CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, junho 29, 2021

VILLEROY - 1º GOVERNADOR DO AMAZONAS

implantação administrativa do Estado do Amazonas, proclamada a República, foi um tanto esdrúxula. Não faltaram disputas de toda ordem, as políticas e as militares foram as mais destacadas, em algumas ocasiões engajando as duas vertentes. Vou lembrar o primeiro governador e sua excêntrica substituição, porquanto Villeroy “desertou” deste ofício, segundo pode-se inferir dos documentos expostos, encerrados no Arquivo Público local.

Augusto Ximeno de Villeroy

Chamava-se Augusto Ximeno de Villeroy (1862-1942) e foi promovido a capitão da Força Terrestre tão logo assumiu a governança. Possuía 28 anos incompletos. Nomeado pelo general Deodoro da Fonseca, presidente do Brasil, frustrou aos políticos locais que se bateram pela queda imperial e, concomitante, pela primazia deste emprego. Villeroy assumiu nos primeiros dias de janeiro e se retirou do Paço da Intendência Municipal e do encargo no Dia de Finados de 1890. Segundo narravam os bondes da cidade, viajou para a Capital Federal a fim de acudir a esposa que se encontrava em Manaus gravemente enferma. Segundo se pode deduzir a partir do registro em monumento existente no cemitério São João, no Ossuário ali construído encontra-se o nome do filho de Villeroy. Terá a esposa dele desenvolvido alguma enfermidade, decorrente do parto e da morte do rebento, deveras grave que a obrigou a se retirar de Manaus?

Circular de 1º nov. 1890 

Ao se retirar de Manaus, o governador fez circular dois documentos: um endereçado aos Chefes de Repartições em 1º de novembro, “convidando-os e aos demais empregados para assistirem, no dia 2, às 10h, a posse do cidadão Dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro para governador deste Estado.”

"Bilhete" de Villeroy para Eduardo 
Ribeiro, em 02 nov. 1890

O segundo, qual um bilhete, escrito de maneira apressada pelo próprio governador, visto as correções ali assacadas, o subscritor assegura que se retira de Manaus “para o Sul da República, com permissão do Governo Central”. Prosseguindo, informa que foi autorizado “em vista de telegrama recebido” daquele Poder. Assim, convida ao Dr. Eduardo Ribeiro para assumir a administração (em seguida, borra esta palavra, e a substitui por “fazenda(?)”) do Estado. Saúda o convidado com S. F. (Saúde e Fraternidade) e rubrica - A. X. de Villeroy.

O desenrolar desta história, já conhecemos.

segunda-feira, junho 28, 2021

ASSIS PEIXOTO: CIVIL COMANDANTE DA PMAM

 SECRETARIA DO INTERIOR E JUSTIÇA

EXPEDIENTE DO DIA 19|09|61

DECRETO

O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, no exercício do cargo de GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAZONAS, resolve

NOMEAR:

de acordo com o art. 15, item I, da Lei nº 494, de 16 de dezembro de 1949, o 2º Tenente R/2 do Exército Nacional, FRANCISCO DE ASSIS ALBUQUERQUE PEIXOTO, Procurador da Fazenda Pública da Procuradoria Jurídica e Fazendária do Estado, para exercer, em comissão, o cargo de Comandante da Polícia Militar do Estado, Padrão CC-1, nos termos do Decreto nº 13, de 21 de fevereiro de 1959. 

Fragmento do Diário Oficial

Este decreto tornou-se incompreensível. Explico: apesar de “nomear” o favorecido, os arquivos da Polícia Militar do Estado registram que naquela data ocorreu, ao contrário, a demissão do coronel Assis Peixoto, realizada pelo governador interino. Ao reassumir o posto, o governador Mestrinho manteve o comandante no devido ordenamento. Já escrevi sobre este imbróglio em dois posts, concluindo que ocorreu uma briga política-policial.

 

Todavia, o exposto decreto lido em nossos dias revela algumas incongruências: curiosamente foi assinado pelo governador em exercício, então o presidente da Assembleia Legislativa, Josué Claudio de Souza; assegura que nomeia ao 2º tenente R/2 do Exército. De fato, Assis Peixoto, como restou conhecido na crônica manauara, havia concluído o NPOR realizado em Manaus por ocasião da II Guerra, portanto, às vésperas de completar 20 anos da formatura. Essa trivial patente serviu unicamente como “cortina de fumaça” para ludibriar a Força, posto que Peixoto era um Civil bem caracterizado, como vê-se apontado no próprio edito.

Outra questão: o decreto não estabeleceu o posto do comandante, pode ter sido corrigido em edição posterior do Diário. De qualquer modo, Assis Peixoto foi tratado por coronel, tendo permanecido no comando por mais de dois anos e foi, para gáudio dos aquartelados na Praça da Polícia, um excelente chefe.

Enfim, a legislação empregada para esta finalidade servia exclusivamente aos funcionários civis. Os funcionários militares estaduais possuíam uma minguada legislação. De maneira que o decreto 494 aludido foi, na corporação de Assis Peixoto, empregado para acertos nem sempre “republicanos”.

Em síntese, o Dr. Assis Peixoto exerceu o comando da PMAM. De certo, o único paisano.

domingo, junho 27, 2021

HISTÓRIA DA PM DO AMAZONAS: NOTAS

Em 1993, comandava a Polícia Militar do Estado o coronel Antonio Guedes Brandão, oficial disciplinado e executor de objetivos planejados e, de modo respeitável, católico fervoroso. Ainda no serviço ativo, eu escrevi o texto que somente agora vai postado, certo de relembrar episódios dignos da história da corporação.

 

Gilberto Mestrinho

04 NOVEMBRO

VISITA HONROSA

Nesta data, esteve em visita funcional à corporação, no ensejo da posse do novo Comandante-Geral, o Dr. Mauro Campbell Marques, Secretário do Interior e Justiça e de Segurança Pública, em exercício, tendo sido recebido no auditório do Comando-Geral pelos oficiais chefes e diretores de OPM, à frente o coronel PM Antônio Guedes Brandão.

Discursou o coronel PM Brandão para saudar o ilustre visitante, oportunidade em que apresentou, como de praxe, os oficiais presentes. Finalizando, indicou o ilustre visitante, por sua dedicação à área de Segurança, como advogado da Polícia Militar junto ao governo do Estado.

Agradecendo, Dr. Mauro afirmou sua aspiração em dinamizar o setor da Segurança Pública. E ratificou sua condição de defensor dos anseios policiais militares.

***

05 NOVEMBRO

VISITA GOVERNAMENTAL

No Quartel do 1º BPM, presente representação de todas as OPMs sediadas na capital, foi recepcionado o Sr. Governador do Estado, Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo.

Constou a solenidade da apresentação da tropa por seu comandante, coronel Mael Rodrigues de Sá. Seguida das palavras do coronel Comandante-Geral, saudando o visitante e informando aos subordinados do motivo do encontro. Em prosseguimento, falou o Governador do Estado para anunciar a concessão de gratificação aos cabos e soldados, a partir do corrente mês.

Para finalizar, ocorreu o desfile da tropa em continência ao governador.

***

Dom Luiz Soares Vieira


10 NOVEMBRO

VISITA PASTORAL

Atendendo ao convite do Comandante-Geral, compareceu ao quartel da Praça da Polícia o Arcebispo de Manaus, Dom Luís Soares Vieira, acompanhado do vigário da Catedral, Mons. Francisco da Silveira Pinto.

Recebido inicialmente no gabinete do Comandante, foi em seguida conduzido ao refeitório de oficiais para o almoço. Ao final deste, falou o coronel PM Brandão dizendo de seu contentamento em ver o “pastor das almas” comparecer ao quartel central da Polícia Militar, abrindo com este gesto um novo contato entre a Igreja e a milícia amazonense. Concluiu afirmando que “o bom cristão também é um bom policial”. Agradecendo, o arcebispo ressaltou a alegria de reatar este diálogo com a autoridade policial, estendendo o convite para um almoço na residência arquiepiscopal.

Ao ensejo, aquela autoridade religiosa ofertou para sorteio entre os presentes um exemplar da Bíblia Sagrada, cabendo o brinde ao tenente-coronel Roberto Mendonça (administrador deste Blog).

quinta-feira, junho 24, 2021

AINDA MEUS 75 JUNHOS

Estas felicitações pelo meu natalício desembarcaram agora, enviadas pelo mano Renato desde a cidade de Niterói (RJ). Tenho somente que agradecer-lhe, sabendo que se esmerou para encontrar motivos para tantos confetes, que reconheço são frutos de sua sublime afetividade. 
Aniversariante

Um jovem aos 75

17.06.2021

Renato Mendonça

 

A pandemia não lhe esfriou o ânimo; os anos biológicos, também não. Vejo-o sempre como o equinócio daquela estação desejada, chamada vida, onde os dias e as noites se sucedem, em busca de alguém que lhes faça a melhor oferenda, para não permitir que a rotina oscile entre o marasmo e a letargia.

O tempo agradece; eu, também. Vejo-o antenado em busca dos assuntos que poderiam parecer corriqueiros e supérfluos para a maioria das pessoas, porém têm relevância para quem se encanta com o mundo das letras, da literatura amazonense ou com a História do Amazonas. O seu blog nos abastece de notícias e princípios; resgata a história de homens importantes na vida pública; rememora pessoas incomuns que deixaram um legado, para ser aproveitado na sua essência.

É esse o jovem de setenta e cinco, que abre quase diariamente o baú de reminiscências para nos disponibilizar um ruas em toda a sua íntegra, em toda sua elegância de escrita; ou um áureo com sua peculiar preciosidade de versos; ou o silêncio e a palavra de um thiago, emoldurado de merecidos adjetivos.

Aproveito o espaço e essa ocasião tão oportuna — seu aniversário! —, para agradecer-lhe a maneira cordata como me insere no seu blog, quando me disponho a externar algumas bobagens, que costumo chamar de crônicas.

Admiro a sua sagacidade em homenagear a família, os amigos de outrora ou os mais recentes. O Chá do Armando, do saudoso acadêmico Armando de Meneses, era figura frequente no painel do seu blog. Talvez porque havia ali uma constelação de asteroides frequentadores daquele firmamento. E, infelizmente — o tempo é um algoz desalmado! — , alguns deles, juntando-se ao Armando, se despedem, não sem antes deixar um adeus, através do “catando letras & escrevendo histórias”, com a habilidade do mano Roberto.

Quero aqui, denotar o meu regozijo pela recuperação do sobrinho, Eduardo, que contraiu o vírus da Covid. Creio que este é o melhor presente que se pode receber nestas circunstâncias: as graças de Deus! 

Que o Criador continue com as bênçãos sobre a família, e lhe dê muitos anos de vida, para continuar na sua missão de resgatar histórias.

quarta-feira, junho 23, 2021

ENCONTROS & DESENCONTROS

De retorno ao livro Com a Cara e a Coragem, de Hilton Rego, para mostrar dois fatos que nos baliza, sem nos permitir conhecer. Hilton nasceu em Manaus e migrou com a família para o Rio de Janeiro, onde consolidou sua vida. Nascido em 1936, chegou ao Rio na casa de tios em 1947. No ano seguinte, chegaram seus pais, indo residir em Irajá, onde a família permaneceu por quatro anos.

Capa do livro do Hilton

Assim descreveu ele aquele bairro:

Meu pai conhecia diversos marítimos, entre oficiais e subalternos que moravam no Rio de Janeiro há muito tempo. A maior parte era oriunda do Nordeste. E eu não sei quem deu a ele a infeliz ideia de alugar uma casa na Rua Calmon Cabral em Irajá. Era uma rua sem asfalto com esgoto a céu aberto. Uma coisa horrível a qual não estávamos acostumados.

Irajá naquele tempo não tinha nenhuma rua asfaltada a não ser a Estrada Monsenhor Félix, hoje denominada avenida por onde circulava o bonde em mão dupla em alguns trechos, e em outros havia desvios dos trilhos e os lotações. Na maioria das vezes as pessoas ficavam muito tempo esperando o bonde chegar.

O outro logradouro principal era a Avenida Automóvel Clube, também sem calçamento, por onde transitava o trem maria-fumaça da Estrada de Ferro Rio D'Ouro, também com trilhos que tinham desvios em diversos trechos e terminava na Pavuna.

No leito desta ferrovia atualmente circulam os trens da linha dois do Metrô do Rio de Janeiro. O trem naquela época demorava tanto a chegar em Irajá que os moleques tinham tempo de jogar futebol em cima dos trilhos diariamente.

Junto com a família, eu desembarquei no Rio no Carnaval de 1950. E fomos morar em Irajá na residência do tio Francisco, irmão de meu pai, rua Cláudio da Costa, em tudo igual a descrição acima. Não durou muito a aventura carioca de minha família, pois, em janeiro do ano seguinte, estava de retorno.

Família Mendonça, ao 
embarcar em 1950

Dez anos velho que eu, e por ter frequentado a escola local e residido por mais tempo, Hilton pode descrever melhor as deficiências daquele subúrbio. Todavia, foi essa a impressão da localidade em que morei um ano. Era um “fim de mundo”, tanto que meu pai que trabalhou na construção do Maracanã, reclamava de que somente via os filhos acordados no final de semana, pois saia de madrugada e retornava à noite.

***

Outro fato narrado pelo Hilton diz respeito a um prédio que existiu no cruzamento da rua Duque de Caxias com a Santa Isabel, na Praça 14 de Janeiro, onde hoje funciona a Escola Estadual Farias Brito. Ao tempo da Segunda Guerra ali funcionou um quartel, e dele é lembrado um fato inusitado. Conheci este prédio, mas o detalhe é que, em 1982, adquiri uma casa ao lado deste educandário pela rua Santa Isabel. Leiamos o que nos conta o Hilton:

Assim como no Brasil todo, no Amazonas havia uma campanha para ajudar no esforço de guerra. (...)

 

Em frente à nossa casa na rua Santa Isabel havia uma parede lateral do quartel do Regimento Brasília, unidade de infantaria do exército brasileiro, no qual estavam aquartelados centenas de soldados que diariamente saiam para treinamento e aguardando ordens para embarcar para Recife para se juntar a outras tropas que iam para a Itália.

Certo dia, a parede do quartel do exército que ficava em frente à nossa casa, amanheceu toda pichada com letras garrafais escrita CAGÃO. Era produto dos moleques da rua que souberam que um sargento que havia embarcado não aguentou e teve uma diarreia emocional, desembarcando na cidade de Itacoatiara, no rio Amazonas, voltando para Manaus em outro barco, se internado no hospital, escapando dessa forma de ir para a guerra.

sexta-feira, junho 18, 2021

GRUPO ESCOTEIRO "TIRADENTES"

No Quartel General da Polícia Militar do Amazonas, localizado na Praça Heliodoro Balbi, conhecida popularmente como Praça da Polícia, foi criado um núcleo de escoteiros comandado pelo Tenente Jeminauá (sic) de Medeiros. Meu pai me inscreveu no núcleo que era denominado “Tiradentes", em homenagem ao patrono da Polícia Militar.

Como eu ainda era muito pequeno, não poderia ser registrado como escoteiro, e sim, como "lobinho". Ele comprou a farda, o chapéu, o facão, enfim toda a indumentária completa do escotismo criado por Robert Baden Powell, em 1907, na Inglaterra como um novo método de educação complementar (Scouting for boys), cujos princípios se baseiam em sempre ajudar o próximo.

Todo o material usado pelos escoteiros em Manaus era importado dos Estados Unidos, pois não havia fabricação dele no Brasil.

Além das aulas de Educação Cívica ministrada por oficiais da Polícia Militar, eu praticava esporte jogando futebol e rugby. Este último jogado com as mãos e uma bola oval de couro, com quinze jogadores de cada lado, disputado em dois tempos de quarenta minutos cada. Os integrantes do escotismo participavam dos eventos no núcleo somente na época das férias escolares. Creio que sou um dos poucos brasileiros que jogaram rugby, esporte do qual descende o futebol americano que é jogado até hoje em Manaus. (...)

 

Capa do livro mencionado abaixo


Dias passados, recebi de cortesia o livro Com a Cara e a Coragem, com o subtítulo – Uma aventura através da história, de Hilton de Oliveira Rego (Rio:2010). O autor, nascido em Manaus em 1936, narra com detalhes sua vida, escalonando- por décadas. Tomei-lhe emprestado o texto acima por dois pretextos: a presença da Polícia Militar do Amazonas e o escotismo, reverenciando o Dr. Daniel Sousa, aficionado por este movimento.

Tornou-se para mim uma vivaz surpresa esta nota, pois ainda não havia encontrado nos arquivos policiais menção a esta iniciativa, que vai relatada abaixo.

O tenente Geminauá Nery de Medeiros, da Polícia Militar do Estado, entre os cursos da área militar, possuía o brevê de piloto civil expedido pelo Aeroclube de Manaus. Nascido no Pará em 1912, ingressou na PM amazonense, mediante concurso, em 1942, vindo do Exército.

Com esta especialização, pode-se afirmar que ele foi o primeiro aviador da PMAM. No entanto, sua habilidade na condução de aeronave produziu o desastre noticiado pelo O Jornal – 24 de agosto de 1945 (compartilhada aqui em 29.06.2019). Em resumo: o avião de pequeno porte foi ao chão nas proximidades do Piquete, quartel pertencente a PMAM, onde hoje se aquartela o Comando do Policiamento Metropolitano (CPM), ponto de referência, aos fundos da Maternidade Balbina Mestrinho.

 

quinta-feira, junho 17, 2021

MEUS 75 ANOS

Ao completar sete décadas de vida, pude realizar uma festa com os familiares e amigos. Cinco anos depois – na data de hoje – nada foi possível realizar. As condições sanitárias não permitem a aproximação, portanto, fica transferido para o próximo ano a realização do festejo. Tomara que a pandemia permita e a saúde do aniversariante colabore. De minha parte, prometo, vou chegar lá.

Capa do livro dos 70 anos, distribuído
 como lembrança

Para sacramentar a desdita, no início da semana meu filho Eduardo baixou ao hospital com o maldito vírus. O pânico se apossou da família, não era pra menos. Contudo, a ajuda dos amigos, a oração dos crentes e a esperança dos familiares produziram resposta positiva.

Hoje, ao amanhecer, recebi um presente grandioso. O doente havia sido transferido de hospital e recolhido à enfermaria, longe da UTI e da intubação. Que presente maravilhoso recebi com a notícia e depois com o sorriso que o doente espalhou pela internet, quando pode usar seu celular.

Portanto, este é momento para agradecer àqueles que me parabenizaram, àqueles que contribuíram para a concretização deste momento. Gracias!

Roberto (acima) e Eduardo (abaixo)



quarta-feira, junho 16, 2021

CORONEL MÁRIO PERELLÓ OSSUOSKY

Faleceu ontem, em Brasília (DF), o ex-comandante da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), coronel Mário Ossuosky. que assumiu o comando em 23 de abril de 1975 e o deixou em 13 de maio de 1979, quase todo cumprido na gestão do governador Henoch Reis. 

Coronel Ossuosky (no detalhe), seguido do general Heitor Luiz - IGPM; oficial CMA;
desembargador Jesus Ferreira Lopes; doutor Mário- Auditor Militar e major PM Odorico
Alfaia, em recepção ao IGPM ocorrida no restaurante Chapéu de Palha (1977)

Sua presença na corporação foi marcante, cabendo ressaltar a implantação do corpo de leis, que ainda servem de diretrizes na corporação. Outra respeitável iniciativa foi a criação dos grandes Comandos, então divididos em Capital e Interior. 

A ele cabe a existência das primeiras Diretorias: de Finanças, de Apoio Logístico e de Pessoal. No tocante ao policiamento ostensivo, tratou de dotar a Cidade e o Interior com as Companhias Independentes, e diante da expansão da Zona Franca, a Companhia de Choque. Em Tefé, foi instalada a sede do 3º Batalhão. Sua última inauguração foi o Centro de Suprimento e Manutenção, no bairro de Petrópolis.

Cuidou igualmente da área social, com ênfase nos clubes (hoje associação) de praças e oficiais. Prestigiava com vigor as iniciativas dos camaradas policiais. Outro detalhe desta área foi a abertura do Armazém Reembolsável, instalado no próprio quartel da Praça da Polícia, para atender aos policiais amazonenses.

Deixei por derradeiro a marca de outra iniciativa deste comandante, cuja ação ainda perdura em nossos dias, suspensa obviamente pela pandemia. Trata-se da congregação de oficiais em almoço fora da caserna, quando os espíritos se congregavam e as deliberações mais bem fluíam. Teve início com a alcunha de "almoço dos cardeais", hoje possui uma denominação mais eclética: "almoço dos coronéis".

Descansa em paz, talentoso Comandante, a PMAM tem a obrigação de consagrá-lo em alguma de suas realizações.

terça-feira, junho 15, 2021

PMAM - DOCUMENTO DE SUA HISTÓRIA

 A implantação do Estado Federado do Amazonas ocorreu com a posse do governador nomeado pelo Governo Central: tenente EB Augusto Ximeno de Villeroy. Que, empossado nos primeiros dias de janeiro, deixou o governo em 2 de novembro de 1890.

Formulário do Batalhão de Polícia

Coube-lhe promover a primeira reformulação da atual Polícia Militar do Amazonas (PMAM), ocasião em que nomeou ao tenente EB José Carlos da Silva Telles, como tenente-coronel comandante desta Força (1890-91). Não posso afirmar que Silva Telles já se encontrava servindo em Manaus ou se fez parte do comboio de Villeroy desde a Capital Federal. 

Destinatário e a assinatura do remetente

Contudo, quando Villeroy escapou de Manaus, em novembro, passando o governo ao secretário de governo, Eduardo Gonçalves Ribeiro, outro tenente EB, o mencionado comandante foi mantido. É dele o documento aqui compartilhado, no qual manifesta sua alegria. Mais adiante, quando major, Silva Telles comandou a Polícia Militar de São Paulo (1894-97). 

ESTADO FEDERADO DO AMAZONAS

Secretaria do Batalhão de Polícia, Manaus, 5 de novembro de 1890

Nº 247

Acuso a recepção de vossa circular datada de 2 do corrente mês, na qual me comunicou ter assumido a administração deste Estado. 

Tenho a dizer-vos que fiquei bastante satisfeito em ter tido esta agradável notícia, pelo que vos ofereço os serviços que estiver em meu alcance. 

Saúde e Fraternidade

Cidadão Tenente Doutor Eduardo Gonçalves Ribeiro, Governador deste Estado 

José Carlos da Silva Telles 

tenente-coronel comandante

 

sábado, junho 12, 2021

AJURICABA - HERÓI INDÍGENA

Em 1957, Manaus assistiu o lançamento de um livro sobre o nosso herói indígena: Ajuricaba. O autor – Valério Garcia Caldas - deu-lhe o título de AIURICÁUA, e o tratou como “Símbolo do heroísmo Amazonense!”. Mas quem é o autor desta obra? Tudo quanto sei, compartilhei da “orelha” do aludido compêndio:

Capa do livro

Valério Garcia Caldas, com 55 anos de idade [nascido em 1902], iniciou seus estudos no Instituto Universitário Amazonense até 1916, quando foi para a Bahia fazer o curso do Ginásio Carneiro Ribeiro, de onde afastou-se no 3º ano, em virtude do abalo financeiro e de saúde de seu avô que veio a falecer, não tendo podido terminar o curso ginasial, para enfrentar encargos de família.  Fez o curso pre-agronômico no ano de 1921, não terminando por embaraços em sua vida de funcionário público federal, como Carteiro dos Correios do Amazonas e do Acre. No ano de 1944, tendo voltado do Acre, onde servira como Agente Postal Telegráfico, já casado e com duas filhas, resolveu matricular-se no curso Agrotécnico da Escola Agronômica de Manaus, afinal diplomando-se no ano de 1947, quando dirigia como redator-chefe a Revista Agronômica, órgão do Centro Agronômico da Escola.

Alcancei um exemplar deste na biblioteca de Mario Ypiranga, situada no Centro Cultual Povos da Amazônia, o qual registrou nele algumas perversas considerações sobre o autor e a obra. Além de reproduzir em fotos, faço as transcrições literais para a devida apreciação do visitante.

Sobre o autor: Esse cara é estafeta dos Correios e Telégrafos e possuía um parafuso frouxo. Esse folheto é a prova.


Sobre a obra (p. 16): * filho duma puta burro! Nessa época nem o Amazonas era conhecido nem Aiuricáua existia!

O livro foi composto e impresso na Tipografia Fenix, de Sérgio Cardoso & Cia. Ltda. Rua Joaquim Sarmento, 78

quinta-feira, junho 10, 2021

POESIA DA ENCHENTE - ÁUREO MELLO

 Recolhido do São João del Rey Blog, gentilmente enviado por (fjsbraga@gmail.com), compartilho o poema do saudoso “caboco” Áureo Mello (1924-2015), nascido em Santo Antônio do Madeira (MT). Como se verá, estudou as primeiras letras em Guajará-Mirim (RO) e depois foi morar com a família em Santa Fé, às margens do rio Guaporé. Dali, regressou à Porto Velho e, desta cidade, à Manaus, onde cursou o primário no Grupo Escolar Cônego Azevedo, o secundário e o pré-jurídico no Colégio Dom Bosco e o de Direito na Faculdade de Direito do Amazonas.  

Áureo Bringel de Mello

Jornalista desde jovem, iniciou com a coluna "Luva de Seda", no Diário da Tarde, de Manaus. Dali, passou a editorialista em O Jornal, de Aguinaldo Archer Pinto. Em seguida, foi redator-secretário e locutor da Rádio Baré, dos Diários Associados do Amazonas.  

Eleito Deputado Estadual aos 22 anos, e reeleito no quatriênio seguinte, seguiu eleito Deputado Federal, sempre pelo PTB, exercendo este último mandato pelo Rio de Janeiro. Enfim, eleito Senador pelo Amazonas tomou parte na Constituinte de 1988, concluindo seu mandato em 1995.  

Publicou, entre outros, os livros: Luzes tristes (1945); Claro-escuro (1948); Presença do estudante Inhuc Cambaxirra; As aureonaves (1985); Inspiração em três tomos (1989);  O muito bom sozinho (2000);  Como se eu fosse um cantador (1999); Onde está Gepeto? (1999); Heliotrópios adamantinos lácteos: suco de estrelas (2004).

O poema intitula-se POESIA DA ENCHENTE, e não poderia ser mais significativa para o momento, quando Manaus assiste a maior elevação das águas do rio Negro, desde sua conhecida anotação. O melhor que o autor o escreveu com o emprego de termos de nosso caboquês. Pode ser um tanto incompreensível para os não iniciados, mas valeu, Áureo Mello.

POESIA DA ENCHENTE 

— Tu tá veno, cuirão?  Tu tá veno, José? 

Eu num disse qui a inchente esse ano era braba? 

Cadê tua juta agora? Eu quero vê cumo é 

Qui vai-se arisurvê! Suco! Água qui nunca acaba!"  

E o rio vai galgando as carnes do barranco 

Cobrindo os capinzais, os troncos assediando, 

Seguindo, mata a dentro, em desmedido arranco, 

Aos lagos e igapós as águas germinando...  

Estão mortos jutais, as plantações tombadas, 

As casas se-mostrando, à flor do lençol tétrico, 

E hercúleo e caudaloso, o rio, em rabanadas, 

Avança, vale a dentro, o corpo quilométrico...  

O Amazonas cresceu, nestes meses pioneiros 

E ainda mais crescerá, nos meses que hão de vir. 

Nesse anseio de criar que estremece os banzeiros 

O gigante brutal somente faz destruir...  

O rio é largo e belo, é como um canto errante 

Da natureza, entoado em plena tempestade. 

O ventre colossal vibra, enfunado, arfante 

E rola os vagalhões com lenta majestade...  

Na superfície, ao sol, balseiros, velhos troncos, 

Em lenta procissão vão demandando o mar. 

O vento é frio, e é forte. As vagas soltam roncos 

E espumam, são cristais se esfacelando no ar...  

A selva assiste a marcha eterna da corrente 

E é bela, é moça, é verde, é viva e misteriosa... 

A coma é seiva e luz, mas lôbrego e silente 

É o fundo coração dessa floresta umbrosa...  

As aves vêm valsar nas margens, de beleza 

Criando, contra o céu, figurações ideais, 

E segue, assim, vibrando, a enorme correnteza 

Entoando um cantochão entre sons festivais...  

O crepúsculo é um sonho, é uma paisagem linda 

De ouro e coral e azul e espelhos de cristal 

A alma se enleva e ajoelha, e esse enlevo não finda 

Quando nos céus se espalha a noite equatorial...  

Mas... o monstro subiu trinta metros ao todo, 

E as matas invadiu, as várzeas submergindo. 

Terra firme é bem pouca. O gado está no lodo  

O vento sopra, e soa a inúbia dos rebojos, 

A água sinfonizando em gorgolões sombrios... 

O pensamento sobe, em místicos arrojos 

E mergulha depois na esteira dos navios...  

             Ou triste, a se imprensar nas marombas, mugindo...  

E o caboclo? O mongol calado da restinga?

Onde está o oriental do "jaticá", do arpão? 

Campeão dos matupás, batalhador da aninga

Rei completo do anzol, da rede e do facão?  

Onde está o grande herói que na proa da sua 

"Montaria" partiu pra pescar jacaré? 

Onde o veste-de-trapo, o João-ninguém que à lua 

E ao sol trabalha e luta, alentado a "chibé"? 

Onde é que você está, meu bravo amazonense, 

Que mergulha no barro arrancando o jutal?

Onde é que você está, nordestino, cearense 

Que caboclo ficou nas lides da jangal?

 

Está no pastoreio ao gado? Na caçada? 

Cortando canarana ou lançando o espinhel? 

Virando tartaruga à praia? Na queimada? 

Ou foi pro seringal, representando Abel?  

Qual o quê! O caboclo, encorujado a um canto 

Está, qual um Noé, sozinho no Dilúvio. 

Sem casa, sem vintém, tendo a vida, se tanto 

Nada pode fazer contra o inimigo plúvio...  

Plantar roças sobre água? Impossível! Pescar 

Ele o pode fazer, mas com dificuldade. 

Que lhe resta, afinal? É remar, é remar 

E ir, como outro já fez, mendigar na cidade...  

"Vucê, se me ajudá, cumpatrício do sur, 

Vai ganhá de presente umas cuisa incantada: 

Vú mandá pra vucê, já "feito", irapuru

E olho de buto, viu? Suco! Inchente zangada!"

Fonte: Áureo Mello INSPIRAÇÃO (Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989).