CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, março 31, 2021

ÁUREO MELLO (1924-2015)

 Narra uma lenda suburbana que o falecido Áureo Bringel de Mello (1924-2015) – advogado, jornalista, poeta, contista, pintor, político e senador pelo Amazonas – não encarava uma viagem aérea sob hipótese alguma, ou como canta o musical, tinha “medo de avião”. Não sei como desembarcou em Manaus em fevereiro de 1970, ocasião em que os amigos lhe fizeram os melhores encômios. Primeiro foi Luiz Bacellar, que o saudou com um poema aqui compartilhado.

Semana seguinte foi a vez de Genesino Braga, cronista de dilatado texto, enaltecendo ao porto-velhense que se realizou no Amazonas. A publicação aqui compartilhada ocorreu no Jornal do Commercio (15 fev. 1970).


Aureo Mello caricaturado por
Moacir Andrade, na Revista da
UBE de 1983

De breve tornado aos seus pagos há muito deixados, Áureo Mello vagueia, nestes dias, os caminhos em que outrora andaram em sonhos a sua poesia e o seu amor. Os dias da infância e os da mocidade, culminados num triunfo de ideal político que o levaria a transplantar-se da querência amada, ressurgem-lhe a toda hora, por todos os lugares, com aquelas mesmas imagens insistentes que se guarda na lembrança dos tempos mais felizes. A velha porta amiga que se reabre; os braços afetuosos de outrora que se estendem; o rosto esquecido que súbito, reaparece, sorrindo; a árvore frondosa do quintal antigo, — símbolo de hospitalidade e proteção; o gosto sápido dos frutos regionais saboreados no tabuleiro do Messias (ah!, os pajurás de racha...); a exclamação alarmada dos bem-te-vis nos ninhos das mangueiras; a velha casa de beiral que sumiu dando lugar ao edifício de vinte ou mais andares, — tudo devolve à sensibilidade poética do conterrâneo visitante as suas velhas fontes de inspiração, com as imagens que se não diluíram e jamais se diluirão no andar dos tempos, porque fixadoras de todo um mundo interior e reflexo de sentimentos, do qual ele é poeta amoroso e gentil.

Recorte do citado jornal

Vinte e cinco anos distam do lançamento, aqui entre nós, do primeiro livro de poemas de Áureo Mello. “Luzes Tristes”, que assim se intitulava o belo volume, e assim porque — ele próprio o revela no último terceto do soneto de igual título, — “Pois, ó sonho!, ó sorrir!, ó deus amor!, ó glória!, / Sois, nesta vida umbrosa, humana e transitória / Os meus tristes clarões, as minhas luzes tristes...”, representam bem a sua individualidade poética, que extravasava o seu prodígio criador, seivoso e novo, nas mais puras expressões da beleza com afirmação e intensidade. Seus poemas de então tinham funda expressão pessoal e suas ideias eram mensagens sensíveis de uma grande alma otimista e generosa, encerrando toda a comoção humana através dos símbolos mais nobres.

Saindo, como poeta, do grupo de intelectuais novos que, abelhas inquietas, apuravam o mel nos favos do Centro de Estudos da Mocidade, "igrejinha" de escola renovadora que fez sozinha a significação literária de uma época, Áureo Mello se integrou no movimento modernista mais por uma necessidade íntima de renovar, nas tendências e nas ousadias das novas correntes. E o que nos mostrou, através de seu livro de estreia, foi um índice forte de definição dos novos rumos do espírito brasileiro, já a esse tempo se desembaraçando das imposições passadistas. Por isso, quando apareceu, marchava seguro de si mesmo, com uma clara compreensão da poesia de seu tempo, apoiado num pleno domínio da personalidade. (...)

Agora mesmo, depois de um agradável reencontro com o poeta, em dias desta semana, durante o qual mais uma vez pudemos sentir a irradiação do seu poder de simpatia, através da palestra clara e fluente, através do gesto largo e espontâneo, através das palavras de louvor e de admiração para tudo e para todos (não falou mal de ninguém, não reagiu, não restringiu, não opôs, não contrariou, não demoliu. Admirou, aplaudiu, concordou, — como admirou sempre as paisagens, como aplaudiu sempre os amigos: a bondade de uns, a fortaleza de outras, o talento de todos), — agora mesmo, dizíamos, tomamos da estante, para as delícias de alguns breves momentos, seu livro de poemas, aquele mesmo da estreia: "Luzes Tristes". (...)

Agora o poeta, que teceu há vinte e cinco anos essa teia lírica de encanto e de beleza, revê suas velhas fontes límpidas de inspiração, nas terras de seu nascimento. O sonho de futuro que ele sonhara — para a sua terra para o seu povo e para si próprio como sentimento de uma e de outro, -- aí está em afirmativas reais no processo de desenvolvimento econômico em que o Amazonas hoje se expande. Não lhe são revelação nem surpresa, bem o sabemos, por que estavam justos nos termos de sua clarividência de amazonense idealista. Mas, lhe falam de um triunfo que tomou sentido com os "peleadores" de seu clã lítero-político. Por isso, enlaçamos-lhe no abraço amigo que lhe estendemos ao reencontrá-lo a vaguear solitário, saudoso de si mesmo, naquela tarde de violência crepuscular, semana última pelos mesmos caminhos que outrora andaram em sonhos sua poesia e seu amor.

domingo, março 28, 2021

RUAS DE MANAUS

 Revisitando meu arquivo de jornais, encontrei o registro da construção da rodovia Variante para o aeroporto Ponta Pelada; e da avenida Castelo Branco, antiga Waupés, na Cachoeirinha. A cena desta foi tomada do entroncamento com a rua Ipixuna, na antiga Curva da Morte, melhor ainda, junto ao bar do Carvalho. Em frente, era um “covão” que impedia o tráfego de veículos, por isso foi necessário o aterramento. As obras foram realizadas pelo DRM da Prefeitura de Manaus, então dirigida por Paulo Pinto Nery.

O texto compartilhado de O Jornal (28 outubro 1969) especifica o serviço realizado. As fotos da Catelo Branco mostram o antes e o de ainda pouco de ontem pela manhã, quando parei no semáforo existente neste entroncamento.

Cruzamento da rua Ipixuna com a av. Castelo Branco



Por considerar útil e indispensável a divulgação de quaisquer empreendimentos, mormente em se tratando de rodovia, obras eminentemente públicas, elaboramos a presente reportagem que evidencia o trabalho magnifico realizado pelo Departamento Rodoviário Municipal (DRM), nesses últimos três anos de conscientização administrativa.

Criado pela Lei Municipal 531, de 28 de abril do 1955, o DRM conseguiu, após onze anos de anonimato, surgir como aurora de esperanças. Tomando forma em 19 de setembro de 1966, o DRM de hoje focaliza suas realizações, situando a construção da rodovia Variante para o Aeroporto, uma das metas de honra da atual administração municipal, em plena comemoração de repartição pela Lei 889. do Tricentenário da fundação de Manaus. 

Entroncamento da av. Silves com a av. Castelo Branco


sexta-feira, março 26, 2021

"O GALO" DE LUIZ BACELLAR

Envolvido com os Estudos sobre a literatura amazonense, de Tenório Telles, retornei ao meu “surrão”, como aprendi com Farias de Carvalho. Nele encontrei o poema aqui compartilhado, de Luiz Bacellar, sobre o qual consultei ao poeta Zemaria Pinto, que me assegurou se tratar de uma obra inédita do saudoso autor de Frauta de Barro.

Bacellar, em pé, 1983

Outro pormenor aqui já revelado, que faço questão de repisar: Bacellar encomendou-me uma pesquisa dos poemas que ele publicou em jornais de Manaus. Almejava com eles editar um livro, cujo título seria Calhaus. Fiz o que pude, entregando a ele certo número deles, porém, o poeta não teve tempo de realizar sua aspiração. Aqui vai mais um, mestre Luiz Bacellar.

Nota: no original, como se lê, está A GALO, no entanto, a incorreção presumo cabe à falha de revisão ou outra iniquidade existente nas oficinas. 


 O GALO

Luiz Bacellar

(na volta de Áureo Melo à terra manauara)

Eu hoje 

tomei emprestada a pluma

de Neruda,

voltei aos tempos do paganismo

e sacrifiquei

um galo ao deus Apolo.

Não a Apolo retornei

Mas a ti Sol,

próton do infinito,

fonte da vida

que me fizeste nascer

na Terra.

Por ordem de Meu Senhor

era um galo

guerreiro como eu, guerreiro e cantador.

 

Tinha um peito de oiro

macio e brilhante,

a cauda de esmeralda,

a crista do mais rubro

coral.

Joia de plumas

de macheza

e canto,

grande produtor de ovos

e de alguns frangos,

multidões de frangas.

Ao sacrificá-lo

sacrifiquei-lhe o canto

porque sou cantor

do meu Senhor.

Mas também sacrifiquei-lhe a vida

porque devo a vida

ao meu Senhor.

Senti-lhes os estertores

nas minhas mãos implacáveis

quando torci-lhe a cabeça

para separá-la do corpo,

depois rompi-lhe o peito

e arranquei-lhe o coração

ainda palpitante,

e ofertei-o na palma de minha mão direita

ao Sol,

fonte da vida,

da Alegria,

da Saúde.

 

(Sacrifiquei o galo

como o ritual

litúrgico

dos flâmines latinos

de Apolo).

 

Quando as últimos palpitações

do seu pequeno coração

cessaram

na palma imóvel da minha mão

cobri o rosto com ambas

para que o meu rosto

se tingisse de atinjo

como o do Sol, e o Sol me reconhecesse

como seu filho.

Sacrifiquei o galo

com lágrimas nos olhos.

Que me perdoe o meu Senhor

que me proibiu

sacrifícios cruentos.

Pagaste o teu galo a Asclépios. 

quarta-feira, março 24, 2021

WILSON RIBEIRO RAIZER (1927-2018)

Quando em 8 de fevereiro de 1980, o governador José Lindoso assinou o Decreto 4 819, criando o Pelotão de Polícia Feminina, gerou a terceira organização policial feminina no país. O próprio comandante-geral da PMAM, coronel EB Wilson Ribeiro Raizer, evangélico convicto e atuante, cuidou pessoalmente da instalação e dos primeiros passos do pelotão.

Duas marcas, a meu ver, este dirigente deixou na Força Estadual: 1) a criação da Polícia Feminina e 2) sua intensa pregação cristã. Acredito que coronel Raizer foi o primeiro comandante a irromper com a hegemonia católica. Tive sérios atritos com este chefe, porém esses dois atributos pude comprovar. Certa ocasião, o acompanhei em culto de sua igreja Batista, quando agradecemos ao Senhor pelo restabelecimento da saúde de um policial – meu subordinado – que fora gravemente acidentado.

Posse do coronel Raizer no comando da PMAM, presente
o governaador José Lindoso (foto de A Crítica, 14 maio 1979)


Dias desses, querendo saber o destino deste oficial, recebi por meio da cortesia do coronel PM Ewerton Amaral o texto que aqui compartilho. Acredito ter sido escrito pelos membros da igreja Batista, quando do falecimento do coronel diácono Wilson Raizer.

 

Recorte do discurso proferido quando do sepultamento

Às 17h30 do dia 3 de janeiro de 2018, na cidade de Brasília (DF), faleceu o coronel EB Wilson Ribeiro Raizer, nascido na cidade de Acioli (ES), em 9 de agosto de 1927, filho de Aurélio Raizer e Ester Raizer.

Ainda bem jovem saiu da pequena e pacata cidade de Acioli e foi para a capital do Estado, a fim de estudar. Após 3 anos de estudos, seguiu para o Rio de Janeiro a fim de cursar a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Rezende (RJ), onde realizou o curso com brilhantismo.

Já como oficial da Arma de Infantaria, passou a ser instrutor na própria AMAN, além de oficial Orientador da Associação dos Cadetes Evangélicos. Desde cadete, até chegar ao posto de coronel, destacou-se pela inteligência, integridade moral, capacidade de trabalho e senso de responsabilidade ao exercer as funções para as quais foi designado. Era estudioso, tanto que, além de sua formação acadêmica pela AMAN, graduou-se em Engenharia Civil e Administração de Empresas.

Serviu em diversas Unidades Militares: sediadas em Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Cristalina (GO), Brasília (DF), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Manaus (AM). Nas diversas funções exercidas, destacou-se como oficial instrutor. Prestou relevante serviço ao Exército Brasileiro ao servir no Comando Militar do Amazonas (CMA) e a comandar a CRM de João Pessoa (PB), a 42ª Companhia de Infantaria em Campina Grande (PB), a Polícia Militar do Amazonas, por duas vezes, a 32ª Brigada de Infantaria Motorizada em Cristalina (GO), subcomandante e comandante do DGP, em Brasília (DF) e, também, na Presidência da República.

Em  8 de janeiro de 2013, recebeu em Campina Grande, justa homenagem do 14° Regimento de Infantaria, pelo excelente trabalho desenvolvido durante a sua gestão naquela Unidade, no período de 26|07|1967 a 08|02|1971.

Casado com Zali de Oliveira Raizer, de saudosa memória, com quem viveu 60 anos de vida conjugal, sempre desenvolvendo a arte da boa convivência, o que fez fortalecer o grande amor do casal. Segundo informação da família, no Culto doméstico entoavam seus dois hinos prediletos: "Pão da vida, Pão do Céu" e "Finda-se este dia", ambos do Cantor Cristão (CC). Pai amoroso de Viviane, Valéria e Regina, sogro amigo de Marcos e César, avô de André, Artur e Cláudio César e bisavô das queridas Mila, Leila e Isla.

Crente consagrado, Diácono jubilado, membro da Igreja Memorial Batista, exerceu a beleza da humildade ao servir como soldado fiel do Exército de Cristo Jesus. A exemplo da frase do apóstolo Paulo, nosso amado irmão Raizer pôde dizer: "Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé." (II Timóteo 4:7). A ele se aplica o texto bíblico de Mateus 25:23 que diz: "Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito de colocarei; entra no gozo do teu senhor." A Igreja Memorial Batista, já sentindo saudade do irmão Raizer, louva a Deus pela sua vida preciosa e estende a mão fraterna à querida família, na certeza de que o poder do Espírito Santo consolará os corações entristecidos pela separação. Bom é saber que ele já se encontra no céu "e ali não haverá mais noite, e não necessitarão de luz de lâmpada, nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumiará; e reinarão pelos séculos dos séculos." (Apocalipse 21:5).

terça-feira, março 23, 2021

POLICIAMENTO DO TRÂNSITO EM MANAUS

Provocado pelo comando do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), iniciei uma retrospectiva sobre este serviço prestado pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM), desde – acredito – 1964. Ou seja, desde quando referido emprego esteve conjugado entre a PM e o Departamento de Trânsito (Detran). Esclareço que este evoluiu de Delegacia de Tráfego para Delegacia Especializada de Trânsito (DET), cuja sede ocupou o prédio no cruzamento da rua José Paranaguá com a avenida Floriano Peixoto (ainda de pé, ora pertencente à firma comercial).

A Portaria expedida pelo delegado do DET, para disciplinar as taxas permitidas aos choferes (termo da época), foi retirada do Diário Oficial. Serve para se avaliar custos, quando nossa moeda era o Cruzeiro (Cr$). E mais, avaliar os extremos de nossa cidade.








quinta-feira, março 18, 2021

CAPITÃO ADOLPHO LISBOA

Robério Braga, presidente da Academia Amazonense de Letras, em sua coluna dominical - CRÔNICAS DE DOMINGO, publicou o seguinte relato sobre Adolpho Lisboa, aqui compartilhado. Sou grato ao festejado cronista pela citação ao meu trabalho, que restou consolidado em Administração do coronel Lisboa (Manaus: Edições Muiraquitã, 2008), prêmio literário Cidade de Manaus.

 

A Crítica, 13 e 14 março 2021

Nos tempos idos da "belle époque" amazonense, andou por Manaus e adjacências um capitão do Exército que fez história, foi notícia, governo, chefe militar e autor de muita "danação", conforme contavam os antigos em termos comedidos, mas que, sem espanto, asseguravam ter sido tudo verdadeiro. 

Já chegou para comandar e, por isso, foi logo nomeado superintendente municipal ou prefeito da capital, por obra, graça, cortesia e, quem sabe, conluio com o poderoso governador Silvério José Nery. Sem sombra de dúvidas, entretanto, foi o responsável por audacioso plano de melhoramentos urbanos e suburbanos da cidade, incluindo as sofisticação do cemitério São João Baptista com sua entrada triunfal e sua capela gótica, a abertura do bairro do Mocó que se transformou em Vila Municipal, a ampliação do Mercado Público e seus contratos inexplicáveis, as novas ruas da Praça da Matriz e da Praça Tamandaré, mas, como registra mestre Agnello Bittencourt, jamais prestou contas de todos os recursos recebidos, salvo em relatórios que não demonstravam a forma de aplicação do dinheiro.

Na desapropriação do bairro do Mocó, por exemplo, ficou com ele o melhor lote, precisamente onde mandou construir um palacete, em forma de chalé, a que chamou de "Dona Zulmira", o conhecido castelinho da vila e cuja área externa, originalmente, era correspondente a muitos lotes reunidos; em terreno que comprou pouco antes dos melhoramentos urbanos que mandou fazer a na Rua da Matriz com Enrique Martins, construiu um prédio de dois andares; na Praça Tamandaré, teria se apropriado de um terreno municipal, de tal forma aberrante, a que teve briga judicial para excluí-lo de seu inventário após sua morte.

Como se não bastasse, foi por duas vezes comandante do Batalhão da Polícia Militar, rigoroso na aplicação das penas disciplinares, inclusive com constrangimentos físicos. Esbanjador de moedas de ouro e prata quando estava em Paris, principalmente não se continha em furor quando lhe pediam gorjetas, e talvez para vingar-se do pedido que deveria considerar ofensa, sacava do colete as moedinhas especiais e costumava jogar no chão para que o trabalhador apanhasse como se fosse mendigo.  

Mas era um festeiro, tanto assim que fez organizar e financiou com recursos municipais o mais importante carnaval de rua de Manaus até então conhecido, levado a efeito em 1902, para o qual fez questão de importar da Europa alguns carros alegóricos sofisticados e muitas fantasias. Estranho, entretanto, foi que, mesmo naquela hora de

alegria e festa, se manteve recolhido observando à distância o movimento que lotava a principal avenida da cidade, e os festejos que marcaram época. Não "se misturou" com o povo nem para experimentar as alegrias do Rei Momo.

O que ficou de sua passagem temporária na vida social, militar e política amazonense bem que poderia ser objeto de estudo mais apurado, seja por meio de uma revisão nos jornais de governo e de oposição que ocupavam o cotidiano dos cidadãos dos idos de 1900-1907, seja em obra do coronel Roberto Mendonça que resgatou em boas fontes grande parte da trajetória desse famoso capitão, para que não fiquemos somente com a má impressão que os seus conviventes nos legaram, ou com os registros de seu nome em letras garrafais no Mercado "Adolpho Lisboa" que, tal como o conhecemos nos dias de hoje, é uma de suas muitas obras de embelezamento e de possíveis orgias financeiras e “danação" política.

Quem sabe não surgem dissertações e teses acadêmicas sobre a presença de Adolpho Miranda Lisboa em Manaus, o capitão preferido por Silvério Nery.

Capa do livro mencionado


domingo, março 14, 2021

NUNO CARDOSO: FUNDADOR DOS BOMBEIROS EM MANAUS (2)

Com esta folha, concluo o documento expedido pelo Arquivo Central da Marinha sobre Nuno Cardoso (1816-81), autor da Portaria que criou em Manaus o Serviço de Extinção de Incêndios, em 1876. Lembrando a evolução da corporação que, em nossos dias, atende como Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM).

Para mais subsídios sobre este Corpo, veja meu livro: Bombeiros do Amazonas: retrospectiva - 1876-1998 (Manaus: Travessia, 2013).

 


NUNO ALVES PEREIRA DE MELO CARDOSO (Parte 2)

Por decreto de 2 de dezembro de 1854 foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo, em remuneração de serviços militares. Por Aviso de 30 de janeiro de 1855, foi-lhe concedida a licença que pediu para se empregar na Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas.

Foi promovido ao posto de CAPITÃO-TENENTE, por decreto de 2 de dezembro de 1856. Por Aviso de 17 de abril de 1860 se lhe permitiu tomar assento na Assembleia Legislativa da província do Amazonas.

Em dezoito de outubro de 1862 apresentou Certidão legal de batismo de sua filha natural Maria, tida com Clementina Maria de Nazareth; no verso desta certidão, que reza ter tido lugar o batizado na Igreja de Santana da Campina, em Belém, aos 18 de setembro de 1853, acha-se uma declaração deste oficial, de ter nascido esta menina a 28 de abril de 1853, e sido por ele perfilhada com o nome de Maria Clementina de Melo Cardoso: translado da justificação que fez perante a Câmara Eclesiástica da Cidade de Manaus, em 2 de junho de 1862, de ter nascido a 7 de outubro de 1858 seu filho natural Nuno; e o de perfilhação que fez em 12 de abril de 1861 dois seus filhos acima mencionados: Maria Clementina de Melo Cardoso, tida com Clementina Maria de Nazareth, e Nuno Alves Pereira Cardoso, tido com Raimunda Maria Bagata; e finalmente, certidão de casamento com Dona Maria Leopoldina Nery da Fonseca, celebrado em Manaus a 10 de agosto de 1861. Apresentou certidão legal de batismo de sua filha Mariana, nascida a 16 de dezembro de 1862.

Na forma do determinado em Aviso de 11 de outubro de 1866, foi chamado ao serviço da Armada a 13 do mesmo mês.

CAPITÃO DE FRAGATA. Por antiguidade. Por decreto de 21 de janeiro de 1867, apresentou-se nesta Corte a 20 de julho de 1870, requerendo sua reforma em 25 do mesmo mês e ano, e sido inspecionado a 27 do mesmo mês, foi julgado incapaz de todo serviço por sofrer de hiperemia crônica do fígado e catarro bronquite crônico.

Por comunicação da Secretaria da Marinha de 10 de setembro do mesmo ano constou que, por decreto de 3 de setembro dito fora reformado no posto de Capitão de Mar e Guerra, nos termos do artigo 4º, parágrafo 1º, da Lei de 16 de dezembro de 1790. Por Portaria de 13 de setembro lhe foi permitido residir na província do Amazonas. Apresentou sua patente de reformado, mostrando ter pago os respectivos direitos.

Apresentou a certidão de batismo de seu filho João, nascido a 16 de junho de 1868, na cidade de Manaus e batizado na mesma paróquia aos 30 de novembro do mesmo ano.

Em 5 de agosto de 1871 apresentou certidão de batismo de sua filha legítima Hortência, nascida em 26 de outubro de 1870, batizada em 6 de maio de 1871 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Manaus. Apresentou certidão legal de batismo de seu filho Antonio, nascido em 13 de maio de 1867 e batizado na Igreja dos Remédios em Manaus, em 26 de setembro do mesmo ano.

Faleceu em 28 de agosto de 1881, (aos 75 anos) na província do Amazonas, segundo participou o comandante da Flotilha da mesma província.



sábado, março 13, 2021

NUNO CARDOSO: FUNDADOR DOS BOMBEIROS EM MANAUS

 O Corpo de Bombeiros do Amazonas foi criado por dispositivo sancionado pelo vice-presidente da província –Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso, que respondia pela presidência, em 1876. Nuno Cardoso era oficial da Marinha, e foi o primeiro capitão dos Portos; tendo atracado seu barco no rio Negro, aqui participou do Legislativo, constituiu família e deixou larga descendência, enfim, restou sepultado.

Ante essa primazia, o comando da corporação deveria instituir uma comenda homenageando seu fundador. Muito pouco se conhece deste benemérito, porém, sua biografia começa a ser revelada em trabalho do coronel BM Bianor Correa, que alcançou junto ao departamento de pessoal da Marinha a cópia das alterações do ilustre marinheiro.

Aproveito a ocasião para compartilhar este documento, esclarecendo que, para maior entendimento, adicionei algumas notas e o dividi em duas partes, para não se tornar enfadonha a quantidade de datas e a relação de navios antiquados da Marinha.

Para mais subsídios sobre Nuno Cardoso, recomendo o verbete escrito por Agnello Bittencourt, em Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado (Rio: Conquista, 1973).  


NUNO ALVES PEREIRA DE MELO CARDOSO (Parte 1)

 Filho legítimo de Antônio Cardoso e de D. Mariana da Encarnação, natural do Rio de Janeiro, nasceu a 22 de julho de 1816, conforme a certidão apresentada.

Aspirante à Guarda Marinha - em virtude do Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios de Marinha de 5 de março de 1829, assentou praça em 17 do mesmo mês. Apresentando-se para o serviço da respectiva Companhia em 1º de março de 1832, por ter estado com licença como menor [13 anos de idade].

Matriculou-se no primeiro ano da mesma Academia e, não o tendo aproveitado, matriculou-se de novo, em 1833, no primeiro ano matemático de Academia Militar e de Marinha, então reunidas [17 anos]. Concluiu o competente curso na Academia de Marinha, já separada da Militar, em 21 de novembro de 1835, e foi promovido a Guarda Marinha, por Aviso de 3 de dezembro do 1835, e embarcando por nomeação de 25 do mesmo mês na Escuna “Porto Alegre”, onde seguiu a incorporar-se à Força Naval em operações na província do Pará. Nesta província passou para o Brigue-Escuna “Dois de Março”, em 5 de março de 1836. [A Cabanagem havia dominado Belém, tendo este movimento rebelde se estendido até 1840. Lembro, ainda, que a PMAM surgiu por legislação de 1837, com propósito de combater aos cabanos].

Promovido a Segundo Tenente, por decreto de 1º de setembro de 1837. Em virtude de Ordem do comandante da Força Naval da província do Pará passou para a Escuna "Pelotas", em 13 de janeiro de 1838, e regressou ao Brigue-Escuna “Dois de Março", a 28 de maio. Passou em 11 de agosto de 1838 para a Corveta "Amazonas”, e desta para a Charrua “Amphitrite”, em 26 de setembro seguinte, a fim de se recolher ao Rio de Janeiro, onde apresentou-se a 8 de março de 1839 [23 anos de idade]. Por nomeação de 26 de junho do mesmo ano foi servir na Divisão Naval estacionada no Rio da Prata, e ali embarcou na Escuna "Labre" em 18 de julho seguinte.

Passou para a Corveta “Bertioga” em 21 do mesmo mês, e para o Brigue-Barca "29 de Agosto" em 4 de setembro, desembarcando no Rio de Janeiro a 4 de maio de 1840.

Por nomeação de 26 do dito mês embarcou para o Brigue-Escuna “Pirajá”, e por Aviso de 14 de abril lhe foi conferido o exercício de tenente da 4ª Companhia do Corpo de Imperiais Marinheiros. Desembarcou do Brigue Escuna “Pirajá” com baixa para o Hospital, em 30 de dezembro de 1840, e obtendo alta, apresentou-se em 18 de janeiro de 1841. Por nomeação de 3 de abril embarcou no Brigue “Constância”, e, por outra de 19 de maio seguinte, embarcou para o Patacho “Patagônia”, do qual desembarcou em 23 de março de 1842.

Por nomeação de 3 de abril [1842] embarcou no Brigue "Constância", armado em transporte, e, por outra nomeação de 19 de maio seguinte, embarcou no Patacho “Patagônia”, do qual desembarcou em 23 de março de 1842. Por nomeação de 31 de maio do dito ano, tornou a embarcar no Patacho "Patagônia”.

Promovido a Primeiro Tenente, por decreto de 23 de julho de 1842. Pelo Aviso de 25 de agosto seguinte constou que fora classificado na 1ª Classe do Quadro dos Oficiais da Armada, na conformidade das disposições do decreto de 1º de dezembro de 1841. Desembarcou do Patacho “Patagônia”, por desarmamento, em 22 de outubro de 1842. Embarcou para o Brigue “Imperial Pedro” em 3 de janeiro de 1843 e, seguindo para o Rio da Prata, ali passou para a Corveta “Sete de Abril” em 4 de junho.

Desembarcou no Rio de Janeiro, por doente, em 9 de setembro e apresentando-se pronto a 22 de fevereiro do 1844, foi nomeado no dia 26 para embarcar no Brigue-Escuna “Fidelidade” estacionado na Província da Bahia; o que ficou de nenhum efeito pela ordem de 7 de junho do mesmo ano.

Pelo Aviso de 17 de julho seguinte foi nomeado comandante do Iate “Netuno”, da Divisão Naval do Norte, sendo transportado à Província do Maranhão, onde assumiu o mesmo comando em 8 de agosto. Em virtude do disposto em Aviso de 13 de agosto de 1846 foi louvado pelo bem que desempenhara a comissão de que havia sido encarregado. Passou do Iate “Netuno” a comandar interinamente o Brigue-Escuna “Garapés” da mesma Estação Naval em 1º de junho de 1847, donde passou em consequência do determinado em Aviso de 23 de agosto seguinte para comandante do Brigue-Escuna “Pirajá”, e do qual foi empossado em 19 de novembro do dito ano.

Em Aviso de 6 de maio de 1848 [32 anos de idade] foi louvado pelo bem que se portara na comissão do referido brigue-escuna. Em 21 de julho de 1851, deu parte de doente, tratando-se a bordo. Reassumiu o mesmo comando a 4 de agosto. Tendo passado mostra de desarmamento o dito Brigue-Escuna "Pirajá" na Província do Pará, em 26 de agosto de 1851, passou a comandá-lo como Transporte com obrigação de assistir ao fabrico mandado fazer no mesmo navio.

Pelo Aviso de 15 de outubro de 1851, foi admoestado na qualidade de Membro do Conselho de Investigação a que se procedera acerca do comportamento do Piloto Manoel Joaquim Ribeiro, por haver fundamentado o seu parecer sobre princípio errôneo.

Em observância ao determinado em Aviso de 8 de maio de 1852, sendo entregue aquele Brigue-Escuna ao Arsenal de Marinha da supracitada província, passou a ser considerado por ordem do respectivo Presidente como oficial depositado no mesmo Arsenal. 

Por Decreto de 7 de junho do (1852) predito ano, foi nomeado Cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis, e, por Aviso de 22, comandante da Escuna "Guayba", do que entrou em exercício em 16 de agosto do mesmo ano.

Deu parte de doente, ficando a bordo, curando-se, em 20 de agosto, e de pronto em 23 de setembro seguinte. Por Aviso de 7 de dezembro de 1852 foi encarregado de administrar o corte de madeiras na mencionada província do Pará, pelo que desembarcou da Escuna “Guayba" em 1º de fevereiro de 1854, que se recolheu a Corte, ou fosse empregado em algum dos Navios das Estações do Norte em que houvesse a falta de oficiais. 

Pelo Aviso de 4 de abril do mesmo ano lhe concedeu quatro meses de licença, com soldo e respectiva quinta parte, para vir ao Rio de Janeiro, onde se apresentou a 5 de maio do mesmo ano, tendo vindo de passagem no Paquete a vapor “Imperador”. A cinco de agosto seguinte foi intimado a comparecer a 8, no Quartel General de Marinha, para ser inspecionado. Por Aviso de 9 do mesmo mês, foi prorrogado por mais seis meses de licença acima. (segue)

sexta-feira, março 12, 2021

PREFEITO DE MANAUS

Aproxima-se o centenário do movimento militar que deixou marca patenteada em Manaus. Refiro-me à Rebelião de Ribeiro Junior, que era tenente do Exército, movimento que alguns intitulam “revolução”, e que ocorreu em julho de 1924. Durou pouco mais de um mês. Sua detonação se deu na esteira da agitação nacional intitulada de tenentismo.

A chefia da rebelião afastou o governador interino, Turiano Chaves Meira, pois o titular – Cesar do Rego Monteiro – encontrava-se em Paris (FRA), em tratamento de saúde. Ribeiro Junior assumiu o governo e nomeou Prefeito de Manaus ao Dr. Francisco das Chagas Aguiar.

O chefe do Executivo já foi estudado com justeza, monumentalizado convenientemente; mas ora encontra-se num blecaute. De outro lado, o prefeito pouco foi mencionado. Por isso, estou compartilhando pequenos detalhes e a foto de nosso Prefeito, encontrados na revista Redempção (novembro 1932). 

Francisco Aguiar 

 Dr. Francisco das Chagas Aguiar, o prefeito de Manaus, durante a revolução de 1924. Era realmente um amazônida - ninguém melhor definiu o neologismo de Álvaro Maia. O estomago, que lhe deu grandes aflições, nunca teve influência sobre a sua consciência, sempre rebelada contra os maus administradores da sua terra.

FOI um valor, feito aqui mesmo. Grande professor de topografia, mineralogia e geologia e autor aplaudido de vários trabalhos científicos, entre os quais se destacam Atlas Celeste Aguiar, Lunário Perpétuo, e os Discos Hemerológicos. Pela Escola Agronômica de Manaus, mereceu um prêmio de viagem à América do Norte.

Recorte da revista Redempção

A Exposição do Centenário deu-lhe urna medalha de ouro, em virtude de um trabalho seu sobre astronomia. Nessa época, lá na metrópole, numa polemica pelas colunas de A Noite venceu o sábio Henrique Moritze.

Morreu, com 34 anos, respeitável e respeitado.

quinta-feira, março 11, 2021

REABERTURA DO IGHA

A pandemia que atinge o país vem impondo a diversos institutos severa restrição, tanto em Manaus e fora desta. Essa exceção implica até no fechamento de suas portas, e com isso acarreta dificuldade de manutenção. O centenário Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) está enfrentando essa conjuntura.

Esta postagem, extraída do jornal Amazonas Em Tempo (24 março 2001), relembra-me o esforço que o IGHA concluía para abrir suas portas depois de esforço estupendo para sua recuperação. Eu tive o ensejo de dirigir esse trabalho, por isso imagino o quanto o acervo desta agremiação será danificado neste período. Oxalá seja diminuto!

 

Depois de dois anos desativado, o prédio do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) está passando por uma reforma geral, terceirizada. Neste domingo, o órgão completa 84 anos de fundação, mas como até lá o restauro não estará concluído, as comemorações foram transferidas para maio. O instituto fica na rua Bernardo Ramos, no Centro, numa casa doada pelo governo estadual à época de sua inauguração. A área total do IGHA é estimada em 750 metros quadrados. O nome da rua foi um reconhecimento ao fundador e primeiro presidente do IGHA, que expôs no local uma coleção de moedas que, posteriormente, foram compradas pelo governo e hoje integram o acervo do Museu de Numismática, que funciona no anexo do Centro Cultural Palácio Rio Negro, na avenida 7 de Setembro.

Grande parte do acervo do IGHA abrange peças etnográficas procedentes do antigo Museu Rondon, que funcionava no prédio que hoje abriga a Academia Amazonense de Letras.

Assim, arcos, flechas, urnas funerárias e cerâmicas de cores e "formatos variados, muitas delas quebradas e emendadas, podem ser vistas numa sala do andar térreo. O interesse despertado por essas obras de arte é tanto que no ano passado uma delas foi emprestada para exposições em São Luís (MA) e três em Portugal. No momento, elas estão à mostra no Museu de Belas Artes de Santiago, no Chile, mas deverão estar de volta a Manaus dentro de 60 dias. Discos de vinil com clássicos da MPB dos anos 30 também não faltam no acervo do IGHA. Eles também estão em processo de restauro. Toda essa trabalheira em torno de discos e das demais é artesanal: aos poucos, os técnicos encarregados do serviço removem camadas de poeira e reconstituem fragmentos que há muito haviam se desprendido de suas estruturas originais. Entre essas peças estão dois púlpitos e um dossel que serão reintegrados ao salão nobre, onde duas placas assinalam o primeiro centenário de nascimento de D. Pedro II (1825-1925) e o primeiro da Independência (1822-1922). Aves e outros animais empalhados dão um toque todo exótico a uma seção do instituto, onde também estão expostos um canhão e vários tipitis (utensílios indígenas utilizados no fabrico da farinha de mandioca).

Na sala de trás, no primeiro andar, coleções de jornais de toda a cidade, inclusive antigos como Folha do Amazonas, Jornal do Commercio e Correio da Tarde, são testemunhos da história da cidade. Parte desses periódicos já foi microfilmada por técnicos da Biblioteca Nacional. Próximo dali pilhas de livros estão ensacadas para um processo de higienização denominado fumigação, feito com CO2. Numa parede dessa sala, um quadro de Branco Silva encomendado por Ildefonso Pinheiro em 1954, retrata o barão do Rio Branco, o governador Eduardo Ribeiro, Ruy Barbosa e o imperador D. Pedro II. Aliás, este também está representado no salão nobre, posicionado de frente para o quadro que ostenta a imagem da princesa Isabel logo depois que ela assinou a Lei Áurea. Essas telas foram pintadas em 1888, por Aurélio Figueiredo.

Autor, quando entrevistado para a
reportagem

Os trabalhos de restauro, explica o vice-presidente do instituto, Roberto Mendonça, foram iniciados em janeiro deste ano e estão orçados em cerca de R$ 150 mil, avalia Roberto Mendonça. "Temos recebido ajuda do governo, através da Secretaria de Cultura, mas estamos buscando parceiros na iniciativa privada. Estamos arrumando tudo para poder mostrar nossa credibilidade", comenta. Mendonça, de 55 anos, ocupa o posto de vice-presidente do IGHA desde fevereiro. Ele, que é oficial da reserva da Polícia Militar, foi eleito sócio do instituto em 1994. Há 15, anos começou a pesquisar a história da corporação, a qual publicou nos livros Corpo de Bombeiros de Manaus (1995) e Cândido Mariano e Canudos (1997). O horário para visitação do IGHA será estipulado por ocasião da reinauguração do instituto, prevista para o mês de maio.

quarta-feira, março 10, 2021

ZONA FRANCA DE MANAUS NA FILATELIA

Ainda que extemporâneo, para lembrar a criação da Zona Franca de Manaus compartilho uma seção da "Coluna Filatélica", escrita por décadas pelo saudoso filatelista Nelson Porto. Lembro que a ZFM foi criada em 28 de fevereiro de 1967, pelo presidente Castelo Branco.

Nelson era presidente da Clube Filatélico do Amazonas (CFA) e aos domingos publicava sua Coluna, na qual comentava e noticiava sobre a Filatelia em nosso âmbito. Naquela publicação (15 fev. 1987), comentou sobre a pouca atenção dispensada pelos Correios com as datas significativas desse órgão regional. Com vasta experiência, detalhou os selos já emitidos, porém criticava o Carimbo (uma espécie de ajeitamento) lançado para os 20 anos da ZFM.

Detalhe da coluna de Nelson Porto
(Jornal do Commercio, 15 fev. 1987)

A ZONA FRANCA E A FILATELIA

Próximo dia 28, a nossa Zona Franca de Manaus completará 20 anos de existência. Os primeiros anos foram de grande euforia para os amazonenses. Importávamos tudo: desde sorvetes alemães até carros americanos (Malibu etc.). Depois, o decreto 288 começou a ser mutilado aos poucos. Restrições quase sempre exigidas pelos sulistas — iam sendo feitas.

E hoje, se ainda podemos nos orgulhar de sua existência, devemos a alguns abnegados dirigentes que vêm lutando para sua preservação, sem o que, em nossa opinião, o Amazonas não terá chances de se desenvolver.

O primeiro selo brasileiro referente à Zona Franca surgiu em 13 de março de 1968. Um exemplar feio, com um facial de 10 centavos (saudosos tempos...) e uma tiragem de 3 milhões de exemplares (hoje este selo está cotado pelo RHM em Cz$ 2,00). Em 1972 e 1977 a data passou em brancas nuvens. Ninguém se lembrou...

 Finalmente em 1982, mas muito atrasado, surgiu em agosto um comemorando os 15 anos da ZF. Com um facial de Cr$ 75,00 (que enorme diferença do primeiro!!!) um belo selo figurando três mãos e uma paisagem amazônica, apareceu.

Agora, que vamos comemorar os 20 anos, somente se lembraram de mandar fazer um carimbo (pelo menos...). E no dia 23, iniciando uma série de eventos, na Sala João Donizetti, no Cecomiz, será o carimbo aposto em selos e envelopes daqueles que forem.

 Ilustramos nossa Coluna com o desenho de tal carimbo.

Foto do Carimbo comemorativo