CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, novembro 29, 2022

PMAM – BANDA DE MÚSICA (III)

 Em prosseguimento ao estudo da trajetória da Banda de Música da PMAM, aqui vão relacionadas algumas observações constantes de um capítulo escrito para um almejado livro sobre esta corporação musical.
Harpista no monumento situado
na praça Dom Pedro II

Solfejando

 

A Banda Música da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) já ultrapassou mais de doze décadas vertendo sonoridade e expandindo contentamento pelo Estado. Durante décadas, até na própria corporação, pouco se conhecia sobre tão radioso ofício e seus executantes. Alguns exemplos básicos: a data da inauguração, os nomes de seus regentes e outros identificadores. Até que, em 1993, elaborei ligeira retrospectiva em artigo jornalístico (A Banda de Música, em A Crítica, 7 set. 1993). Na ocasião, sugeri tanto a data de fundação quanto a mencionada denominação. Saquei tais sugestões do Relatório subscrito pelo então major Afonso de Carvalho, que comandou a corporação policial militar entre 1892-96, ou seja, durante o governo de Eduardo Ribeiro.  


Nascido na capital da província do Ceará, em 7 de setembro de 1862, Afonso de Carvalho foi um dos tantos nordestinos vitoriosos no Amazonas. Ingressou no Exército em 1880, e transferido para Manaus quatro anos depois, serviu como soldado do 3º Batalhão de Artilharia a pé; licenciado da Força Terrestre foi incluído na vaga de alferes-secretário do Corpo Policial (hoje PMAM) em 1887. E não parou mais. Retirou-se daqui depois de comandar o Regimento Militar do Estado no governo de Eduardo Ribeiro (1892-96) e de exercer a superintendência (prefeitura) de Manaus (1895-96); depois de eleito deputado para o Congresso Estadual e, na condição de seu presidente, assumir a chefia do Poder Executivo (1907-08), sucedendo ao governador Constantino Nery. Morreu no Rio de Janeiro em data não conhecida. A despeito de tanto sucesso, Afonso de Carvalho ainda não dispõe de qualquer reconhecimento de parte desta corporação.

 

A meu ver, dois eventos delimitam o aparecimento da Música na Polícia Militar do Amazonas. O primeiro é de janeiro de 1892, quando o dirigente do Tesouro do Estado informa ao governador Eduardo Ribeiro que o Amazonas empenhara recursos para a aquisição de equipamentos destinados àquela corporação militar. Para melhor elucidar, declara que o representante da Casa J. H. Andresen, José Cláudio Mesquita, então na Europa, havia recebido através do London Bank, a quantia de 68:000$000 (sessenta e oito contos de réis) destinada à aquisição de armamentos e de instrumental destinado à Banda de Música do Batalhão Militar de Polícia (denominação da força militar estadual a partir de 1891).  

O segundo episódio é pautado na datação de outro relatório: 3 de junho de 1893. Neste, o comandante do Batalhão Militar de Segurança (terceira denominação da PMAM), major Raimundo Afonso de Carvalho, detalha ao Chefe do Executivo a situação da Força Estadual. Entre umas e outras inovações, assegura que a Banda de Música já funcionava, portanto, já distribuía musicalidade no quartel da Praça da Polícia e nos coretos de Manaus.

Este Relatório, todavia, não aponta a data inequívoca da implantação da Banda, apenas permite delimitar o período. Acredito que entre a compra do instrumental na Europa e o transporte para esta capital, par a par com a contratação de músicos, quiçá selecionados no Nordeste como ocorreria seguidamente, tais provimentos devem ter consumido apreciável tempo. Desse modo, ante a inexistência de data inaugural da Banda de Música, ousei consagrar a datação deste Relatório com esse benéfico propósito. (Afinal, a própria corporação padece desse infortúnio, pois, apenas conhece o documento originador de sua fundação, do qual assumiu a data para sua festança natalícia.)

A musicista no
Palácio Rio Negro

Logo, por que não estabelecer a data de 3 de junho de 1893 como a efeméride inicial desta corporação musical? A proposta ainda não aceita, prossegue sendo timidamente respeitada, porquanto carece de legislação que a ratifique, que a consolide no calendário festivo da PMAM. Trata-se de uma iniciativa tão singela, pois a disposição legal encontra-se na alçada do comandante-geral. (segue)

domingo, novembro 27, 2022

BOMBEIROS DO AMAZONAS

 A trajetória deste serviço no Estado data de 1876, e a atual estrutura de comando nasceu há 24 anos.






sábado, novembro 26, 2022

CORPO DE BOMBEIROS DO AMAZONAS

 Ontem, o quartel central do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) engalanou-se para festejar sua emancipação, conjuntamente com o aniversário de instalação deste serviço na capital amazonense. Na ocasião, fez uso de todo o estoque de medalhas que foram distribuídas às centenas, beneficiando homens e mulheres da administração. Além de pastores de diversas igrejas e membros de outras corporações federais, estaduais e municipais.

Detalhe da tropa na formatura

Ainda serviu para a inauguração de um painel com rápidas passagens dos Bombeiros Militares e a abertura de uma restaurada galeria dos comandantes. Nela incluídos os veteranos dos Bombeiros Municipais, e, numa deferência especial, a foto do comandante Ventura, que conduziu os Voluntários na década de 1950.

Como parte da formatura, ouviu-se dois discursos: do comandante-geral do Corpo, coronel Orleilso Muniz, e do Secretário de Segurança. Ao me referi a discursos, fiz em razão de que a Ordem do Dia deixou de existir. A Ordem era uma página militar narrando o fato comemorativo, com absoluta disciplina, sem expor elogios a terceiros. E mais, era lido pelo Ajudante-Geral, uma espécie de secretário da caserna. No entanto, foram discursos de improviso repletos de elogios às autoridades governamentais. Esquecendo-se de felicitar o denodo dos “homens e mulheres do fogo”.

Sei que o CBMAM não possui um corpo de músicos, daí a necessidade de recorrer à Força Estadual. No entanto, o grupo de músicos da PM presente demonstra a pouca relação entre estes órgãos da Segurança Pública. Também não se viu uma representação daquela corporação.

Apesar dos senões anotados, o trabalho do coronel BM Muniz deve ser ressaltado, pois o quartel passa uma reforma estrutural de qualidade, lembrando enfim que o quartel da rua Codajás foi construído em 1974.

Os Bombeiros Militares amazonenses tiveram sua emancipação há 24 anos.

quinta-feira, novembro 24, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (13)

 Acerca da evolução da Polícia Militar do Amazonas no período provincial, compartilho novo tópico do pretendido livro Guarda Policial (1837-1889).

Guarda Nacional local

Como se pode notar, o problema da segurança pública afligia sobremodo os primeiros presidentes, os quais, sobretudo desprovidos de recursos financeiros, não possuíam solução: de um lado, o Exército deficientíssimo e, de outro, as Guardas parciais em frangalhos. Na véspera do Natal de 1853, no entanto, o presidente Ferreira Pena sancionou uma lei organizando a Guarda Nacional na capital. Para isso, recorreu ao disposto no art. 48 da Lei 602/1850 (reorganizadora da Guarda Nacional do Império).

Uniformes da Guarda Nacional

Porque fosse de sua competência nomeou os oficiais precisos, indicados pelo comandante do 1º batalhão de infantaria de Guardas Nacionais da capital e do próprio Comandante Superior desta corporação. Exponho na relação seguinte os oficiais aproveitados da Guarda Policial.

• Estado-Maior

Quartel-mestre – tenente Joaquim Pereira da Mota

• Comandante Companhia (capitão)

2ª Companhia – alferes Leonardo Ferreira Marques;

3ª Companhia – alferes José Casimiro Ferreira do Prado;

4ª Companhia – tenente João Marcelino Taveira Pau Brasil; e

6ª Companhia – capitão João Cardoso de Araújo Rozo.

• Subalternos – (tenente, um por Companhia)

2ª Companhia – alferes Sabino Antonio Brandão; e

6ª Companhia – tenente Manoel José de Faria.

• Subalternos – (alferes, dois por Cia)

3ª Companhia – alferes Joaquim Bruno de Souza.

• Companhia avulsa da Reserva - tenente Antonio José da Trindade Barroso

A relação dos novos oficiais estava chancelada pelo ajudante de ordens do Comandante Superior, major Francisco Antonio Monteiro Tapajós, irmão de Torquato Tapajós. Contudo, devido a inexistência de diário oficial na ocasião, a publicidade veio a lume no jornal A Estrella do Amazonas, de 4 de janeiro seguinte.

1854

Dissolução da GP de Manaus

De acordo com a Portaria de 2 de janeiro, publicada em A Estrella..., primeiro jornal circulado em Manaus, datada de 28 do mesmo mês, a presidência notificou a dissolução da Guarda Policial dos municípios da capital e de Silves, em decorrência da organização da Guarda Nacional local. Desse modo, fica registrada a existência de uma Guarda em Manaus, sem data de implantação, nem sua constituição, enfim, sem qualquer registro histórico.  

quarta-feira, novembro 23, 2022

PMAM: ORGANIZAÇÃO POLICIAL MILITAR (OPM)

 O desastre financeiro causado ao Amazonas com o declínio da borracha, levou de roldão as instituições estaduais. No seio delas, a Polícia Militar do Estado. Em meado do século passado, a força estadual instalada no quartel da Praça da Polícia, dispunha de cerca de trezentos homens, correspondente ao de um batalhão militar.

Antigo quartel da Polícia Militar na Praça
da Polícia, hoje Palacete Provincial

Com fundamento nesse número, em 3 de maio de 1965, o governador Arthur Reis (1964-67) baixou ato denominando ao efetivo de “Batalhão Amazonas”, para louvar seus feitos gloriosos às margens do rio Vaza Barris, quando da campanha de Canudos, “nos ínvios sertões baianos”.

O decreto 188/65 finca de forma indelével um marco na evolução da PMAM, pois em sequência vieram outros atos normativos ora criando, ora ampliando, ora extinguindo as Organizações Policia Militares (OPM). Compete lembrar que um mês antes, por disposição interna (BI 80/65), foi criado o Centro de Instrução Militar (CIM), e extinto em 1972.

Quadro alusivo a campanha de Canudos,
existente na entrada do Palacete Provincial

O presente capítulo da história da força militar estadual começa com esta datação, e segue até a publicação do decreto 2426/1972, outro dispositivo renovador da atuação da corporação. Uma das mudanças mais aclamadas pela cidade foi a incorporação do serviço de contra incêndios, até então sob a administração municipal.

 

Nomenclatura                                                                    ano de criação

 

·      Centro de Instrução Militar (CIM)                                                1965

·      1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM)                                        1965

·      Chefia do Estado Maior Geral (Ch EMG)                                      1969

·      2º Batalhão de Polícia Militar (2º BPM)                                        1970

·      Batalhão de Policiamento Especial (BPE)                                     1970

·      Corpo de Bombeiros (CB)                                                           1972

·      Companhia de Rádio Patrulha (Cia R P)                                      1972

·      Companhia de Trânsito (Cia Tran)                                               1972

·      Companhia de Polícia Rodoviária (Cia P Rdv)                              1972

·      Companhia do Comando Geral (Cia CG)                                      1972

Capacetes utilizados pelo Corpo de Bombeiros/PMAM


segunda-feira, novembro 21, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (12)

 Acerca da Polícia Militar do Amazonas no período provincial, associada às efemérides mais destacadas do Estado, compartilho novo tópico do pretendido livro Guarda Policial (1837-1889).

Comando das Armas

Em 19 de setembro de 1853, consoante a Lei imperial 715, é criado o Comando de Armas da Província, substituindo o Comando-Geral Militar, instalado por ocasião da campanha contra a Cabanagem. A efetivação do novo corpo ocorreu um ano depois, em 9 de setembro, com a posse do coronel Inácio Corrêa de Vasconcelos, que foi substituído pelo coronel de artilharia Severo José de Souza Lima, em 12 de junho de 1856.

Clássico sobre a Guerra do
Paraguai

Sucedem ainda no comando: o tenente-coronel Pedro Nicolau Faegerstein, oficial mercenário alemão, incluído no exército imperial brasileiro durante o primeiro império (1822-31). Os demais são: coronel José Vicente de Amorim Bezerra, empossado em 10 de março de 1858; major Carlos de Moraes Camisão (1821-67), empossado em 11 de outubro e destituído em 8 de dezembro de 1859, quando é substituto pelo coronel João Antônio de Oliveira Lobo.  

Em seguida, o major Camisão engajou na Campanha do Paraguai (1865-70), tendo participado com tal denodo da Retirada da Laguna, que se encontra imortalizado nas letras do visconde de Taunay.

 
Estátua do coronel situada
na Urca (RJ)

 

Falla presidencial

 

Na Falla com que inaugurou os trabalhos da Assembleia Provincial, em 1º de outubro de 1853, o presidente Ferreira Pena assinala sobre uma Força Policial: “cumpre-me ponderar que o Tesouro Provincial não pode por ora mantê-la sem prejuízo de muitos melhoramentos que a Província reclama”. Entretanto, esta autoridade finaliza auspiciosa: “devemos esperar que o Governo Imperial faça postar nesta Província a tropa de linha, que for precisa para todo o serviço da sua guarnição”.

Ou seja, sem dispor de fundos, Pena ansiava pelo Exército, posto que já “em 1845, era patente o papel policial desempenhado pelo Exército”, assegura o autor de História da Evolução Militar do Brasil, corroborado pelos historiadores nacionais, que asseguram “ter sido policial o papel desempenhado pela tropa de primeira linha do período colonial ao imperial”. Essa particularidade somente se reverteria com a paz estabelecida após a Campanha contra o Paraguai.

Em agosto do ano seguinte, novamente na abertura da Assembleia Provincial, o presidente do Amazonas transmite tênue notícia sobre a Guarda Policial, melhor dizendo, as guardas policiais. Novamente sem identificar a localização, Ferreira Pena informa que a Guarda Policial “presta algum serviço nos lugares onde não foi substituída pela Guarda Nacional”.

domingo, novembro 20, 2022

ELDORADO & ADJACÊNCIAS

No alto do Inka, em 2004, um olhar sobre o Conjunto Eldorado e adjacências, vendo-se o Shopping  Amazonas e o Vivaldão, no horizonte  




sábado, novembro 19, 2022

PMAM – BANDA DE MÚSICA (III)

Alguns cuidados exercitados sobre a Banda de Música vão aqui relacionados, constantes de um capítulo escrito para um almejado livro sobre a corporação musical. 

Apresentação da Banda em Itacoatiara 

Pouco antes e bem adiante do Governo Militar

 Em janeiro de 1963, Plinio Ramos Coelho assumiu pela segunda vez o governo do Estado e, na ocasião, nomeou um comandante antirregulamentar para a Polícia Militar do Estado: o 1º tenente PM Alfredo Barbosa Filho, ligado ao governador pelo futebol do Nacional FC. Barbosa foi cassado juntamente com o chefe do Poder Executivo na instalação do Governo Militar (1964-85).

Plínio Coelho

Arthur Reis tomou posse do Poder Executivo em junho de 1964. Enquanto aguardava a indicação do comandante da Polícia Militar pelo então Ministério da Guerra, manteve o comandante transitório, tenente-coronel PM Manuel José Moutinho Junior. Em outubro, assumiu o major EB José Jorge Nardi de Souza, que permaneceu somente 10 meses à frente da corporação. Isso mostra certo descompasso nas ações dos militares no Amazonas, no campo da Segurança Pública, até então custodiada pela Chefia de Polícia.

Outra desventura viria a reboque, acabando por se engajar no aquartelamento da Praça da Polícia. Aconteceu na permuta do major EB Jorge Nardy pelo capitão EB Hernany Guimarães Teixeira, que comandou a corporação entre março de 1966 e outubro de 1967. O infortúnio estava na presença do jovem capitão, oficial intermediário, quando a PM contava em seus quadros com tenentes-coronéis. Resumindo a opera: o referido capitão findou por se intrigar com camaradas verde-oliva, exatamente pelo desnível hierárquico.  


Quando o capitão Hernany deixou abruptamente o comando da Força Estadual, o governador Arthur Reis foi compelido a substitui-lo pelo oficial mais antigo, o tenente-coronel PM Omar Gomes da Silveira (1916-87). A partir desta mudança e até o extremo do Governo Militar, sem interrupção, os comandantes pertenceram aos quadros do Exército, do posto de tenente-coronel.

 

No período, o regente da Banda foi o 2º tenente (comissionado) Ernani Puga, que assumiu em 1963 e se retirou em agosto de 1967. Sua saída coincidiu com a substituição do capitão comandante da PM.

Não creio que o comando tenha se empenhado com o setor musical, diante da calamidade que predominava na corporação. À época, em junho de 1966, estava eu ingressando na PM e posso testemunhar: sequer havia uniforme para todos os policiais. Sequer havia capacetes, nem armamento adequado (revólveres eram contados). A alimentação era fornecida somente para o pessoal de serviço, os demais, se se alimentassem, pagavam pela boia. Eu estava nesse grupo. Para conturbar ainda mais o desastre, a Zona Franca de Manaus, apesar de criada em fevereiro de 1967, demorou algum tempo para gerar os oportunos incentivos.

A atividade da Banda resumia-se a esses encargos: a formatura geral pela manhã, junto com o Batalhão Amazonas, que marchava saindo do pátio interno do quartel, contornava a Praça da Polícia e o Colégio Estadual para, em frente do quartel, saudar a autoridade de plantão. Em seguida, ocorria o cumprimento do QTS (Quadro de Trabalho Semanal), com os ensaios programados, se não houvesse alguma tocata em inauguração ou em outros empreendimentos do Estado, além de cumprimento de solicitações reservadas.  E não eram poucas, a Banda era requerida ou escalada para todos os eventos. Às vezes, tendo que repartir seu quadro para atender aos compromissos diários.

Um salto triplo no tempo...  

O comandante-geral entre 1989-91, coronel Romeu Medeiros, exigiu da corporação musical um desempenho mais dinâmico. Bastante inovador, extravagante, diria. Porque, tendo este, numa de suas andanças pela Europa, assistido em soberba apresentação orquestral o Bolero de Ravel, Medeiros formulou uma aposta com o mestre da Banda, tenente Souza Lima. De que somente se sentiria realizado no comando, quando a Banda de Música da Polícia Militar tocasse o famoso clássico. Em resumo: a Banda não venceu a porfia, frustrando ao comandante-geral.

Coronéis Medeiros (perfil), Orleilson
(de frente) e Alfaia.

Malgrado a frustação, este comandante, para melhor aperfeiçoar a cultura musical do referido regente, buscou cooperação no Rio de Janeiro, ONDE???. Para isso, enviou o tenente a um estágio no Rio, objetivando aprimorar a técnica e incutir neste a administração dos músicos. Outra iniciativa: Medeiros determinou um recital da Banda no coreto da Praça da Polícia, à tarde de todas as sextas-feiras. Havia continuamente um “respeitável público”: os comerciários no final do expediente, os estudantes saindo e entrando nas escolas próximas e outros transeuntes, além dos moradores da vizinhança. Tinha início, para atender esse objetivo, às 17 horas.

Mais outro empreendimento deste comandante. Em 1990, Medeiros enviou para a empresa Weril Instrumentos Musicais Ltda., sediada em São Paulo, os instrumentos então existentes na Banda. Detalhe oportuno: esses instrumentos haviam sido adquiridos com o aval da Suframa, ao tempo do tenente-coronel EB Wilson Ribeiro Raizer (comandante-geral entre 1979-81). Estavam em uso, portanto, há dez anos!

O comandante Medeiros contratou com essa fabricante do ramo para que, efetuando um reparo geral, descartasse os inúteis. Algum tempo depois, os diversos instrumentos devidamente restaurados e cromados retornaram a Manaus. Devido à cromagem, bastante se destacavam. Assim, a apresentação do instrumental ocorreu em solenidade de formatura no CFAP, no Dia do Soldado de 1990, presente o comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA) – general Santa Cruz, e seu assistente, general Taumaturgo Vaz.

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (11)

 Prosseguindo com a exposição acerca da Polícia Militar do Amazonas no período provincial, associado às efemérides mais destacadas do Estado, compartilho novo tópico do pretendido livro Guarda Policial (1837-1889).

Recorte da capa do livro, mostrando a fachada do
primitivo Palacete Garcia, depois ocupado pela PMAM 1883)

Companhia de Polícia paga

Em sessão da Assembleia Provincial de 13 de outubro de 1852, o deputado José Coelho de Miranda Leão, integrante da Comissão da Força Policial, apresentou projeto de lei que toma o nº 14, autorizando o Governo da Província “a criar uma Companhia de Polícia paga”.

A expressão “paga” empregada pelo legislador, a meu ver, sinalizava a condição de funcionário ou de empregado com vencimentos, lembrando que os guardas policiais somente recebiam soldo se utilizados ou se empregados em destacamentos.

A localização desta unidade policial seria a capital, dispondo do efetivo de 40 policiais, sendo o comandante “da nomeação e confiança do Presidente”, escolhido entre “os oficiais de 1ª linha ou reformados” do Exército, certamente; quanto aos praças, “serão contratados por tempo de seis anos”. Igualmente, como o precursor, este projeto não teve sobrevida.

 

1853

Conselheiro Ferreira Pena

Em 22 de abril, Herculano Ferreira Pena (1800-67), nascido em Serro (MG), tomou posse na presidência da Província. Jornalista e político de carreira, presidiu além do Amazonas, outras províncias (pela ordem, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará, Pernambuco, Maranhão, Bahia e Mato Grosso). Afastou-se da presidência amazonense em 11 de março de 1855. Outra singularidade: o conselheiro era casado com Francisca, filha do tenente-coronel dos Dragões Francisco de Paula Freire de Andrade, um dos líderes da Inconfidência Mineira, que foi degredado e morreu em Luanda em 1808.

O segundo presidente provincial recebeu da Capital significativa homenagem: seu nome identifica a artéria situada no Centro (CEP 69010-140), ligando a rua Dez de Julho ao Boulevard Álvaro Maia.

sexta-feira, novembro 18, 2022

PMAM – BANDA DE MÚSICA (II)

 Acerca do salão de ensaio e dos espaços ocupados pela Banda de Música em quartéis da Polícia Militar do Amazonas, escrevi este capítulo para um pretendido livro sobre esta corporação musical.
 

AQUARTELAMENTOS & SALÃO DE ENSAIO

Músicos da Banda em apresentação, década de 1970


A posse do colossal aquartelamento de Petrópolis, inaugurado em novembro de 1971 pelo 1º BPM, sob o comando do tenente-coronel PM Flavio Rebello, redundou em novel ocupação policial de Manaus e a consequente expansão da corporação. O Cosme e Damião acabava assim de atingir a periferia, pois, até então policiava o Centro da cidade e um escasso entorno. Em tempo oportuno, a Banda iria ocupar dependência dessa edificação, aliás, um segmento insignificante e malcheiroso, que findou constituindo-se na paragem provisória/definitiva. 

Construído para abrigar os serviços da PMAM, então possuindo um efetivo próximo de 1.000 homens, seu idealizador, o arquiteto Severiano Mário Porto, talvez tenha “olvidado” das dependências para a Música. Ou, oxalá planejadas, foram alocadas em um dos pavilhões deixados de construir. Somente o projeto com as plantas devidas, ora em “local incerto e não sabido”, poderia aclarar essa controvérsia.

Em meado de 1972, ao remodelar o interior do quartel da Praça da Polícia, o coronel Paulo Figueiredo removeu a Banda para o 1º BPM, como segue conhecido o quartel de Petrópolis, apesar da presença hoje do comando superior da corporação. A despeito de imensos espaços vazios, dada a desproporção de efetivo existente, nele não foi ajeitado um local apropriado para os músicos regidos pelo 1º tenente Raimundo Alves Bezerra, o Bezerrão, devido sua contextura corporal.

Tenente Bezerra, em dois momentos

Em decorrência disso, mestre Bezerra passou a ensaiar os músicos em uma casa de madeira mal-ajambrada “com dois pavimentos, coberta de telhas de alumínio, dispondo de uma porta e um janelão de frente” nos dois pisos, medindo 6x12, existente na rua Aristides Rocha, aos fundos do 1º Batalhão. Esse terreno somente seria adquirido a Fernando França de Melo e esposa, em fevereiro de 1977, no comando do coronel EB Mário Perelló Ossuosky (1975-79).

Removida a Banda da rua Aristides Rocha para o 1º Batalhão, o imóvel foi ocupado pelo CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), que ali permaneceu até ser instalado no quartel da Ponte da Bolívia (hoje Barreira), quando foi substituído pelo Pelotão de Polícia Feminina, em 1983. Ainda no mesmo ano, este pelotão foi alojado precariamente no quartel da Praça da Polícia, no espaço desocupado foi instalada a Creche Infante Tiradentes, iniciativa do coronel PM Hélcio Motta (1983-87), que ainda ocupa o referido edifício, em nossos dias amplamente modificado.

Esta breve rememoração obtive do sargento reformado Lucas de Souza (1933-), que ingressou na PMAM em 1962, nela permanecendo até 1986. Segue ele relembrando: a Banda foi transferida para o 1º Batalhão, ocupando uma dependência anexa aos xadrezes desta Unidade. Para encurtar a conversa, onde ainda se encontra a “briosa” Banda, com uma sutil distinção, na caserna o xadrez foi desativado (já não há lugar para preso disciplinar!), o recinto após relativo arranjo passou a abrigar os músicos. “Não há estímulo para se convidar alguém para visitar nossas acomodações”, lamenta-se o atual regente. E completa acabrunhado: “ao ocorrer uma inspeção ou visitação oficial, o vexame, então, é acabado”. Neste local os músicos permaneceram, até que... houve novo terremoto.

 

A Companhia de Polícia Rodoviária, em maio de 1993, teve sua extinção cumprida. Quando essa OPM (Organização Policial Militar) desocupou o aquartelamento, ainda existente no entroncamento das avenidas Constantino Nery com Djalma Batista, cujo Elevado de Flores serve de referência, a Banda de Música ensaiou sua ocupação. Era seu regente, o tenente Francisco das Chagas de Souza Lima (1987-94). Todavia, não conseguiram se estabelecer na edificação, depois de circular pelo Japiim, voltaram para o quartel de Petrópolis.

quinta-feira, novembro 17, 2022

PMAM – BANDA DE MÚSICA (I)

 Acerca do salão de ensaio e dos espaços ocupados pela Banda de Música em quartéis da Polícia Militar do Amazonas, escrevi este capítulo para um pretendido livro sobre esta corporação musical.
 

AQUARTELAMENTOS & SALÃO DE ENSAIO

 

Antigo quartel da Praça da Polícia, onde a
Banda de Música ocupava a sala limitada
pela três janelas do térreo

A fim de melhor expandir este tópico, reitero: quando do surgimento da Banda em meado de 1893, a Polícia Militar do Amazonas (PMAM) já ocupava o quartel da Praça da Polícia. Ainda com a estrutura bem acanhada, bem provincial, mas certamente capaz de acomodar o reduzido Corpo Policial, nele inserido o ofício musical. O prédio adquirido pelo governo provincial e herdado pela cidade serve atualmente de sede ao Palacete Provincial. É fácil, portanto, imaginar a arquitetura ocupada pela Polícia Estadual. Olhando-se de frente, a partir da direita, contando-se três janelas, tem-se o primitivo Palacete Garcia, que existiu até 1895, quando o governador Eduardo Ribeiro inaugurou a expansão conhecida.

Isso dito, é fácil concluir que a partir da expansão a Banda de Música dispunha de uma sala adequada para os ensaios e para a guarda do instrumental. Mesmo que duas Bandas tenham servido à corporação, o número desses artistas (ainda incerto) não era expressivo. Como se reconhece, um mesmo regente ocupava a direção dos dois conjuntos, enquanto estes existiram. E não foram por muitos anos.

A decadência estadual em função da bancarrota da borracha também quebrou a Força Estadual e sua corporação musical. Disso resultou a redução do número de policiais e, desse processo, tornou o aquartelamento bastante espaçoso. Era desse modo que a Banda prosseguia ensaiando no quartel da Praça da Polícia. Tamanha extensão no local possibilitou ao governo estadual, encampando o serviço de Bombeiros, abrigar este no mesmo quartel, ao findar dos anos 1910. Em 1924, a Rebelião de Ribeiro Junior apoderou-se do Palácio do Governo e do quartel da Praça, porém, somente transmudou a denominação da Polícia Militar. Tudo persistiu como dantes no quartel do capitão PM Martins da Silva, galgado ao posto de coronel pelo Governador Militar.

A ditadura de Vargas extinguiu a Força Policial do Amazonas, no final de 1930. Sem dúvida, a música atravessou o ritmo ao perder o local de trabalho, a sala de ensaio e, pior, o soldo. Os músicos, que não se retiraram de Manaus ou assumiram outros empregos, como um bando, seguiram tocando para sustentar a si e aos familiares. Contam as pontes de Manaus que estes se apresentavam até nas esquinas, daí a alcunha granjeada: “banda dos abandonados”.

Decorridos seis anos, a Força Policial foi restaurada. Consolidado o decreto governamental, o comandante da corporação, entusiasmado ao extremo pela venturosa conquista, deu-se conta de que não possuía quartel. O da praça transmudara-se em Escola Normal e Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Restava somente a Invernada, espaço localizado na Praça 14 de Janeiro, onde funcionara a cavalaria e, em razão disso, era conhecido por “Piquete”. Ponto de referência: área da Maternidade Balbina Mestrinho e do, em nossos dias, quartel do CPM (Comando do Policiamento Metropolitano), que já foi da Rádio Patrulha, do 4º BPM e outros quejandos.

O jeito manauara, todavia, funcionou para aquartelar os policiais, tão reduzidos por ocasião dessa restauração. O comando da corporação ocupou o quartel do Corpo de Bombeiros, então funcionando na avenida Sete de Setembro. Lembro que este edifício foi ocupado por estes abnegados até o ano de 1974 e que, atualmente, o prédio arruinado encontra-se bloqueado por tapumes, em vias de desmoronar.

Diverso do quartel da Praça da Polícia, o da avenida Sete era bastante acanhado para o efetivo que foi obrigado acolher. Por isso, não tenho como assegurar que a Banda ali se instalou e, pior, se pode ensaiar, mesmo que precários fossem os músicos. Dois anos adiante, porém, o quartel da Praça foi parcialmente liberado, quando o Grupo Escolar foi transferido para a avenida Joaquim Nabuco, onde ainda se encontra. A tropa da Polícia, então, retornou ao térreo do velho “ninho”, com a atravancada situação de que o salão superior seguia tomado pelas normalistas. Como ensaiar? Sem perturbar as alunas da Escola Normal? Não há informação. Apenas conjecturas.

Músicos posam para foto na década de 1950

É sabido que, em 1940, o Governo deu início à construção do Instituto de Educação do Amazonas (IEA), concluído dois ou três anos depois. E mais. Os policiais deram substancial ajuda na edificação, a fim de se verem libertos das normalistas. Ufa... Em 1942, no comando do major EB Gentil João Barbato, a Banda de Música ocupou então uma ampla sala de “canto”, da qual se divisava Praça da Polícia e a Rua José Paranaguá. Salão de cerca de 90 metros quadrados, suscetível de abancar com relativa comodidade e técnica os músicos nos ensaios e apresentações. O salão dispunha ainda de uma reserva para a guarda de instrumentos e materiais administrativos. Finalmente, um salão para chamar de “seu”.

A despeito de oferecer restritos elementos técnicos e básicos, este espaço atendeu à corporação musical por extenso período. Acola a encontrei ao ingressar na PMAM, em 1966, sob a regência do tenente Ernani Puga (1963-67). O comandante-geral, tenente-coronel EB Paulo Figueiredo, rearranjando as dependências internas, em 1972, repaginou o centenário edifício. À ocasião, a Banda iniciou um périplo sinistro, ao ser transferida para o quartel construído no bairro de Petrópolis, destinado à sede da corporação. (segue)

terça-feira, novembro 15, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (10)

Em prosseguimento com a exposição acerca da Polícia Militar do Amazonas no período provincial, associado às efemérides mais destacadas do Estado, compartilho novo tópico do livro Guarda Policial (1837-1889). 

Comandos parciais

Como medida usual, o presidente da inaugurada Província elabora um Relatório, datado de 30 de abril de 1852, a fim de notificar ao governo de Sua Majestade a instalação da nova divisão territorial. O critério adotado por Tenreiro Aranha é franco: rescreve as informações contidas na exposição do governante paraense e, em seguida, anota as disposições tomadas.  Comando parcial” foi a denominação empregada para explicar a presença de guardas policiais em qualquer localidade amazônica. Como não havia comando unificado, a solução foi designá-las pela localidade onde atuou.

Fragmento da capa do livro ainda no prelo

Neste documento, Tenreiro Aranha ratifica a criação de “22 comandos parciais” de Guarda Policial, conforme a legislação referida, embora, “atualmente só seis se acham preenchidos”, sem, no entanto, esclarecer as localizações. A despeito de o presidente paraense julgar desnecessários esses “comandos parciais’, Tenreiro Aranha, com efetivo militar aquém do requerido, e enquanto aguarda o reforço pretendido junto ao Ministério da Guerra, vê-se obrigado a empregar Guardas Policiais na manutenção dos lindes provinciais amazonenses.

Vasta documentação segue apensa a este Relatório, sendo possível identificar ao menos duas localidades amparadas por fração de Guarda Policial. Uma, “na freguesia de Alvelos”, hoje município de Coari, cuja companhia era comandada por um capitão (não identificado); a outra, situada em Borba, cuja fração recebe ordem para reforçar o destacamento de Maturá(?). Enfim, pela Ordem do Dia de 22 de janeiro de 1852, a presidência da província determina que todos os praças pertencentes à Guarda Policial, ainda que de folga e em destacamento, “façam exercício três vezes por semana”.

Documento nº 12

Neste sentido a portaria ao capitão comandante da companhia de Guardas Policiais da freguesia de Alvelos ou Coari...

Documento nº 15

(...) mandando reforçar o destacamento do ponto de Maturá com um oficial inferior, um cabo e 16 soldados, da companhia de Guardas Policiais de Borba, com vencimentos de 1ª linha. Ver cap. 2º, título 6º, Lei 602, de 19 de setembro de 1850, e instruções do Decreto 722, de 25 de outubro de 1850.

Ao descrever a força militar de linha na Província, Tenreiro Aranha identifica as corporações localizadas e quantifica seus efetivos (12 oficiais de várias classes, nenhum de primeira). O 3º Batalhão de Artilharia, que fora comandado pelo tenente-coronel Floriano Peixoto (1871), deixara “para trás 39 praças em destacamentos”, quando esta unidade fora deslocada para Pernambuco. Portanto, não havia efetivo quer para assegurar as fronteiras, quer para policiar a capital ou marchar com a Guarda Nacional “em qualquer ensejo”.

A capital com uma população de cerca de 20 mil habitantes exigia “uma guarnição suficiente para os serviços diários da praça, que são Guardas, Reforços, Rondas e Ordenanças”. Enfim, o presidente confirma que “toda essa força militar estava sob o mando de um Comandante-Geral Militar, que ultimamente era o tenente-coronel de artilharia Albino dos Santos Pereira; oficial de merecimento distinto, a quem fiz saber que devia seguir para o comando que lhe fora designado por decreto de Sua Majestade, o Imperador.”