RODOVIA PURUS-MADEIRA
Em 1912, quando se tratava
de executar a tristemente célebre Lei de Defesa da Borracha, em que foram
gastos mais de dez milhões de cruzeiros do Governo Federal, sem proveito algum,
surge, na Câmara dos Deputados federais, um "Memorial" de negociantes
do Acre, propondo-se a construir uma estrada de ferro com início em Lábrea. E
diz: "A construção da estrada, que partindo de Lábrea, no Purus, vá até ao
Acre e ao Iaco, com um ramal para o Xapuri, não apresenta grandes dificuldades.
Teremos a transportar toda a borracha colhida no Abunã, Tauamano e Caramano, da
Bolívia, pois a estrada passará a 30 quilômetros, no máximo, do primeiro destes
rios e quase que acompanhará as suas margens" (Memorial apresentado ao Congresso Nacional. — Rio de Janeiro,
1912, p.7).
TENTATIVAS
ATUAIS
Decorridos mais de 40 anos
(desde 1912, último gesto pró-ligação), ressurge e, desta vez, cremos, com
vitória certa, o pensamento de Tenreiro Aranha, Labre, José Monteiro e
Jaramillo. Sim. Cremos no firme propósito de Álvaro Maia, governador do Estado;
cremos na enérgica e honesta disposição de ânimo de Xenofonte Antony,
incansável diretor da Comissão de Estradas de Rodagem do Amazonas; e, cremos,
finalmente, nos abundantes recursos da Comissão.
A perseverança, quando
justa, sempre vence. Não é só. Temos, no Projeto da Lei Orçamentária Federal
para o exercício de 1953, a consignação da verba de Cr$ 1.500.000,00 para a
abertura de uma rodovia do Acre ao Abunã, comunicação que já existe em estado
incipiente, pela qual transita muita borracha daquele Território, ao tempo da
estiagem.
GEOGRAFIA
LOCAL
A imensa região que a
rodovia Lábrea-Humaitá ou Lábrea-Foz do Abunã deve atravessar, entre as bacias
do Purus e do Madeira, está compreendida entre os paralelos 7 e 10 graus de
latitude Sul. O Purus, nesse trecho, tem numerosos afluentes, dos quais se
destacam, por sua extensão e volume, o ltuxi, o Mari e o Mucuim, além do
Ipixuna, que ultrapassa, rumo norte, o paralelo 6.
Comendador José Francisco Monteiro, fundador de Humaitá (AM) |
No entanto, o Madeira,
nesse mesmo trecho ou seja na sua margem esquerda, é pobre de tributários
caudalosos, apenas igarapés, com exceção do Abunã, muito mais à montante da primeira
cachoeira. Esses rios, na linha da projetada estrada Lábrea-Humaitá, são quase
todos paralelos e separados por planaltos de campinas e matas, sendo que o
Ipixuna (ou Paranapixuna) dista do Madeira apenas cerca de 30 quilômetros.
Os exploradores encontraram,
nas orlas marginais, muita borracha e castanha. Há uma divisão de águas entre
os confluentes do Ituxí e dos demais que se lançam à jusante da Lábrea. É um divortium muito longo, mas de
insignificante altitude, em direção à foz do Abunã. Seria este o traçado, a pé enxuto, da estrada idealizada pelo coronel
Labre, também em terras de campos de pastagens, tendo cerca de 260 quilômetros.
De Lábrea a Humaitá há 160 quilômetros. Mas, carece de um ramal para o Abunã.
O inverno começa, na zona
em apreço, em novembro e vai até maio. Em junho, os rios internos estão no
apogeu de suas enchentes, por isso, francamente navegáveis até muitos
quilômetros das respectivas embocaduras.
Os rios Ipixuna, Mucuim,
Marí e outros, pouco estudados no seu curso superior, não devem fazer exceção
aos demais da Amazônia, em cujas margens alagadiças, em muitos trechos, se
estendem igapós e pântanos facilmente contornáveis. Nenhuma vez os exploradores
fazem menção de corredeiras, nem de terras acidentadas, senão de chapadas de
dorsos suaves. Tudo persuade e define a feição da planície, que um dia os
canais ou as rodovias podem dominar, de um rio a outro. (...)
As riquezas naturais são a
borracha, a castanha, as madeiras de lei, o cacau silvestre, o cumaru, tudo
ainda pouco explorado, mesmo nos rios de fácil navegação como o Mucuim e o Mari
(município de Canutama). A pesca do peixe-boi, do pirarucu e da tartaruga dão
grandes resultados no comércio e na alimentação das populações ribeirinhas,
igualmente a caça dos veados e das queixadas.
As terras referidas
compreendem parte dos municípios amazonenses de Canutama e Lábrea, no Purus, e
Humaitá, no Madeira.
RESULTADOS
ECONÔMICOS
Repetimos: o
estabelecimento da via férrea Madeira-Mamoré, servindo um percurso de 366
quilômetros de Porto Velho à Guajará-Mirim, não anulou a necessidade da ligação
terrestre do Madeira ao Purus, como escoadouro de gado e das riquezas
florestais do Beni, Orton, Abunã e do próprio Madeira, nos pontos accessíveis
àquela via férrea, de fretes caríssimos. Continua, maior do que outrora, essa
necessidade, no que toca às relações de comércio nos dois grandes rios, pois
que, enquanto os produtos extrativos que descem o Purus se carreiam para
Manaus, os do Madeira têm mais ensejo de descer para Belém.
Ademais, é conveniente
lembrar que o Rio Abunã avizinha-se bastante do Ituxi, como este do Acre, ao
qual se podem ligar, por estrada de rodagem, de menos de uma centena de
quilômetros, estrada de evasão de sua borracha ao tempo do estio, quando
aqueles rios se acham fechados à navegação direta com as praças de Manaus e
Belém.
O escopo mais acentuado do
coronel Labre, na construção da estrada Abunã-Lábrea, há mais de 70 anos, era a
condução de gado da Bolívia, através do rio Orton, para a região dos campos
naturais do Pussiari, fundando fazendas de criação. A esse tempo, como já
dissemos, uma rês adulta, em estabelecimentos bolivianos, custava dez
cruzeiros, enquanto que, no Amazonas, cem. Hoje, muito mais do que aquela
época, o Estado carece abastecer seus matadouros de gado da Bolívia.
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