CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, julho 29, 2021

BATEDORES DA PMAM (2)

Ao acolher o comentário de um vibrante “tenente-civil”, resolvi editar a publicação anterior, para contar de maneira adequada a evolução da arte de conduzir a motocicleta na Polícia Militar do Amazonas. Este vibrante oficial é o empresário Renato Aguiar Dias, que foi tenente PM em breve período, tendo se exonerado para dirigir o próprio empreendimento comercial. Seu comentário obrigou-me a consultar os Almanaques da Força Policial e ouvir alguns veteranos.

De fato, o serviço de Batedores devidamente estruturado passou a integrar a Companhia de Trânsito (Cia Tran), criada em 1972, quando esta foi instalada no quartel da Praça da Polícia, com entrada pela rua José Paranaguá. Naquela ocasião, com o advento da Zona Franca, o governo do Estado adquiriu quatro motos Harley-Davidson, cujos “restos mortais”, 50 anos depois, ainda assombram os depósitos de manutenção.

Recorda ainda o tenente Renato – que era o chefe do setor de moto mecanização da Cia Tran – que as motos foram identificadas pelos prefixos: AM-010 | AM-011 | AM-012 | AM-013 e foram diariamente utilizadas no comboio do governador João Walter, seja da residência deste no Palácio Rodoviário e o Palácio Rio Negro, seja nos deslocamentos oficiais.

Tenente Fernando Valente (acima) e
Nestor Arnaud, ainda fardados de alunos 
do NPOR 


Em janeiro de 1972, o comandante da PMAM, coronel EB Paulo Figueiredo (1971-73) fez ingressar na corporação novos oficiais R/2. Dos incluídos, participaram de um Curso ou Estágio de Escolta e Segurança em Motocicleta, acredito que na 12ª Companhia de Polícia do Exército (Cia PE), atualmente 7º BPE: tenentes José Cabral Jafra, Fernando Valente Pereira, Nestor Arnaud Barbosa e Marco Aurelio Gomes da Silva, e o sargento Raimundo Gaio de Moraes Filho. São estes, portanto, os primeiros a conquistar o distintivo desta especialização.

A história dos Batedores vai prosseguir.

segunda-feira, julho 26, 2021

BATEDORES DA PMAM (1)

Um dos pilares da atuação do policiamento praticado pelo Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) da PMAM, é o emprego de Batedores. Constituem-se de treinados motociclistas, que são empregados em diversas intervenções.

O atual comandante do BPTran – coronel Marcos Encarnação – vem se empenhando em resgatar a evolução deste serviço, afixando em sala especial os registros alcançados. Tendo me convidado para o trabalho de pesquisa, venho cuidando da primeira questão que me assediou: quem foram os primeiros e que veículos utilizavam.

Motocicleta Norton 1960 ES2 500cc

A postagem de hoje comprova quanto fui beneficiado com o acervo acumulado. Nele esbarrei com a foto do governador Gilberto Mestrinho (1959-63), comboiado por um batedor. Prontamente reconheci o piloto da moto: o subtenente Raimundo Nonato Bento da Silva (irmão do padre Onias Bento que, após renunciar ao sacerdócio, foi secretário de Fazenda do governador José Lindoso), conhecido por sua estatura avantajada e por ser o chefe da alfaiataria da PM. Era, como se vê, polivalente!

Governador Mestrinho e o batedor -
subtenente Nonato Bento (1962)


Adiante deparei com outra foto, na qual o governador Plínio Coelho (1963-64), em carro oficial, era seguido por um batedor da PM. O registro, todavia, retirado de jornal não me permitiu identificar o condutor da motocicleta. Prossigo consultando aos ‘mais velhos” do quartel da Praça da Polícia, a fim de identificar este e outros, os primeiros batedores da corporação.

Governador Plínio Coelho, no carro oficial, na Semana da 
Pátria, com o batedor da PM não identificado (1963)

Então, surgiu outra dúvida: que tipo de motocicletas eram essas? Posto o problema a um velho camarada, o coronel Osório Fonseca me confirmou que se tratava da marca Norton, há tempos desaparecida. Outro colega, coronel Alfaia Filho, confirmou a marca e me proporcionou uma lição sobre a potência da referida moto. Em consulta ao Google, recolhi a foto que ilustra a postagem, pois creio que as Norton poderiam ser o modelo 1960 ES2 de 500cc.

E, por que 1960? Voltemos ao quartel da Praça da Polícia. Ao assumir o governo, Mestrinho nomeou ao Dr. Assis Peixoto (invocando sua condição de oficial R/2, formado em 1942) para o comando da Força Estadual, que exerceu entre 1959-62. De escasso conhecimento militar, Peixoto foi um excelente administrador: entre suas realizações, acredito que fez o governo adquirir essas duas máquinas, portanto, as primeiras utilizadas na Força. Entretanto, coronel Alfaia, incluído na Polícia Militar em 1967, lembra que alcançou as Norton já em indisponibilidade. Diante desta informação: ou as motos foram sucateadas em poucos anos, ou foram adquiridas já bem usadas.

A história dos Batedores vai prosseguir.

domingo, julho 25, 2021

NOSSO QUINTAL (2ª PARTE)

 Encerrando a postagem de ontem, em que o Renato (meu irmão) reproduziu com brilhantismo o quintal o melhor quintal que desfrutamos. A imagem mostra parte da área, com a família reunida, e a cerca de acariquara. 

Parte do Quintal, com a família reunida e o autor assinalado

O Quintal

06.10.2020

Renato Mendonça


Esse grande “amigo” quintal abrigava uma privada, junto com a sala de banho. Ele ainda aceitava um chiqueiro para porcos e um galinheiro que, ao sabor do tempo, mudavam de lugar. Uma fartura de episódios acontecia dentro daquele pequeno universo. Um mundo infantil a nos envolver, e nos ensinar a lidar com a natureza, com os animais e com a vida. O mundo fora dali era tão estranho para todos nós, meninos, e para os cachorros, que faziam nossa escolta à noite para irmos até o banheiro.

Hoje, quando olho o mapa do Google, vejo que a solidão o consumiu, sufocado por construções às avessas, por calçamento inescrupuloso na sua superfície. Apenas o número 29, a mesma placa de madeira antiga, está fixada ao portão de ferro, e detém a memória viva de outras eras. Vejo-o como um ancião angustiado pelo tempo e pelo inevitável abandono das mentes infantis que ali o preencheram de vida. O quintal envelheceu, assim como os garotos que ali habitaram desde o seu nascedouro. Vimos cercá-lo de estacas de acariquara; testemunhamos, por duas vezes, escavarem suas entranhas para alojar os sumidouros das privadas, em épocas distintas. Vimos também, lhe amputarem uma pequena área, para emprestar e depois vender à tia Luzia. O quintal aceitou alojar a nossa casa de várias maneiras, em diversas posições e ângulos. A tudo isso, ele respondeu calado, realizando o seu importante papel de criar e educar, dentro do ecossistema, aquele grupo de garotos e rapazes. Há uma enorme gratidão em cena, onde nem mil palavras poderão expressá-la por completo.

Com certeza, José Manoel, Miguel Jorge, Luís Carlos e João Ricardo lembrarão dele com saudade. Henrique Antonio, Manoel Roberto e o cronista que vos escreve, também acalentam os mesmos sentimentos. Apenas Ronaldo César, um anjo que nos deixou muito precoce — antes de completar um ano — e Carlos Alberto, nascido tempos depois em São Paulo, longe daquele sítio, não poderão experimentar essa nostalgia.

Se um dia puderem ir até lá, olhem-no com carinho, digam seus nomes em voz alta. Ele os ouvirá e, com certeza, também lembrará de vós. Não é uma mera prosopopeia, o quintal é um membro da família e lembrará de um passado tão lúdico, tão alegre e pueril, de meninos querendo aprender as coisas da vida.

E como aprenderam!

sábado, julho 24, 2021

NOSSO QUINTAL

 Não cabe explicação, o texto é autoexplicativo. Meu irmão Renato produziu o texto ano passado, falando desse paraíso que ele, mais que eu, desfrutou na infância. Em nossos dias, não há mais quintal para deleite da infância.

Renato, Roberto e Antonio presentes no Quintal do Morro

O Quintal

06.10.2020

 

Renato Mendonça

          Dentre todos os quintais que conheci na minha infância, o da rua Amazonas, no Morro da Liberdade, um incipiente bairro da bucólica Manaus, foi o mais relevante, envolvente e talvez o mais persistente nas memórias. Teve ares de um tutorial a engendrar, acatar e incentivar todas as traquinagens infantis. Posso dizer que acompanhou, não só a nossa infância, senão um considerável quinhão da nossa história.

         Esse quintal era como se fosse um personagem em nossa biografia, tinha vida, e vida afetiva. Costumava armazenar consigo, com carinho, as “armas” que fabricávamos para nossas brincadeiras. Não havia espaço dentro de casa para tantas bugigangas; como contrapartida, havia a necessidade dos adultos para abduzirem todas as engenhosidades que inventávamos e gostaríamos de tê-las até o anoitecer.

Devido nossa carência monetária, usávamos a criatividade para não ficar privado de alguns brinquedos sazonais. As ferramentas do pai era o incentivo necessário para o trabalho artesanal. Rolimãs do carrinho foram substituídas por rodas de madeira, mas, de vez em quando uma se espatifava e encaminhava o piloto ao inevitável tombo; o volante, substituído por um guidão, também de madeira, era guiado por cordas e puxado por um dos irmãos. Outras vezes, empurrado pelas costas do piloto, e, sempre que tinha espaço, com a velocidade máxima.

Tento em vão descrever todos os brinquedos fabricados ali, como se fosse uma oficina da vida provinciana, como um molde para o caráter e a circunstância da vida; tento resgatar na íntegra o pomar abrigado naquele vasto terreno de quase mil metros quadrados. Enumero alguns. Recordo os piões toscos de madeira, que demoravam uma eternidade para ficarem prontos. Para mantê-los simétricos valia tudo: o formão do pai para cortar, uma grosa para desbastar, uma faca de cozinha para o acabamento e até a calçada de cimento, usada como lixa, para bolear a ponta do prego. No final, cada um brincava como podia, e como sabia. Não havia disputa, só o prazer de vê-lo girar. E quem ainda não tinha o seu, podia fazer uma “carrapeta”, usando a metade de um carretel (vazio) de linha, que naquela época eram todos feitos de madeira. Depois, bastava usar as pontas dos dedos...

Centenas de bolinhas de gude ficavam armazenas nas latas vazias de alimentos. As mais bonitas eram preservadas e nem eram colocadas em jogo para não se desgastar. Serviam tão somente para serem admiradas, muitas delas pareciam ter no seu interior uma carambola colorida. Lindas!

Mudava a estação, e com isso mudava os brinquedos. Era tempo de pipa. Era tempo de recolher talas de palmeira para o fabrico dos papagaios, era tempo de recolher alguns vidros mais frágeis para fazer o cerol. Era o tempo de conseguir algum trocadinho para comprar a barra de cola e o papel-seda, porém, se não conseguisse, usava-se o velho jornal mesmo. A pipa ficava pesada, mas conseguia subir com o vento forte que inundava o terreno ou o campinho atrás de casa. Se o vento não vinha logo, valia uma apelação mística: “vem vento, que eu te dou mil e quinhento...”. Era uma simpatia antiga, transferida de outras gerações.

Mas havia aqueles brinquedos perenes, que não seguiam a sazonalidade. As pernas de pau, por exemplo. Era um artefato de madeira que não tinha regra, a mais alta era a mais bonita e a mais desejada. Era, além de tudo, um condicionamento muscular para enfrentar todas as tarefas diárias, não só as brincadeiras como os trabalhos domésticos.

Para todo esse arrojo, para toda essa disposição, tínhamos ao nosso lado o aconchego das árvores para completar a nutrição. Lá estavam os cajueiros, as goiabeiras, o pé de biribá, e mais ao fundo, um de jenipapo e uma grande jaqueira, que infelizmente não deu frutos. Esperamos anos a fio por uma simples jaca, e nada! Nem manteiga nem pau. Era jaqueira-macho, ensinavam os mais velhos. Não adiantou simpatia, orações nem alguns cortes sulcados no tronco para mudança de sexo. Aproveitávamos a sombra para esticar uma rede ou pendurar um frágil balanço, que nos levava ao delírio quando roía a corda. Também tinha a função de tapar o sol quando se estava assando as castanhas-de-caju. Essas aliadas da saúde eram tão numerosas, que era necessário duas ou três fornadas no fogo de lenha.  (segue)

sábado, julho 17, 2021

DONA FRANCISCA LIMA (1918-1952)

Hoje, relembro a morte de Dona Francisca Lima, minha mãe, que viveu pouco, pois morreu aos 34 anos, vitimada pela tuberculose, sem ter conhecido o antibiótico penicilina. Muito já escrevi e relatei sobre dela, porém, a data de sua morte me despertou novas recordações.

Francisca Lima, em Iquitos|Peru, 1945 

Acredito que sua vida foi sempre conturbada. Nascida no lago do Anveres, um dos tantos nas proximidades de Manaus, pertencente ao distrito do Careiro, era um fim-de-mundo. Por se tratar da filha mais nova, coube-lhe o encargo de cuidar da saúde da sua genitora, que faleceu em Manaus. Até então, aos 24 anos, Francisca se mantinha solteira.

Com o falecimento da mãe, saiu em busca de emprego, que conseguiu na Padaria Rosas, na avenida Sete, a mais festejada da cidade. De todos os irmãos, somente ela havia escapado de um boto do Anveres ou adjacências. Nesta padaria, todavia, encontrou seu par. E nova conturbação, pois o seu boto era peruano.

Como a família rejeitasse o príncipe, ela teve que esperar a situação amainar, quando então viajou com ele para Iquitos (Peru), onde contraiu núpcias e encaminhou o primeiro filho, autor deste post. Ela contava 25 anos.

Ao retornar, se estabeleceram no bairro Educandos, quando nasceu o segundo filho. Em 1950, seu Manoel “peruano” decide enfrentar o Rio de Janeiro, aproveitando o convite de seu irmão. Não creio que minha mãe tenha aprovado a aventura. Contudo, viajamos em navio do Lóide Brasileiro e, no Rio da Copa do Mundo, estivemos por menos de um ano. De certo, ela teve mais uma vez desconforto na vida, a estadia carioca foi-lhe uma tormenta.

De volta ao Educandos, recomeçando, ele estava em outras atividades comerciais, e dona Francisca esperava o terceiro filho. Nascido este, em 1951, nossa mãe teve manifestada a doença que a levou ao túmulo, no ano seguinte, juntando-se desse modo à sua mãe no cemitério São João.

Família Mendonça ao viajar ao Rio de 
Janeiro, 1950


sexta-feira, julho 16, 2021

RONDA DOS FATOS, DE L. RUAS

Às voltas com a revisão do livro Ronda dos Fatos, que organizo com os textos do padre-poeta L. Ruas publicados em sua coluna de mesmo nome, esbarrei com a página aqui compartilhada. Escreveu ele sobre o trânsito de Manaus, em setembro de 1963, no extinto matutino A Gazeta. Há quase 60 anos. Imagino sua angústia em nossos dias.

L. Ruas, em sua RG

A Ronda da Morte 

CONTINUAMOS a sofrer, diariamente, o impacto de acidentes de trânsito que arrastam atrás de si os despojos trágicos de uma vitória macabra. Em que pesem as medidas tomadas, inclusive e principalmente, pelo Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, salientando-se a colaboração valiosa da Polícia Militar do Estado, os desastres se sucedem quase sem interrupção. Parece-me que só há uma solução: intensificar a fiscalização estendendo as medidas de fiscalização aos pedestres.

Não há quem não fique chocado com a brutalidade de um desastre como o ocorrido na manhã de ontem. Um verdadeiro absurdo! Mal se pode calcular a violência do baque sofrido pela Rural tamanha foi a consequência. E o saldo? Um jovem pai de família, contando apenas trinta e sete anos de idade, estendido no asfalto, banhado em sangue, morto, deixando doze crianças na orfandade...

Diante da morte não há mais solução. Resta-nos pensar nos que estão vivos. Vamos pensar nas crianças que vão para a escola ou que estão voltando para casa. Que os pais tenham mais cuidado com seus filhinhos. Evitem o mais que puderem deixá-los à solta no meio das ruas e das estradas. Se puderem, acompanhem-nos na ida e na volta da escola. Pensemos nos pais de família que vão ou voltam de seus trabalhos preocupados com o sustento dos seus lares. E que os pais de família, motoristas ou pedestres, pensem nas suas famílias e nas famílias dos outros. Os primeiros dirigindo com mais cuidado, não querendo bancar os ases do volante, fazendo acrobacias desnecessárias quando não fatídicas.

É sempre melhor e mais humano perder um minuto na vida do que a vida num minuto. Ou fazer com que os outros a percam. Os pedestres, por sua vez, se convençam de que as ruas e as estradas foram feitas para os veículos. O pedestre deve andar nas calçadas e quando é obrigado a atravessar a rua que o faça com cuidado, observando os sinais de trânsito onde os houver e onde não, observando cuidadosamente. Olhe para um lado e para o outro. Veja se vem algum carro. E só então atravesse. E atravesse o mais depressa que puder.

Pensemos nas mães de família que são obrigadas a deixarem o interior de suas casas, às vezes, para cuidarem de problemas ou da saúde de um filho ou mesmo para se distraírem. Pensemos nos jovens. Nas moças e nos rapazes em pleno esplendor da vida. Que coisa bela a vida! E a vida dos jovens, então! E as moças e os rapazes pensem também, no futuro. Em tudo o que a existência lhes reserva e não se deixem massacrar pelas rodas traiçoeiras dirigidas pela morte.

Burlemos a morte. Façamos uma campanha de consciência simultânea à campanha de fiscalização. Não é possível que não nos perturbemos vendo e sabendo a morte, todos os dias, de pessoas conhecidas, de amigos, de parentes. Façamos uma campanha contra a morte em favor da vida. Não consintamos que a morte nos surpreenda na sua ronda fatídica e traiçoeira. E estupida. Mas não basta que os soldados da PM multem, apreendam carteiras, prendam motoristas. Isto é necessário, mas não é tudo. É preciso que saibamos respeitar os outros, o nosso próximo, e respeitá-lo, principalmente, naquilo que é a sua maior riqueza: a vida. Mas, para que saibamos respeitar os outros é preciso que nos saibamos respeitar. Respeitemos os nossos direitos. Respeitemos a nossa vida. 

segunda-feira, julho 12, 2021

PADRE AGOSTINHO CABALLERO MARTIN

A fim de comemorar o jubileu de ouro das Missões Salesianas no Amazonas (agosto de 1915-65), a Prelazia do Rio Negro editou o livro De Tupan a Cristo (sem identificação catalográfica), que serviu para prestar homenagens aos seus padres e freiras, as autoridades, e ainda para registrar a marcha desta atuação, que se tornou respeitável capítulo da História do Amazonas.

Entre os reverenciados, está o padre Agostinho Caballero que marcou presença na condução dos jovens no Colégio Dom Bosco. A postagem presente compartilhei do referido volume.

Capa do livro

PADRE AGOSTINHO MARTIM CABALLERO (sic)

 É um nome aureolado de simpatia e saudade, que recorda na história destes cinquenta anos de missão como uma das mais belas figuras de salesiano no Amazonas.

Chegando em julho de 1921 a Manaus para aí permanecer, segundo a vontade dos Superiores, pelo prazo de um ano, devendo seguir logo depois para a Missão do Rio Negro, o Padre Agostinho, tendo concluído os seus estudos na Espanha e na Argentina, onde se formou brilhantemente, permaneceu quarenta anos na cidade de Manaus, como orientador dos estudos e da disciplina do Colégio de D. Bosco, recém fundado, onde passaram e se renovaram gerações e gerações de alunos, aos quais distribuiu sempre, com o afeto e a simpatia de seu coração de educador, as energias de sua alma sempre jovem, conhecedora dos anseios da infância e juventude que o venerou e o amou, porque compreendeu sempre que o Padre Agostinho havia dedicado a ela todos os sentimentos de seu coração e de sua inteligência de escol.

Era conhecida e ainda é lembrada a “campainha mágica" com que impunha e obtinha disciplina e silêncio nas longas filas de estudantes: tornou-se assim, uma figura lendária, presente sempre em toda parte, animado sempre de entusiasmo, revelando sempre amor a D. Bosco, criando gerações de filhos espirituais, que ainda circundam a sua memória de veneração e de saudade.

Era conhecida a sua "fraqueza", para não dizer, a sua "força" para com seus antigos alunos: o Padre Agostinho tinha um imã especial para aglutinar ao seu coração a alma da infância e mocidade. Filas de antigos alunos o procuravam em toda

a parte e, quando em algumas cidades, mesmo S. Paulo e Rio de Janeiro, era conhecida a sua presença, espontaneamente, quase por uma adivinhação espiritual via-se ele circundado de antigos alunos, que aproveitavam sua rápida passagem para matarem as saudades de seu antigo mestre e superior. Deputados, magistrados, professores, homens de comércio e indústria, homens do trabalho, iam à porfia para visitá-lo, revê-lo, ouvir uma vez ainda a sua voz e a ressonância do seu coração.

Quem escreve esta página, ficou mais de uma vez comovido vendo o espetáculo desta mocidade que o procurava, o idolatrava, renovando os sentimentos e os afetos dos anos transcorridos sob a sua direção.

Quando vítima de um desastre na Capital Federal de outrora, foi conduzido ao Posto de Socorro da Cruz Vermelha, onde permaneceu em tratamento mais de um mês, médicos e enfermeiros, declaravam surpreendidos, nunca terem visto tamanha multidão que procurasse um enfermo naquela casa. De fato, desde Vivaldo Lima, Senador e Presidente da Cruz Vermelha, uma ininterrupta série de visitas dia e noite, em

horas regulamentares e fora delas iam ver o Padre Agostinho, que tinha para com todos sua palavra sempre acolhedora, com o amável bom humor de que ele tinha o segredo, manifestando sua gratidão por tantas e espontâneas provas de carinho e

dedicação.

Eleito cidadão honorário da cidade de Manaus, poucas vezes, ou talvez nunca, esse diploma de benemerência foi tão consciente e perfeitamente outorgado, pois o Padre Agostinho trabalhou, sofreu, esforçou-se, dedicou mais de quarenta anos de sua vida para o progresso intelectual e moral da "cidade risonha" que ele tanto amou. Nestas palavras palidamente expressa-se e resume-se a merecida saudade da juventude amazonense a seu inesquecível mestre, de seus Irmãos e de seus superiores. 

O Padre Nonato Pinheiro brindou-nos com esta pequena joia literária, que publicamos - com especial exceção - como lembrança saudosa do missionário que "de pequena estatura" agigantou-se pelo seu apostolado e pelo seu amor à juventude e infância amazonense.

 

Vão te esculpir, Padre Agostinho, um busto,

Que te lembre no bronze e no granito,

E represente um poderoso grito

Proclamando ao porvir que foste um justo!

 

Assim terás no monumento augusto,

Desafiando o tempo e o infinito,

O teu vulto de paz, suave e bendito,

Que dominou os corações sem custo.

 

Pelos anos além virão meninos

Alegres a cantar, junto à peanha,

Patrióticas canções, festivos hinos...

 

O teu nome imortal de ouro se banha,

E já bimbalham carrilhões de sinos,

Glorificando o Anão que foi Montanha!...

quarta-feira, julho 07, 2021

CEMITÉRIO SÃO JOÃO: TÚMULO DO BARÃO DE SANT'ANNA NERY

 Agradeço a cordialidade do amigo Fábio Augusto em permitir a reprodução de seu trabalho sobre o barão de Sant'Ana Nery, um dos ilustres ocupantes do cemitério São João Batista.

O túmulo de Frederico José de Sant'Anna Nery, o Barão de Sant'Anna Nery (1848-1901), está localizado no quadro 02 do Cemitério de São João Batista, também conhecido como Quadra da Santa Casa de Misericórdia, em Manaus.

 

Túmulo do Barão de Sant'Anna Nery. 

Foto: Fábio Augusto, 2019.

Frederico José de Sant' Anna Nery, nascido em Belém, então capital da Província do Grão-Pará, em 28 de maio de 1848, foi um dos maiores propagandistas do Império brasileiro - principalmente da região Amazônica - na Europa. Vivendo seus primeiros anos entre Belém e Manaus, viaja para a França ainda na adolescência, posteriormente estabelecendo nesse país, onde fez os cursos de Letras e Ciências. Graduou-se em Direito pela Faculdade de Roma, na Itália. Membro da poderosa família Nery, era filho do major Silvério Nery e Maria Antony Nery. Foram seus irmãos Silvério José Nery, Constantino Nery e Márcio Nery, entre outros.

De acordo com o professor e historiador Agnello Bittencourt, em seu Dicionário Amazonense de Biografias (Rio: Editora Conquista, 1973), ele recebeu o título de barão do Papa Leão XIII (1810-1903) por sua defesa da fé Católica.

Intelectual de renome, foi jornalista, correspondente e membro de várias instituições científicas europeias e brasileiras, preocupado sempre com a divulgação das riquezas, da cultura e dos potenciais do Império. São de sua autoria os livros 'Le pays des Amazones' (1885), 'Folklore Brésilien' (1889), 'Le Bresil en 1889' (1889), 'L' émigration et immigration pendant les dernieres annes' (1892) e "Aux États Unis du Brésil' (1898).

Faleceu em Paris em 03 de junho de 1901. Seus restos mortais foram transladados para Manaus no vapor italiano Colombo, sendo sepultados no Cemitério de São João Batista em 11 de outubro (Mensagem do Governo do Estado do Amazonas, Estatística Mortuária, 2° semestre do ano de 1901, 10/07/1902). Seu túmulo, bastante simples, uma campa tumular com uma cruz em alto relevo, encontra-se bastante deteriorado, sendo impossível ler o epitáfio.

Frederico José de Sant'Anna Nery (1848-1901). 

Fonte: Le pays des Amazones (1885)/Biblioteca Brasiliana 

Guita e José Mindlin.


segunda-feira, julho 05, 2021

CONCURSO PARA OFICIAIS DA PMAM

A seleção de jovens, mediante concurso, para ingresso na Polícia Militar do Amazonas começou no início de 1960. Naquela ocasião ocorreu a aprovação da primeira turma: de apenas três moços para frequentar a EsFO - Escola de Formação de Oficiais da PM da Guanabara. Governava o Amazonas Gilberto Mestrinho, que havia escolhido para o comando da Força Estadual ao paisano – Dr. Assis Peixoto.

Acompanhando o costumeiro hábito havia, ante a inexistência de regras mais estruturadas para a inclusão de funcionário estadual, um concurso interno. Obviamente o número de candidatos foi aumentando a cada ano, assim como as Academias de Polícias disponíveis a receber nossos futuros oficiais. Contudo, o concurso doméstico perdeu seu efeito com a sanção da Constituição Estadual de 1989, que disciplinou o ingresso no serviço público.

Capa do Manual do Candidato (1996)

Desse modo, a corporação para se submeter aos novos padrões, buscou o auxílio das universidades locais. Novos procedimentos foram adotados, um deles a elaboração do Manual do Candidato. Este, aqui postado, circulou em 1997, quando comandante-geral o coronel Orleilson Guimarães.

Abaixo, uma relação dos aprovados neste concurso, os quais concluíram o CFO em março de 1999, e, em nossos dias, são coronéis administradores da Força Estadual.

Academia de Bombeiros Militar – CBM Distrito Federal

Helyanthus Frank da Silva Borges e Enio de Oliveira Malveira   

Academia de Polícia Militar General Facó - PM Ceará

Fábio Honda Nascimento (14316) | Sérgio Romero de Azevedo Junior (14317) | Marcelo Carneiro Garcia (14319)    

Academia de Polícia Militar Barro Branco - PM São Paulo

Paulo César Gomes de Oliveira Júnior (14322) | Augusto César Paula de Andrade (14321) 

Academia de Polícia Militar do Paudalho – PM Pernambuco

Fábio Augusto Santos Falabella (14320) | Charles Seixas do Nascimento (14323)