CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, janeiro 29, 2024

SILOGEU AMAZONENSE - CADEIRA 14

 Acabo de ler o trabalho de Robério Braga sobre os Fundadores da Academia Amazonense de Letras (2019), que confessa a dificuldade com dados de certo biografado. Genésio Cavalcante é o acadêmico, que sequer deixou uma foto para ilustrar o compêndio.

Dando organização aos meus papeis, deparei com uma página do acadêmico padre Nonato Pinheiro a respeito de Genésio Cavalcante, que aqui vai compartilhada do matutino O Jornal (20 out. 1960).

Nonato Pinheiro, 1952

 

O CANTOR DA LARANJEIRA

Padre Nonato Pinheiro 

... Genésio Cavalcante representa, a meu sentir, um desses casos de esquecimento imerecido. Foi uma das mais altas figuras da Academia e um dos vultos mais significativos de nossas letras, sobretudo como poeta de altíssima inspiração, cujas concepções constituem autêntica ourivesaria literária. Em parte, talvez haja contribuído, ele próprio, para tal situação, uma vez que sua quase torturante ânsia de perfeição, ao jeito de Flaubert, lhe não permitiu a edição de Oiro e Cinzas, obra que lhe daria um monumento imperecível na literatura nacional, construído com o melhor mármore das canteiras de Carrara.

A verdade verdadeira é que sua obra continua fragmentada e dispersa em jornais e revistas de letras. Eu próprio tive de empreender esforço hercúleo para coligir subsídios indispensáveis para uma obra que pretendo concluir para breve, sob a epígrafe Figuras da Academia Amazonense, em que me ocupo exclusivamente de acadêmicos falecidos.

O acadêmico Moacyr G. Rosas, que lhe detém a sucessão na Casa de Adriano Jorge, lutou com sérias dificuldades para a elaboração do elogio de seu insigne antecessor, só conseguindo dois sonetos de Genésio Cavalcante: "Pelo cair das folhas...” e “Semeador".

Teceu-lhe, entretanto, fúlgido estema, ressaltando-lhe a ânsia da perfeição neste lanço consagrador:

"Fino degustador dos manjares superexcitantes de Heredia e de Rabelais, e como um príncipe da Renascença, o seu espírito helênico contornava curiosamente todas as manifestações artísticas e literárias. Poeta parnasiano, os seus sonetos eram joias peregrinas que se não ofuscavam em confronto com os primores do mestre das Odes Funambulescas. Cinzelava admiravelmente os seus versos, da mesma forma porque esculturavam os seus translúcidos jades os velhos e pacientes artistas chineses". (Cf. Dois Discursos Acadêmicos, pp. 8-9).

Pena é que Moacyr G. Rosas não conhecesse o lindo poema Laranjeira, onde Genésio Cavalcante derramou todo o ouro de seu formoso talento e todas as pedrarias faiscantes de sua pompa verbal, que emprestava realce invulgar à sua poesia.

Não conheço, nos meus caminhos literários e nas minhas peregrinações estéticas, elogio mais alto da laranjeira. Sei que em muitas literaturas os príncipes da prosa, e da poesia lhe dedicaram páginas de antologia. Sei que São Francisco de Sales, fundando em sua diocese a Academia Florimontana, que reunia a flor da montanhosa Saboia, teve a feliz inspiração de dar-lhe por brasão duas laranjeiras, carregadas de flores e de pomos de ouro, com a sugestiva legenda: “Flores Fructusque Perennes" (Flores e frutos perenes). Assim, no pensamento do doutíssimo prelado, as Academias deviam imitar as laranjeiras, com a perene floração e frutificação das letras.

O fato, porém, é que não havia lido página tão emocionante. O poema é uma obra-prima de sublime poesia, e tão resplandecente que mais uma vez recorro à já surrada imagem das lentes esfumadas, para suportar tanta fulgurância.

Citarei os trechos mais formosos. Assim principia o artista o solene precônio:

"No ouro novo do sol os refloridos galhos,

Entre zumbir das rúmuras abelhas

E alada cavatina,

Triunfavas e fulgias

Numa cintilação fantástica de orvalhos,

Prenhe de aroma e luz, leves e fecundantes

Pólens de prata fina

A espaços peneirando...”

Passam-se os anos, e o cantor revê a velha laranjeira, batida dos ventos e das tempestades, cuja vida assim descreve com alta beleza e rara inspiração:

"Bem sei que a invernos maus, lufadas e procelas

Tu te acurvaste e, súplice, no outono,

Em profundo e tristíssimo abandono,

Ao murchar dos teus pomos dourados,

-- Esplendor maternal de ventura!

Gota a gota, no fluir da resina,

Choraste em choro quieto aos ventos em surdina...

E as pobres folhas, amarelas,

Falhas de seiva, as horas de amargura

Marcaram-te, rolando ermas e lentas

Como soluços abafados...

Por crepúsculos dormentes,

Taciturna, evocaste a imagem do infortúnio

Entre os vapores da neblina escassa...

Ou à sugestão do plenilúnio,

Toda de espinhos eriçada

E aureolada

De místicos palores,

Foste a Madona das Dores

Agonizando

E relumbrando

Cheia de amor, cheia de unção, cheia de graça...”

quinta-feira, janeiro 25, 2024

LANÇAMENTO DE LIVRO: 1958

Compartilho do Jornal do Commercio (30 novembro 1958) o recorte sobre o lançamento do livro Caroço Amargo, de Aron Ypiranga Benevides, programado para o dia imediato. A empresa jornalística salienta que Benevides é membro do matutino, e esperando que o livro alcance a mesma aceitação quanto o trabalho anterior. A meu ver, não ocorreu a acolhida esperada, pois desconheço qualquer reedição desse livro de crônicas.

Recorte do jornal mencionado

Capa do livro anunciado (acima) e
o editado anteriormente (abaixo)


quarta-feira, janeiro 24, 2024

CORAL "JOÃO GOMES JÚNIOR" DE MANAUS

O Coral, criado no Dia de São José (19 de março) de 1956, prossegue em atividade, sempre enlevando os assistentes de suas apresentações. Seu criador foi o saudoso Maestro Nivaldo Santiago, que contou com o apoio incondicional da Igreja católica na pessoa do reverendo cônego Walter Gonçalves, então vigário da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, de Manaus.

Detalhe da Catedral de N. S. Conceição, em Manaus

Este texto pertence ao mencionado sacerdote, publicado em O Jornal (16 julho 1961), no qual esclarece a solenidade em que esta agremiação artística concede diploma de reconhecimento para diversas autoridades, em particular ao governador Gilberto Mestrinho. 

Recorte de O Jornal, 16 julho 1961

NO dia 13 do corrente, o coral João Gomes Junior que nasceu do Instituto Musical Santa Cecília, completou seu primeiro lustro de ação artística. O maestro Nivaldo de Oliveira Santiago à frente do grupo, perseverante e abnegado, apresentou à sociedade um programa variado e ameno. Foi mais de uma hora de enlevo e voos místicos aos páramos das musas, onde a Melodia espargiu lenitivo de prazer e de agitação irresistível transmitida à gente pelo turbilhão do século.

Ao intervalo maior, o organizador do instituto musical e, posteriormente, pai e fundador do coral João Gomes Junior, o impávido e vontadoso Nivaldo, descobrindo a grandeza de seu coração bem formado, agraciou com reconhecimento e estima, o Sr. Governador do Estado, o Secretário de Educação, e este pobre vigário, cuja presença, no instante, funcionou como sombra a destacar mais os dois homens públicos da administração amazonense. E não vai aqui nenhuma profissão de modéstia, mas apenas hierarquia de méritos. Num painel que deslumbra, as sombras concorrem também para o fascínio do conjunto.

Os três homenageados receberam da Sociedade Coral "João Gomes Júnior" o diploma de SÓCIO BENEMÉRITO. O Governador e o Secretário de Educação pelo apoio e incentivo que vêm dispensando ao grupo de cantores nas arrojadas iniciativas de fazer arte entre nós, e este humilde escrevinhador por ter, anos atrás, impedido o Maestro de ir embora, cantar e fazer cantar em outras plagas do Brasil, oferecendo-lhe, então, estímulo, casa, piano e mobília, para as atividades, iniciais, ali na (rua) Visconde de Mauá, num sobrado da Mitra e que serve, de muito, como sede das Obras Sociais da paróquia da Catedral.

Foi assim lançada a primeira pedra desse edifício artístico, erguido à custa de um labor pertinaz e que hoje todos admiram e aplaudem. Aqui a explicação de se encontrar este padre entre os homens de prestigio da ocasião. Símbolo da pedra que ficou escondida no alicerce da construção e que a lembrança agradecida do Maestro pretendeu mostrar ao público.

Grato, Nivaldo. Lamento não tenha o Gilberto participado pessoalmente da festa. Foi representado por esse jovial amigo que é o Desembargador Manuel Machado Barbuda, seu chefe de Gabinete. O meu comparecimento ao quinto aniversário do JOGOJÚ (sigla de João Gomes Júnior) obedeceu a um impulso íntimo: levar as minhas palmas ao triunfo de tantos esforços e penas; unir o meu sorriso e a minha alegria a quantos sorrisos e alegrias levantaram em apoteose o Coral João Gomes Junior com os 22 componentes e o seu maestro, no dia 13 de julho de 1961, no Teatro Amazonas.

segunda-feira, janeiro 22, 2024

MANAUS: ANTIGAS PROPAGANDAS

 Uma revisão nos arquivos permitiu-me recolher alguns anúncios, então ditas propagandas, datadas da década de 1960, aqui expostos.

Publicado em A Gazeta, agosto 1955

Circulado em O Jornal, janeiro de 1965

Jornal do Commercio, abril de 1962


sábado, janeiro 20, 2024

TEIXEIRA DE MANAUS (1944-2023)

 Para lembrar o músico Teixeira de Manaus, falecido nesta semana, transcrevo o artigo de Darle Teixeira e Bernardo Mesquita com o qual se despediram do saxofonista mais conhecido da cidade. De minha parte, obedecendo à invocação do criador do "Beiradão", abro a porta de casa para ouvir o melodioso SAX. 


Abra sua porta e coração,

a história de Teixeira de Manaus 

Nesta quinta feira (18), faleceu em Manaus, Rudeimar Soares Teixeira, conhecido nacionalmente como Teixeira de Manaus, nome artístico adquirido em sua fase de produção fonográfica na década de 80. O saxofonista nascido na Costa do Catalão em 1944, cresceu nos arredores de Iranduba município perto de Manaus. Destinou-se a Manaus ainda criança para estudar e na década de 60 já tocava na banda de Domingos Lima animando os bailes e sedes da cidade. Rudeimar também foi um dos mais atuantes músicos nas festas de santos realizadas nas beiradas do interior amazonense. No mercado musical do interior atuou junto ao Grupo Pop antes de criar seu próprio conjunto o RT4 com o qual tocava na boate Saramandaia na década de 70.

O Amazonas se despede de Teixeira, mas sua obra segue viva na memória do povo. Sua música deixou impressa as animadas melodias saxofônicas, um traço singular da música instrumental de Beiradão. Teixeira foi o primeiro músico a gravar uma faixa sob a denominação “Beiradão”, apesar de sua produção na década de 80 estar vinculada ao desenvolvimento da lambada. A partir dele, Admilton do Sax e muitos outros poderíamos falar da lambada-beiradão. Rudeimar fez parte de uma geração de ilustres mestres saxofonistas tais como Chico Cajú, Rafí, Agnaldo do Amazonas, Aurélio do Sax, Valério, Chiquinho David, Souza Caxias, Toinho Bindá e muitos outros trabalhadores músicos que construíram a produção fonográfica amazonense na década de 80.

Exímio instrumentista, dominava teclado, saxofone, profundo conhecedor de harmonia, compositor de mão cheia, Teixeira adorava lembrar suas conquistas musicais ao longo da vida. Esse mestre singular que foi também muito conhecido em Fortaleza, deixou mais de 100 composições inéditas. Teixeira entrou pela porta e pelos corações do Amazonas.

Sua criação individual sua música reflete a formação histórica da música amazonense baseada na influência das bandas de música, conjuntos de jazz, conjuntos regionais, seresta e assim como da música da indústria fonográfica em geral cúmbia, merengue e mambo.

Além dos cantores Carrapeta, Chico da Silva e a banda Carrapicho, Teixeira foi o músico amazonense de maior sucesso comercial no mercado musical da região norte e nordeste. Tendo alcançado um imenso sucesso em todo norte do país, sua música obteve grande aceitação nas rádios de Fortaleza no início da década de 80. A nordestinidade musical é um traço da música amazônica de Teixeira.

A vida nas beiradas segue seu curso em contato com o rio e assim estaremos em contato com esse grande mestre de nossa história musical. 

Darle Teixeira e Bernardo Mesquita

sexta-feira, janeiro 19, 2024

DIÁRIO OFICIAL TAMBÉM ERA POESIA

 Em nossos dias, o órgão oficial do Estado é um maçante desfilar de exclusivas decisões dos Poderes Estaduais. Nem sempre foi assim. Na década de 1980, o DOE encartava um caderno literário, como o recorte que aqui vai publicado. A página trazia um poema do saudoso poeta Alcides Werk (1934-2003), ilustrado pelo artista Van Pereira.


O poema vai transcrito abaixo:

NA PRAIA DA PONTA NEGRA

Alcides Werk

Às vezes tenho vontade

de andar de jeans, ser moderno,

fazer versos esquisitos,

gerar palavras estranhas,

somar asfalto com lua,

misturar brigas de rua com rosa, com cal e mar.

Mas, quando te sonho nua

na Praia da Ponta Negra,

com gestos de pré-amar,

todo o meu ser se acomoda,

e eu volto a ver-me menino

que sonhara ser poeta

em noites de romantismo,

e, conquistado, me esqueço

das conquistas que faria:

minha alma mansa flutua

nas águas pretas do rio

e esvoaça sobre a tua

como um pássaro no cio...

 

Ilustração – Van Pereira

quinta-feira, janeiro 18, 2024

MANAUS: CIDADE FLUTUANTE

 Em Manaus, existiu a “Cidade Flutuante”, desaparecida há exatos sessenta anos. Restou, como descreve Ítalo Calvino, em Cidades Invisíveis, sobre a memória da cidade Maurília, que “o viajante é convidado a visitar a cidade ao mesmo tempo em que observa uns velhos cartões-postais ilustrados que mostram como esta havia sido”. Deste modo ocorre, em nossos dias, com nossa extinta cidade fluvial, apenas é recordada em postais, recortes de jornais e algum trabalho acadêmico.

Maia, in Fundadores da
Academia Amazonense de
Letras

Álvaro Maia (1893-1969), então Senador, escrevendo em coluna própria no Jornal do Commercio, talvez uma de suas últimas crônicas, pois morreu em maio, desaprovou o resultado da expedição sobre aquele curioso fenômeno habitacional.

 

Recorte do Jornal do Commercio, 16 mar. 1969

Desapareceu a “Cidade Flutuante” em poucos dias sob a ação das autoridades, porque usurpava áreas do cais e prejudicava as casas comerciais do litoral. Tinha movimento próprio - restaurantes, médico, dentista, escolas, pequenas lojas, boates. Atendia, de preferência, aos fregueses apressados dos beiradões, que ali encontravam o mais necessário, inclusive damas fáceis e folguedos noturnos. Vendiam os seus produtos, abasteciam-se, ingeriam as meladinhas e regressavam aos paranás e lagos pelo primeiro rebocador.

Restam fotografias e postais. Desaparecida, os seus habitantes procuraram os subúrbios da Capital, as ilhas próximas, ou se encoivararam pelos igarapés.

Isolados e dispersos, perderam a unidade comercial, deixando também de contribuir para a arrecadação, pelos pequenos estabelecimentos que cerraram as portas e transações. Onde param esses moradores, onde mourejam.

Motores, canoas, igarités pousam nas praias, à margem do rio Negro, em tapiris ou casebres equilibrados sobre cedros, açaens (sic) e sumaúmas. As ruas vizinhas passaram a fluir sossego, sem as serenatas e rapapés tamboriladas das boates. (...)

Muitos flutuanteiros da “Cidade Flutuante” salvaram suas barracas e seus velhos cedros, fugindo para os jutais. Mas vieram as enchentes, sacrificando parte da produção.

Ora, certo dia, alguns juteiros, mais uma vez afogados pelas chuvas, ouviram dizer que terras fartas, nas zonas suburbanas de Manaus, são do governo. São do Governo, são dos pobres. Rumaram e remaram para esses becos da promissão. Igarapé, capoeiras, pretas ou arenosas. Tudo bom e bem. Tomaram conta de um lote, escavaram buracos para os primeiros esteios. A notícia correu mundo. Outros chegaram: vinham dos jutais, dos escombros da “Cidade Flutuante”, na ilusão de melhoria e empregos na Zona Franca.

Vai surgindo o “Bairro da Palha”, entre os bairros de São Jorge e São Raimundo. É interessante ver o movimento do novo bairro, mesmo em tarde chuvosa. Já existem pequenas ruas, escola, boteco, até um teatro-mirim, e mais de mil habitantes.

Improvisação de poucos dias. Descobrissem os favelados, os mocambeiros terras assim! Juteiros, herdeiros da “Cidade Flutuante”, seringueiros desabrigados, pescadores sem redes de náilon, citadinos sem emprego caminham para o “Bairro-da-Palha”, a quinze minutos de Manaus, em ótima rodovia asfaltada... 

quarta-feira, janeiro 17, 2024

ANIVERSÁRIO DO SAUDOSO PATRIARCA

 Hoje, 17 de janeiro é o dia do aniversário de meu pai, 

108 anos.
MM em dez. 2010

Lembrei-me muito de suas lições de vida, do seu legado e da sua batalha pela sobrevivência em tempos de vacas magras. Me veio à lembrança meu tempo de adolescência, quando lhe levava o almoço no seu local de trabalho, como carpinteiro na Usina Rio Negro (então funcionando no bairro de Aparecida). Lá eu "filava" um pouco da comida que ele, propositalmente, deixava sobrar na marmita, porque queria compartilhar comigo esse prazer... e esse almoço tinha um sabor indescritível... um feijão com carne-seca que eu nunca mais senti tamanho sabor. Na volta pra casa, eu trazia, escondidas na marmita vazia, algumas castanhas-do-pará. Em casa, a Doninha as utilizava para um toque especial naquele delicioso arroz doce...

Ah, velhos tempos!

Ah, Seu Manuel Mendonça, você me mata de saudades!
Que Deus o tenha em lugar de paz e amor!

Renato Mendonça

terça-feira, janeiro 16, 2024

LIVRORNAL: APOIO AO AUTOR

 Conectando o “livro” ao “jornal”, a Secretaria de Educação subsidiou em 1978 essa publicação destinada a propalar o trabalho de intelectuais da cidade, de vários segmentos. Apesar do apoio da Imprensa Oficial, havia necessidade de outra sustentação, a financeira. Esta veio com a ajuda de empresários, como demonstram os dois anúncios aqui reproduzidos.

Detalhe da capa do opúsculo em sua inauguração, abril de 1978

Aproveito para relembrar as duas empresas. A de madeiras, a Serraria Moraes, estava localizada no igarapé de Educandos, junto a ponte Efigênio Sales, ponte pioneira que foi reduzida a um simples marco com a reformulação daquele trecho, que canalizou os igarapés do Quarenta e do Mestre Chico. As serrarias da época situavam-se à beira de um curso d’água, a fim de facilitar o recebimento de sua matéria prima: os toros (troncos) de madeira. Estes eram entregues, consoante mostra o anúncio, enlaçados, constituindo uma “jangada” que, enquanto aguardava o remanejo, servia de local para a pescaria e o entretenimento juvenil.

Os "toros" dominam a propaganda

Em nossos dias, a extração de madeira virou “caso de polícia”, e as serrarias desapareceram do nosso cotidiano.

Produto marcado pela conhecida ave

A Usina Rian comercializava sal, situada no centro da cidade, à rua Floriano Peixoto. Certamente recebia o produto semi- industrializado do Nordeste, cabendo-lhe o refinamento e o ensacamento. Desconheço seu destino.

segunda-feira, janeiro 15, 2024

MERCADO DE BARCELOS, AM

 Notícia da inauguração do mercado público de Barcelos, município da calha do Rio Negro, bem lembrado por ter sido capital da Província. A solenidade foi presidida pelo governador Danilo Areosa (1967-71). E este recorte foi extraído do Jornal do Commercio, circulado em 13 de novembro de 1969.



domingo, janeiro 14, 2024

SONORA - A REVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA EM MANAUS

 Para os mais jovens, que hoje não mais imprimem as fotos realizadas pelo celular. Na Manaus, de ante-ontem, para se ver as impressões a cores era necessário entregar o filme às empresas do ramo, que o enviava ao Sul do país. E restava esperar.

Anúncio em A Crítica, abril de 1983

Isso durou até que o empresário uruguaio Nuno Caplan, atraído pela Zona Franca, decidiu montar um laboratório fotográfico em nossa capital, que tomou o nome de Sonora. As máquinas foram encomendadas, porém faltava ao menos um técnico. Esse profissional, Caplan encontrou em Barcelona, Espanha. Contratou um jovem venezuelano que aqui chegou com a ideia de passar apenas o tempo para a montagem da empresa. Todavia, para nossa felicidade, até hoje o Carlos Navarro Infante segue em Manaus, em atividade, transferindo sua competência aos profissionais do ramo.

Esta publicação dominical é dedicada a ele, para que logo restabeleça a saúde. 

sábado, janeiro 13, 2024

MANAUS: COLÉGIO SANTA DOROTÉIA

 

O Jornal do Commercio estampou em primeira página a foto das concluintes (sic) dos cursos Normal e de Contabilidade do ano de 1962. Ocorreu em 11 de dezembro, com festas de todos estilos, aberto pela religiosa, afinal o educandário era dirigido pelas Irmãs Doroteias, e frequentado exclusivamente pelo genero feminino.


Para facilitar a procura de nomes e melhor ilustrar esta folha, reproduzo os nomes das 23 formandas: Alcina do Rosário Areoline; Darci Rodrigues de Paula; Hilda Naito; Ignes Elias; Irene Maia Batista; Ivone Anany Tavares; Jacy Dutra Pessoa; Juraci Madureira Valois; Lucia de Fátima da Silva Barbosa; Luiza Maria de Pompeu Falabela; Maria da Conceição George M. Costa; Maria de Lourdes de Carvalho Mota; Maria Matilde Correa Hosanah da Silva; Maria Nazaré Liberal de Almeida; Maria Ofélia Azevedo;  Raymunda Alves Rodrigues; Regina de Souza Lima; Sandra Pinheiro Braga; Sara Peres Levy; Simone Plutarco de Castro; Sulamita Augusta da Silva; Zélia Maria Arce dos Santos e Zulmira Maranhão.

MANAUS: NOTAS QUASE CENTENÁRIAS

Anúncios extraídos do Almanaque Laemmert, editado em 1925 no Rio de Janeiro, então capital federal. 

Cinema Polyteama (acima) e outros comércios (abaixo)



quarta-feira, janeiro 10, 2024

PMAM: NOTA + Q CINQUENTENÁRIA

 

A sede da Polícia Militar do Amazonas vai novamente mudar de endereço. o quartel da rua Benjamin Constant, em Petrópolis, está sendo modificada para abrigar os cursos de formação e especialização do pessoal. Será uma grande reviravolta, bastante tempo reclamada na corporação.

Quero lembrar que este aquartelamento foi construído para absorver - em 1970 - todo o pessoal então abrigado na Praça da Polícia, menos de 1000 policiais. A ideia, porém, não vingou. Somente em 2001, houve a transferência.


O recorte do Jornal do Commercio, de 27 de setembro de 1970, (acima) relembra o encerramento das obras, promovidas pelo governador Danilo Areosa (1967-71). 

AMAZONAS: ENERGIA ELÉTRICA

 O governo de Danilo Areosa (1967-71) incrementou a instalação de fonte de energia elétrica no interior do Estado. A capital havia recebido sua usina de energia ainda no governo de Gilberto Mestrinho (1959-63). 

Assim, em 26 de setembro de 1969, inaugurou algumas usinas nos municípios amazonenses, entre as quais, conforme registro do Jornal do Commercio, as de Autazes, Eirunepé e Codajás.

Central de Autazes


Central de Codajás e, abaixo, a de Eirunepé



segunda-feira, janeiro 08, 2024

RÁDIO: NOTÍCIA + QUE CINQUENTENÁRIA

 Trata-se da Rádio Tropical, a primeira emissora em FM (frequência modulada) no país, instalada em Manaus pela família Malheiros na rua José Paranaguá. A emissora segue funcionando, agora sob o título de Rádio CIDADE 99.3, em novo endereço: Rua Gabriel Gonçalves, Aleixo. Porém, mantém o slogan fabuloso: "Se a Cidade não deu, nada aconteceu".

O recorte ilustrativo foi retirado de matutino local. Nele se vê a equipe desportiva e a convocação de amazonenses para a partida de futebol entre Fast Clube vs Olímpico, em novembro de 1969.




 

domingo, janeiro 07, 2024

PMAM: RELATÓRIO DE 1957 (1)

 

Alguns detalhes de um Relatório expedido pelo comando da Polícia Militar do Estado. 


Recorte do Jornal do Commercio, 8 jan. 1958

A corporação encerrou o ano de 1957 com o seguinte efetivo: 33 oficiais e 401 praças, havendo os claros de dois oficiais e 47 praças. Havia incluído 109 soldados, sendo 50 de 1a categoria e o mesmo número de 3ª, ou seja, que não haviam cumprido o serviço militar. Prosseguia aquartelada no antigo prédio situado na Praça da Polícia, o qual necessitava de amplos reparos, reclamava o comandante Cleto Veras.


Cleto Veras

O número de soldados engajados com nível escolar de baixíssima categoria, alguns até mesmo analfabetos, compelia a corporação a criar uma sala de aula no aquartelamento. À época, registra esse documento, funcionava a Escola Regimental Floriano Peixoto.

“O maior empenho e esforço são dispendidos no sentido de conferir eficiente instrução aos praças analfabetos, calcados nos princípios pedagógicos modernos, dos quais não se exclui a parte disciplinar para um satisfatório resultado”. Almejava ainda mais o comando: “preparando-se desta maneira o soldado para uma situação melhor na sociedade e um futuro mais amplo em que possa aplicar seus conhecimentos e atividades”.

A escola era dirigida por um oficial e recebia orientação pedagógica de um professor dos quadros do Estado. Ambos não identificados, infelizmente. De 68 praças matriculados no início de 1957 foram aprovados 56; reprovados 8 e 4 excluídos.

Outra nota pertinente: também funcionava no quartel a Escola Luiza Nascimento, para os filhos de praças, sob a orientação de uma professora estadual (igualmente não identificada). Detalhe curioso, ainda hoje funciona a Escola Estadual Luisinha Nascimento, acaso se trata da mesma pessoa.

sábado, janeiro 06, 2024

PMAM: RELATÓRIO DE 1957

         

Quando Plínio Ramos Coelho assumiu o governo estadual entre 1955-59, nomeou ao major EB Cleto Potiguara Veras para o comando da Polícia Militar do Estado, que permaneceu no posto até próximo ao final do mandato deste governador.
Plínio Ramos Coelho

Como era de praxe, no final de 1957, o comandante produziu um Relatório sobre as atividades da corporação, documento que subsidiava a Mensagem governamental, lida na abertura anual da Assembleia Legislativa. Publicado no matutino Jornal do Commercio, circulado em 8 de janeiro de 1958, dele transcrevo alguns tópicos que entendo fundamentais para o entendimento da evolução da Instrução praticada na Força policial estadual.

Alguns detalhes. A Polícia Militar encerrou o ano de 1957 com o seguinte efetivo: 33 oficiais e 401 praças, havendo os claros de dois oficiais e 47 praças. Havia incluído 109 soldados, sendo 50 de 1a categoria e o mesmo número de 3ª, ou seja, que não haviam cumprido o serviço militar. Prosseguia aquartelada no antigo prédio situado na Praça da Polícia, o qual necessitava de amplos reparos, reclamava o comandante Cleto.

Recorte do matutino Jornal do Commercio
Acerca da Instrução da tropa, descreve o Relatório: “com todo o empenho, obedecendo ao critério da elaboração de programas de trabalho semanal, foi a mesma ministrada, devidamente dosada e sempre tendo-se em mira, além da parte técnica, despertar no soldado o sentimento do dever, encaminhando-o dentro dos princípios sadios da moral e do bem viver”.

Relevante iniciativa deste comando, “o Grupamento Cosme e Damião foi aumentado de efetivo, com o fim de estender o policiamento a outros setores e criar o policiamento da madrugada, atuando agora este contingente durante 24 horas por dia”. Houve uma seleção rigorosa dos novos elementos a serem incluídos neste serviço.

referente a instrução dos oficiais, esclarece que “receberam durante o ano instruções teóricas, destinadas a melhorar o nível de conhecimento dos mesmos, familiarizando-os com os novos processos de treinamento usados nas forças armadas.” No mesmo nível, “foram realizadas visitas em destacados ramos de atividade industriais do Estado”. Assinala que visitaram a região petrolífera de Nova Olinda do Norte, a Refinaria da COPAM, a Companhia Fitejuta e as indústrias da firma I. B. Sabbá.

Sublinha que “trouxe muito proveito à oficialidade”, pelos conhecimentos auridos sobre as riquezas do Amazonas e os processos modernos de produção.

No próximo capítulo escrevo sobre a Escola Regimental Floriano Peixoto.

sexta-feira, janeiro 05, 2024

LINDA BATISTA EM MANAUS

Nome artístico de Florinda Grandino de Oliveira (São Paulo, 14 de junho de 1919 — Rio de Janeiro, 17 de abril de 1988), mais conhecida como Linda Batista, esteve em Manaus, ao menos nesta data, cantando no saudoso Acapulco Clube. 
Para mais saber: consulte o Wikipédia, entre outras fontes.
As irmãs Batista, Linda e Dircinha

A iniciativa da apresentação em Manaus coube ao colunista social Little Box (Caixinha). Uma leitura do anúncio (foto) publicado no Jornal do Commercio, circulado em 2 de mar. 1963, traz algumas curiosidades. O “Incomparável” exigia traje completo (paletó e gravata) nos dias de semana, no sábado, traje esporte.

Ao que tudo indica, a festa ocorreu após os festejos carnavalescos.

Jornal do Commercio, 2 mar. 1963


quarta-feira, janeiro 03, 2024

MANAUS: NOTAS CENTENÁRIAS

     

 

A consulta em revistas e jornais antigos de Manaus sempre é possível encontrar dados que podem ilustrar a história do Estado. Na revista CÁ & LÁ, circulada em março de 1914, encontra-se a nota abaixo exposta.


Os personagens: Henrique Rubim era coronel da Guarda Nacional, então uma entidade de forte atuação. Alcides Bahia, nascido em Belém do Pará, era engenheiro e jornalista e, adiante, um dos fundadores do Silogeu Amazonense. Para saber mais sobre este personagem consultar o livro
Fundadores da Academia Amazonense de Letras (2019), de Robério Braga.

O texto exposto não especifica o assunto tratado, porém, deveria ser de bastante interesse dos governos amazônicos para que fosse enviada uma comissão.

terça-feira, janeiro 02, 2024

ÁLVARO MAIA (1893-1969)

 A página que abre o ano de 2024 foi extraída da Revista CÁ & LÁ, circulada em Manaus em julho de 1917. 

 

CHAMPAGNE

 

És o néctar do luxo e das Vênus lascivas...

Contigo, o belo mundo, alta noite, se embriaga...

Sonha... e, no sonho, vai, a voar de vaga em vaga,

em mares de volúpia em que soluçam divas...

 

Traga teu fumo o encanto ou a miséria traga,

lembras risos sensuais de princesas altivas...

E, espumas levantando, os delírios avivas,

e, sendo brinde, és rosa, e, sendo beijo, és chaga...

 

Ó deusa liquefeita, ó rainha da taça,

em tua adoração as bocas se consomem,

sorvendo-te o veneno, onde a loucura esvoaça...

 

Obedece-te o gozo em tudo quanto queres,

porque acendes o sol nas frias veias do homem

e dás áscuas de incêndio aos lábios das mulheres...