CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, dezembro 31, 2023

PASSAGEM DE ANO 2023-2024

 Saúdo aos familiares e amigos por motivo desta data - Dia da Confraternização Universal - ou mais simplesmente: a passagem de ano. Para tanto, tomei a liberdade de recolher parte do texto que a colunista Lília Schwarc publicou em sua página do whatsapp.


Aerograma comemorativo

Pois bem. Vamos pensar no que existe na mágica nessa passagem que termina em 31 de dezembro e começa no 1 de janeiro. Com certeza não há nada demais com essa temporalidade cujo dia desemboca na noite e que dá lugar a mais um dia.

Como canta Caetano Veloso: “todo dia o sol levanta e a gente canta ao Sol de todo dia”.


Também não será por uma questão de hora; afinal enquanto na Austrália as celebrações começam muito antes, nos Estados Unidos depois. Não há hora certa para as demonstrações de felicidade.
O mistério vem assim da nossa própria capacidade de ritualizar e inventar símbolos nos quais passamos a viver e nos emocionar. Portanto, nada há de matemática ou conta de somar ou diminuir. Só essa nossa virtude sonhadora é que faz dessa uma noite diferente das outras. É tempo ocioso para fazer balanços, planejar e projetar o ano que está por vir.


Eu, portanto, do alto da minha subjetiva desejo a vocês um 2024 com mais democracia e igualdade, com mais saúde e sobretudo paz nesse mundo que não se cansa de inaugurar novas guerras — que são sempre sinais de nosso fracasso.

Desejo também um tempo com menos ódio e que as redes sociais se prestem a informar e não a dividir.

quarta-feira, dezembro 27, 2023

SOBRE O NATAL 2023

 Eu voltei”, ouvi hoje bastante na TV ilustrando um reencontro familiar. De fato, devo repetir o mesmo refrão, quando depois de meses de ausência retomo a direção do Blog. Alguns dos entraves que me levaram a dispersão: construção de uma casa do outro lado da ponte do rio Negro; os preparativos para uma mudança domiciliar; enfim, a mudança.

Enfim, instalado na capital paranaense, e após os encontros com os familiares e com os amigos, pude reabrir o notebook e reiniciar algo que me satisfaz plenamente. Escrevo o Blog do coronel com a finalidade, repito, de reproduzir fatos da história regional, em particular, os afetos à prática militar. Não obstante ter inserido outros detalhes de diversos ramos da historiografia.


Aproveito o ensejo para cumprimentar aos amigos de diversos naipes, certo de que os festejos natalinos foram de completa cordialidade junto aos familiares e outros camaradas. 

O texto que se segue pertence ao Renato Mendonça, bastante colaborador deste espaço que, por isso, já me puxou a orelha devido ao descaso que impus ao Blog. O Natal pois permitiu corrigir este impasse.

 

MÍSTICA DO NATAL

24.12.2023 

Alguns historiadores e outros estudiosos eclesiásticos tentam desdizer que o nascimento de Jesus não ocorreu no dia 25 de dezembro do ano zero do período cristão. Alguns pressupõem que ele possa ter nascido quatro anos antes do início da nossa Era Cristã. E asseguram que essas ilações estão baseadas em dados da própria bíblia, como se o livro sagrado tivesse contradições em si.

Refletindo sobre a abordagem do assunto, aceito que essas inquietações são próprias do ser humano. O que não se deve, de maneira alguma, é tentar desmistificar o simbolismo do Natal, já consagrado pela humanidade em quase todas as religiões.

A escolha da data — se não foi esse exatamente o dia em que Maria o deu à luz — ocorre pela diferença de arquitetura entre o calendário hebraico e o romano adotado no ocidente. No entanto, o dia não poderia ser mais propício para a celebração, tanto no Hemisfério Norte quanto no Sul. Foi instituída como um contraponto à festa pagã comum na Roma Antiga, que ocorria até o século IV, após o fim das intensas perseguições aos cristãos, quando muitos santos ou anônimos foram martirizados.

No Hemisfério Norte, celebrava-se então o “Die Natalis Solis Invicti”, que numa tradução livre do latim significa: o dia do nascimento do sol invencível. Era a comemoração da vitória da luz do dia sobre a noite mais longa do ano, o solstício de inverno.

Há outros escritores eclesiásticos que tentam qualificar as datas de nascimento e morte de Jesus usando como argumento os dados de um tratado anônimo. Esse tratado apócrifo nos diz que Nosso Senhor foi concebido no dia 08 das calendas de abril, que estranhamente corresponde ao dia 25 de março, o equinócio da primavera, e que exato neste dia ocorrem a morte e, também, a concepção de Jesus. Assim, nove meses após o dia da concepção, Maria daria à luz o Salvador.

Nesse dia, sob a mística do Natal, desejamos que a Encarnação de Deus num menino recém-nascido renove nossas forças e nosso estado anímico para o próximo ano. Deus quer que tenhamos a mesma coragem e a altivez que Maria teve, ao aceitar a difícil missão de conceber um filho mesmo sendo solteira. E reflitamos que a misoginia e o preconceito faziam parte da cultura daquela sociedade. Mas, para cumprir as profecias do Velho Testamento, havia de ser uma virgem. E assim, tudo foi envolvido num grande mistério, como deveria ser. E o destino conspirou para que Jesus nascesse em Belém — para onde o casal, Maria e José, viajou para participar de um censo —, num local ambientado na humildade, para que possamos acreditar que a beleza da fé e da vida está na simplicidade das coisas que vivemos e praticamos.

Biologicamente estamos mais velhos, porém, espiritualmente podemos renascer a cada ano, nesta época das festas natalinas. Mesmo que muitos passem por desafios, não é tempo para melancolia; é um tempo de alegria, de canção de amor, de celebração da vida — da vida que nos resta neste Plano Físico.

Somos todos convidados para celebrar o nascimento de Jesus; somos todos convidados para agir como colaboradores e auxiliares de uma estrutura de fé e de amor, que ele vai nos ensinar novamente durante o ano, dentro da síntese de Sua vida. Seremos ensinados a repartir o pão e incentivados à prática do perdão; seremos incentivados a amar incondicionalmente, a saciar a sede e a fome de quem precisa. Só assim, sentiremos uma leveza de alma, que nos permita esquecer todas as desavenças familiares, as dificuldades de relacionamento humano, e nos quita do peso excessivo do fardo que teima em se colocar nas nossas costas. Não podemos ficar detidos na estrada da vida em face dessas dificuldades. Temos que caminhar com leveza.

Só assim, este será o mais belo Natal de nossas vidas, com toda mística que a data nos oferece. Feliz Natal!  

sábado, setembro 16, 2023

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (28)

 Mais um capítulo sobre a história da Guarda Policial, ora Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889). 


Em 19 de fevereiro de 1878, assume o comando da Guarda Policial o major reformado (do Exército) Silvério José Nery, nomeado pelo 2º vice-presidente Guilherme José Moreira. Moreira assegurava que nele “concorrem todas as qualidades necessárias para imprimir a ordem e disciplina no corpo de seu comando”. Major Nery exerce o comando até o dia 25 de novembro, quando se afasta por doença, todavia, “na noite de 27 exalou o último suspiro (...) e seu cadáver foi ontem sepultado às 4 e meia horas da tarde, no cemitério São José” (local hoje ocupado Exército, em foto restaurada por pela sede do Atlético Rio Negro Clube), consoante o jornal Amazonas, de 4 de novembro de 1878.

Este infausto acontecimento sinaliza outro ineditismo: trata-se do único comandante-geral a morrer no exercício da função, até o presente, ou seja, em 186 anos de atividades da Força Militar estadual.

Nery nasceu na província do Pará em 1818. Assentou praça no Exército ainda em Belém, aos 18 anos. Prospera na atividade militar, alcançando o oficialato com a promoção a alferes em 20 de agosto de 1853. Com a mudança hierárquica, também se muda para a guarnição da província do Amazonas, onde constitui família, casando-se com Maria Antony Nery. Em 2 de dezembro de 1860 é promovido a tenente. Com a eclosão da Guerra do Paraguai alista-se voluntariamente e participa daquele conflito armado. Ainda no campo de batalha, em 1º de junho de 1867, alcança o posto de capitão. Ferido com tiro de fuzil, quando em operação militar no Paraguai, adquiriu uma “anquilose no joelho direito”, o que lhe impedia a “locomoção ativa” (termos de sua inspeção de saúde).[1]


Em consequência do ferimento sofrido em combate, em 30 de novembro de 1871, Nery foi reformado no posto de major. Findo o conflito sul-americano, e assentado em Manaus na direção da Guarda Policial, buscou para seus filhos os benefícios da legislação militar, daí a inclusão de Silvério e Constantino na Escola Militar da Corte. Nery legou à sociedade amazonense numerosa e inesquecível linhagem, capaz de estimular entre os admiradores e os desafetos uma permanente contenda, seja por parte dos pesquisadores acadêmicos, seja igualmente pelos cultores da tradição oral, tradição que perpassa seus descendentes. Quatro deles assumiram o governo do Estado: os filhos Silvério José Nery (1900-04) e Antônio Constantino Nery (1904-07) e os netos Júlio José da Silva Nery (1945) e Paulo Pinto Nery (1982-83).


[1] – Para saber mais: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário amazonense de biografias: vultos do passado. Rio: Conquista, 1973.