Chá do Armando
Há pessoas que costumam acenar
às estrelas quando alguém pergunta pelo seu ente querido morto. Nesse sentido,
antes de iniciar este convescote literário, passei o olhar pelo firmamento e, acreditem,
o venturoso Armando de Menezes me sorriu. Ao menos, foi isso que percebi quando
certa estrela paidegua deu uma piscadela
em minha direção.
Voltei a sentir aquele
beijo fraterno com o qual o Dr. Armando saudava seus pupilos, quando estes adentravam
ao salão onde era consumido o Chá que lhe emprestou o nome. Esse afago ocorria com
todos, mas eu me considerava privilegiado, porque, por um momento, eu me sentia
seu filho, acariciado, incentivado, mas, oportunamente ralhado. E, repetindo o
cancioneiro popular, “mas que seu filho, eu me tornei seu fã”.
O Chá do Armando foi esse
movimento lítero-musical- etilista, que nunca foi anônimo. Começou no IGHA, no
início do século, quando esta agremiação empenhava-se em colocar de pé sua
Casa. Eu estava lá, era o vice-presidente, e cuidava do layout e da acomodação
do acervo. Os recursos financeiros existentes permitiram festejos, conduzidos pelo
tesoureiro Humberto Figliuolo, homem de boa boca e do melhor gosto, que
promoveu suntuosos chás acadêmicos.
No entanto, o dinheiro
escasseou. Então, passamos a reunião para o térreo, quando por obra e soldo de
Armando de Menezes surgiu à mesa, ora o Red ora o Black de paladar quase
unanime. Ali, os confrades discutiam o avanço da Casa de Bernardo Ramos, os entreveros políticos e fechavam a sessão
marcando o próximo encontro. Sempre às sextas, encerrando a tarde, abrindo a
noite.
Sempre há um
desencontro. Nesse fugaz desacordo, a reunião se abrigou aqui, na Casa de Adriano Jorge. Ajeitamo-nos na
secretaria, espaço que também servia de biblioteca. Era presidente da Academia o
poeta Max Carphentier que, ao anunciar o Chá
do Armando, batizou esse divertimento e lhe crismou a notoriedade. O inesperado
selo carphentiano pegou, e serviu de logomarca por mais de uma década.
Todavia, o espaço diminuto
e impróprio para tal tipo de afluência obrigou a mudança, que foi decididamente
benfazeja. Pois, abrigou-nos o falecido multiartista
Anísio Mello em sua mansão provincial. A despeito da reduzida comodidade,
tornou-se o emblema desse encontro. Como me agradava rever as telas de Anísio,
a cada sexta. Chegamos a estabelecer a musa do Chá (a tela que retratava uma donzela
desnuda, em ambiente amazônico), cujo quadro encontra-se hoje em “lugar incerto
e não sabido”.
Naquela mesa de trabalho, festejamos
os 80 anos de Armando, com uma caprichada tartarugada, brinde do jornalista
Simão Pessoa. Dona Ivete esteve presente enlevando o festim. Esposas e
namoradas de convivas estiveram no jantar.
Como a vida humana tem
“prazo de validade”, chegou o dia do Anísio Mello. Ao curso de um largo período
de convalescença, em abril de 2010, Anísio Mello passou à imortalidade. Em
consequência, o Chá teve que buscar nova instalação.
Não sei se pela ordem, mas
o Chá passou pelo Sebão do Diniz (do Antônio,
sobrinho do acadêmico Almir Diniz), ali na rua Joaquim Sarmento. Cercados de
livros e de importunos flanelinhas, curtimos algumas sextas-feiras. Então,
experimentamos a Lanchonete Pina, na
avenida Joaquim Nabuco. A passagem durou pouquíssimo, pois a escada que levava
os convidados ao pátio superior e o cardápio “salgado” do português Chico
Mendes espantaram a tribo.
Na mesma calçada da mesma
avenida, fomos nos abrigar no Salão dos Belos Quadros, uma dependência da
Universidade Federal ocupada por terceiros. Alguns transtornos depois, veio,
então, a sala da presidência do Ideal Clube, por deferência do presidente
Humberto Figliuolo, até que aconteceu a derradeira mudança, novamente no citado
prédio da Ufam.
O Chá ocupou o Ideal por
bom tempo, até que os males da idade atingissem ao patrono do movimento.
Armando de Menezes foi diminuindo a presença, até que uma prescrição médica vetou
seu comparecimento, impedindo de ver seus pupilos. E a mesa, sem ele, doía
tanto.
Ainda assim, ele os
mantinha confortados com os destilados e outros petiscos, mas exigia saber da
presença dos seguidores e dos debates acontecidos. Para tanto, seguia para ele
uma espécie de Ata da sessão. (SEGUE NO PRÓXIMO POST)
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