CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, maio 30, 2022

MANAUS: FATOS DE 1962

Tópico elaborado para a retrospectiva sobre o acidente com o Constellation PP-PDE, da Panair do Brasil, em dezembro de 1962, nas proximidades de Manaus.

Recorte da notícia do desastre (16.dez.1962)

1962 foi um ano repleto de emoções na capital do Amazonas: em 26 de janeiro, o legendário 27 BC ocupou seu novo aquartelamento - primeiro quartel edificado para o Exército em Manaus, no período republicano -, construído no bairro de São Jorge, hoje abrigando seu sucedâneo, o 1º BIS(Aem); em 15 de março, a VASP inaugurou sua ligação com o aeroporto de Ponta Pelada e sua agência local; a fim de prestigiar o evento a direção maior da empresa conduziu em avião DC-6 uma prestigiosa comitiva que, no dia imediato (16), efetuou o lançamento da pedra fundamental da Brasiljuta, empreendimento da Companhia Brasileira de Fiação e Tecelagem de Juta, na estrada do Paredão, ora avenida Presidente Kennedy; 02 de abril, assume o comando do GEF (Grupamento de Elementos de Fronteira) precursor do CMA, o general de brigada Augusto Cesar de Castro Moniz de Aragão (1906-93). No ato, ocorreu uma indiscrição intrigante: o governador Mestrinho se fez representar pelo chefe do Gabinete Militar, capitão médico do EB David Luigi Farini, comissionado tenente-coronel PM; em 17 de abril, aconteceu a posse do major EB Ormail Stokler de Oliveira Junqueira no comando da Polícia Militar do Estado.   

Tenente Moraes Lisboa

Em 17 de junho (não posso olvidar essa data, data do meu natalício), foi tempo de festejar o Brasil - campeão da Copa do Mundo de futebol, conquistada na cidade de Santiago do Chile. No entanto, em Manaus a celebração chegou tão somente na “imagem” difundida pelas emissoras de rádio. Ainda nos faltavam duas Copas para se assistir “ao vivo”. Em 15 de julho, um ataque de índios Apurinã em propriedade particular matou e feriu familiares e empregados da casa, e alvoroçou até os morubixabas da capital. O sítio localizado no “município” de Abufari (um dos tantos criados no governo anterior, cuja inviabilidade econômica fez morrer no nascedouro), disposto na calha do rio Purus, fronteiriço ao de Canutama. Há muito desativado, seu território integra o de Tapauá. A notícia chegou a Manaus dia 20, ocasião em que foi enviada ao local tropa da Polícia Militar em avião da Petrobras. O tenente Oswaldo Anacleto de Moraes Lisboa (34 anos) era o comandante; conseguiu com brevidade definir a questão e retornou a Manaus em 02 de agosto, com os acusados. Dias depois, porém, este oficial foi internado no hospital da Santa Casa e, a despeito das diligências médicas faleceu dia 15, sem que os legistas apontassem a verdadeira causa mortis. A cidade ficou consternada, em particular a Praça da Polícia, e mais ainda a família Lisboa que chorou a misteriosa morte de seu chefe.  (segue)

domingo, maio 29, 2022

FLA-FLU DE ONTEM E DE HOJE

Há dez anos, o craque Tostão, agora articulista esportivo da Folha, lembrou sua primeira presença no Maracanã como torcedor para assistir um FLA-FLU. Leia o texto e saiba como foi realizada a façanha deste mineiro.

Ao ler este artigo, recordei do meu FLA-FLU, o mesmo que o mineiro descreveu, com uma ligeira disparidade: enquanto ele estava no Maracanã, eu estava no Morro da Liberdade, em casa sem energia elétrica, obrigado a me satisfazer do jogo pelo rádio à pilha, ouvindo a Rádio Globo, que sofria variações de todas as espécies, de sorte(?) que vez outra o sinal desaparecia...

Lembro bem do atleta que "roubou" o jogo: o goleiro Marçal do Flamengo, que depois graduou-se em medicina, como o Tostão.

Hoje tem espetáculo: FLA-FLU, com mando de campo do segundo.

  

Meu melhor Fla-Flu

TOSTÃO

 

 


  

HOJE, TEMOS FIa-Flu. Ontem, o grande clássico completou cem anos. Nesta noite, sonhei com o tricolor Nelson Rodrigues, o mais exagerado e genial cronista esportivo brasileiro.

Fiz a ele a tradicional pergunta: Quem vai ganhar hoje? Ele respondeu: "Desde ontem, o Fluminense. Só um cego, hereditário e póstumo, não enxerga o óbvio ululante. Faço um apelo aos tricolores, vivos ou mortos, para irem ao Engenhão".

Assisti a um grande número de Fla-FIus pela TV. No estádio, meu Fla-Flu inesquecível, primeiro e único, foi em 1963. Empate, na decisão do título carioca. O Flamengo foi campeão. Eu tinha 16 anos e acabado de assinar meu primeiro contrato profissional com o Cruzeiro.

Na sexta-feira, à noite, eu e três amigos do bairro, todos menores de idade, pegamos um ônibus na rodoviária de BH para o Rio. Um tio do meu amigo, que morava no Rio, comprou nossos ingressos.
Chegamos pela manhã. Ficamos hospedados em uma pensão, uma casa antiga e toda branca, em Copacabana, na avenida Atlântica. Atravessávamos a rua e estávamos na praia. Havia só uma pista para carros. Passamos o dia brincando com a bola na praia. Mais tarde, cansados e famintos, fomos para o restaurante Spaghettilândia, onde comemos uma mega macarronada.

No domingo, jogamos mais futebol, pela manhã, na praia, e pegamos um ônibus lotado para o Maracanã. O tio de meu amigo levaria as malas para a rodoviária.

Lembro mais da festa do que do jogo. Ficamos na arquibancada, espremidos, no meio da torcida do Fluminense. Ninguém me conhecia. Éramos todos tricolores, não tão fanáticos para ficar tristes com a perda do título. Marçal, goleiro do Flamengo, médico, mineiro, que, anos depois, encontrei em um hospital de Belo Horizonte, agarrou até pensamento. Foi o maior público da história do Fla-Flu e o segundo maior do Maracanã, com 177.656 pagantes.

Não imaginava que, seis anos depois, jogaria no Maracanã, para o maior público da história do estádio (183.341 pagantes), pela seleção brasileira, contra o Paraguai, na decisão da vaga para a Copa de 1970.

Do Maracanã, fomos para a rodoviária, ainda a tempo de comer um sanduíche, tomar uma cerveja e pegar o ônibus para Belo Horizonte. Chegamos felizes.

Não foi uma aventura irresponsável de quatro adolescentes. Na época, isso era mais comum. O mundo mudou. Ficou pior e melhor, mais moderno.  


sábado, maio 28, 2022

JESUS MENINO

 A postagem pertence ao Renato Mendonça, meu irmão, que a escreveu no dia consagrado a Nossa Senhora Auxiliadora. Nesta data, abraço com veneração pelo natalício o amigo fraterno Paulo Vital e a filha Sofia Mendonça.

 24 MAIO 2022

Passei pelo menino e me dirigi à entrada da Padaria, tinha o propósito apenas de me abastecer do pão nosso de cada dia. Eu sou um habitué daquele estabelecimento comercial, mas nunca o tinha visto antes. Dois passos adiante, não consegui seguir em frente. O olhar do menino me chamou. Voltei lentamente e, numa rápida reflexão, vi que aquele menino se parecia comigo. Tinha entre oito e dez anos, moreno, cabelos negros, olhar vivo e uma compleição física franzina. Estava agachado segurando pela boca um saco preto, desses que se usa para o lixo, com algumas coisas dentro.

Grupo de meninos observados no Careiro

Não me pediu nada, apesar de eu lhe ter dedicado atenção. Olhei nos seus olhos e perguntei docemente: “o que está fazendo aí, garoto?” Não era uma pergunta desproposital, afinal ele não me parecia um pedinte, ou pelo menos não deixava transparecer pelo olhar cristalino que emitia. No entanto, era um olhar inquisidor, que me cobrava atitude humana enquanto eu abordava a minha consciência. “Estou catando latinhas e garrafas pet...”, me respondeu calmamente. “Entendi... o pessoal, quando saí, te entrega?”, falei uma obviedade, me aproximando mais um pouco do menino. “Sim...”, foi a resposta lacônica que me deu, sem demonstrar ansiedade, nem mesmo me perguntou se eu ia consumir alguma coisa que lhe fosse resultar num produto reciclável. Fiquei ainda uns dois ou três segundos olhando o garoto. Ele me transmitiu uma certa paz! Não que eu estivesse com falta dela, mas era uma paz diferente, avassaladora, que me envolvia como se um manto estivesse me cobrindo e me protegendo do frio da insensatez. Fiquei imaginando os discípulos recebendo o Espírito Santo, será que teve esse poder de seduzir e inebriar com a força da fé e da solidariedade? E no caso deles, ainda ficaram dotados de sabedoria plena conforme lhes foi ensinada por Jesus.

Entrei no estabelecimento consumindo esses pensamentos. Planejando uma maneira de ajudá-lo sem o constranger. Eu não ia comprar nada que pudesse lhe render uma embalagem usada. Também diagnostiquei que qualquer reciclável que lhe desse seria muito pouco, algo muito menor que uma esmola. Isso, sim, seria um despropósito com o ser humano. Essas migalhas não dignificam ninguém, pelo contrário, subestimam. A sociedade humana precisa ser mais justa. Mas, para mudar os conceitos e os costumes há um enorme caminho a ser seguido, desde a mais tenra idade. Há uma necessidade urgente de se diminuir o fosso social que separa os ricos dos pobres, ou da classe média dos miseráveis. Intui que aquele menino, que me cativou com seu olhar emblemático, está na idade ideal para o aprendizado. Pode aprender com essas adversidades, com as dificuldades da vida para ser tornar um cidadão. É difícil, mas não impossível.

Resignado, ele não parecia sofrer com a situação econômica que vivia; parecia que estava apenas carregando sua pequena cruz... Não conjecturei mais nada, estava na hora de pagar pelo pão. Antes, porém, me penitenciei por não ter lhe comprado algo para comer. No mesmo momento, minha consciência me absolveu: “ele não parece estar faminto, está ali com outra finalidade...” Botei a mão na carteira e separei cinco reais. Minha consciência me sacudiu de novo: “não acha pouco?”. Realmente, se julguei que as latinhas era uma miséria, um acinte à dignidade humana, por que não lhe dar algo mais?

Saí dali com a alma engrandecida carregando o meu corpo mais leve. Fui em direção ao garoto, mas ele não estava mais lá. Apenas o saco preto estava depositado na calçada. Girei o olhar e não o achei por perto, saí, caminhei pela calçada para um lado e para o outro e não o vi. Fui até um lugar onde se vendia frango e refrigerante, e nada. O menino sumiu. No sentido de esperar ele retornar, fui até um caixa eletrônico e saquei vinte reais. Eu queria doar um valor maior que os cinco que havia pensado anteriormente, e a minha consciência me condenou.

Voltei ao menino e ele ainda não estava lá. Estranhei o fato porque o saco preto estava no mesmo lugar, na calçada, na mesma posição. Abaixei-me e abri o saco. Apenas umas poucas latinhas e duas ou três garrafas pets de água mineral de meio litro. De novo, discerni: por que ele não levou o saco para onde ele foi? Ou será que deixou ali no intuito de alguém, conhecendo sua missão, ir depositando as latas no saco? Não, isso não é comum, respondi a mim mesmo.

Raciocinei que ele voltaria, em algum momento voltaria. Coloquei uma nota de vinte reais dentro do saco e fechei-o com um laço. Na certa, quando ele encontrasse não ficaria constrangido, não estaria vendo o rosto do benfeitor. Saí como se estivesse carregando a pomba da paz no ombro. Enquanto caminhava de volta, minha consciência me garantia que era Jesus que estivera ali, transfigurado naquele menino, para ver a minha reação e testar a amplitude do meu comportamento humano. Não basta apenas doar aquilo que nos sobra, doar as migalhas que caem da nossa mesa — é preciso repartir o pão! Há sempre um sinal de Deus em cada episódio que vivemos nesta vida afora, e devemos aproveitar para ser essencialmente humanos.

Jesus ressuscita em nossa vida quando nos distraímos entre as leviandades da sociedade. Devemos deixar fluir de dentro de nós o verdadeiro amor ao próximo. Sempre que houver uma chance, usar a chave do seu coração para abri-lo de dentro para fora. Principalmente, quando nos deparamos com um olhar infantil puro, imaculado, que cobra de nossa consciência atitudes humanas.

quinta-feira, maio 26, 2022

AVIAÇÃO NO AMAZONAS: NOTAS

 Às voltas com o desastre do Constellation da Panair do Brasil ocorrido em 1962, revisitei vários arquivos: das Forças federais e estaduais, da agência local da Panair, do Deram e de outros órgãos, como a Petrobras. No Arquivo Público encontrei a Exposição do interventor Álvaro Maia ao presidente Getúlio Vargas, referente a 1942. Nele, Maia registra os primeiros "voos" nessa área.
Capa da Exposição

Dois detalhes sobre o assunto: a Panair do Brasil já voava de Belém a Manaus com o hidroavião Catalina desde 1937. A pista do futuro aeroporto de Ponta Pelada será construída nesta época para facilitar o transporte da borracha, em apoio aos Estados Unidos na Guerra (mas isto é outra história).

NAVEGAÇÃO AÉREA

Intensificou-se a navegação aérea neste último ano, tanto para o interior do Estado, ligando vários rios e municípios, como para o resto do país e para os Estados Unidos. Abrem-se campos de aviação em Manaus, Fonte Boa, João Pessoa [atual Eirunepé]; as demais sedes principais são atingidas por hidroaviões.

Além das linhas comuns da Panair para os rios Madeira e Solimões, também sobrevoados pelos aparelhos da "Rubber Corporation", temos comunicações aeroviárias com os municípios dos rios Negro e Juruá. O Purus é beneficiado pela linha recém-inaugurada da Cruzeiro do Sul, em conexão com a Panair.

As primeiras viagens de Miami à Manaus, por aviões cargueiros, realizam-se com êxito, assim como as viagens experimentais entre Manaus e Talara, no Peru, entroncando o Vale Amazônico às rotas da Panair, ao longo do Pacífico. O Amazonas torna-se efetivamente o centro de ramificações aéreas na América do Sul, conjugando linhas para os Estados Unidos e Argentina, para o Pacífico, e o Atlântico, as quais se unem, por sua vez, às empresas de navegação aérea em todos os países sul-americanos.

Mapa aeroviário do Amazonas (1961)

Anuncia-se, por outro lado, uma linha entre Manaus e Rio de Janeiro, pelo interior do nosso país, escalando, possivelmente, em Cuiabá e Goiânia. Já se realizaram experiências nesse sentido, por aviões nacionais. Evidencia-se a necessidade imperiosa da máxima aprendizagem do Aeroclube do Amazonas, do qual já saíram as primeiras turmas de pilotos, cuja instrução se completa em outros Estados por falta de aparelhos de postos avançados.

Prestigiado pelo senhor doutor Salgado Filho, ministro da Aeronáutica, doutor Avelino Pereira e demais membros da Diretoria do Aeroclube se esforçam para dotar o Brasil de novos pilotos. O campo do Aeroclube encontra-se no bairro de Flores. O Estado tem procurado incentivar o programa dessa patriótica associação. Alguns alunos brevetados prestam serviços no próprio Aero Clube e em companhias comerciais.

É difícil resolver os problemas da Amazônia, tanto os de administração como os de ordem econômica, tanto os de saúde como o de desbravamento, sem a navegação aérea. Planície recortada de rios paralelos, com uma população extraordinariamente esparsa ou nucleada em lagos e terras firmes, apresenta os obstáculos da distância e do tempo, vencíveis pelo avião.

Comunicações de trinta e quarenta dias, perturbadas pelas florestas ou pelas cachoeiras, são resolvidas em horas de aviação, como sucede nos municípios acreanos e nos rios Negro e Branco. A supervisão do Governo Nacional solucionou esse problema.

Rio amazonense e seus afluentes e nenhuma habitação

sábado, maio 21, 2022

PMAM: FORMAÇÃO DE OFICIAIS (2)

 Vamos à segunda parte da postagem sobre este assunto, que é muito sensível à Polícia Militar do Amazonas.

Quartel da Praça da Polícia antes da reforma de 1943


Oficiais da Reserva (R/2)

Em 2 de abril de 1941, Gentil João Barbato, major do Exército, assume o comando da Força Policial. Imbuído dos regulamentos militares, obtém do Interventor a sanção do decreto-lei 581, de 2 de junho, que, modificando legislação anterior (decreto 108/36), estabelece normas básicas para a promoção ao primeiro posto do oficialato. As vagas destinavam-se aos graduados, porém, se houvesse civis inscritos, dispondo do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais do Exército), “terão estes preferência, sendo dispensados do concurso”. Pode ser alcunhada de lei Neper Alencar, o primeiro beneficiário.

Ocorreu, no entanto, ligeira variação: o acolhimento de oficiais R/2, sendo o primeiro deles formado no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), sediado em Belém (PA), turma de 1940; logo, outros chegariam do NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) pertencente ao 27 BC local, turma de 1942/43. Além disso, é conveniente registrar que o primeiro oficial a concluir o CAO (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) foi o 2º tenente Themistocles Henriques Trigueiro na PMPA (Polícia Militar do Pará), em 19xx, aliás de onde era natural nosso oficial. Este curso foi implantado consoante o decreto 3401/1939. E que o segundo foi o capitão Omar Gomes da Silveira, na PMDF (em nossos dias RJ), em 1954. Trigueiro foi comandante da PM em 1950, e, já na reserva, chefe da Casa Militar dos governos Arthur Reis e Danilo Areosa. Omar, sendo tenente-coronel, em 1967 assumiu o comando-geral da corporação.

O capitão EB Pará Bittencourt assume o comando em 12 de setembro de 1947, e logo se confronta com a lei 82, de 25|11|1947, a qual ordena (art. 16) que “a partir de 1º de janeiro seguinte funcione na Polícia Militar o Curso de Formação de Oficiais”. Incrível, somente 40 anos depois se renova o empreendimento para a formação de oficial com a criação da “Academia de Polícia Militar Coronel Neper Alencar” (lei 1.876, de 18|12|1988). E mais 12 anos para seu funcionamento, a despeito de malmente aquartelada. Outra cláusula (letra “d” do art. 15) estabelecia que a promoção de segundo tenente, seria feita “por merecimento intelectual”. Logo, mediante concurso.


Detalhe da Ficha de Identificação do coronel Neper Alencar

A lei 494, de 16|12|1949, aprova o “Estatuto dos funcionários públicos civis do Amazonas”. Este código, ainda que destinado a civis, certificou certas atividades e funções na corporação da Praça da Polícia, nem sempre de forma republicana. Somente para elucidar: foi aproveitado para comissionar um oficial médico EB no posto de tenente-coronel PM e, ainda com substrato desta lei, designar o “comissionado” na chefia do Gabinete Militar do governador Gilberto Mestrinho (07|1960).

 

A promoção, que amiúde serve de pretexto para suspeita ou disputa acirrada entre camaradas, já continha regras fundamentais, algumas bastante vagas, todavia, cumpridas com higidez. Inexistia a figura do oficial “excedente” ou “agregado”, expediente tão exacerbado em nossos dias. Em 1952, a lei 21, ao estabelecer as “normas para o ingresso no oficialato da PM e para as promoções”, tornou-se um marco incisivo desse processo.


terça-feira, maio 17, 2022

PMAM: FORMAÇÃO DE OFICIAIS

 Estudo próprio sobre a formação dos oficiais da Polícia Militar do Estado desde sua aparição, traz nesta postagem a introdução, espero aprofundar as buscas, a fim de colaborar com a divulgação da história da corporação.
Integrante de álbum da cidade 1908

Antecedentes

 A formação de oficiais concretizada na própria Polícia Militar do Amazonas suportou alentado retrocesso (e quanto!), ultrapassando várias fases até o funcionamento de sua Academia, em 2002. Não obstante a longa existência, posto que a corporação comemora seu advento em 1837, antes mesmo da instalação da província amazonense, em 1852. A indigência da província logo impôs a dissipação da Força Estadual, até que em 1876 esta foi recomposta e, desde então, segue assinalando respeitosa presença nos espaços amazonenses.

A fim de instruir este levantamento, cabe inquirir: como a corporação provia seu corpo diretivo, ou seja, como se aparelhava quanto aos oficiais? Refiro-me ao primeiro instante de sua organização, inda no Lugar da Barra, a denominação primitiva de Manaus, que crescia na beira do barranco, cercada de igarapés e das diversas etnias em sua ilharga. Distante de tudo e de todos, Manaus somente podia contar com material e pessoal militar escassos, porém. A segurança pública era efetivada pela Força Terrestre, com uma marcante deficiência de pessoal. Reservado aos homens, poucos eram os voluntários para o serviço de vigilância pública, desse modo, restavam engajados os analfabetos e os arrivistas (alguns estrangeiros).

A extração do látex trouxe um descomedido alento ao território na virada do século 20, na qual a fortuna corrente impulsionou a administração pública em todos os rumos, atraindo imigrantes daqui e de além-mar. Evidente que a Força Militar Estadual foi contemplada. Com a instalação da República (1889) e o usufruto da “fase áurea da borracha”, o estado do Amazonas tomou pujante impulso. Vejamos apenas a evolução da Polícia Militar, então denominada Regimento Militar do Estado, título este conservado entre 1896 e 1906.

O corpo de oficiais era integrado por oficiais do Exército, em particular no comando, e de cidadãos escolhidos ou indicados ao governante, segundo lhe permitia a legislação, e, enfim, os provenientes da classe subalterna dos sargentos. No fundo mesmo, as promoções ocorriam em função da afeição e do compadrio (no linguajar castrense: da peixada). Portanto, inexistia a formação de oficiais. Encerrado o boom da goma elástica (cerca de 1920), quando a benfeitora exploração da borracha mudou de continente, a derrocada financeira tomou conta do Estado. Órgão estadual, a Força Pública foi no banzeiro: no período em que esteve desativada (1930-36) teve redução de efetivo e de soldo até alcançar o fundo do leito do igarapé na metade do século passado. O balizamento desse descalabro pode ser notado pelo “efetivo previsto para o exercício de 1950”, contados em 326 homens (lei 438/49).

Capa de folheto com detalhes sobre a
organização policial e os oficia

Desativada em novembro de 1930, o Amazonas prosseguiu sem força policial. Consolidando os esforços da Câmara Federal, no início de 1936, Getúlio Vargas promulga a lei 192, de 17 de janeiro, com a qual “reorganiza pelos Estados e pela União, as Polícias Militares, sendo consideradas reserva do Exército”. Entretanto, o interventor Álvaro Maia já havia sancionado a Lei 55, de 31 de dezembro, em que “restabelece a Força Policial do Estado”, posto que não se tratava de estruturação. Uma das diretrizes (art. 1º) estabelecia que sua implantação ocorresse em até seis meses, todavia, o imperativo de policiamento e o grande afã de seus ex-integrantes contribuíram para que, em 20 de abril, a Força retornasse às atividades. 

No bojo desta legislação federal encontram-se regras, ainda que indiretas, sobre a formação de oficiais. Nela ficou estabelecido que, após 5 anos de existência desta legislação federal (art. 25), “só concorrerão ao provimento das vagas de segundo tenente, os candidatos que possuírem o Curso de Formação de Oficiais, de sua corporação ou da Polícia Militar do Distrito Federal; (...)”. Não foi dessa vez que algum candidato acudiu à vaga inicial do oficialato portando o CFO, até porque o decreto-lei 1.623/39 revogou o citado artigo.

Dez anos depois, nova alteração ocorreu na lei de reorganização das Polícias Militares. Com o país alforriado do governo ditatorial de Getúlio Vargas, Gaspar Dutra baixa o decreto-lei 9.460/46, alterando o art. 8º, sem que modifique o entendimento sobre a promoção aos candidatos a 2º tenente, que persiste “por merecimento intelectual”. Concurso neles, pois! Na contramão, a Força Estadual amazonense como não possuísse recursos para implementar essa decisão, prosseguia com o preceito consuetudinário, aproveitando os sargentos e os “indicados” para o quadro de oficiais.  

 

terça-feira, maio 10, 2022

PADRE NONATO PINHEIRO: CENTENÁRIO DE NASCIMENTO

 1922| 10 de maio

Hoje completa o primeiro centenário de nascimento o padre Raimundo Nonato Pinheiro, nascido em Manaus (AM), filho do poeta homônimo e da professora Diana de Macedo Pinheiro, devidamente homenageada com seu nome na escola estadual existente na avenida Presidente Kennedy, no bairro de Educandos. Nonato iniciou sua vida religiosa na Igreja de São Sebastião, com os frades capuchinhos da Úmbria; realizou os estudos secundários no Colégio Dom Bosco dos padres salesianos; porém, a formação eclesiástica foi forjada nos Seminários de Belém do Pará e de São Luís do Maranhão, onde foi ordenado sacerdote em 27 de outubro de 1946.

Nonato Pinheiro

Exerceu o sacerdócio em Manaus e em Parintins, antes que esta paróquia fosse transferida aos padres do PIME, com a instalação da Prelazia local. Nonato, por divergências com a direção da Igreja amazonense, motivadas por seu comportamento antissocial, muito cedo foi suspenso das ordens sacerdotais, de maneira que são raros aqueles que conheceram o padre Nonato oficiando uma missa. Um detalhe de cunho pessoal: quando eu ingressei no Seminário São José em 1956, este sacerdote já se encontrava afastado do exercício. O motivo oficial nunca alcancei, restaram suposições. 

Dedicou-se com brilhantismo ao cultivo das letras. Por seu extremado zelo com o idioma pátrio se fez reconhecido como filólogo e linguístico; foi o jornalista com colaboração em todos os jornais da Capital, inclusive o Diário Oficial, quando este publicou um Suplemento Literário; diante de tanto vigor literário, desenvolveu uma reconhecida aptidão para polêmica. E não foram poucas! Foi membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), onde exerceu com competência a função de Orador, e cuidou da biblioteca da instituição. 

Padre Nonato Pinheiro foi empossado na Academia Amazonense de Letras em 1950, para ocupar a Cadeira 20, cujo patrono é o filólogo João Ribeiro, aos 28 anos de idade. Na sessão de posse, foi saudado pelo cientista Djalma Batista. Muito contribuiu com a entidade, onde exerceu por anos a secretaria-geral. Com tal idade, tornou-se um dos mais jovens a assumir uma Cadeira acadêmica amazonense. Somente mais jovens dois fundadores: Nunes Pereira e, sem que haja comprovação, Odilon Lima, aos 21 anos. Manteve-se na Academia por 44 anos, idade abaixo do padrão para ter seu nome inscrito no painel dos imortais cinquentenários. 

Publicou muito pouco, somente três livros, sendo o mais conhecido aquele escrito sobre o terceiro bispo do Amazonas, Dom João da Matta (1956), que a Editora Valer reeditou em 2008. Tenho me esforçado para recolher dos jornais as inúmeras contribuições deste intelectual, como disse, espalhadas em todos os jornais de Manaus, em um período que estimo de quatro décadas. 

Alguns trabalhos do mestre foram compartilhados no Blog do coronel Roberto (catadordepapeis.blogspot.com).


Padre Nonato Pinheiro faleceu em Manaus aos 7 de dezembro de 1994, véspera da festa da padroeira do Amazonas.

domingo, maio 08, 2022

DIA DAS MÃES

 Este Dia Especial neste ano pertence à dona Francisca Pereira Lima, que o filho Renato, imortalizou em “Chicuta”, o livro recém editado. Era nossa mãe, morta aos 35 anos, vítima de doença cancerígena. Foi desse modo que ele encerrou a memória, descrevendo os últimos instantes de vida dela:

Chicuta com o então respeitável
diploma de Corte & Costura 

“Ela levantou a mão direita, praticamente só a mão, enquanto o braço, esquálido, permanecia depositado sobre a cama. Olhou de novo, e fixou o olhar nos três filhos, como se quisesse plasmá-los como os únicos mensageiros, os que receberiam sua mensagem de amor e fé, numa espécie de comunicação metafisica de seus pensamentos, de seus derradeiros sentimentos, naquele momento emblemático e fatal.”

E prosseguiu: “Olhou para sua caderneta de orações, de cânticos e novenas – escrita à tinta, como muito esmero e dedicação, numa perfeita caligrafia – mas não conseguiu alcançá-la. Talvez não quisesse alcançá-la, apenas chamar atenção aos que estavam ali.

Finalizando: “A doença lhe abreviou o tempo na terra; porém, com sua fé em Deus mostrou a todos que seria possível continuar amando, do seu lugar eterno. Parou de bater o seu coração aos dezoito dias do mês de julho de mil novecentos e cinquenta e dois.”  

Estamos próximos dos 70 anos de saudades e veneração!

Flores para a saudosa Dama



Para saber mais: https://catadordepapeis.blogspot.com/search?updated-max=2022-05-03T22:14:00-04:00&max-results=4

sexta-feira, maio 06, 2022

PADRE NONATO PINHEIRO: CENTENÁRIO (2)

No próximo dia 10, o saudoso padre Raimundo Nonato Pinheiro será lembrado pelo centenário de seu nascimento. Seguindo com a minha homenagem, publico a segunda parte do artigo "Bodas de Ouro", acerca da festa da Igreja de São Sebastião local.

Capa do livro

Aproveito ainda para lembrar o livro sobre a Ordem dos Capuchinhos da Úmbria, responsáveis pela paróquia de São Sebastião e pela evangelização católica dos municípios do Alto Solimões. Trata-se da obra "a Igreja sobre o rio", cuja capa ilustra esta postagem.

Bodas de Ouro

Padre NONATO PINHEIRO Academia Amazonense de Letras)

Frei Wenceslau de Spoleto também foi vigário, e mais tarde Prelado do Alto Solimões, sucumbindo poucos dias antes de sua Sagração Episcopal. Conservo dele as mais caras recordações, entre as quais o culto da amizade. Possuía um coração afetuosíssimo. Banhavam-se-lhe os olhos de lágrimas ao sopro da mais leve emoção. Tive a honra de privar de sua intimidade, dando-me provas inequívocas de profunda afeição. Atraiu-me sua Prelazia, em 1948, para pregar o novenário da Senhora da Conceição, na cidade de Benjamin Constant. Ao anunciar a palavra de Deus comovia os ouvintes pela unção com que falava.

Entre os vigários falecidos, devo mencionar o culto Frei Antonino de Perugia, figura nobre de capuchinho, de conversação atraente e erudita. Notabilizou-se pelos estudes de língua portuguesa, manifestando particular atração pelos assuntos etimológicos. Conhecendo-me as preferências, gostava de praticar comigo acerca de questões de linguagem relativas ao latim, ao italiano e ao português. Uma queda desastrosa na rua de Silva Ramos, ao dirigir-se à Escola Premonitória do Bom Pastor, que funcionava num edifício situado ao lado da Igreja Presbiteriana, obrigou-o a usar um cajado até os últimos dias de sua vida. Era o cronista da comunidade. Esses, os vigários falecidos, que me deram a honra de sua preciosa amizade, e a cuja memória presto meu comovido preito de homenagem no modesto soneto que figura na última página deste caderno.

Ofereço meu ramo de flor aos caros capuchinhos por motivo do Jubileu, ressaltando de modo particular o Revmo. Padre Custódio, o piedoso Frei Samuel de Intermesoli; Frei Miguelângelo de Marenella, que deu à Paróquia muita vitalidade; e ao atual vigário, Frei Lourenço Maria do Porto, pastor zeloso que muito tem feito pelo florescimento da Paróquia num apostolado edificante, alicerçado na oração, no jejum e na mortificação.

Quisera ter letras de ouro para glorificar esses sacerdotes de ouro, a quem a Paróquia e a Arquidiocese muito devem. Deus não permitiu que minha mãe tomasse parte nos festejos comemorativos deste solene cinquentenário, como tanto desejava. Do Céu acenará com jubilosa aquiescência às palavras do filho, recordando-se com saudade de sua querida igreja, que frequentava diariamente com as mesmas disposições do salmista, ao celebrar as viagens santas para o templo do Senhor. Qual pardal ou andorinha, encontrou um delicioso ninho no templo sagrado: "passer invenit domum, et hirundo nidum sibi”. Como o salmista, encontrava o auxilio de Deus nessas viagens santas para a igreja: "Beatus vir, cujus auxilium est a te, cum sacra itinera in animo habet". (...)

Há na esguia e majestosa torre da igreja de São Sebastião, cuja bela fachada, se deve à competência de um grande artista, o engenheiro Aluísio Araújo, um sino em que se lê a expressão latina "concilio laeta": eu canto as alegrias. Suponho que esse bronze sagrado não ficou silencioso nas áureas Bodas paroquiais. Há de ter bimbalhado em repiques festivos, elevando aos Céus os cânticos jubilosos dos paroquianos pelos cinquenta anos de vida paroquial, em que jorraram a flux as bênçãos de Deus por intercessão do glorioso mártir São Sebastião.

 Entrego ao virtuoso vigário estes pequeninos grãos de incenso, para queimá-los em seu coração sacerdotal, turíbulo vivo da Divindade, numa homenagem de imperecível afeição ao templo cinquentenário das núpcias de meus genitores e do meu glorioso batismo!

quinta-feira, maio 05, 2022

PADRE NONATO PINHEIRO: CENTENÁRIO (1)

No próximo dia 10 festeja-se o centenário de nascimento do padre Raimundo Nonato Pinheiro, nascido na capital amazonense, filho de seu homônimo e de dona Diana de Macedo Pinheiro. Toda família envolvida com a literatura regional. 
Igreja de São Sebastião, Manaus

Em homenagem ao aniversariante, reproduzo o artigo dele - em duas partes - , publicado em O Jornal, 9 de setembro de 1962, recordando o Jubileu de Ouro da Igreja de São Sebastião, adotada pelos frades capuchinhos da Úmbria/Itália

BODAS DE OURO

TRANSCORREU ontem, dia 8, festa da Natividade Nossa Senhora, o Jubileu da Paroquia de São Sebastião criada por dom Frederico Benicio de Sousa Costa, segundo Bispo Diocesano do Amazonas, no dia 8 de setembro de 1912. Sinto o imperioso dever de escrever duas linhas acerca do fausto evento. Trata-se da Paróquia do matrimônio de meus país e do meu batismo.

Na bela igreja de São Sebastião celebrei minha primeira missa rezada, no mesmo altar em que meus pais se uniram pelo vínculo do casamento indissolúvel. Recentemente, aí celebrei as missas de 7º e 30º dia em sufrágio da alma de minha santa e saudosa mãe, que a frequentava cotidianamente, para receber o Pão Eucarístico. É, pois, um templo evocativo para minha sensibilidade de cristão e padre.

A Paróquia é um núcleo de vida cristã. Nela se agregam os cristãos para a beleza e a plenitude da vida comunitária, em derredor do altar, sob a presidência do pároco. O altar é o centro, o foco irradiador, a mesa onde se dá a fracção do Pão, a diva e sacra esmola que deposita na alma os germes da imortalidade. (...)

A Arquidiocese de Manaus possui na capital 11 Paróquias: Nossa Senhora da Conceição (Catedral), Nossa Senhora dos Remédios, São Sebastião, São José, Santa Rita, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Educandos), Nossa Senhora de Nazaré (Adrianópolis), São Raimundo, São Jorge e São Francisco.

Quando dom Frederico chegou ao Amazonas, encontrou em Manaus apenas duas Paróquias: a de Nossa Senhora da Conceição e a de Nossa Senhora dos Remédios. Desmembrou o imenso território desta última e criou a Paróquia de São Sebastião, confiando-a ao zelo apostólico dos Revmos. Padres Capuchinhos.

O primeiro vigário de São Sebastião foi o saudoso frei José de Leonissa, santo capuchinho, cujo nome sempre pronuncio e escrevo com emoção. Abençoou as núpcias de meus pais no dia 19 de março de 1915 e conferiu-me o santo batismo. Ungiu ainda meu pai ao partir para a eternidade. Desempenhou mais de uma vez as funções de vigário. Sua piedade era edificante. Muito dado à oração e à meditação, passava longo tempo na igreja, recolhido e absorto. Entre suas devoções distinguia-se a da Via-Sacra, cujas estações percorria diariamente. Recordo-me do carinho com que assistia os enfermos e agonizantes. Recomendava aos paroquianos que sufragassem com frequência as almas do Purgatório. Sua missa era vagarosa: denunciava logo o místico, que vivia em Deus e para Deus. A cidade ficou a dever-lhe a construção das igrejas de Nossa Senhora de Nazaré e Nossa Senhora de Fátima, bem como a Casa da Divina Providência.

Outro capuchinho que exerceu durante longos anos as funções de vigário foi o seráfico frei Domingos de Gualdo Tadino, que teve a dita de celebrar suas Bodas de Ouro sacerdotais, cuja ocorrência mereceu à Paróquia a publicação de uma alentada polianteia.

Frei Domingos. era venerado em toda a cidade, nimbado de um halo de santidade. Não se ausentava do santuário, dividindo o tempo entre a oração (rosários sucessivos) e o ministério da confissão.  Sua figura ascética, de cabelos e barbas alvíssimos, era um imã prodigioso, que a todos atraia.

É que encarnava a própria bondade divina. Como a deusa de Virgílio se dava a conhecer pelo andar ("incessu patuit dea"), parece que frei Domingos se revelava no andar: passos delicadíssimos, quase vaporosos, como se fora um anjo caído do céu. (segue)

Para saber mais sobre o sacerdote autor do texto:

https://catadordepapeis.blogspot.com/2020/03/na-vespera-da-festa-da-padroeira-do.html


quarta-feira, maio 04, 2022

PADRE NONATO PINHEIRO: CENTENÁRIO

 No próximo dia 10 festeja-se o centenário de nascimento do padre Raimundo Nonato Pinheiro, nascido na capital amazonense, filho de seu homônimo e de dona Diana de Macedo Pinheiro. Ambos envolvidos com a literatura regional. 

Nonato Pinheiro

Sobre o homenageado: são poucos ou raros os que se lembram de sua atuação sacerdotal, pois muito cedo ele foi "suspenso de ordem", ou seja, impedido de exercer essa atividade. De outro modo, são inúmeros ainda os que recordam os artigos do reverendo, sobre temáticas diversas e circulados em jornais de Manaus. Aliás, Nonato Pinheiro colaborou com todos os periódicos locais. E mais, pertenceu as principais Academias literárias do Estado. 

Já efetuei inúmeras postagens neste Blog sobre o padre Nonato. Vou aproveitar este ensejo para homenageá-lo, reproduzindo suas publicações até a data do aniversário.  

Grandeza da poesia 

O Jornal, 02/12/1962

 Ao grande poeta Jonas da Silva, joalheiro dos

Uhlanos e das Czardas,

fervorosa homenagem póstuma

  

És de todas as artes a mais bela:

Irradias fulgor, policromia,

Ofertando dulcíssima harmonia

E o donaire gentil duma donzela!

 

Nos meus dias de luto e de procela,

És o arco-íris sem par, diva poesia,

Que me dissipa qualquer agonia

Co’o esplendor duma rútila aquarela!

 

Qual barco de Rimbaud, no mar do verso,

Singro feliz os atrativos teus,

Ébrio de luz, em chispas de ouro imerso...

 

Para um mundo de nobres e plebeus,

Encarnas no concerto do Universo

A linguagem magnífica de Deus!...


terça-feira, maio 03, 2022

FORÇA POLICIAL DO ESTADO: 1941-42

 Algumas informações sobre a Força Estadual prestada pelo Interventor Federal, Álvaro Maia, relativo ao ano de 1941, sendo comandante da corporação o major EB Gentil João Barbato.

Capa do folheto 

Consoante a promessa do meu relatório passado, já fiz regressar ao seu antigo quartel da praça João Pessoa [atual Heliodoro Balbi] a Força Policial do Estado, apesar de não se achar ela ainda comodamente alojada ali, em virtude de continuar ocupando parte do edifício o Instituto de Educação.

Quanto ao seu aprovisionamento atual, os gêneros são adquiridos sob concorrência pública, preparando-se as rações pelo sistema administrativo, do que resulta, além de não pequena economia, o controle direto, que liberta a Corporação de dependências estranhas.

É feito pelo pessoal da Força o serviço do corte de lenha, que é o combustível usado nos fogões. Adquire-se a forragem, parte sob concorrência e parte por administração, com reais benefícios para o comércio local, sendo o capim produzido na própria Invernada [atual quartel do CPM, rua Dr. Machado].

Por circunstâncias decorrentes da situação em que se acha o Brasil, apresenta deficiências o suprimento de fardas às praças da Força, o mesmo acontecendo quanto ao calçado. Providências, porém, foram já determinadas pelo Governo para remediar essas faltas e outras, a que alude o relatório do comandante da Força, tenente-coronel Gentil João Barbato, dedicado e cuidadoso para com tudo que respeita à milícia estadual.

A Interventoria resolveu aproveitar a sugestão apresentada no relatório do comandante, em relação à montagem de uma enfermaria com todo o material que lhe inere e, com ela, a instalação de uma farmácia e de uma sala adequada para pequenas intervenções cirúrgicas.

Em 31 de dezembro do ano findo, o efetivo da Força Policial do Estado se representava por 28 oficiais e 423 praças.