CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, abril 30, 2022

ALMOÇO DA AVC

Ontem (29) ocorreu mais um encontro dos coronéis veteranos da Polícia Militar, e o número de comensais foi expressivo. A coordenação do evento conseguiu retirar de casa alguns impertinentes “domésticos”. A farra ocorreu no “Lenhador” e foi de bom tamanho e de boas risadas, em particular as gargalhadas do amado Torres. Assinaram a lista de presença: Osorio Fonseca| Ruy Freire| Romeu Medeiros| Mael Sá| Cavalcanti Campos| Odorico Alfaia| Eber Bessa| Deusamar Nogueira| Ewerton Amaral| Marinho Alcantara| Vital Menezes| Pereira da Encarnação| Chagas Pereira| Frandemberg Maués| Silvestre Torres| Ary Renato| Adson Costa e Silva| Luís da Rocha| Ronaldo Toledano| Cauper Monteiro| Edmilson Nascimento| Roberto Mendonça e Zé Alberto.

Arnaud, Macedo e Cabral no quartel do
então Corpo de Bombeiros/PM

O evento serviu para relembrar o falecimento de um camarada: coronel Arnaud Barbosa, fato acontecido em Fortaleza, onde residia, mas que foi sepultado em Manaus, com as honras de praxe. Em complemento, compartilho a oração divulgada por outro veterano, coronel PM/BM Levy Marques Sobreira, que a torno minha:

Amigos veteranos da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) e do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), hoje é um dia triste para nós devido a separação da matéria de um grande amigo: coronel PM e CBM, sim, posto que em ambas as corporações Nestor ARNAUD Barbosa serviu com amor e dedicação. A ocorrência é motivo também de alegria, visto ele ter sido presenteado com a vida eterna que Deus promete aos seus seguidores.

Arnaud sempre foi um sujeito alegre, brincalhão, gozador, bom de bola, bom companheiro. Saudades ficam, tristeza não, a vida da carne acabou, porém o espírito vivo permanece e nos serve como protetor.

Arnaud, bons momentos vivemos aqui e são eles que guardarei como lembrança. Obrigado pela sua amizade. Kelly e Eduarda, meus sentimentos por tão grande perda, todavia, vocês são muito fortes pela maravilhosa estrutura cristã em aceitar as decisões divinas. A todos os familiares do Arnaud os meus sentimentos.

Acima, Arnaud (com a mão na bola) no juvenil do Nacional FC
abaixo (à esq.) em congresso ao lado do tenente Levy


quarta-feira, abril 27, 2022

MANAUS: A SITUAÇÃO DO TRÁFEGO

 Transcrito ou, como se diz, compartilhado do Jornal do Commercio, circulado na festa da Padroeira,

8 de dezembro de 1962.

Recorte do mencionado matutino

ESTÁ em curso na cidade mais uma campanha esclarecedora do tráfego feita com a melhor das intenções, como tantas outras, mas de resultados duvidosos. Dizemos assim porque todas as anteriores,  principalmente a penúltima sob os auspícios do Lions Clube e do DAERA [antecessor do DERAM], redundaram em completo fracasso se levarmos em conta as estatísticas relativas ao número de acidentes.

ESTÁ visto que os condutores de veículos, que por falta de vocação para a profissão ou por irresponsabilidade, ocasionam desastres e levam a morte e a dor aos lares de tantas famílias, estes não ouvem ou fingem que não ouvem as recomendações, os conselhos, as instruções dos promotores de tais campanhas, que sempre merecem o apoio incondicional da Delegacia Especializada do Tráfego.

ELES PREFEREM correr o risco e ameaçar o povo com as suas infrações às leis que regulamentam o trânsito dos veicules. As penalidades que sofrem são fracas para a magnitude dos danos que provocam e daí as reincidências, os abusos, com todas as suas consequências negativas para uma boa ordem nesse problema vital e segurança do público.

É PRECISO estabelecer um regime severo de multas, nas bases do que está sendo feito agora em São Paulo, onde as novas sanções se elevam até cem por cento do salário-mínimo, aos que dirigem sem carteira de habilitação ou em estado de embriaguez, aos que forçarem a passagem entre dois veículos, ultrapassarem outro em curva, ou ainda não prestar assistência às vítimas de seus atropelamentos. Para os casos de menor importância, como um simples avanço ao sinal a multa se eleva a mais de dez mil cruzeiros.

COM UM TAL regime de sanções é possível que em grande parte se consiga reduzir o número de acidentes em Manaus. Com simples conselhos, como nas campanhas que temos visto e até mesmo nelas colaborado, os resultados têm sido nulos ou quase nulos. O único rendimento realmente aproveitável é o que se relaciona com o público, orientando-0 no sentido de fazer com segurança o cruzamento das ruas.

segunda-feira, abril 25, 2022

ANÚNCIOS NATALINOS

 Ainda como produto de minha catação de papéis, encontrei estas propagandas (terminologia de anteontem) ao revirar os matutinos de dezembro de 1962. Meu objetivo era as notas jornalísticas sobre o desastre do Constellation PP-PDE da Panair do Brasil.

Reveillon de sucesso (acima)
e rádio transistor no Benchimol



sábado, abril 23, 2022

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO

A homenagem a esta data saiu de produção doméstica. CHICUTA: breve história de vida, imenso legado de amor. (Niterói: Ed. do Autor, 2022) foi produzida por meu irmão Renato Mendonça. Chicuta era o apelido familiar de nossa mãe Francisca Pereira Lima. 
Capa do livro

A filha de cearenses fugidos da seca e instalados no lago do Anveres, no município do Careiro, constituiu com o peruano Manuel Mendonça, fugido do lago Caballo Cocha, a família da qual muito nos vangloriamos.

Renato caprichou na pesquisa e assim marcou com sua produção este Dia Internacional. Parabéns, meu irmão!

Dois trechos do Posfácio, escrito pelo
primo de 2º grau



sexta-feira, abril 22, 2022

PANAIR DO BRASIL: CONSTELLATION

 Envolvido em escrever uma retrospectiva sobre o acidente de aviação com o Constellation PP-PDE da Panair do Brasil nas cercanias de Manaus, em 1962, deparei com esta notícia. Diz respeito à inauguração do aeroporto de Ponta Pelada, em 1954, realizada pelo presidente Getúlio Vargas. A ocasião serviu para mostrar pela primeira vez em |Manaus a enorme aeronave, semelhante a que se desmanchou na "Clareira do Avião".  

Cuido deste trabalho para relembrar o trágico acidente com perda total, em que morreram todos os ocupantes: 50 pessoas. Com esse número constitui-se no maior desastre de aviação no Amazonas, quem sabe, na Amazônia.



terça-feira, abril 19, 2022

PMAM: FORMAÇÃO DE OFICIAIS (1ª Parte)

 Antecedentes

 A formação de oficiais concretizada na própria Polícia Militar do Amazonas suportou alentado retrocesso (e quanto!), ultrapassando várias fases até o funcionamento de sua Academia, em 2002. Não obstante a longa existência, posto que a corporação fez seu advento em 1837, antes mesmo da instalação da província amazonense, em 1852. A indigência da província logo impôs a dissipação da Força Estadual, até que em 1876 esta foi recomposta e, desde então, segue assinalando respeitosa presença nos espaços amazonenses.

A fim de instruir este levantamento, cabe inquirir: como a corporação provia seu corpo diretivo, ou seja, como se aparelhava quanto aos oficiais? Refiro-me ao primeiro instante de sua organização, inda no Lugar da Barra, a denominação primitiva de Manaus, que crescia na beira do barranco, cercada de igarapés e das diversas etnias em sua ilharga. Distante de tudo e de todos, Manaus somente podia contar com material e pessoal militar escassos, porém. A segurança pública era efetivada pela Força Terrestre, com uma marcante deficiência de pessoal. Reservado aos homens, poucos eram os voluntários para o serviço de vigilância pública, desse modo, restavam engajados os analfabetos e os arrivistas (alguns estrangeiros). 

Presente em álbum de 1908, antes da construção da praça

A extração do látex trouxe um descomedido alento ao território na virada do século 20, na qual a fortuna corrente impulsionou a administração pública em todos os rumos, atraindo imigrantes daqui e de além-mar. Evidente que a Força Militar Estadual foi contemplada. Com a instalação da República (1889) e o usufruto da “fase áurea da borracha”, o estado do Amazonas tomou pujante impulso. Vejamos apenas a evolução da Polícia Militar, então denominada Regimento Militar do Estado, título este conservado entre 1896 e 1906.O corpo de oficiais era integrado por oficiais do Exército, em particular no comando, e de cidadãos escolhidos ou indicados ao governante, segundo lhe permitia a legislação, e, enfim, os provenientes da classe subalterna dos sargentos. No fundo mesmo, as promoções ocorriam em função da afeição e do compadrio (no linguajar castrense: da peixada). Portanto, inexistia a formação de oficiais.

Encerrado o boom da goma elástica (cerca de 1920), quando a benfeitora exploração da borracha mudou de continente, a derrocada financeira tomou conta do Estado. Órgão estadual, a Força Pública foi no banzeiro: no período em que esteve desativada (1930-36) teve redução de efetivo e de soldo até alcançar o fundo do leito do igarapé na metade do século passado. O balizamento desse descalabro pode ser notado pelo “efetivo previsto para o exercício de 1950”, contados em 326 homens (lei 438/49).

Desativada em novembro de 1930, o Amazonas prosseguiu sem força policial. Consolidando os esforços da Câmara Federal, no início de 1936, Getúlio Vargas promulga a lei 192, de 17 de janeiro, com a qual “reorganiza pelos Estados e pela União, as Polícias Militares, sendo consideradas reserva do Exército”. Entretanto, o interventor Álvaro Maia já havia sancionado a Lei 55, de 31 de dezembro, em que “restabelece a Força Policial do Estado”, posto que não se tratava de estruturação. Uma das diretrizes (art. 1º) estabelecia que sua implantação ocorresse em até seis meses, todavia, o imperativo de policiamento e o grande afã de seus ex-integrantes contribuíram para que, em 20 de abril, a Força retornasse às atividades. 

No bojo desta legislação federal encontram-se regras, ainda que indiretas, sobre a formação de oficiais. Nela ficou estabelecido que, após 5 anos de existência desta legislação federal (art. 25), “só concorrerão ao provimento das vagas de segundo tenente, os candidatos que possuírem o Curso de Formação de Oficiais, de sua corporação ou da Polícia Militar do Distrito Federal; (...)”. Não foi dessa vez que algum candidato acudiu à vaga inicial do oficialato portando o CFO, até porque o decreto-lei 1.623/39 revogou o citado artigo.

Dez anos depois, nova alteração ocorreu na lei de reorganização das Polícias Militares. Com o país alforriado do governo ditatorial de Getúlio Vargas, Gaspar Dutra baixa o decreto-lei 9.460/46, alterando o art. 8º, sem que modifique o entendimento sobre a promoção aos candidatos a 2º tenente, que persiste “por merecimento intelectual”. Concurso neles, pois! Na contramão, a Força Estadual amazonense como não possuísse recursos para implementar essa decisão, prosseguia com o preceito consuetudinário, aproveitando os sargentos e os “indicados” para o quadro de oficiais.  (segue)

sexta-feira, abril 15, 2022

SEMANA SANTA PASSADA

 Estive pela manhã rememorando os atos religiosos da Semana Santa ao tempo em que frequentei o Seminário São José, na década de 1960.

Na Quinta-feira acontecia a benção dos Santos Óleos, material que escoltava o católico do batismo à sepultura. Na Sexta-feira ocorria a Procissão do Senhor Morto, encerrada na Matriz da cidade, e seguida do velório. A cerimônia da Ressurreição acontecia no Sábado, no final da noite. Isso mesmo, pouco antes da meia-noite os oficiantes e os acólitos circundavam a igreja, que tinha as luzes apagadas para representar as trevas, o sepultamento do Senhor. Diante da porta principal, o bispo, tomando o báculo, batia três vezes na porta. Aberta esta, as luzes eram acesas e a solenidade prosseguia. Aleluia!

O texto reflexionável pertence ao Renato Mendonça, o irmão que comigo frequentou o Seminário. E o quadro da Santa Ceia é obra do artista Jurandir Macedo, oficial reformado do Exército, que fez doação ao quartel do 1º BIS(Amv). 

Feliz Páscoa!

  


Reflexões sobre a Santa Ceia

 Renato  Mendonça

         Antes da sua derradeira Festa da Páscoa, Jesus reuniu seus discípulos para uma confraternização. Apesar de toda a dificuldade de logística, arranjaram-lhe um lugar onde pudesse reunir a todos e encaminhar seus extremos ensinamentos neste dia característico; e foram, talvez, os mais emblemáticos para o futuro de seus discípulos, transformando-se num paradigma para suas pregações.

A Santa Ceia e o tríduo pascal nos remetem a profundas meditações e nos convida a uma autópsia espiritual de nós mesmos, para avaliarmos se todos os símbolos gerados nestes dias estão arraigados em nossos corações; se suas lições foram assimiladas.

Jesus usou coisas básicas da alimentação, o histórico pão que nutre o corpo desde os primórdios, desde o Antigo Testamento, quando serviu de maná no deserto e salvou o povo hebreu enquanto se conduzia para a Terra Prometida. Abstraímos também dessa passagem antiga, a mensagem a um povo que busca salvação. — Isto é o meu corpo, que será dado em favor de vós; façam isso para celebrar a minha memória. (Lucas 22:19-20).

O vinho representa o sangue, e serve para saciar a sede; a sede de justiça, e o resultado da luta em favor dos mais fracos e oprimidos. Tem sua relação também com o sacrifício, como era o dos animais citados na Bíblia. Agora, o sacrificado é o Cordeiro de Deus, o símbolo máximo da resignação — Pai, afasta de mim esse cálice, mas não seja feita a minha vontade, senão a Vossa. (Mateus 26:39) —, mas também, fé e esperança. — Eu sou o Pão vivo que desceu dos céus, quem come da minha carne e bebe do meu sangue terá vida eterna. (João 6:51).

Além desses emblemas latentes, há os gestos divinos de Jesus carregados de amor e doação total. O Mestre tirou o manto, derramou água numa bacia e cingiu-se com uma toalha; agacha-se e se curva para lavar os pés dos seus discípulos. Um gesto que denota ao mesmo tempo nobreza e humildade, aquilo que devemos praticar no nosso relacionamento humano. Ele quer nos ensinar que, quando for oportuno, precisamos servir ao próximo, um amor incondicional, independente de reconhecimento ou de recompensa. — Também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós”. (João 13: 12-14). É curioso observamos que Pedro estranhou esse gesto de Jesus: “Senhor, tu vais lavar-me os pés?” E Cristo, com toda sobriedade e sabedoria, contestou: “Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”.

A estranheza do apóstolo era porque fugia aos costumes praticados pelos judeus; era costume oferecer água para lavar o rosto e pedir para um escravo lavar os pés do hóspede. Pedro apenas pensou na lógica comum: o menor serve o maior; o servo, o Mestre. Mas, Jesus justifica a atitude: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Com esse rito do “lava-pés” contemplamos o gesto divino e humano de Jesus, um gesto carregado de amor em que o evangelista João descreve a mais rica interpretação teológica.

Outro princípio divino, humano e fraterno que podemos aprender sublimemente desse encontro de Jesus com os discípulos é o “repartir o pão”. O gesto carrega em síntese o que já fora praticado tantas vezes na sua vida eucarística. Como por exemplo, quando distribuiu pães e peixes a uma multidão faminta que ouvia sua pregação, também num período que antecedia a Pascoa. (João 6: 1-15). A atitude simboliza o sentimento de solidariedade, de fraternidade e de igualdade. Quer nos mostrar que somos iguais aos olhos do Senhor, sem discriminação. Observe que Jesus, mesmo conhecendo a intenção de Judas Iscariotes, de entregá-lo às autoridades romanas, não o segregou dos seus discípulos. E ainda proferiu a célebre lição de vida: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. E como Jesus amou!    

Na Santa Ceia, nosso grande Mestre sela uma divina e eterna Aliança, sintetizada naquela singular celebração, para se perpetuar na História.

E o pão a ser partido é o Pão da Vida!

terça-feira, abril 12, 2022

BANDA DE MÚSICA: BOMBEIROS DO PARÁ

 Compartilhado do livro O Corpo de Bombeiros do Pará. 2ª ed., de José Menezes, editado em 2007, e o fiz não para desmerecer ao maestro, mas para lembrar a passagem de um Itacoatiarense pela batuta militar em Belém. Não obstante minhas súplicas ao historiador da Velha Serpa Francisco Gomes, nada sei do Bruce. Fica o registro. 

A musa existente na
praça diante do antigo Paço Municipal

Começa nessa época um período de lutas políticas e revoluções, restando desse tempo pouquíssima informação sobre a Banda de Música.

Em 1917, era diretor da Banda de Música o 2° tenente Themistocles dos Santos Bruce, um amazonense de Itacoatiara. "Era um analfabeto, carrancista como um capataz de engenho do Brasil colonial..." descreveu-o o tenente Drago, acrescentando: "Desenhava o nome... Não lia os conteúdos alfabéticos, mas lia bem música e tinha o dom de decorar a instrumentação das peças que regia, a ponto de sentir, de ouvido, quando um músico deixava de tocar ou tocava mal alguns compassos ou trechos da partitura"

segunda-feira, abril 11, 2022

FAMÍLIA PAULA E SOUZA (2)

 Levou algum tempo até que eu cumprisse a promessa de publicar novamente sobre a família Paula e Souza, cujo o segundo capítulo diz  respeito ao Tupinambá de Paula e Souza. 

Tupinambá de Paula e Souza (1915-1995)

Estimulado a buscar dados desta família, logo dei de cara com um Paula e Souza, falecido coronel da PM amazonense, portanto, meu precursor no quartel da Praça da Polícia. Possuía um nome bem singular: Tupynambá. Nasceu no Amazonas, mas ainda não se encontrou a localidade (acreditando a viúva que tenha sido em Manicoré), em 8 de novembro de 1915, sendo o primogênito de Pedro de Paula e Souza e Leonor dos Santos e Souza.


A fim de melhor possibilitar o entendimento sobre o avanço de Tupinambá, recordo que Ramayana de Chevalier, filho de Raymunda de Paula e Souza, nasceu em Manaus, em 1909. Acredito que eram primos, basta observarmos as idades e, acima disso, o sobrenome dos pais. E mais, a fisionomia, a cara de ambos.

Rastreando o arquivo central da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), ora “encostado” ao Palacete Provincial, deparei com o ingresso de ambos nesta corporação. Os dois chegaram em abril de 1936, quando Ramayana, já formado em Medicina, e amparado pela amizade paterna angariada na praça de Manaus, conquistou o cargo de chefe do Serviço Médico, com o posto de capitão da Força Estadual. Tupinambá, ignorando o grau de instrução escolar, aos 21 anos de idade, foi incorporado como soldado, após cumprir o serviço militar no legendário 27 BC, instalado no hoje Colégio Militar de Manaus, em 1934.

Coincidência: os primos chegam na mesma ocasião, ao mesmo emprego. Apenas a variação escolar modificou o lugar hierárquico. A próxima anotação sobre Tupinambá, datada de 07|12|1939, registra que ele conquistou um cargo no departamento de Finanças (atual secretaria de Fazenda), encargo que lhe traria benefícios financeiros ao se aposentar. Deixou a Força e foi pra Fazenda? É plausível. Todavia, três anos depois (22|06|1942) pode ter feito o trajeto oposto; por força de concurso (re)ingressa na Polícia Militar, agora na categoria de 2º tenente.

Em plena Segunda Guerra, Manaus sitiada pela carência de navios mercantes, o comandante coronel Gentil Barbato efetua concursos para reequipar o quadro de oficiais da Força Policial, a fim de cumprir as determinações elevadas que incluíam o controle do Porto e da venda de gêneros de primeira necessidade sob tabelamento.

Já era finda a refrega mundial, quando o tenente Tupinambá obtém promoção a 1º tenente - por merecimento, em 09|04|1946. Na oportunidade em que a ditadura de Getúlio Vargas foi suplantada, e, no Amazonas, Leopoldo Neves é eleito governador, empossado em 08|05|1947, a escolha dos prefeitos cabia ao chefe do Executivo.

Em documento arquivado – Almanaque – relativo a 1947, encontrei anotado: o capitão Ramayana seguia na chefia do Serviço de Saúde, e o 1º tenente Tupinambá na função de “subalterno da 1ª Companhia de Fuzileiros”, ambos com onze anos e meio de serviço. Para estes oficiais aquele ano tornou-se marcante: enquanto o capitão abdicava do Serviço de Saúde e deslocava-se para o Rio de Janeiro, o tenente deslocava-se para o rio Madeira, nomeado prefeito do município de Borba, nele permanecendo por dois anos. Ainda é daquele ano a anotação do próprio tenente indicando que residia à rua Manicoré, 252 – Cachoeirinha.

Quem terá indicado o tenente para este encargo? O capitão?  Estou crente que este dispunha de superior prestígio e influência, todavia, tenho que permanecer nas conjecturas. Ocorre que na barranca do Madeira, na cidade de Borba, morava Pedro de Paula e Souza, que fora prefeito daquela cidade em duas ocasiões: 1929-30 e 1932-33, e pode ter sido outro excelente cabo-eleitoral! Enfim, não custa lembrar os três oficiais que também administraram aquela Comarca: José Rodrigues Pessoa (que foi comandante da Polícia Militar); Arkibal Moreira de Sá Peixoto (filho do desembargador Sá Peixoto) e Sergio Rodrigues Pessoa Filho.

Nesse tempo, o capitão abandonou o emprego policial, desconheço quando, deixando Manaus para se engajar no jornalismo da então Capital Federal, onde combateu em defesa de Vargas e, a seguir, de Jango. Embarcou em Manaus acompanhado da esposa Neusa Magalhães Cordeiro, cujo casamento ocorreu em 1934, e os filhos Stanley e Ronald (o afamado Roniquito). Acolá nasceram as filhas: Barbara Beatriz (1950) e Scarlet Moon de Chevalier, em 12|09|1952 (e morta em 05|06|2013). (segue)


quarta-feira, abril 06, 2022

SOBRE FESTA NA ACADEMIA DE LETRAS

Acerca da festa promovida pelo Silogeu Amazonense para recepcionar ao acadêmico Ramayana de Chevalier, em 23 de abril de 1960, o deputado estadual Homero de Miranda Leão, jubilado cultor da poesia, publicou o artigo que aqui vai postado. 

Recorte de O Jornal, 26 abril 1960

A posse de Ramayana de Chevalier na Academia Amazonense de Letras, que tem a presidi-la esse admirável Salignac Souza, é, a qualquer exame, motivo de contagiante alegria e justificado orgulho, para todos nós. Vimo-lo, sobranceiro, assomar à tribuna do Silogeu, sentimo-lo, na intensidade emocional com que ele, a princípio, se dirigiu aos presentes, destacadamente ao nosso eminente governador Gilberto Mestrinho a quem "devia a graça" de estar ali, tomando assento na Cadeira outrora 5 ocupada pelo grande Adriano Jorge e que tem como patrono a figura ímpar das letras nacionais, que é Euclides da Cunha.

Era Ramayana que iria com as suas excepcionais qualidades de tribuno, escritor, poeta e pensador, encher de claridades aquele ambiente austero; era o homem de ciência, "possuidor de uma cultura humanística realmente invejável", conforme se expressou a seu respeito o saudoso mestre Péricles Moraes, em página lapidar, constante de um dos seus livros, que iríamos ouvir, naquela grande noite fulgurante.

E assim foi. Assim aconteceu. De Adriano Jorge e Euclides da Cunha, em sínteses prodigiosas e arrebatadoras, ocupou-se Ramayana de maneira exata e profunda, salientando-lhes o papel preponderante que representaram no cenário altíssimo das letras, demarcando épocas, na perpetuação do pensamento, e dentro das fronteiras próprias, que lhes destinaram as vocações. Euclides da Cunha exsurgindo, por inteiro, no estudo e na análise produzidos pelo novo imortal, que lhe apreciou as insuperáveis qualidades de sociólogo, escritor, antropologista, pioneiro de uma era nova, vexilário das angústias que sacudiam e ainda sacodem o nosso bravo habitante interiorano.

Com efeito, deram-nos "Os Sertões" a imagem dolorosa e injustiçada do homem das estepes nordestinas, dando-nos, por igual, a imagem do "martírio secular da terra". Para Euclides “o sertanejo é, antes de tudo um forte". Mas Ramayana assentou, qual um imenso foco de luz, -- e como se houve admiravelmente bem no apreciar esse aspecto do homem que "escrevia com cipó", -- a figura do autor glorioso de À Margem da História, vendo-o como o grande repórter, como aquele que, sob essa moldura luminosa e heroica nos transmitiu todas as mensagens da alma, do sofrimento e das esperanças coletivas. Sim, Euclides foi o imenso repórter, que daria ao seu século a obra que faria a glória de toda uma Pátria e de toda uma raça.

Quanto a Adriano Jorge, vimo-lo apreciado, a traços seguros, como o médico sábio, o homem de letras, o tribuno, o esteta, enfim; mas também como se aquele que, a um tempo, conseguiu ser grande e ser bom. A simples evocação da figura legendária do autor de Oração à luz fez-nos como que sentir a sua presença miraculosa, ali no templo das letras, arrebatando-nos com sua palavra escachoante, misto de luz e de prece; sol que doirava esta terra, e que possuía por igual a força dominadora de um evangelho.

Consolou-nos, portanto, vê-lo substituído por outro extraordinário talento, o qual, por certo, continuará a espargir as belezas e as cintilações, que constituíram dotes excelsos de seu antecessor. Está, portanto, de parabéns a Casa de Péricles Moraes, onde fulgem tantas inteligências e tantas cerebrações. Mas, não posso ao menos nesta oportunidade, de ensartar a estas despretensiosas linhas, as minhas sinceras congratulações a Gilberto Mestrinho, culto e dinâmico Governador, pois foi ele quem proporcionou a volta de Ramayana à nossa terra, numa a atitude reivindicatória, ao escritor, que durante tantos anos esteve à margem de cargos de relevo em nosso Estado.

E Ramayana ocupa, hoje, um dos setores de destaque na pública administração trabalhista. Diríamos, então, nesta hora, parodiando o grande e saudoso Leopoldo Peres, em se referindo a um pensador e polígrafo paulista, face ao poder de catalização de um estadista brasileiro, que não conseguiu o festejado autor de No Circo Sem Teto da Amazônia, esquivar-se ao faro psicológico, à imantação desse garimpeiro audaz, que é o senhor Gilberto Mestrinho, hábil no batear as gemas auríferas do talento, no joeirar o valor e captá-lo, onde quer que se ele encontre para obra coletiva do Amazonas.

Concluindo, presto igualmente a minha homenagem a Djalma Batista, à sua cultura poliédrica, ao seu espírito solar, sem esquecer a primorosa e invejável formação moral, que lhe serve de escudo. O seu discurso de recepção a Ramayana foi uma peça profunda, séria, estruturada naquela linguagem castiça, peculiar ao autor de Letras da Amazônia. Parabéns, Academia!


segunda-feira, abril 04, 2022

PMAM: 185 ANOS DE EXISTÊNCIA

Nem decreto existe para consolidar esta data, pois a Polícia Militar do Amazonas, com a denominação de Guarda Policial, surgiu em função de normas, melhor assinalando, de instruções para o combate aos cabanos (1835-40). Instruções Gerais emitidas pelo governo da província do Grão Pará, donde se vê que nem existia a província amazonense. Apesar dos detalhes, a corporação evoluiu entre avanços e tropeços comum em organizações; presentemente prossegue vitoriosa, modernizando-se consoante exige a Segurança estadual.

Para marcar a data, reproduzo símbolos da corporação e do  inesquecível quartel da Praça da Polícia.

Primeiro Distintivo de Braço,
criado em janeiro 1978

2º Distintivo, instituído em julho 1994

Distintivo atual, adotado em julho 2000

Capa da revista comemorativa dos
156 anos


sábado, abril 02, 2022

CLUBE FILATÉLICO DO AMAZONAS (5)

Os últimos aficionados filatelistas marcaram para hoje uma reunião no Palacete Provincial. Não deu, as chuvas impossibilitaram o papo e as conversas que temos exercitado, na tentativa de soerguer o colecionismo de selos em Manaus. Aliás, percebemos que a filatelia vem passando por tempos complexos, acontecem em todo o país. De outro modo. observamos a prática de venda por ofertas, por preço fixo, de todo tipo de material, por leilão ou por sites individuais. Ou seja, o selo vem circulando de outra maneira, apenas entre os iniciados. O objetivo premente do CFA é despertar novos colecionadores, como alcançar se nem carta se escreve mais? Este desafio segue em nossa pauta.

Para ilustrar esta postagem, reproduzo material filatélico do acervo do colecionador Jorge Bargas. São miniaturas de classificador que a empresa brindava aos clientes de então. Outro recorte mostra o anúncio da loja filatélica pertencente ao saudoso Joaquim Marinho. E assim vamos vivendo de recordações. Quem sabe, um dia...

Circulado na revista Teminas - 1988

Dedicatória do vendedor Getzel - 1984

Miniatura de classificadores (em cores)