CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, agosto 13, 2023

DIA DOS PAIS

 A postagem deste Dia pertence ao meu irmão Renato, que volta a nos deleitar com um texto digno de consideração

PAI DE VERDADE 2023


Apesar de Mendoza, ele é nosso Pai
- meu e do Renato Mendonça

Renato Mendonça

Neste Dia dos Pais, esquivando-me um pouco do senso comum, desejo fazer a priori uma homenagem às mulheres. A sabedoria popular diz que “por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher”. Não sei se esta máxima tem lugar-comum apenas entre casais, pode ser que ocorra nas diversas fases da construção humana. 

E, para ilustrar este meu singelo tributo, rememoro algumas grandes mulheres que “já se foram”, mas não foram esquecidas. Nem podem ser esquecidas pelo que representaram na sociedade familiar em que protagonizaram; pela altivez praticada e a tenacidade que produziram; pela disposição em amar incondicionalmente, feito mestras a me ensinar que o Amor é o pão da vida.

No meu ateliê, que costumo usar também como recanto de meditação, estão me esquadrinhando, velando-me com seus olhares vivos e maternais, três dessas personagens belíssimas de minha história. Três mulheres abnegadas, que deixaram um passado positivo em nossa mente e em nosso coração, e por que não dizer categoricamente, em nossa alma.

Dona Francisca Pereira Lima foi a luz que iluminou minha vida e me doou a seiva do amor materno. Poderia pensar que apenas isso já basta ao ser humano, mas não é só. Antes, trilhou um penoso caminho, perambulou com meu pai numa vida nômade, dando-lhe o suporte necessário para uma vida conjugal digna, e para um futuro promissor para os filhos ainda miúdos, fomentando a fé e a esperança, mesmo com sua curta biografia.

Dona Victoria Malafaya, de nome exuberante e curto, mas de longa história de vida e enorme sabedoria. Na sua analfabetíssima rédea de condução da vida, soube me mostrar seu conhecimento de mundo; ensinou-me que nossas limitações humanas não são impeditivas para o crescimento interior. Deu-me algum carinho e zelo que não pude receber da mãe. Minha avó teve um papel fundamental na construção do caráter humano. Renovou a cada dia minha força, injetando com seu jeito dissimulado de rudeza um ânimo para viver as asperezas da vida. E foi embora cedo, quando eu tinha apenas dez anos. Assim que se calou, revelou-me em sonho o seu gesto de amor e sua preocupação com meu futuro. Ensinou-me a ter fé, tanto quanto humildade.

Dona Doroteia Santos colocou-se na minha vida como uma mãe substituta, e tive o prazer da convivência por longos onze anos, dos meus oito aos dezoito, na exata fase da vida que precisava moldar minhas atitudes, eliminar meus medos e os fantasmas da adolescência. Ensinou-me a enfrentar as circunstâncias sociais mesmo na fase de dificuldades financeiras; a abraçar essas dificuldades para evitar que elas não saíssem do controle, em meio às ondas fortes ou ventos contrários, em meio a uma gestão familiar complicada pela falta de mercado de trabalho para meu sacrificado pai.

Fiz esse introito também para dizer que aos pais nossos de cada dia, cabe-lhes também essa justa homenagem. Enquanto a mãe é o suporte existencial para evitar que a figura icônica do pai tenha “pés de barro” — e se desmorone pelos desvios apontados para as arapucas da vida —, o pai de verdade tem a capacidade de, embora ausente, mostrar-se como presença onipotente, e ser antes de tudo um homem responsável. O pai de verdade é uma espécie de elo para concatenar a candura do amor da mãe ao desejo íntimo dos filhos; é o olhar de encantamento e sem censura pela peraltice dos filhos; é o coração macio que apaga esses pequenos delitos e os coloca na memória para contar no futuro. O pai de verdade é a experiência de vida que encoraja e estimula os filhos a criarem suas expectativas dentro de uma realidade humana. É a força e a fé para que os filhos não hesitem em suas decisões, quando das encruzilhadas do destino. Enfim, o pai de verdade é essa chama acesa que nunca se apaga, que ilumina como um clarão, sempre que é requisitado.

Ao pai de verdade é reservado o panteão dos homens ilustres e inesquecíveis mesmo depois de sua passagem para outro plano espiritual. Há um espólio a ser consumido durante a nossa vivência física; há lições que ficam marcadas e atitudes que ficam sublinhadas para ser usadas como modelos no tempo oportuno.

No universo bíblico do Novo Testamento, há diversos exemplos de atitudes humanas que reforçam a tese de que tanto o pai de verdade quanto a mãe de verdade lutam para preservar a integridade física dos seus descendentes. O capítulo 28 de Mateus narra o episódio da mulher cananeia que se prostra aos pés de Jesus para Lhe implorar a cura de sua filha: “Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim. Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio”. Depois de um pequeno diálogo, quando Jesus apercebeu-se de sua perseverança e humildade, lhe diz: “Mulher, grande é a tua fé; seja conforme desejas”.

O mesmo evangelista, no capítulo 17, cita o apelo de um desesperado pai que ajoelhado implora pela cura do filho: “Senhor, tem misericórdia do meu filho. Ele tem ataques e está sofrendo muito. Muitas vezes cai no fogo ou na água. Teus discípulos não puderam curá-lo”. Jesus vendo a fé do homem, ordena que a enfermidade mental deixe o corpo do menino que, imediatamente, ficou curado.

Sendo assim, a homenagem aos pais de verdade é por extensão uma homenagem às mães de verdade. Ambos, dentro do contexto bíblico ou do contexto da nossa sociedade familiar contemporânea, são dignos de deferência.

Sem um pai não há mãe; sem a mãe não há pai!

sábado, agosto 12, 2023

VELÓDROMO "ÁLVARO MAIA"

A lembrança de um local esportivo que marcou a cidade de Manaus, espalhando emoções próprias da época: o velódromo Álvaro Maia (então governador estadual), pertence ao Ed Lincon. A edificação em nossos dias desapareceu, substituída por construções modernas tendo como referência, a mais frequentada, o Habib's.


VELÓDROMO "ÁLVARO MAIA"

 O bairro da Cachoeirinha ganhou seu primeiro Velódromo em 1899 com o nome de “Recreio”. Construído por um grupo de comerciantes, esse velódromo recebia corredores estrangeiros e do próprio país. Naquela época, os entusiastas desse esporte locomoviam-se de país a país através de vapores, participando das corridas de bicicletas, motocicletas e Tunder (bicicleta comprida com três assentos).

Esse divertimento igualava-se ao futebol de hoje em que as famílias participavam animadamente torcendo por seus atletas favoritos. Alguns corredores marcaram época em Manaus, como: Neira, corredor espanhol; José Bento, português e Alcebíades Alves, brasileiro.

O Velódromo "Recreio" era o maior do Brasil, quando deixou de funcionar. Depois, no mesmo lugar, foi instalado o Velódromo "Álvaro Maia", todo construído em alvenaria pelo engenheiro Deodoro D'Alcântara Freire, em 1944, e concluído com ajuda financeira do então Interventor Álvaro Maia em 1945. Esse velódromo tornou-se o único no país e o segundo da América do Sul.

A frente dele ficava na rua Santa Isabel, os fundos na av. Costa e Silva e a lateral na rua Urucará. Funcionava nos finais de semana, feriados e comemorações festivas. Algumas vezes no meio da semana, tomava parte em algum evento importante.

Esse estádio velocipédico e recreativo tinha 1.430 m2 de área para patinação, ténis, boxe, basquetebol, voleibol e exercícios ao ar livre. A pista, magnificamente arquitetada por seu idealizador tinha 225m à corda e 35º de inclinação, além de possuir cabines, vestuário, banheiros, departamento médico etc.

Os tipos de corridas apresentadas nessa época eram as de motocicletas, marca Indiana; Harley-Davidson e velocete e as de bicicletas, próprias para as pistas, com aros de madeira, pneus de seda e pião preso com roda livre, isto é, sem freio. Das marcas utilizadas eram as mais comuns a Pejour e a Raleg.


O velódromo também oferecia outras atrações como competição de patins e demonstração de patins rebocado à motocicleta. Algumas vezes, na área central, um ringue era montado para a realização de lutas livres, boxe e jiu-jitsu. Possuía as seguintes classes de corredores: corridas de fundo com uma média de 30 a 40 voltas aproximadamente; corridas as de velocidade de 3 a 4 voltas e demonstração de corridas coladas a motocicleta. Nesse tipo de competição os corredores acompanhavam uma motocicleta em suas bicicletas e depois de dar as voltas necessárias, a motocicleta saía da pista e os corredores continuavam a corrida para ver quem seria o vencedor da prova.

O tempo foi passando... não conformado com a participação de apenas corredores brasileiros, o Dr. Deodoro D'Alcântara Freire resolve partir para o exterior a fim de contatar com proprietários de outros velódromos e efetuar acertos de intercâmbios quanto a exibição dos atletas, sem que para isso tivesse que pagar. Seu sonho, no entanto, não chegou a tornar-se realidade, vindo a falecer em 1950 quando retornava dessa viagem.

Morto o proprietário, alguns anos depois a família desfez-se da praça de esporte, vendendo-a à firma comercial do Dr. Benzecry que a adquiriu pela importância de duzentos e vinte cinco mil cruzeiros [Cr$ 225.000,00]. Este empresário transformou as arquibancadas, as casas utilizadas para massagens, depósitos de bicicletas, enfermaria e posto médico em dependências para aluguel. Hoje, no local existe um depósito da Serraria Moss.