CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, agosto 29, 2022

ACAPULCO NIGTH CLUB: NOTAS HISTÓRICAS

O proprietário do Acapulco - Mario de Oliveira - conta ao jornal A Gazeta a realização de seu sonho de jovem do interior, que auxiliado pelos governantes deu a Manaus um local aprazível para a diversão.

 

Recorte de A Gazeta, 17 janeiro 1963

O ANO DA DECISÃO

A HISTÓRIA DO ACAPULCO

Nos meus tempos de rapaz, quando todos gostamos, sem maiores preocupações, de participar de noitadas, eu já sentia que nossa Manaus necessitava de um local de diversão, o qual, embora público, estivesse de acordo pelo seu bom gosto, pelo seu ambiente selecionado, com seus foros de cidade civilizada.

Os aspectos, aos mais modernos existentes por todo o País. O Acapulco não foi, portanto, uma inspiração repentina, mais um ideal acalentado durante muito tempo. Foi somente em 1955 que me foi possível concretizar esse sonho que, hoje, é uma das mais fulgurantes de nossa vida social. (...)

Ninguém é autossuficiente bastante, pela riqueza, pela inteligência, pela força de mando, para poder desprezar a solidariedade de quem quer que seja. É de lembrar-se que os pobres coveiros são os que sepultam os reis e os mendigos. 

SOLIDARIEDADE DE TODOS

O Acapulco é, portanto, o fruto opimo de uma harmonia de sentimentos, visando a um fim comum:  o progresso de nossa cidade.

 

CABOCLO AMAZONENSE

Sou amazonense, e do interior, e, como tal sou genuinamente caboclo. E faço questão de sê-lo, e me orgulho disso. Quem me conhece sabe que não troco uma ovas de acari-bodo pelas de um esturjão. Nasci na foz do Jutaí, onde meu finado pai possuía propriedade. Vivi lá os dias despreocupados de minha infância, de anzol n’água, virando tartarugas na praia, remando igarités, saboreando deliciosos “arabus”, comendo peixe na pá do remo.

Vim para Manaus para estudar. Cursei o tradicional Ginásio Amazonense. Interrompi meus estudos com a morte de meu pai. Modéstia à parte não fui mau aluno. De Manaus apenas sai poucas vezes, e quase sempre para Belém. O Rio de Janeiro, somente fui conhecê-lo há três anos.

Não tenho inclinações a Marco Polo. Sou caboclamente sedentário. Podem chamar-me de tabaréu, mas não existe cidade melhor do que Manaus. Sou amazonense de corpo e alma, e o Acapulco é tão amazonense quanto eu.

É que, naqueles tempos, nossa Capital, do ponto de vista de divertimento, se situava entre dois extremos: ou os clubes “fechados”, exclusivamente para os sócios, ou cabarés de ínfima categoria. E então eu já dizia aos meus amigos que, no dia em que eu tivesse recursos financeiros, haveria de criar, em Manaus, um night club que se igualasse, sob todos os aspectos, aos mais modernos existentes por todo o país. O Acapulco não foi, portanto, uma inspiração repentina, mas um ideal acalentado durante muito tempo. 

PIONEIRISMO E AMOR À TERRA

“O segundo motivo por que eu desejei deslocar a atenção e o interesse de meus conterrâneos para a periferia de nossa Capital, pois, até então era hábito nosso o restringirmos nossas atividades exclusivamente ao centro da cidade.

Quando adquiri o prédio meus recursos financeiros só davam para tanto. Foi uma audácia minha; mas um ideal audacioso sempre atrai simpatia. Foi o que ocorreu. Amigos cederam-me recursos para eu levar adiante meu plano. Elementos do Comércio e da Indústria forneceram-me material para pagamento em prazo mais dilatado. A imprensa e o Rádio, desde o primeiro instante, colocaram-se a meu favor. Nossa população deu-nos apoio de sua frequência, e, como toque final e decisivo tivemos a solidariedade indispensável das autoridades sobressaindo-se o Dr. Plinio Ramos Coelho, então governador do Estudo, o qual, autêntico bandeirante do progresso que compreendeu minha iniciativa de bem servir nossa terra, e prestigiou-a sempre, desde a inauguração do Acapulco, à qual compareceu para nossa honra, em companhia de seus auxiliares, até o término de sua fecunda administração.

Seguiu-se-lhe, então, o ilustre governador Gilberto Mestrinho, que também jamais nos negou a sua solidariedade, inclusive honrando o Acapulco, de quando em quando, com sua presença. Eis por que aproveito o ensejo para testemunhar a todos a minha Imperecível gratidão. 

CENTR0 TURÍSTICO

“Uma cidade, seja qual for, somente cresce, evolui e atrai riqueza pelo que pode oferecer, dentre outras atrações e vantagens materiais, de divertimentos, especialmente noturnos, onde qualquer um possa, de vez em quando fugir do cotidiano e esquecer-se das preocupações diárias.

Enquanto as autoridades, nossa população, a Imprensa e o Rádio continuam a prestigiar o Acapulco, tudo faremos para corresponder a pia confiança. 

ASSISTÊNCIA SOCIAL

Pessoas menos avisadas, formulando conceitos apressados, talvez julguem que a única finalidade do Acapulco é a de ganhar dinheiro às pamparras, para encher usurariamente pés-de-meia, colchões e “burras”. Mas não é verdade. Reafirmo o que já disse: tudo o que já ganhei no Acapulco nele tem sido empregado. Não possuo apartamento no Rio ou em outra qualquer cidade. Como não pretendo, jamais, me mudar de Manaus, tudo o que eu ganhar será utilizado aqui mesmo.  Naturalmente que sem lucro não poderia haver o Acapulco. Temos de ter sempre uma reserva para atender ao aleatório de nosso negócio. Afora isso o Acapulco emprega 60 pessoas, desde os trabalhadores de campo ao gerente. 

sábado, agosto 27, 2022

FURTO NO CEMITÉRIO

Bem que tentei, mas como não consegui registrar o BO por meio eletrônico aproveito este espaço para a denúncia. Trata-se do furto da lousa ou da tampa da sepultura da minha família, sob minha guarda existente no cemitério São João Batista.


Registro de outubro 21, concluída
a construção

Semana passada, ao visitar o túmulo fui surpreendido pela situação.

Registro de agosto 2022

Após fotografar a peça funerária fui à administradora que me recomendou o BO por meio da internet. Tentei, mas as eleições suspenderam a atividade em nível estadual, restando-me o site do Ministério da Justiça.

Então, depois de algumas tentativas, e diante de tantos detalhes obrigatórios, tal como a cor do denunciante ou informante, desisti. Mais prático foi buscar uma marmoraria ou estabelecimento semelhante para a confecção de nova lápide. Bom fugir dos prestadores de serviços existentes no interior deste “campo (não muito) santo”.

Estou convencido de que o furto não se trata de excepcionalidade, a administradora lamentou o fato, lembrando que esta prática segue em operação. Registro realizado, com o prejuízo consumado.

quarta-feira, agosto 24, 2022

GETÚLIO VARGAS: DATA DE SUA MORTE

 Acolhendo um trabalho do amigo de rede social, compartilho a publicação do Francisco Braga sobre o aniversário de morte de Getúlio Vargas, que hoje é reverenciada.

Getúlio Vargas

Nesta data em que lembramos o triste desfecho para a vida do Presidente GETÚLIO VARGAS, ocorrido há 68 anos em 24/08/1954, compartilho com você matéria extraída da revista O CRUZEIRO, edição de 06/10/1962, que publiquei no Blog do Braga em 26/08/2021, intitulada RECORDAÇÕES DE GETÚLIO, memórias guardadas por meu saudoso amigo, falecido em 2010, DEPUTADO JOSÉ BARBBOSA, sobre um dos momentos políticos brasileiros: o que sucedeu a deposição de Vargas em 1945, quando ele tinha se retirado para São Borja, e em 1950, quando retornou à presidência carregado pelos braços do povo. O Deputado José Barbosa, que tinha sido assessor de Getúlio Vargas, foi Assessor Especial do governador de Rondônia Jerônimo Santana (mandato de 1987 a 1991), com quem também trabalhei como Secretário Adjunto da Fazenda.

Importantes já na Revolução de 1930, que levou Vargas ao poder, os militares conduziram o processo de deposição de Getúlio, que por sua vez procurava protagonizar a transição e permanecer no poder. Para sucedê-lo no Palácio do Catete, o Presidente Vargas apoiava o candidato Eurico Gaspar Dutra, seu ministro, que tinha fortes convicções, apoiando o integralismo e revelando forte queda pela Alemanha Nazista, contando com o apoio do Exército, seu candidato. Seu oponente foi o Brigadeiro Eduardo Gomes, apoiado pela Aeronáutica, também militar e liderança tenentista da década de 1920. A disputa entre Dutra e Gomes representou, acima de tudo, uma divisão nas Forças Armadas. O pretexto para o golpe contra o Presidente Vargas foi a nomeação de seu irmão, Bejo, para chefe de polícia do DF, em substituição a João Alberto, fato corriqueiro sem maior expressão, dentro de uma normalidade política. Mas, como já visto, os tempos eram conturbados em fins de 1945. Link: https://bragamusician.blogspot.com/2021/08/recordacoes-de-getulio.html


terça-feira, agosto 16, 2022

MODAS DE ONTEM

 

SAPATO DE LONA 

Renato Mendonça


De vez em quando, quando boto a memória para passear, ela tropeça em algum resquício pitoresco do passado; regurgita assim dessa maneira um episódio saliente da vida, e sem dúvida aquele que vale a pena resgatar para registrá-lo no álbum das reminiscências. Então, viajemos até lá.

Renato Mendonça, o
alfaiate

Eu estava com meus quinze ou dezesseis anos, talvez. O marco temporal me diz que eu havia recebido de presente de meu irmão, Roberto, uma calça cinza clara, estilo Saint Tropez, essas que nos tempos idos tinham a cintura baixa, baixíssima. E, para completar o estilo romântico em evidência, vivia-se os tempos da Jovem Guarda, de onde se importava mentalmente os figurinos. A turma de jovens rapazes usavam os cabelos medianamente compridos como seus ídolos, e as moças conviviam estereotipadas com os sintomas de uma paixão, por certo contaminadas com o veneno da flecha do Cupido. Assim, era importante que a roupa estivesse acompanhando a moda.

Mas, como o dinheiro era escasso, cada um tinha que se virar para conseguir melhorar o visual sem gastar quase nada. A compra de um corte de tecido era fundamental e muito usual, para a seguir confiá-lo ao alfaiate ou uma costureira. No meio daquele pequeno universo de adolescentes de classe média, pobres monetariamente, eram as próprias mães quem se encarregavam dessa tarefa.

Para minha sorte, eu tinha um amigo alfaiate, o Osmar. Ele gostava de costurar, gostava também de criar figurinos, porém alguns deles de gosto duvidoso. E eu, aproveitando-me da chance de ser um aprendiz do seu ateliê e me escalando como um bom observador, também dava meus pitacos nos modelos criados. E essa fase foi profícua para um envolvimento maior com a turma de rapazes, pois me procuravam para opinar sobre o padrão do corte de tecido, as dimensões e os estilos de camisa; serviu também para estreitar meu relacionamento social com as garotas, muito embora raramente fazíamos costuras femininas.

Camisas atualizadas

Nas camisas, as golas altas, imensamente altas, como as que usavam Elvis Presley, eram as mais desejadas. Em algumas, usávamos até um recheio de espuma para tentar mantê-las em pé, como se fosse um colete para o pescoço com torcicolo; as calças, e suas exageradas boca-de-sino, pareciam mais próprias para varrerem as ruas empoeiradas do nosso bairro.

E assim, o tempo ia acariciando nossos sonhos de jovens, apalpando uma bola de cristal do futuro, onde não se via nada ainda. Nela, constavam apenas as missas de domingo, os bailinhos, as peladas no tosco campinho de futebol e, também, como não podia deixar de acontecer, as poucas paqueras, subsidiadas pelo calor em brasa da juventude.

Pensando numa melhor apresentação, principalmente para causar impressão durante o horário da missa, desejei usar um sapato novo para completar o meu visual. Porém, a falta de dinheiro conspirava para que esse sonho não se realizasse tão cedo. Muito embora, o meu velho Vulcabrás, sentindo-se pejorado pelo meu pé que crescera, já pedisse aposentadoria, e em breve seria convertido num chinelo improvisado. De repente, me deu um estalo: lembrei que meu irmão, Henrique, tinha comprado um sapato de lona cor azul mescla e ainda não tinha usado. Talvez estivesse esperando a tal ocasião especial. E eu, fortuitamente, quis dar a ele — o sapato de lona — a aguardada ocasião.

Sapato de lona (moderno)


Enquanto ele estava envolvido no seu trabalho, eu calcei o belo sapato de lona. Macio, achei que se encaixou perfeitamente no meu pé, como se fosse uma meia de cetim, nem percebi que era um número menor. A extensível lona ofereceu-me sua contribuição para que eu não me frustrasse. Com a minha calça Saint Tropez e uma camisa recém costurada, saí por aí sentindo-me um verdadeiro Don Juan. Porém, tive o cuidado de não o sujar nem frequentar terrenos hostis à delicadeza do sapato, pois deveria ser devolvido para a caixa, limpo, para que aparentasse que não fora usado. Assim o fiz.

Alguns dias depois, quando meu irmão foi fazer a “tal estreia”, percebeu que o sapato estava folgado no seu pé. Desconfiou que eu já o havia usado. Mesmo sabendo da bronca que receberia, não pude negar.

Nem é preciso relatar que ele “cuspiu maribondos”, esbravejou bastante, mas, no fim de todo esse episódio, o que ficou de lição para mim, foi algo impensado naquela época, no ápice da minha juventude. Apesar de toda a sisudez e aparente falta de carinho, exercitou o perdão e demonstrou que me amava muito, e me deu o sapato de presente. E aí, sem culpa nem traumas, passeei tantas e tantas vezes com minha calça preferida e meu sapato de lona azul mescla, até ele não caber mais. *


 


segunda-feira, agosto 15, 2022

MORTE DO TENENTE LISBOA: 60 ANOS

 Hoje, há 60 anos morria na Santa Casa de Misericórdia de forma inesperada, e sem que a medicina sequer estabelecesse um diagnóstico seguro, o tenente Osvaldo Anacleto de Moraes Lisboa. A cidade foi tomada de emoção pela morte do jovem oficial. O padre-cronista L. Ruas traduziu este sentimento no texto - Tenente Lisboa - inserto em seu Linha d'Água (1970).

Tenente Moraes Lisboa (1928-62)

Ao ingressar na Polícia Militar do Estado, este fato ainda estava vivo nos corredores do quartel da Praça da Polícia. Conversei com alguns subordinados do tenente e dele guardei a dedicação ao serviço. Quando completaram 30 anos da morte, publiquei uma retrospectiva no jornal Diário do Amazonas, ocasião em que conversei pelo telefone com a viúva do tenente e pude sentir as mágoas que a afligiam com o descaso imposto pelo Estado e pela corporação. 

Neste ano, juntei-me ao filho dele - César Lisboa e demais parentes para reivindicar uma pequena homenagem ao morto de tantas décadas. Espero ver o resultado positivo. O texto a seguir trata-se do requerimento enviado ao comando-geral da Força Estadual, assinado pelo mencionado filho.

BREVE HISTÓRICO PESSOAL DO TENENTE PM  

OSWALDO ANACLETO DE MORAES LISBOA, paraense, nascido em Belém/PA em 13/07/1928, filho do Major PM Manoel Lopes Lisboa e de Raimunda Cavalcante Moraes Lisboa, casado com Francinayde Teixeira Lisboa, aos 17 anos de idade ingressou na Polícia Militar do Amazonas em 31/05/1945, e na curta, elogiada e honrada carreira militar realizou em 1952 junto ao Ministério da Guerra/RJ o curso de Datiloscopista; em 1960 foi promovido ao posto de 2º Tenente Identificador Datiloscopista da Corporação; exerceu em 1961 o cargo de Delegado Geral de Polícia nos municípios de Tefé e de Itacoatiara, e faleceu em missão e no estrito cumprimento do dever militar, em 15/08/1962, aos 34 anos de idade, deixando na orfandade um filho de um ano e onze meses e a viúva, com vinte e oito anos de idade, grávida de nove meses.  

Casamento de Lisboa e Francynaide, e os sogros

RELATO RESUMIDO DOS FATOS:

Conforme relato veiculado nos jornais à época e, especialmente, na dedicatória de autoria do tenente-coronel PM Roberto Mendonça, publicada no Diário do Amazonas pela passagem do 30º aniversário da morte do TENENTE PM LISBOA (1992), consta que em julho do ano 1962, durante o governo estadual de Gilberto Mestrinho, no antigo município de Abufary, situado na Região do Rio Purus, em razão da disputa pela posse de terras naquela região, índios da tribo Apurinã invadiram uma propriedade particular, resultando aquela chacina em mortes e graves feridos.

Diante da chegada da notícia do terrível massacre indígena, a Polícia Militar do Amazonas, então comandada pelo coronel Ormail Stockler, destacou um pelotão policial chefiado pelo TENENTE PM LISBOA objetivando por fim àquela contenda, cujos assassinos foram, de fato, efetivamente presos e conduzidos à capital em 02/08/1962 como resultado da heroica missão exercida com todos os méritos e no estrito cumprimento do dever e em honra à farda militar.

Todavia, não obstante o êxito daquela gloriosa missão policial militar, de forma fatídica e inexplicavelmente, em 15/08/1962, cerca de duas semanas depois, o TENENTE PM LISBOA faleceu após poucos dias internado na Santa Casa de Misericórdia e, embora na Certidão de Óbito se tenha atestado a causa mortis pelo doutor Hosanah da Silva como consequência de “encefalite devido à infecção de causa indeterminada”, há relatos pessoais de policiais militares, integrantes daquele pelotão, de que o TENENTE PM LISBOA teria sido vítima, em verdade, por ingestão de água do rio envenenada pelos índios

A morte do TENENTE LISBOA, que consternou a corporação militar, entristeceu a família, surpreendeu os parentes, comoveu os amigos e cujo sepultamento com honras militares se deu no cemitério São João Batista desta cidade, devido à repercussão do fato, teve o cortejo fúnebre emocionantemente relatado em uma das crônicas do livro Linha d’Água, de autoria do padre-escritor L. Ruas, do Clube da Madrugada e frequentador do Café do Pina, importantes e conhecidos pontos de encontros de intelectuais de nosso Estado, no passado.

DO PEDIDO:

Pelos motivos acima expostos e pela vasta documentação anexada à presente CARTA, motivado pelo orgulho de ser filho de um verdadeiro herói militar, ao tempo que externo os meus agradecimentos ao coronel PM Roberto Mendonça e ao Eros Augusto, meu primo, responsáveis diretos por esta iniciativa, acreditando ser justa, merecida e apropriada a singela homenagem ora proposta, solicito, em nome da família, a Vossa Excelência, Senhor Comandante Geral da Polícia Militar do Amazonas, Coronel QOPM Marcus Vinicius Oliveira de Almeida, que seja deferida a intitulação do atual Gabinete de Identificação da Polícia Militar do Amazonas com o nome do TENENTE PM LISBOA, oficial reconhecido e promovido ao posto de IDENTIFICADOR DATILOSCOPISTA pela própria Instituição Militar em 1960, que literalmente, conforme dito, “deu a vida pela Corporação”, por uma questão de justo reconhecimento e homenagem, que, embora póstuma, se vê bem representada nas palavras do escritor Luiz Ruas ao encerrar a mencionada crônica, dizendo que “Resta, agora, que a Polícia Militar continue seguindo a trilha gloriosa de homens como o TENENTE LISBOA que, com certeza, já conquistou, na memória de todos os seus companheiros de caserna, um lugar privilegiado e imorredouro e já se inscreveu, nas páginas de sua história, como um dos mais cintilantes nomes”. 

Que seja, pois, materializado, na intitulação do Gabinete de Identificação da Polícia Militar do Amazonas, esse privilegiado e imorredouro lugar, pelo qual, ansiosamente, aguardamos merecer, em breve, quiçá em 15/08/2022, data do 60º Ano de Morte, o nome do bravo TEN PM LISBOA, acreditando que sua morte não se deu em vão. 

Manaus, 11 de março de 2022 

Mário César Teixeira Lisboa representante da família Lisboa

domingo, agosto 14, 2022

DIA DOS PAIS: MENDONÇA / MENDOZA

 O texto pertence ao Renato |Mendonça, saudando os pais da família, compartilho a única foto (perdão pela qualidade) reunindo-os todos foi clicada em dezembro de 1978.

Miguel Jorge, Luiz Carlos, Dona Dora, Antonio, seu Manuel, o
patriarca, Renato e Roberto (em pé, da esq.) Ricardo e Zé Manoel
(agachados) e as crianças Carlinhos (centro) e Marcelo (de amarelo)

Dia dos Pais 2022 

Renato Mendonça

 

No Dia dos Pais deste ano, quero lembrar que merecem as homenagens não só os pais biológicos, também os adotivos — como o mais pragmático de todos, São José — e, além destes, os patronos no seio familiar.

Usando de uma acepção pouco usual, quero reconhecer esses patronos, normalmente os irmãos mais velhos em uma família, como aqueles que se colocam como protetores ou defensores. Acho que isso é uma das mais nobres funções de um pai.

No meu caso, além do pai que tive e me doou toda a sua sabedoria para educar-me, tive meus protetores. Por isso, sinto-me imensamente protegido, e quero fazer essa singela homenagem, oferecendo-lhes mais uma crônica da minha lavra.

É, também, uma manifestação de gratidão.


Muito obrigado, manos. 
 

domingo, agosto 07, 2022

MARIO YPIRANGA & FILATELIA

 O texto do saudoso mestre Mário Ypiranga circulou em sua coluna dominical em A Gazeta (13 jan. 1963). Parece premonição: os selos vêm perdendo a finalidade, pois não há necessidade deles, todos os tributos cobrados nos Correios são emitidos em impresso de máquinas. A emissão de selos está sendo reduzida e algumas, desgraciosas. E sem atração, isso que MYM comentou neste tópico há sessenta anos.

Selo natalino com o carimbo de controle

 

Recorte de A Gazeta, 13 janeiro 1963

Os colecionadores de selos nos perguntamos a razão do Brasil ser um dos poucos países do mundo a possuir um serviço de emissão filatélica infamérrimo. Todo colecionador de selo sabe por experiência própria que qualquer país, possessão, ilhota, estado, grão-ducado, principado ou domínio capricha nas emissões, levando-se em conta que o selo postal, hoje em dia, torna-se poderoso veículo de propaganda turística, deixando de ser apenas aquela taxa que o cidadão paga em troca de ruim serviço de correspondência.

Aí estão a nossa maravilhosa flora, a nossa fauna, as nossas riquezas naturais, os nossos monumentos, os nossos costumes, a nossa história rica de quadros heroicos. A diretoria da Casa da Moeda, ou quem melhor responda pelo desserviço, ainda não se apercebeu disso.

Enquanto os colecionadores se extasiam diante das séries belíssimas emitidas por Portugal, Angola, São Marino, Vaticano, Liechtenstein, Touva (sic), China, Rússia etc., o Brasil persiste nos selinhos vagabundos de impressão reles sobre ruim papel.

Todas as nossas possibilidades naturais que poderiam constituir um convite, uma insinuação ao turismo está aí à espera de um afeiçoado ou um homem inteligente que seja menos burocrata (eu ia escrever burrocrata) e misoneista e mais técnico e patriota. Que pelo menos saiba ler e escrever como exige o código não escrito.

Para se avaliar o desinteresse dessa gente eu passo a contar um fato: 1948 foi o ano em que Manaus completou seu primeiro centenário como cidade, embora seja mais velha como póvoa. Na oportunidade, escrevi ao diretor da Casa da Moeda, lembrando-lhe uma emissão comemorativa. Uma série modesta: apenas três valores diferentes. No primeiro apareceriam as ruínas da Fortaleza da Barra representando a Capitania e fundação do povoado; no segundo a foto daquele prédio que o vandalismo oficial deixa ruir para se aproveitar do terreno; no terceiro a perspectiva do Teatro Amazonas, representando o estado republicano e uma fase de maior evolução urbana. Três etapas históricas, três aspectos urbanos que coincidiriam com três estágios de cultura.

A Casa da Moeda, que se interessa ordinariamente pelos centenários de qualquer município em outras partes do Brasil, mandou imprimir apenas um selinho vagabundérrimo exibindo o Teatro Amazonas, naquela sua fase de decadência, como se aquela mole, com a sua majestosa manteigueira, representasse isolado a perspectiva histórico-cultural da terra.

Assim é o Brasil, este país de grandes possibilidades, grande até no desserviço que lhe prestam os homens públicos.

  

segunda-feira, agosto 01, 2022

SÃO RAIMUNDO NONATO

 Mais uma contribuição do saudoso padre Nonato Pinheiro, da Academia Amazonense de Letras, produzida no Jornal do Commercio (31 ago. 1980). O tema veio a propósito do dia do padroeiro do bairro de São Raimundo.

SÃO RAIMUNDO NONATO

 Há dois Raimundos nos altares: São Raimundo Nonato e São Raimundo de Penafort, ambos espanhóis, em cuja língua nacional esse antropônimo ganhou muito em sonoridade, pela libertação do "y" ou do "i". Ramon. Isso me evoca a figura de um astro do cinema mudo, que eu ainda alcancei: Ramon Navarro.

Por vezes, pela libertação de uma letra, a palavra lucra em sonoridade, como foi o caso do nosso vocábulo "lua". Das línguas novilatinas, só o português não conservou a letra "n" da palavra latina original luna, que se manteve inalterada em italiano e em espanhol, passando em francês para "lune". Em português, resultou a linda palavra "lua", de uma sonoridade espetacular, sobretudo na boca dos seresteiros.

Tive um professor espanhol que me chamava Ramon. E eu lhe dizia: "Como o meu nome ficou lindo no seu idioma!" 

Voltemos aos dois Raimundos canonizados. São Raimundo Nonato era religioso da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que se destinava, primitivamente, à redenção dos cativos. Como religioso, distinguiu-se por sua grande devoção a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento. Consta que, à hora da morte, não havendo nenhum sacerdote para administrar-lhe o viático, um anjo levou-lhe a hóstia consagrada. Feito cardeal, nunca usou a púrpura, por humildade, conservando seus simples costumes religiosos. 

Ocorreu um fato curioso com relação aos dois santos de nome Raimundo. O rito litúrgico de São Raimundo Nonato era superior ao de São Raimundo de Penafort. Com a última reforma do calendário litúrgico, o Penafort suplantou o Nonato. Penso eu que essa reforma se deu pela circunstância de que São Raimundo de Penafort fora fundador de ordem religiosa. Tendo sido São Raimundo Nonato mercedário, era natural que esses religiosos, que estiveram pela Amazônia e por outras partes do Brasil, divulgassem essa devoção. No Maranhão e no Pará levantaram igrejas e conventos.

São numerosas, no Brasil, as paróquias dedicadas a São Raimundo Nonato. Em Belém, oficiam na paróquia de São Raimundo Nonato os padres lazaristas, da Congregação da Missão. Aqui em Manaus, no bairro de São Raimundo, administram a paróquia os padres do Espírito Santo.

Lembro-me, com saudade, dos meus dias da infância, quando ia ao simpático bairro para assistir aos festejos de São Raimundo. Ainda era na base da catraia: tomava-se a canoa para atravessar. A ligação por terra ficamos a dever ao governador Leopoldo Neves. Uma festa bonita, com missa solene, procissão e arraial, não faltando a presença do bispo, o saudoso Dom Basílio Pereira, que crismava as crianças e abençoava o povo.

Uma explicação sobre o cognome Nonato. São Raimundo foi extraído do ventre materno, estando a mãe moribunda, no final da gestação. Como não teve o nascimento natural, foi dado ao menino o cognome Nonato (não nascido).