CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, outubro 21, 2017

POESIA DE JORNAIS (IV)

Ontem foi o Dia do Poeta, todavia deixei para hoje registrar minha homenagem aos homens e mulheres que tornam em rimas tanto nossos sucessos quanto nossas dores. Enfim, produzem uma arte de difícil execução. Certo que muitos a desafiam, contudo, o resultado nem sempre satisfaz.

Dessa maneira, ilustro esta postagem com o trabalho de dois poetas, desconhecidos: Aldévio Praia e Osório Honda, os quais nos idos de 1950 publicaram em jornais da cidade seus devaneios. Nada sei deles. Seus trabalhos estão dispersos nos periódicos arquivados. Apenas do primeiro sei que foi deputado estadual.




Recorte do Jornal do Commercio, 11 janeiro 1955



Reminiscências

Aldévio Praia



Era de tarde, quando o sol morria
E a branca neve embalsamava os ares,
Que a morna brisa, perto a ti, dizia:
"O ocaso é lindo como os teus olhares".

Longa tarde de amor. A cotovia,
Limpando os castiçais de seus altares,
Cobria as franjas do céu com a poesia
Que a solidão desenha nos palmares.

...Por fim te foste. E mais, hoje, não vejo
Teu doce olhar que a tempestade acalma;
E penso, à tarde, quando o ver desejo:

Que quer meu estro, enfim, à esta hora triste?
Serão teus olhos que ele sente n'alma
Ou os lábios teus após que tu partiste?!


Vide O Jornal, 30 maio 1965



Na Baía do Rio Negro

Osório Honda
(do Amazon Garden) 30-1-1956


Na fadiga da "correnteza da humanidade"
Sentei-me no cais da Manáos Harbour
Para tomar um cunho de vaidade
Que faz a alma do homem ressuscitar

Donde tu vens
Sonho longínquo do Cucui?
Como é que tu formaste
Do negro suco do açaí?

Ouço a emoção da tua poesia
Que me narrando história da terra
Sussurra destino do homem
Como o vento da palmeira que vai e vem.

O amigo Vicente Reis gostava de manga
E o Archer Pinto, de ata,
Só eu sobrevivo no canto da baía
Molhando seus túmulos com poema.

Dou um beijo no teu sorriso
No Sol do jardim da Catedral,
Outro abraço vai no teu choro
Na sombra do Cruzeiro do Sul.



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