CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, julho 29, 2020

CASO KIT-KAT (1965)


Ao ingressar no quartel da Praça da Polícia, em 1966, encontrei alguns presos de Justiça, dividindo o espaço com oficiais. Um deles chamava atenção pelo porte avantajado: possuía 1m95. Era conhecido por Kazem (Mustafa El-kibbe), originário do Líbano, e aguardava o julgamento acusado de ter matado um patrício, na manhã de domingo, 24 de janeiro do ano anterior. Bom atirador e bem armado, Kazem atingiu a vítima de grande distância, com ela em movimento e de forma fatal. O delito constrangeu a comunidade árabe da cidade, teve ampla repercussão, e dele se encarregou os jornais da cidade. Parte desse material jornalístico vou compartilhar neste espaço.

Kazem era gente fina, a despeito do porte e do crime cometido, e possuía habilidade em massagem corporal, a qual distribuía com benevolência ao pessoal do quartel e outros clientes. Ao ser julgado e condenado, foi transferido para a extinta Penitenciária do Estado, com direito ao trabalho diurno, que realizava em uma “clínica” de sua especialidade, situada na avenida presidente Kennedy.

Em 1969, no domingo em que o homem desceu na Lua (20 julho), a justiça familiar oriental veio ao seu encontro. Um irmão da vítima tocaiou o Kazem na ponte JK, que liga os bairros de Educandos e Cachoeirinha. Nela, ao entardecer, quando voltava para o presídio, foi “justiçado”.
A Manaus de 1965 era inda um “porto de lenha”, tendo como prefeito interino Zany dos Reis (presidente da Câmara) empossado após a renúncia do prefeito eleito, radialista Josué Claudio de Souza, proprietário da Rádio Difusora. O governador do Estado era Arthur Reis, que sucedera ao político Plinio Coelho, cassado pelo Regime Militar, no ano anterior. A extinta Chefatura de Polícia estava situada na rua Marechal Deodoro, hoje fundos do Banco do Brasil. E uma população minguada de cerca de 200 mil habitantes, às vésperas do decreto de instalação da Zona Franca (fevereiro de 1967).

O crime do Kit-Kat, assim conhecido em razão de que o criminoso era proprietário da loja de confecções e armarinhos com esta denominação, situada na confluência da avenida 7 de Setembro com a rua Joaquim Sarmento, logo atrás da Matriz da padroeira. Pode ser incluído entre aqueles que “abalaram” a cidade devido a repercussão e as partes envolvidas.
No entrevero do crime estavam, de um lado, os irmãos Ulthman (morto) e Mussa (ferido) Judeth, e do outro, Kazem Mustafa El-kibbe El-kibbe, o criminoso. São vários depoimentos e versões; inicio com o prestado pelo ferido, e exibido em O Jornal (24 janeiro 1965).

Recorte do depoimento em O Jornal, 24 janeiro 1965

Em prosseguimento do inquérito policial, instaurado na Delegacia de Segurança Pessoal, sob a presidência do comissário Dinancy Barroso, para apurar a responsabilidade penal de Kazem Mustafa El-kibbe, que na manhã de anteontem, por volta das 11 horas, assassinara a tiros de Parabellum, calibre 45 (arma militar), a pessoa do cidadão Ulthmam Yussef Habud Judeth, alem de haver baleado um irmão da vítima, o cidadão Mussa Yussef Amud Judeth, transjordanês (sic), o qual se encontra internado em aposento especial do Hospital Beneficente Portuguesa, com ferimento na perna direita.

OUVIDO PELA COMISSÃO DE INQUÉRITO
Por volta das 12 horas de ontem, o comissário Dinancy Barroso, auxiliado pelo escrivão Aristóteles da Silva, ouviu o depoimento de Mussa Yussef Amud Judeth, que declarou o seguinte: Há pouco mais de dois meses chegou a esta cidade para trabalhar no comércio com seu irmão Ulthman, indo residir com ele naquele endereço. Contradizendo os afirmativos do criminoso, o referido cidadão indicou que jamais tivera relações de amizade com o criminoso, nunca tendo tido também qualquer desavença com ele por questão de eletrola como alegou no seu falso depoimento, o mesmo acontecendo com seu irmão, barbaramente assassinado na manhã de domingo, anteontem. Apenas trocava cumprimentos quando se encontrava na via pública, ou quando passava pelo apartamento dele. Esta vítima também nunca foi chamada a atenção por parte de Kazem, também nunca lhe dirigira insultos.

CONVITE PARA UM BANHO
Prosseguindo no seu depoimento, o senhor Mussa declarou que fora convidado para passar o dia no balneário do senhor Kaled Hauache, com sua família, inclusive seu irmão Ulthman, tendo tido a lembrança de levarem consigo a família de Miguel de tal, seu amigo, residente num edifício situado no cruzamento da rua Joaquim Sarmento com a avenida Sete de Setembro, onde o criminoso possui um estabelecimento comercial denominado “Kit-Kat”. Chegando a casa de Miguel, depois dos cumprimentos protocolares, retirou-se juntamente com seu irmão Ulthman para a rua onde ficou batendo bola com um garoto filho do senhor Miguel, enquanto a esposa deste preparava a refeição que seria servida no banho.

SURGIU INESPERADAMENTE O CRIMINOSO
Continuando o bate-bola em frente à casa do senhor Miguel, os dois irmãos foram surpreendidos com a presença de Kazem que saía do seu estabelecimento comercial trazendo embaixo do braço uma pasta de couro de cor preta. O criminoso acendendo um cigarro escorou-se ao seu carro, e disse ao garoto: “Você está jogando bola muito bem”. O menor na sua inocência convidou Kazem a tomar parte no bate-bola, tendo este dito o seguinte: “Não é hora. Agora não posso”. Ditas as palavras ao garoto, o criminoso advertiu Ulthman do seguinte modo: “Vamos acertar as contas”. Mussa, irmão de Ulthman, intervindo disse ao criminoso: “Pelo amor de Deus, não faça isso. Nós não temos contas a ajustar. Nós somos livres”. Em seguida, segundo depoimento de Mussa, o criminoso sacou de uma pistola e apontou para Mussa que estava encostado no seu carro, dizendo: “Tome que esse é seu”, passando então a realizar disparos. Temeroso, vendo que Kazem estava disposto a matar tanto a si como seu irmão Ulthman, Mussa procurou esconder-se por trás do carro e, em dado momento, fitando através do vidro, advertiu seu irmão do seguinte modo: “Meu irmão, corre que este homem quer acabar com a nossa vida”, e foi, então, quando Ulthman procurou evadir-se correndo pela [rua] Joaquim Sarmento rumo à rua Henrique Martins, enquanto o criminoso atirava contra si atingindo-o no pescoço e logo em seguida nas costas, tendo o referido jovem caído ao solo sem vida. Recordando-se de que seu irmão Ulthman conduzia uma pistola no seu carro, Mussa depois de ferido por Kazem procurou vingar a morte do seu irmão e saiu se arrastando-se pela Sete de Setembro a atirar sem rumo. Ao chegar à altura do BCA [Banco de Crédito da Amazônia], ali foi agredido por populares e policiais que lhe produziram ferimentos leves, sendo preso finalmente.

PRATICOU HOMICÍDIO NO LÍBANO
Terminando seu depoimento, o senhor Mussa declarou que Kazem praticara três crimes de homicídio em seu país, tendo conseguido fugir para o Brasil. Encerrou seu depoimento dizendo que nunca foi inimigo do criminoso.

PORTAVA TRÊS ARMAS
As autoridades da Delegacia de Segurança Pessoal presumem que o crime. estava premeditado, pois o criminoso portava consigo três armas automáticas, carregadas, além de grande quantidade de munição.

A VÍTIMA ESTAVA DESARMADA
O jovem falecido não portava qualquer arma, pois por ocasião do levantamento cadavérico feito pelo médico-legista do DESP. nenhuma armo foi encontrada em seu poder. Enquanto isso, o criminoso portava uma à mão, uma na pasta e uma no bolso.

Nota do autor da postagem:
Sabendo-se que o criminoso era bom atirador, não é crível que tenha atirado primeiro e errado “palmo e dentro”. Ao contrário, quando a vítima, correndo e à distância, foi atingida fatalmente. Evidente que a declaração acima na Polícia expõe a bússola dos advogados.

segunda-feira, julho 27, 2020

LUTO: CORONEL OKADA (1946-2020)

Coronel Okada

Faleceu hoje o coronel PM Odacy de Lima Okada, depois de enfrentar longamente uma luta contra o câncer. 

Qual um samurai, não se rendia, estava sempre dilatando o desfecho da disputa, apesar de abatido pelos tantos desconfortos. Foram anos de provação. Não tive a consistência emocional de visitá-lo, em particular nesses derradeiros momentos da luta. Sabia de seu estado de saúde e das complicações pelos amigos, e torcia pelo melhor desenlace.

Encontrei Okada no início do nosso Serviço Militar obrigatório, em 1965, portanto, dobrado o cabo do cinquentenário desta e de outras efemérides. Assim foi com o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva, no antigo 27 BC; com nosso ingresso na Polícia Militar do Estado, em 1966; e no Curso de Armamento (eu) e de Moto-mecanização (ele), na extinta Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, no ano seguinte.
Ficha do NPOR (1965)
A formatura impõe certo bullyng aos militares de baixa estatura, de metro e sessenta, meu caso e dele. Porém, essa “discriminação” com os baixinhos nos aproximou enormemente, pois éramos os cerra-fila, junto com o Ruy Freire. Este trio ingressou na PMAM e hoje desfruta da benevolência do Estado, ultrapassados os “setentanos”. Foram trinta anos de severa camaradagem. Ele muito me auxiliou com sua palavra peculiar e terminante.


Há cinquenta e três anos estava com o Okada, no Rio, encerrando os cursos na EsMB, ao cabo daquele ano na (então) Cidade Maravilhosa. De regresso, estivemos sempre próximos, tendo a cidade de Manaus como menagem, pois a Polícia Militar ao tempo não dispunha de grandes efetivos no Interior. Creio que ele esteve como delegado de Polícia em Parintins, na ilharga de Maués, de onde era originário, filho de Hideomi Okada e Zelinda Batista de Lima.

Okada e governador Areosa
Após o retorno do Rio, Okada foi designado para integrar a Casa Militar do governador Danilo Areosa (1967-71). E lá estava ele de ajudante de ordens, ao lado de sua excelência para cima e para baixo, sem essa atual quantidade de seguranças. Foi promovido a capitão em setembro de 1969 e a major, cinco anos depois.
Efetuou os cursos básicos de Aperfeiçoamento e Superior de Polícia, na PM de São Paulo. Esteve como delegado de Polícia em Parintins, quando se apaixonou pelo Garantido. Novamente promovido, em dezembro de 1978, agora a tenente-coronel.


Roberto e Okada

Nosso derradeiro trabalho em conjunto aconteceu no Carpo de Bombeiros da PM, no quartel de Petrópolis, que ele comandou entre 1979 e 1981. No ano seguinte, foi ano de eleições, a primeira a permitir a escolha de um governador, após longo período. A PM passou por uma turbulência política, grande parte provocada pelo comandante-geral – oficial do Exército, que desejava eleger o candidato situacionista. Todavia, venceu Mestrinho, opositor, de interesse dos policiais.

Nesse meio-tempo, Okada passou a comandar o CPC, que era o órgão responsável pelo policiamento da Capital, na condição de coronel, promovido em 1983. Em setembro do ano seguinte, os integrantes da Casa Militar (entre os quais me incluía), opondo-se à uma decisão do governador, retiram-se abruptamente do Palácio Rio Negro, e retornam ao quartel. O Chefe do Executivo, então, acolhe a indicação do coronel Odacy Okada para a chefia da Casa Militar, função que ele exerceu em três governos (1984-91).

Enquanto chefe da Casa Militar, foi nomeado como interino para o comando-geral da PMAM, antecedendo a posse do coronel Romeu Medeiros (1989). Sua última função foi na Prefeitura da capital, chefe do gabinete militar do prefeito Amazonino Mendes. Nessa ocasião, Okada colaborou comigo, concedendo-me passagens ao Rio, a fim de entrevistar familiares de Candido Mariano.
Enfim, as nossas conversas rarearam, cada qual em seu cada qual, aproveitando a aposentadoria. Ele, inspirado adepto do Garantido, não perdia um festival. No entanto, somente hoje, ao me despedir dele na funerária, descobri pela bandeira do clube estendida, sua paixão pelo Botafogo carioca.

Gratíssimo pela camaradagem que nos aproximou e nos permitiu bons momentos, passados na corporação de tantos saudosos amigos: Neper, Ilmar, Câmara, Hilário, entre outros, que nos precederam e nos impulsionaram na vida profissional. À esposa e filhos e netos, meus sentimentos, assegurando-lhes da nobreza de nosso coronel Okada. Até a eternidade!




SURTO LITERÁRIO EM MANAUS

Nonato Pinheiro

Compartilho o relato acerca da produção literária em Manaus, no inolvidável ano de 1964. De certo, concernente ao segundo semestre, quando assumiu o governador Arthur Reis. 
O artigo pertence ao saudoso padre Nonato Pinheiro, intelectual de elevado gabarito, escrevendo para O Jornal (10 janeiro 1965). 
Observo ainda que a encomenda literária proposta pelo governador, o sacerdote não realizou. 
Fragmento de O Jornal, 10 janeiro 1965





Estou positivamente satisfeito com o surto literário que se vem registrando no Amazonas. O ano de 1964 foi sobremaneira lisonjeiro para as letras em nossa terra, e tudo me indica que este 65 não amortecerá a flama, mas tornará mais luminosa e crepitante.
Passemos em vista alguns fatos literários, dignos de especial registo. Na Biblioteca Pública, por determinação e incentivo do governador Arthur Cézar Ferreira Reis, um grupo de trabalho, ad hoc designado, preparou a primeira grande exposição de livros de autores amazonenses e de outros que aqui se fixaram e produziram. É evidente que a alma de tudo foi meu dileto amigo e confrade, acadêmico Genesino Braga, talhado para uma obra dessa natureza, de exaustiva pesquisa. Foram arroladas 482 obras de autores autóctones e 433 de autores alienígenas. Bem sabemos que a exposição não abrange TODAS as obras de amazonenses e de brasileiros e estrangeiros que aqui se radicaram, mas o grupo de trabalho fez o que foi possível fazer.
O governador do Estado, que é o amazonense mais fecundo do ponto de vista bibliográfico, prestigiou o ato inaugural, tendo proferido substancioso discurso, naquele estilo que bem caracteriza o autêntico scholar, o professor catedrático e universitário Que essa exposição sirva de estímulo aos novos amazonenses, porque a verdade verdadeira (provam-no os volumes que figuram na exposição!) é que nós amazonenses em nada ficamos a dever aos patrícios de outras plagas e rincões, e aos estrangeiros de qualquer' pais. no que concerne com a inteligência e a vis criadora. Temos cabeça para as letras, para as artes e para as ciências. O que se verificou no passado foi a criminosa desassistência dos governos de antanho, useiros e vezeiros em proteger os de fora em desprezar os nativos, o que levou um sacerdote amazonense (padre Luís de França Tomé de Sousa) a afirmar sem rebuços: “Esta minha terra foi sempre a mãe dos enteados e a madrasta dos filhos!”
No dia 5 passado, o Ideal Clube abriu seus luxuosos salões para receber o escol social e a flor intelectual de Manaus. Tratava-se do lançamento do livro De todos os crepúsculos, da lavra da talentosa poetisa amazonense Mady Benoliel Benzecry. Tive a honra do convite e o prazer do comparecimento. Mitridates Correia, Djalma Batista e eu assinalamos a presença da Academia Amazonense de Letras. O Clube da Madrugada esteve quase au grand complet. Foi uma festa social e literária da mais requintada elegância, prestigiada pela presença honrosa do Sr. Governador Arthur Reis e de sua gentilíssima consorte, que nunca se omitem nesses festins da inteligência e do espírito.
Meu amigo Jacob Paulo Lévy Benoliel, pai venturoso da poetisa, proferiu o discurso de circunstância e foi sobremodo feliz, (...) Jacob Benoliel, Dona Raquel e Elias Benzecry, esposo da poetisa, foram de uma fidalguia sem par na recepção, que atraiu os melhores naipes de nossa aristocracia social e intelectual, membros do corpo consular (Raoul Weil e Moisés Figueiredo da Cruz) e altas figuras do glorioso Exército Nacional (coronéis Alípio de Carvalho e João Walter de Andrade). Este matutino esteve brilhantemente representado na pessoa de nossa estimada e talentosa diretora, Maria de Lourdes Freitas Archer Pinto.
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Antônio Cantanhede, distinguido sócio do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Associação Amazonense de Imprensa, acaba de publicar mais um volume, que veio opulentar sua bibliografia. Cantanhede tem especial pendor para o Folclore, a História, a Geografia e a Etnografia. Seduzem-no os mitos, as lendas, as crenças e crendices do nosso povo, no que tem encontrado um filão para as suas atividades intelectuais. Li com agrado seus contos, lendas e narrativas, do melhor sabor folclórico. Tomarei a liberdade, a título de subsídio, de fazer um comentário à margem do capítulo - "Oração para curar dor de dentes" (pp. 115-117). Sei bem que o papel do historiador e folclorista, como também do linguista e filólogo, é registar os fatos com exação, como os surpreenderam e examinaram. E o autor, no caso vertente, notou e anotou “Santa Pelonha” e “Santa Polônia”. (...) Desejo agradecer ao escritor Antonio Cantanhede a oferta do livro, que li com grande prazer e muito proveito.
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Recebi a oferta do livro de contos de Francisco Vasconcelos O palhaço e a rosa, presidente do Clube da Madrugada, bancário e moço de lúcida mentalidade, e ainda uma bela plaqueta da autoria de Moacyr Alves, versando um tema apaixonante: a necessidade e utilidade do livro, em geral, e da Bíblia, em particular. Oportunamente me ocuparei dessas duas publicações.
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No dia 7, tive a satisfação de assistir a mais um lançamento de livro. Trata-se do livro Rimas na Primavera, da inteligente poetisa Mary Sálem, já conhecida através das colunas do Jornal do Comércio, que lhes publica com frequência as produções. A obra traz o prefácio do govenador Arthur Reis, que autorizou a publicação do livro e pessoalmente prestigiou a solenidade do lançamento. Sobre as duas poetisas Mady e Mary (quase homônimas), já me externei em letra de fôrma, e aqui ratifico meus conceitos, almejando-lhes novos triunfos literários.
Concluo este rodapé com um apelo aos poetas amazonenses. Incumbiu-me o governador Arthur Reis de organizar uma antologia de poetas EXCLUSIVAMENTE amazonenses. Esclareceu-me que não deverei incluir poetas que aqui se fixaram e produziram, mas aqui não nasceram. Sua Excelência faz questão de que todos (falecidos e vivos) sejam amazonenses NATOS. Feito este esclarecimento, para dissipar dúvidas, faço um apelo aos poetas amazonenses para que me remetam QUATRO de suas produções, que supuserem melhores, com dados biográficos.
Meu plano é dar a biografia de cada poeta, com quatro produções de sua lavra. Já solicitei a colaboração da Academia Amazonense de Letras e do Clube da Madrugada, pedido feito aos respectivos presidentes. As colaborações deverão ser remetidas para O Jornal, com envoltório dirigido ao autor destas linhas. E peço aos ilustres poetas que m’as enviem com a possível brevidade, pois o governador Arthur Reis não é homem de delongas e procrastinações, e já tenho em mãos as produções dos poetas amazonenses falecidos e ausentes do estado. E aqui me cerro, desejando que a vida literária em nosso Amazonas vivat, crescat, floreat!

domingo, julho 26, 2020

NOTAS HISTÓRICAS AMAZONENSES

São anotações recolhidas em pesquisas, destinadas a consolidar um trabalho sobre as efemérides do Estado.

25 de julho
Antiga sede da Faculdade de Direito
1923 – Nasce no distrito de Vizeu, Portugal, o empresário Adelino Pereira, casado com Adelaide Domingues Pereira da Silva. Concluiu o ensino médio e prestou o serviço militar ainda em Portugal. Já no Brasil, administrou uma granja em Petrópolis (RJ) e, em Manaus, fundou com os irmãos – Aureliano e Fernando, a firma Nogueira & Cia, dona da Padaria Victoria; posteriormente a empresa S. Monteiro & Cia, onde alcançou a direção maior, até a extinção dela. Foi presidente do Clube dos Diretores Lojistas.
1972 – Inauguração da sede do Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército (GBOEx), situada no edifício Cidade de Manaus, existente na avenida Eduardo Ribeiro com a rua Saldanha Marinho. Esteve presente, o coronel Gaspar Albite Chuy, presidente da associação em Porto Alegre (RS).

 26 de julho
1869 – Instalado o Asilo de Nossa Senhora da Conceição, instituído pelo padre José Manoel dos Santos Pereira, vigário geral da Província, destinado ao ensino e educação das meninas.
1876 – Toma posse na presidência da província do Amazonas, Domingos Jacy Monteiro.
1969 – Falece em Manaus (AM), sendo sepultado no cemitério São João Batista, Ruy Araújo, bacharel pela Faculdade de Direito do Amazonas, destacado político do Estado, que foi Interventor Federal e deputado estadual. Era irmão de André Vidal de Araújo, de importante sucesso no Estado. Ambos nascidos em Pernambuco.

27 de julho
1890 – Fundação, em Manaus (AM), do Partido Democrático, reunindo figuras como o senador Manoel Francisco Machado, Deodato Gomes da Fonseca, Públio Bittencourt, Silvério Nery, Amancio Fernandes e Ferreira Pena, sob a direção dos irmãos Guilherme e Emílio Moreira.
1891 – Promulgada pelo Congresso Amazonense a Constituição Estadual. Na ocasião, o Poder Legislativo tomou a denominação de Congresso Legislativo do Amazonas. E foi mantido governador, a Eduardo Gonçalves Ribeiro, para o período 1892/96.
1917 – A Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Amazonas obtém autonomia didática.
1991 – Assume a direção da Faculdade de Direito do Amazonas, o saudoso dr. João dos Santos Pereira Braga.

sexta-feira, julho 24, 2020

MANAUS DE HELIANDRO MAIA

Pouco sei sobre Heliandro Maia (desta vez, o Google não me auxiliou). Todavia, lembro de sua atuação em órgão de Turismo do Estado e de suas visitas ao quartel da Praça da Polícia, onde trocamos algumas conversas. Sei ainda que pertencia a família de Álvaro Maia, governador do Estado, e escritor consagrado na planície. A família de Maia provém de Goiabal, seringal nas proximidades de Humaitá (AM). 
Heliandro foi educado pelos padre salesianos do Dom Bosco, e, quando encerrou o ensino médio, foi levado para a capital paulista, onde completou sua formação acadêmica. De volta a Manaus, empregou seus conhecimentos em órgãos estaduais.
Alguns dados sobre o autor e a cidade de Manaus estão no texto aqui postado, de sua lavra, que compartilhei de O Jornal (24 janeiro 1965).

Recorte de O Jornal, 24 janeiro 1965
Heliandro Maia

- Heliandro, passa pra dentro! Olha o carro! Quando teu pai chegar vou contar!

Era a Bita, cabocla do Madeira, o meu anjo da guarda. Hoje, a boa Bita está no seringal, lá para as bandas do Goiabal, duas horas depois de Humaitá, cheia de filhos e com certeza esquecida daquele moleque travesso e malcriado. Vou ai, Bita. O meu abraço terá a quentura desses anos de ausência. Pois olha! Nunca te esqueci. Ainda tenho os olhos úmidos das lágrimas derramadas da partida, criança ainda, para o Sul. Em 58 não te encontrei. Estavas no interior do município e eu permaneci poucas horas em Humaitá, tempo suficiente para beijar minha velha avó. Lá vou eu fixando-me em Humaitá. Volto a Manaus, aquela infância querida está lá.

Cachoeirinha cresceu, já vai sozinha a última sessão do Ipiranga. Como eu, tem saudades daquela época. A minha "chácara" — onde levei, recordo-me bem, tremenda surra de meu pai — perdeu sua liberdade, mas, em compensação, parece que para lhe proteger, Deus plantou um templo ao seu lado. As orações ali rezadas conservam-na pura como é a infância de todos nós.
Heliandro, tua avó chegou do seringal. Vem passar uns dias conosco.
 Exultava com essa notícia. Significava que teria a tapioca e o mingau de banana no café da manhã, preparados pelo carinho que só as avós têm. Veria, também, minha irmãzinha. Ana Maria, a caçula, veio do seringal na véspera de nossa partida para o Sul. Tinha seis anos.

Praça da Saudade, outro degrau da caminhada. Agora, não posso mais correr no quintal de meu “templo”, os diplomatas não deixarão. E' contra o protocolo.
Epa! Antes da Praça tão saudosa — iluminada agora, também não é mais a minha namorada — deixei outras peraltices ali perto, na rua Monsenhor Coutinho. Gostava da sirene da ambulância.
Março. Aulas à vista. Mais três meses de especialização na arte de pular de “bonde andando”. Fui bom nisso. Em pegar, não era lá essas coisas, apesar de não ser o último da “classe”.
— Pessoal! Espia só ali... O padre Agostinho vem pra cá.
Era mais um banho de igarapé interrompido.
O grande mestre “acarinhou-me” — certa vez. Condecoração eterna do meu Colégio D. Bosco.
O Guarany, o meu cinema preferido. Fecho os olhos — estou na casa da [rua] Joaquim Nabuco — e ouço o “bang-bang” da matinal de domingo. Não havia santo que impedisse o meu encontro com o Tom Mix. De repente tudo acabou.
— Meu filho, temos que ir para São Paulo. Fui transferido.

Não podia acreditar. Ia separar-me, tinha certeza, de minha infância querida. Voltei e reencontro um pouco da Manaus de minha infância. 

quarta-feira, julho 22, 2020

CARTA DE ORÍGENES MARTINS

Professores do Seminário: padres Ruas, Normando,
Juarez e o Dr. André Araújo e Orígenes Martins (1959)



Transcrevo a carta que recebi do professor Orígenes Martins, com a qual me agradecia o trabalho que executo em prol do saudoso padre-poeta L. Ruas. Ruas esteve em parceria com o Orígenes desde a refundação do Seminário São José, em Manaus, em março de 1943. Seguiram lado a lado até o curso de Filosofia no Seminário da Prainha, em Fortaleza.

Foi aí que Orígenes desistiu do caminho ao sacerdócio. Ruas seguiu em frente, passando pelo Seminário de Rio Comprido, no Rio. Voltaram a se encontrar em Manaus, quando, em 1954, Ruas recebeu o óleo sacerdotal e Orígenes nos deu o Instituto Christus, depois CIEC e o Ciesa.

Quando padre Ruas sofreu um extenso AVC, em 1992, foi Orígenes que se empenhou na recuperação do amigo-irmão. A luta terminou em 2000, com o falecimento de Ruas. Por influência de Orígenes, que fora secretário de Educação (1991-92), o governo crismou com o nome do amigo uma Escola Estadual no bairro do Zumbi.

Conversei algumas vezes com o professor Orígenes, quando me dediquei a escrever uma ligeira biografia de L. Ruas. E sempre que publicava algum livro com material do padre, entregava-lhe um exemplar. Orígenes Martins faleceu em 2016.

Este foi em resumo a motivação da carta.



WALDIK SORIANO NO CINE IPIRANGA


Em nossos dias, Ipiranga e Waldik são tão-somente saudades, ambos nos deixaram: primeiro o cinema, “o maior da redondeza”, com mais de mil
assentos, em 1983, transformado em loja TV Lar; e o idolatrado cantor brega, em 2008, aos 75 anos. Waldik era uma lenda em nosso rincão, revestido da fama de conquistador e de “bom de porrada”. Com tanto cartaz, a Difusora o trouxe mais uma vez – janeiro de 1965 – para o deleite do público manauara.
A Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) funcionava na avenida Constantino Nery, onde hoje se encontra a catedral da Universal.
Compartilho a reportagem de O Jornal (5 janeiro 1965).


Recorte de O Jornal,  5 janeiro 1965

Serão realizadas hoje à noite as anunciadas e esperadas apresentações de Valdik Soriano, o ídolo da juventude, em Manaus. O criador de A Carta [Escrevo-te esta carta, / mas não repares os senões...] cantará às 20 e 30 horas no cine Ipiranga, encerrando um animado show do qual participarão os apreciados cantores da Rádio Difusora do Amazonas. Haverá grande distribuição de brindes entre o grande público que certamente lotará a suntuosa casa de espetáculos na Cachoeirinha. 
Logo após por volta das 23 horas, Valdik Soriano cantará outra vez para a sociedade amazonense, desta feita na sede da Associação Atlética Banco do Brasil, como grande atração da boate desta noite.Os ingressos para o espetáculo no cine Ipiranga estão à venda nos escritórios da Difusora, nas bilheterias do cinema e na Farmácia N. Sra. do P. Socorro, na Praça 14. As reservas de mesa para a baile da A. A. Banco do Brasil poderão ser feitas durante todo a dia. 
Como nas oportunidades anteriores em que nos visitou, Valdik Soriano com a sua vinda à Manaus, sob os auspícios do Clube do Rádio causa grande sensação entre sua legião de admiradoras, sendo certo o sucesso de suas apresentações.

terça-feira, julho 21, 2020

PMAM: UM CAUSO DE SARGENTO


Esta postagem reproduz uma denúncia contra o sargento da PMAM, cujo nome de guerra era Camurça (ortografia correta), morador do bairro da Cachoeirinha. A publicação ocorreu em O Jornal, 8 de janeiro de 1965.
Na ocasião, Camurça já estava reformado por desequilíbrio mental. E não foram poucas as alterações que ele promoveu. Engajei na PM em 1966, e conheci o sargento por outra agitação, dentro do quartel da Praça da Polícia.
Certa noite desse ano, Camurça foi levado ao quartel, sendo recebido pelo oficial de dia, tenente (hoje coronel reformado Pedro Lustosa). Seu estado emocional alterado impacientou o oficial, que buscou de várias formas contornar o problema. Acabou sendo conduzido ao hospital psiquiátrico. Todavia, Camurça deu um show, ocorrência que ficou marcada naquele quartel.
 
Fragmento de O Jornal, 8 janeiro 1965

Uma comissão de moradores do bairro da Cachoeirinha eQtni eram à noite de ontem em nossa redação, a fim de que por nosso intermédio fizéssemos um apelo ao Comandante da Polícia Militar do Estado, no sentido abaixo.
No mencionado bairro reside um 3º Sargento daquela corporação de nome Camursa, o qual é considerado naquele populoso bairro, como um verdadeiro “manda chuva” e reincidente em diversos casos contra pessoas ali residentes.
Segundo um dos componentes da comissão, Sr. Osório, morador do bairro supra, assim como os demais, vieram à redação apenas para relatar um fato que se passou ontem à noite, para que o comandante da PME tome conhecimento e providências sobre o dito sargento.
Um motorista, cujo nome ignora-se, encontrava-se em um aniversário numa residência daquele bairro, na ocasião em que deveria sair para casa, se encontrava impossibilitado de levar seu carro para a garagem, o que fez o sr. Milton de tal, funcionário do DERA [Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas], entrar no veículo, por ser amigo do motorista, para conduzi-lo à garagem.
Surgiu o sargento Camursa dando voz de prisão aos dois. Milton incontinenti tirou de seu bolso sua Carteira de Habilitação para fazer ver ao sargento que poderia conduzir o veículo para onde quisesse. O Sargento disse que não interessava, que já havia dado voz de prisão aos mesmos e estava resolvido, sacando de sua arma, e botando várias pessoas para correr.
Disse-nos a comissão que o mesmo todas às vezes que o Sargento faz suas aventuras na via pública, e que saca de sua arma “é apenas para se mostrar para as mulheres”.

segunda-feira, julho 20, 2020

PALÁCIO "RUI BARBOSA"

De certo, a cidade de Manaus possui meia duzia de palácios, mas não se tem notícias deste homenageando ao eminente jurista baiano. Seguinte: quando do governo de Arthur Reis (1964-67), este promoveu um movimento tentando prover o Poder Legislativo de sua sede. O arquiteto Severiano Porto foi encarregado de idealizar a construção, e assim procedeu. 
Arthur Reis

As demais informações foram compartilhas de O Jornal (27 janeiro 1965). A foto é péssima, por dificuldades do periódico de antanho, e não consegui situar o local, apesar da indicação que seria construído na av. Getúlio Vargas com fundos na rua Joaquim Nabuco. 
Lembro que a Assembleia Legislativa vinha ocupando espaços de outros departamentos; creio que na época estivesse instalada no IEA, antes de chegar ao endereço da Praça Dom Pedro II, atual Centro Cultural Palácio Rio Branco.


A foto mostra o esboço da fachada da futura sede do Poder Legislativo, cuja frente será na avenida Getúlio Vargas. O próximo Palácio “Rui Barbosa” dará melhores condições aos parlamentares, aos funcionários, à imprensa e ao público. Ontem, o arquiteto Severiano Porto mostrou aos deputados o esboço do projeto, dando as necessárias explicações. O projeto é arrojado; o preço, ainda mais, variando de um bilhão a um bilhão e meio de cruzeiros.






Manhã de ontem, na Assembleia Legislativa, presentes o deputado Francisco Cavalcante de Oliveira (presidente) e vários parlamentares, foi mostrado pelo engenheiro-arquiteto Severiano Mário Porto, o esboço do projeto do futuro Palácio Rui Barbosa, que será construído em terreno já desapropriado pelo Governo do Estado, entre a avenida Getúlio Vargas e a [rua] Joaquim Nabuco.

APRESENTAÇÃO DO PROJETO
O esboço do projeto apresentado pelo arquiteto Severiano Porto, dá uma ideia da suntuosa obra que será a sede do Poder Legislativo, que terá seis pavimentos, com ar condicionado, elevadores para o público e exclusivo dos deputados e funcionários legislativos, local de estacionamento de carros no subsolo, varandas, auditório, salas de reuniões etc.
O plenário ficará no térreo, circundado pelas galerias que, devido a posição em forma de rampa, ocuparão a altura de três pavimentos. Circulando a galeria funcionarão os serviços de secretaria, imprensa, salas de reuniões das comissões (que terão local apropriado para o público) etc. Os dois últimos pavimentos serão ocupados pelo auditório, na mesma forma das galerias, ambos com capacidade normal para trezentas pessoas, sentadas. O plenário poderá abrigar 48 deputados.

ARQUITETO PRESTA INFORMAÇÕES
O arquiteto Severiano Porto ao mostrar o esboço do projeto deu amplas explicações aos deputados, acentuando que ele poderá sofrer alterações, inclusive para a facilidade de sua construção. Todos os detalhes foram explicados e de todas as dependências o dr. Severiano Porto mostrou os croquis.

CONCORRÊNCIA PÚBLICA PARA CONSTRUÇÃO
Dentro de dois meses o arquiteto Severiano Porto estará em Manaus, com o projeto pronto, acompanhado de todas as exigências para a sua construção, que será fiscalizada, provavelmente, pelo citado profissional. O Governo do Estado, então, abrirá concorrência pública para escolha da firma construtora que melhor condições apresentar dentro das exigências a serem feitas.

CUSTARÁ MAIS DE UM BILHÃO

Respondendo a uma pergunta da reportagem, o dr. Severiano Porto respondeu que a construção da sede do Poder Legislativo deverá custar ao Estado cerca de um bilhão a um bilhão e meio de cruzeiros, conforme a época de sua construção. Acredita que o material necessário, especialmente cimento e ferro, sejam adquiridos nas fontes de produção, não apenas pela questão do preço, mas ainda para que a mesma não sofra solução de continuidade.

domingo, julho 19, 2020

POESIA PARA O DOMINGO

Ilustração de Getúlio Alho

De retorno à atividade, depois de impedido pelo vírus que atingiu meu notebook,  compartilho um achado em jornal de Manaus. Trata-se um poema do saudoso Luiz Bacellar, inserido em O Jornal (24 janeiro 1965). 



As duas flautas (Apólogo)
Sobre a mesa poenta do antiquário
veio a réstia de sol brincar leviana.
E qual garota num sótão sozinha
ficou-se deslumbrada e pensativa
entre dois objetos muito antigos:
uma flauta de barro e uma flauta de cana.

Eram dois instrumentos pertencentes
à coleção privada do argentário,
entre cornes, alaúdes e violas,
velhas trompas de caça e alguns violinos
desencordoados, célos sem cravelhas,
desolados fagotes, bombardinos,
contrabaixos, pistões, liras, ceslestas
e alguns azinhavrados velhos sinos.

Então, como tocados de magia,
pela réstia de sol que ali se estava
estremeceram... Por alguma fresta
das janelas fechadas da mansarda
entrou um buliçoso golpe de ar
que, com a réstia de sol, vinha brincar.

Como um longo gemido suspirado
de quem acorda de um profundo sono
veio a interrogação: “Aonde estou?”

Para o golpe de ar. Queda-se a réstia
de sol surpreendida. E, na poeira
levantada naquela brincadeira,
se deixaram ficar muito quietinhos.
Mas antes, um soprou à companheira:
— “Foi a flauta de cana quem falhou...”
E assim os dois ouviram o diálogo
que me contaram e que aqui vos dou:

Disse a flauta de cana de bambu:
“Onde é que vim parar?... Oh! quanto pó!...

Não conheço ninguém, como estou só.

domingo, julho 12, 2020

FOTOS DO QUARTEL DA PMAM

As três primeiras fotos conhecidas do quartel da Polícia Militar do Amazonas (ora Palacete Provincial), lembrando que o prédio foi inaugurado em 1895, no governo de Eduardo Ribeiro, e que foi uma ampliação do Palacete Garcia.

A partir de cima: A primeira é de véspera da virada do século 19, mostrando os fundos da edificação. A seguinte, foi colhida para o álbum Fidanza, patrocinado pelo governo de Silvério Nery (1900-04). A derradeira, antecede a inauguração da Praça, realizada em 1906.