CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, outubro 31, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (7)

Novo tópico sobre o período provincial da Polícia Militar do Amazonas, associado às efemérides mais destacadas do Estado, compartilhado do livro Guarda Policial (1837-1889).

Ano de 1851

 

Tenreiro Aranha

Em ato de 7 de junho, o Governo Imperial nomeia João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha presidente da nova província. O primeiro presidente do Amazonas era filho do poeta Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, nascido a 23 de junho de 1798 e falecido a 19 de janeiro de 1861, ambos os fatos na cidade de Belém (PA). Na história regional, os autores mais avultados são unânimes em considerar de integral equidade a designação desse político para instalar a novel província. A razão é bastante singular: a despeito de representar, como deputado, a província do Pará na Assembleia Geral, propugnou “com longo e tenaz esforço” pela emancipação amazonense, sendo autor de ao menos uma indicação com esse objetivo.

Tenreiro Aranha

Para assumir o encargo, Tenreiro Aranha embarca em Belém, em 9 de dezembro, viajando no vapor Guapiaçu, da Marinha. A bordo viajou o pessoal nomeado para as repartições civis e militares da nova província, exceto o tenente-coronel Albino Pereira dos Santos, que já ocupava em Manaus o Comando Geral Militar, recorda o primeiro filho do presidente, talvez companheiro nesta aventura rio acima. A delegação desembarca aqui, na tarde de 27 de dezembro, após dezoito dias de viagem.

Em retribuição ao desempenho do primeiro governante, o Amazonas fez erigir o monumento inaugurado na praça com seu nome. Esta memória, todavia, para monumentalizar a praça Cinco de Setembro ou, se preferir no popular, da Saudade, ali foi remontada em 1932.

 

Exposição presidencial

O presidente da província do Pará, Fausto Augusto de Aguiar, cumprindo a práxis administrativa, encaminha em 9 de dezembro ao presidente da nova província, Tenreiro Aranha, uma extensa Exposição. Este documento buscava instruir abertamente o colega relativamente às medidas prévias adotadas no território desmembrado.

Acerca de a Força Militar, comenta a existência do Comando Geral Militar (criado pela portaria de 5 de julho de 1837), então sob a direção do tenente-coronel Albino dos Santos Pereira, desde 28 de outubro de 1850. Este oficial já foi designado para o comando do Corpo de Artilharia na província do Mato Grosso, devendo passar o comando e “recolher-se ao seu Corpo”. Subordinados a este comando, “foram em diferentes tempos criados (...), 22 comandos parciais, mas atualmente só seis se acham preenchidos”, constante do Mapa nº 1, cujo anexo inexiste nos relatórios arquivados em Manaus. Portanto, não há como avaliar essa instituição.

Sobre a Guarda Policial, aquela autoridade paraense expõe breve análise:

 

Tendo inteiramente cessado as circunstâncias extraordinárias que motivaram a criação de tais comandos parciais, são eles, atualmente, no meu entender, salvo nos pontos principais das nossas fronteiras, além de desnecessários, prejudiciais ao serviço público, por darem ocasião a frequentes e desagradáveis conflitos entre a autoridade militar e as civis das localidades.

Ainda a propósito da Guarda Policial, matéria deste resumo, reitera: “criada em toda essa Província pelas Instruções de 4 de abril de 1837, para substituir a Guarda Nacional, dissolvida por ocasião da rebelião de 1835, compõe-se, na nova província, de dois batalhões com a força de 1.339 praças”. O Mapa nº 4, que detalhava o efetivo dessa força, também não foi alcançado.

Este número tão elevado de guardas sempre causou perplexidade aos integrantes da Polícia Militar do Amazonas, todavia, a explicação é singela: naquele ensejo, a obrigatoriedade do serviço policial – predominantemente militar – atingia os homens entre os 15 e os 50 anos, sem que lhes fossem pagos soldo, salvo se empregados no serviço. “Como o cidadão válido pertencia, obrigatoriamente, às Polícias, registram-se efetivos assustadores para a época e para a população da Capitania”, sintetiza desembargador piauiense Tito Filho (1985).

domingo, outubro 30, 2022

DESASTRE DO CONSTELLATION PP-PDE

 A retrospectiva que escrevo sobre o acidente recebeu o ponto final. Para isso, visitei o CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva), onde no Memorial encontra-se parte de uma Asa desta aeronave. Além de ter dialogado com o capitão Morais Guimarães, que me prestou honrosa colaboração. As fotos da visita são de autoria do genial Carlos Navarro. 

Foto do avião sinistrado em aeroporto não identificado, nem data



Junto a Asa no Memorial e a conversa (abaixo)
com o capitão Morais Guimarães



sexta-feira, outubro 28, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (7)

 Novo tópico sobre o período provincial da Polícia Militar do Amazonas, associado às efemérides mais destacadas do Estado, compartilhado do livro Guarda Policial (1837-1889).

 

1850

Incêndio da Matriz

Em 2 de julho, um incêndio destruiu a igreja de Nossa Senhora da Conceição em Manaus, construída por Lobo d´Almada no final do século XVIII. A causa do fogaréu teria sido um descuido fatal: “alguém deixou um archote aceso debaixo do púlpito, após uma procissão penitencial”.  Encerrada a prática religiosa, todos se retiraram. Nessa ocasião o fogo irrompeu e se expandiu, dado que o material da construção era bastante propício à queima.

Algum arranjo com feição de Bombeiros somente surgiria na cidade um quarto de século depois. Então, recursos havia para combater o fogo? Nenhum. Somente água e abnegados devotos. Ainda assim, salvou-se “milagrosamente”, consoante a lenda religiosa, a imagem da padroeira.


Painel que existiu na Catedral, obra do Casal Makk (1958)


Pouco mais de um século depois (1958), o Casal Makk (Eva e Américo) concebeu e recriou na parede da capela-mor da Catedral atual a igreja desaparecida em 1850. Atualmente, não adianta buscá-la, pois, a reforma deste templo em 2002 a condenou ao limbo.

Elevação do Amazonas à categoria de Província

A lei imperial 582, de 5 de setembro, certamente veio coroar as justas manifestações de repúdio amazonense à estéril dependência provincial e rematar tantas lutas, algumas sangrentas, em prol da emancipação da comarca amazonense. A prescrição legal foi sancionada pelo Imperador Pedro II e pelo 1.º Ministro, José da Costa Carvalho, marquês de Monte Alegre, e estabeleceu a “elevação do Amazonas à categoria de Província” desmembrada da do Pará.

 

D. Pedro, por graça de Deus, e unanime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembleia Geral decretou e Nós Queremos a Lei seguinte:

Art. 1º - A Comarca do Alto Amazonas, na Província do Grão-Pará, fica elevada à categoria de Província, com a denominação de Província do Amazonas. A sua extensão e limites serão os mesmos da antiga Comarca do Rio Negro.

Art. 2º - A nova província terá por capital a Vila da Barra do Rio Negro, enquanto a Assembleia respectiva não decretar a sua mudança.

 Art. 3º - A Província do Amazonas dará um senador e um deputado à Assembleia Geral, sua Assembleia Provincial constará de vinte membros.

Art. 4º - O Governo fica autorizado a criar na mesma província as estações fiscais indispensáveis para a arrecadação e administração das rendas gerais, submetendo-se depois ao conhecimento da Assembleia Geral para a sua definitiva aprovação.

quinta-feira, outubro 27, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (6)

 Novo tópico sobre o período provincial da Polícia Militar do Amazonas, compartilhado do livro Guarda Policial (1837-1889). A partir desse tópico, elaboro uma retrospectiva cronológica.

Lugar da Barra do Rio Negro

1840 Anistia e deposição das armas

Mediante proposição das autoridades provinciais, o Governo Geral, em 4 de novembro de 1839, concede anistia aos cabanos. Em consequência desta medida foi possível encerrar o período tenebroso da Cabanagem. Em 25 de março, “No décimo nono ano da Independência e do Império”, um faustoso acontecimento realiza-se na vila de Luseia, hoje Maués, município do Amazonas, diante do major (de 3ª classe do Exército) José Coelho de Miranda Leão, ocasião em que os anistiados combatentes finalmente depuseram as armas.

Encerrada a refrega cabocla, Miranda Leão, oficial com mais de 37 anos de serviço “sem nota”, prosperou na condição de comerciante, tendo sido eleito o 1º presidente da Associação Comercial do Amazonas (ACA), empossado em 18 de junho de 1871.


1848 Comando Geral Militar do Alto Amazonas

Em ofício de 10 de abril, o tenente-coronel EB Albino dos Santos Pereira comunica ao comandante das Armas da Província, coronel Francisco José Martins, sediado em Belém (PA), sua posse no Comando Geral Militar do Amazonas. Havia substituído ao coronel reformado João Henrique de Matos (empossado em janeiro de 1847).

Santos Pereira aproveita ainda essa comunicação para descrever, entre outras notícias recorrentes, os entraves burocráticos alcançados, motivos para o descumprimento de incumbência regulamentar. Ou seja, remeter os “mapas, inventários e relações” sobre o pessoal e material encontrados.

Determinado a esclarecer o equivocado registro de que aquele tenente-coronel teria sido o primeiro comandante da Guarda Policial do Amazonas e, desse modo, da Polícia Militar do Amazonas, reproduzo o mencionado documento, acatando a reforma ortográfica vigente.

 

Ao Comandante das Armas

Tendo chegado a esta Vila no dia 30 do mês pp., e tomado posse do Comando Geral Militar no dia 1º do corrente, em observância das ordens de V.S. expedidas em ofício de 19 de fevereiro pp., assim o participo a V. Sa. como me incumbe o meu dever, e igualmente cabe-me a honra de comunicar a V. Sa. que me não é ainda possível remeter os mapas, inventários e relações que demonstram o estado do pessoal e do material existente na Comarca, por isso que ainda não estou de posse do arquivo do Comando; entretanto, tenho feito alterações que o bem da disciplina e outras circunstâncias têm exigido, e de que darei conta à V. Sa. em tempo competente

Deus guarde a V. S.

Albino dos Santos Pereira, tenente-coronel

Comandante-Geral Militar da Comarca

PALAVRAS DE ORDEM

 Muito comum em quarteis a exposição de legendas nas paredes, com o intuito de fortalecer a disciplina, incentivar a ordem e conclamar o espírito de corpo. Entre outros objetivos. A Polícia Militar do Amazonas não foi exceção, lá encontrei enorme conclamação na parede interna do pátio de formatura, que vai exposta abaixo. Desapareceu quando ampliaram as garagens e inventaram um dique para lavagem das viaturas, em 1972.

Antigo quartel da Polícia Militar, em cujo
pátio existiu a inscrição

A prática ainda persegue os policiais militares, aqui e ali ainda se vêm dísticos estampados, alguns apagados pelo tempo, outros pela sem serventia. Certo camarada afixou no quartel do CSM o seguinte: “Aqui pulsa o coração da Polícia Militar”. Como chiste, sugeri a ele: você já mandou fazer um eletrocardiograma neste coração? É que aquele quartel andava alquebrado... 

O Policial Militar

deve ser um exemplo

de disciplina, de cumprimento do dever,

de correção de atitudes militares,

de cortesia e de boa apresentação pessoal.

terça-feira, outubro 25, 2022

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (5)

Quinto tópico sobre o período provincial da Polícia Militar do Amazonas, compartilhado do livro Guarda Policial (1837-1889). A partir deste tópico, elaboro uma retrospectiva cronológica.

1835 

Cabanagem

Em 7 de janeiro, irrompe na cidade de Belém do Pará uma revolta popular essencialmente cabocla (caboclo aqui não é apenas uma configuração étnica, mas, sobretudo, cultural, (...) Neste sentido, caboclo, que sem constituir uma parcela considerável da população local, integraria a classe dos “libertos”, ou seja, a parcela revolucionária por excelência no movimento da Cabanagem, esclarece Vicente Salles), reconhecida na historiografia nacional por Cabanagem (1835-40). A tomada da capital paraense pelos cabanos impõe de imediato a derrubada do governo, com os inconsequentes assassinatos de Bernardo Lobo de Souza, presidente da Província, e do tenente-coronel Joaquim José da Silva Santiago, comandante das Armas. Assume o primeiro governador cabano, Felix Antônio Clemente Malcher (antigo alferes da tropa de linha envolvido, desde o início, nas articulações políticas. ... De caráter sombrio e impetuoso era severo, chegando à perversidade. Irritável, espírito pouco cultivado e de atitudes dúbias, segundo Arthur Reis), governo que não prosperou, advindo desse fracasso e da impetuosa repressão imperial uma torrente de lutas e de mortes.

Selo comemorativo do sesquicentenário da
Cabanagem (1985)

Acerca deste período insurrecional, Reis assim o resume: “A Amazônia (...) ia experimentar ou padecer uma das mais sangrentas aventuras políticas que se registraram no processo de politização do Brasil.” O ex-governador do Amazonas explica a causa: “A insatisfação das multidões nativas que se julgavam esbulhadas nos seus direitos desde o momento da Independência, que não se sentiam felizes no atendimento de suas necessidades materiais mais imediatas”. O impulso das massas, contudo, não conseguiu prontamente reabilitar os espoliados, talvez em decorrência de tenaz e profunda repressão imposta pelas autoridades. Na prática, ocorreu forte despovoamento, além de uma desarticulação econômica da região amazônica.

É no fragor desta insana disputa que pode ter surgido a primitiva força militar amazonense com a denominação de Guarda Policial (GP), aliás, pouco mais de duas dezenas de Guardas espalharam-se pela nossa hinterlândia. Assim, pois, a GP foi gerada com a destinação guerreira de aniquilar os cabanos, contudo, seus resultados se perderam nos banzeiros da informalidade.

1836

Lugar da Barra

Na tarde de 6 de março, a Barra do Rio Negro, hoje Manaus, foi tomada por um destacamento cabano sob a direção de Francisco Bernardo de Sena. Nessa condição, o lugarejo permaneceu até 31 de agosto. Na Comarca, segundo Arthur Reis (1989), várias foram as iniciativas promovidas por autoridades sabidamente civis em defesa da legalidade: de juiz, como o interino João Inácio Rodrigues do Carmo, e até de sacerdotes. O destaque incondicional pertence a Ambrósio Pedro Aires, o bravo Bararoá, alcunhado dessa maneira “em razão do Termo onde vivia”, o qual, “na direção de 77 guardas nacionais”, defendeu Mariauá (hoje Barcelos).

Afastados no final de agosto, ainda houve em 13 de novembro, de parte dos cabanos, outra tentativa para sobrepujar a Barra. Os legalistas, todavia, rechaçam em definitivo os seguidores de Francisco Angelim e Antônio Vinagre.  

Vila da Barra do Rio Negro (c.1848)

 

Brigadeiro Soares d’Andréa

Assume em 9 de abril o governo da província do Grão-Pará e o Comando das Armas o general-brigadeiro Francisco José de Souza Soares d’Andréa, barão de Caçapava (1781 Portugal-1858 Brasil).  Servia na Armada Imperial brasileira, quando foi convocado para debelar tamanho infortúnio, ou seja, a conflagração dessa imensa província, a mesma região que constitui a Amazônia contemporânea. O governo imperial fornece ao comandante Soares d’Andréa uma esquadrilha de navios da Armada, adequada à navegação pela rede hidrográfica amazônica.

Fornece igualmente ao presidente para auxiliar nesta intrincada missão, oficiais de diversas patentes do Exército. Entre estes, segundo Luís Lobo em História Militar do Pará, os tenentes: José Soares d’Andrea, filho do brigadeiro, e Albino dos Santos Pereira, apontado equivocadamente como o primeiro comandante da Polícia Militar do Amazonas,

Fac-símile da assinatura de Soares d'Andrea

Com o intuito de pronto sufocar o movimento rebelde e dar execução ao anseio imperial, Soares d’Andrea despachou, em 5 de julho de 1837, sob o comando do tenente-coronel Joaquim José Luís de Souza, a Expedição Militar ao Amazonas. Souza, entretanto, optou por acantonar em Santarém, cidade do médio rio Amazonas, de onde operacionalizou o emprego da tropa e tudo empreendeu para obstaculizar o avanço dos cabanos. Quem conhece o espaço geográfico da Amazônia sabe bem que, diante dessa decisão, a tropa permaneceu bastante distanciada da Comarca rio-negrense.

O governo do brigadeiro estendeu-se até abril de 1839, ocasião em que transmitiu o cargo ao presidente Bernardo de Souza Franco, visconde do mesmo nome, que se bacharelou pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1835. Acerca deste bacharel, o jurisconsulto Clovis Bevilaqua, em História da Faculdade do Recife, rememorando o centenário da Faculdade pernambucana, destaca: “Nasceu em Belém em 1805 e faleceu no Rio de Janeiro em 1875. Deputado, senador, presidente de províncias, conselheiro de Estado, foi alta influência liberal”.

domingo, outubro 23, 2022

DESASTRE DO PP-PDE: MORTOS (1962)

 Tripulantes mortos

A tripulação em número de sete, integrada por uma mulher (comissária), conduzia o PDE desde o Rio de Janeiro e, tendo o avião passado o dia (13 de janeiro) no aeroporto Val-de-Cans em reparos, prosseguiu na direção. A agência da Panair do Brasil em Manaus informou que os restos mortais destes – se forem entregues - serão transportados para o Rio (destino inicial da aeronave) para sepultamento. No entanto, um diário manauara publicou (24 dez.) que os corpos da tripulação não foram encontrados; daí certamente o problema causado à família do comissário Ruy Pereira. Afinal, o corpo do comandante foi inumado na capital paraense.

PP-PDE em aeroporto brasileiro não identificado

 

1.  Dalvo da Costa – comandante

Ingressou na Panair do Brasil em 1941, possuindo ao tempo do acidente 20 mil horas de voo, era considerado profundo conhecedor da região amazônica. Ainda porque exerceu a função de chefe de operações da empresa. Há cinco anos estava no comando de Constellation. (Jornal do Commercio, 19 dez.). Era casado e possuía três filhos.

Seu sepultamento ocorreu em 27 de dezembro, na necrópole de Santa Isabel da capital paraense, ocasião em que o destaque operacional deste profissional ficou evidenciado com a presença de colegas aeroviários de todas as companhias aéreas. No ensejo, falou o presidente da classe Vicente Queiroz (A Província do Pará, 28 dez.).

2.   Kenir Barcelos da Silva – copiloto

Durante largo tempo foi piloto sediado em Manaus, no comando de aviões Douglas e Catalina, tendo acumulado 8 mil horas de voo na região amazônica. Seu ingresso na Panair ocorreu em 1952. Casado e pai de três filhos, morou no Boulevard Amazonas (hoje de Álvaro Maia), ocasião em que granjeou ampla rede de amizade, tantos amigos que, no transcurso do primeiro mês de sua morte, encomendaram uma Missa para registrar o afeto e conclamar a quantos usufruíram deste sentimento com o Kenir.

Jornal do Commercio, 12 janeiro 1963
 

No ano anterior, Kenir havia sido contemplado com o prêmio “Seu Talão Vale um Milhão”, ocasião em que sua esposa confidenciou que o marido seria transferido para a Base-Rio da Panair, onde passaria a conduzir os Constellations, além de que compraria o apartamento familiar. Seu corpo certamente foi transportado para o Rio de Janeiro.

3.   Orlando Medeiros Paiva – rádio telegrafista

4.   Wander Ottoni de Souza – mecânico de bordo

Os comissários abaixo todos eram solteiros:

5.   Fernando Davi Fonseca,

6.   Rui de Almeida Pereira,

Publicação do Jornal do Brasil (Rio, 28 dez.) relata que o “Serviço de Imprensa da Panair do Brasil” informou que o incidente criado com a substituição do corpo deste comissário “por uma pedra e um pedaço de pano tostado”, foi encerrado. E mais, a “empresa deve pagar os honorários por morte até ser legalmente considerado morto e encontrado o cadáver.”

7.      Simonidas Jesus da Silveira.

sábado, outubro 22, 2022

DESASTRE DO PP-PDE: PASSAGEIROS MORTOS (1962)

A relação conhecida lista 43 passageiros, sendo 27 masculinos e 14 femininos, e mais dois não identificados, pois constam na relação de passageiros somente como familiares de Waldomir (Waldemar, na lista de passageiros) Holanda. Como a lista de passageiros menciona, ainda em nossos dias, o primeiro nome e o último sobrenome, para completar os espaços recorri ao 1º Cartório de Registro de Pessoas Naturais, onde foram expedidas as certidões de óbito. Por fim, tomei a iniciativa de relacionar os ocupantes do avião pelo aeroporto de embarque.

Lista de passageiros
do PP-PDE

Embarcados em Belém (PA)

1.      Ermindo Fernandes Barbosa

“Líder do comércio e da indústria, foi uma das mais graves e das mais sensíveis perdas do Amazonas no desastre do Constellation PP-PDE da Panair do Brasil.” As anotações seguintes foram compartilhadas de periódicos locais que, como se podem observar, foram generosos com o industrial.

Ao falecer, Ermindo Barbosa estava viúvo e deixava três filhos: Edith Fernandes Barbosa, o professor Ernani Barbosa e a senhora Ercilla Barbosa Venâncio. Enfim, era irmão do comerciante Francisco Barbosa.

2.   Cândido Acciai

de nacionalidade italiana, era membro das indústrias Acciai que seguem operando derivados metálicos. Quem sabe estivesse chegando em Manaus para contato comercial.                                        

3.   Sírio Simoni

sem anotação

4.  José Haroldo Andrade

sem anotação

5. Maria Luísa Chauvin Chase e 5 filhos

esposa do engenheiro Nicholas Chase, viajava com os filhos: 6. Paulo Eugenio; 7. Mauro Bernardo; 8. Luiza Helena; 9. Doris e 10. Carlos Otavio Chauvin Chase. A família visitava a tia Olenka Chauvin de Menezes, delegada do IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários). O engenheiro desembarcou em Manaus no mesmo dia, viajando na delegação do presidente da Panair do Brasil. Dias depois, alcançados os destroços do avião, obteve benevolência para visitar o local. Soube enfrentar o quadro com bravura, ainda que extremamente emocionado, tendo sugerido ao tenente chefe da equipe de resgate o sepultamento coletivo na clareira aberta. A opinião benfazeja, porém, não prosperou. Os restos mortais da família foram sepultados no cemitério São João Batista local.

Convite publicado em Jornal do Commércio, 12 jan. 1963 


11. Maria América Farias Miranda

acompanhante da família Chase, moradora de Belém onde foi sepultada no cemitério Santa Isabel, em 27 de dezembro, consoante o diário A Província do Pará (28 dez.)

12. José Luís Nunes Pinto e 2 familiares

médico pediatra em Belém, que estava acompanhado da esposa 13. Maria Pinto e da filha 14. Nair Pinto. A viagem da família atendia “ao convite do governador amazonense Gilberto Mestrinho para conhecer as obras de sua administração”, informa A Crítica (15 dez.). Semelhante referência foi publicada pelo vespertino A Gazeta (16 dez.). Enfim, os corpos dos familiares do clínico não foram identificados.

15. Aline Linhares Teixeira

viajava com as filhas 16. Aline e 17. Ângela Ester Linhares Teixeira, era esposa de conhecido industrial Max Teixeira (1928-90), cujo nome referencia uma avenida na cidade (CEP 69090-001). Mãe e filhas retornavam do casamento de um familiar. Seus corpos foram sepultados no cemitério São João Batista local. O desempenho de Aline na sociedade era admirável, daí a Nota exposta pelo Grêmio Guanabara, que funcionava na Estrada do V8, hoje avenida Efigênio Sales:

O GRÊMIO GUANABARA, por sua Diretoria, sente-se consternado, comunica aos seus associados o trágico desaparecimento de uma de suas mais lídimas expressões do Departamento Feminino, Senhora Aline Linhares Teixeira e de suas filhinhas Aline e Ângela, ocorrido no acidente do avião Constellation da Panair do Brasil e, ao mesmo tempo apresenta às famílias enlutadas profundo pesar por tão rude golpe que a todos nós do Grêmio Guanabara atingiu.

18. Kassen Merahim

jovem estudante, morador de Rio Branco (AC), onde foi sepultado em 26 de dezembro (O Acre, 27 dez.).

19. Hugo Macario de Brito

engenheiro do setor de manutenção da Petrobras, solteiro, nascido no Crato (CE); foi sepultado no São João Batista, em Manaus, assistido por seu irmão Humberto Macário, médico em Salvador.

20. Norbert Mannicke

engenheiro operador da Companhia Schlumberger, casado, de nacionalidade alemã; em viagem a serviço da Petrobras.

21. Walter do Nascimento Meguins

técnico soldador da Petrobras, casado, de Belém (PA) onde foi sepultado na necrópole de Santa Isabel em 27 de dezembro, em que se pronunciou o representante do presidente da Petrobras (A Província do Pará, 28 dez.). Estava lotado em Nova Olinda do Norte (AM) e deixou órfã uma filha de seis anos – Rosimê da Conceição Meguins – que, em sua Tese de Doutorado sobre Educação na UFMG, em 2006, lavrou a seguinte dedicatória:

“Ao meu pai, Walter Meguins (em memória)

que, na passagem muito rápida pela vida,

deixou as mais profundas marcas

impressas em lições de amor, justiça e verdade.”

22. Pedro Alves Ferreira

radiotelegrafista, solteiro, amazonense, funcionário da Petrobras.    

23. Mauricio Samuel Ohana

sem anotação

24. Elias Jocayed

comerciante em Porto Velho (RO), “tendo recebido recentemente ótima herança de seu genitor, passando os negócios à família” (A Crítica, 15 dez.).

 25. Jackson de Albuquerque Pinto

1º tenente aviador, designado para conduzir aeronave da Missão Mapuera, com origem em Manaus (AM). Na época, era comum militar da Força Aérea viajar de cortesia em companhias aéreas. Neste voo, a única vaga existente foi ocupada por este oficial, tendo permanecido na reserva o tenente José Orlando Amado Neco.

26. Amaro Alves da Rocha  

comissário da Marinha Mercante e funcionário da Petrobras, servindo em navio da Frota Nacional de Petroleiros (A Provincia do Pará, 16 dez.).

27. José Ribamar Nascimento Santos

sargento do Exército, seu corpo foi sepultado no cemitério Santa Isabel em Belém (PA), conforme o diário A Província do Pará (28 dez.). Servia em Tabatinga (AM), segundo a publicação do jornal A Crítica (29 jan. 1963).

28. Youssef Makarem

residiu por muitos anos no Território Federal do Acre, operando com o comércio de ouro, tendo há pouco mais de um ano transferido o domicílio para Manaus (A Gazeta, 17 dez.).

29. Aymoré de Paula e Souza

nascido em Borba (AM), era irmão do deputado estadual Tupinambá de Paula e Souza e primo do jornalista Ramayana de Chevalier e, na ocasião, jornalista de O Povo de Fortaleza, onde residia (A Gazeta, 14 dez.). Casado com Raimunda Hermelinda Sales de Souza deixou os filhos Newton Sales de Souza, Vera Angelina Sales de Paula e Souza e Fabíola de Paula e Souza Santos (todos vivos em 2022). Fabiola prestou uma entrevista para esta retrospectiva em julho, quando revelou o desencanto familiar com a urna recebida com o corpo de seu genitor.

Aymoré Paula e Souza

A condição de jornalista de Aymoré muito contribuiu para uma ampla rede de apoio, não somente dos periodistas, mas também de radioamadores. O advogado Licurgo de Souza Cavalcanti (PY8-HL) informou ao jornal A Crítica (21 dez.) ter recebido solicitação dos familiares deste colega, tanto da esposa em Fortaleza, como do irmão Edsel Paula e Souza, que trabalhava na presidência da República.

30. José Roberto Blanco

acredito, pela leitura do agradecimento, que o inditoso passageiro era “vendedor-viajante” da empresa Sidney Ross Company, hoje apenas memória, e que estava fazendo a “praça” do Norte. “A Sidney Ross produzia grande número de marcas de medicamentos leves, como Melhoral, Sonrisal, Leite de Magnésia de Phillips, Sal de Frutas Andrews, Pílulas de Vida do Dr. Ross, bem como cosméticos famosos como Glostora e Talco Ross. Seus produtos alcançavam os mais longínquos rincões do Brasil, tinha 1.000 vendedores-viajantes.” (A história da Sidney Ross Company e seus investimentos em publicidade)

Embarcados em Fortaleza (CE)

31. João Ivan Paiva

comerciante de relógios e objetos de adereço, estabelecido na rua dos Barés, próximo ao Mercado Adolpho Lisboa. Seu irmão – José Geraldo Paiva – um mês após o acidente acompanhou a equipe da Polícia Civil ao local e afirmou ter ainda encontrado o corpo do irmão, e exigido o translado para Manaus. Ivan encontra-se sepultado no cemitério São João Batista.  

Foto existente na sepultura

32. Ana Benita Peres Pontes  

 sem referência                                             

33. Peggy Blanche Farrance

 sem referência

34. Geralda Santana Marques

 sem referência                                             

35. Joaquim Cordeiro da Cruz

 em viagem a Tabatinga (AM), a fim de visitar o filho oficial do Exército e os netos recém-nascidos.              

36. Milton Matos Rocha

eleito deputado estadual em 7 de outubro no Acre. Visitara Belém do Pará em companhia de seu filho João Alberto, para tratamento de saúde e retornava para seu Estado (A Crítica, 15 dez.). Nascido em Missão Velha (CE) em 1916, era casado com Raimunda Barbosa Rocha. Já havia exercido a prefeitura de Rio Branco e encerrado o mandato de vice-governador. A Assembleia Legislativa gravou seu nome na Sala das Sessões. Foi sepultado conjuntamente com o filho em 26 de dezembro, no cemitério de São João Batista de Rio Branco (O Acre, 29 dez.).

37. João Alberto Pinheiro Rocha

era filho do deputado Milton Rocha (O Acre, 29 dez.), porém, consta na lista de passageiros como Milton Rocha Filho.

38. Waldomir de Holanda Cavalcante e dois familiares (39. e 40.)

             seus restos mortais foram transladados para Rio Branco (AC), em 27 de dezembro, onde foram recepcionados por grande número de pessoas, inclusive o Governador provisório. “Ivo”, como era conhecido, residia no bairro do Quinze, e foi sepultado no dia seguinte no São João Batista local (O Acre, 29 dez.). Não há informações sobre os familiares.

41. Pedro Vieira de Castro 

Após longo período como destacado comerciante em nossa praça, com grandes negócios na capital e no interior do Estado, decidiu mudar-se para Fortaleza. E já estava organizado naquele endereço, quando necessitou viajar à capital do Acre para encerrar os últimos comércios. Seu filho homônimo, estudante em Itajubá (MG) e em férias no Rio de Janeiro, tomou conhecimento da viagem do pai no Constellation acidentado. Recorreu à agência central da Panair, da qual recebeu passagem para retornar a Manaus, onde acompanhou o desenrolar das buscas. No entanto, o corpo de Pedro Vieira não foi encontrado, detalhou-me seu filho em agosto de 2022. Nota jornalística: Pedro Vieira foi proprietário do bar Siroco (A Crítica, 15 dez.). 

Embarcados em Recife (PE):

42. Emília Benassuly Cohen, mãe de                                                         

43. Jannete Abraham Cohen (8 anos)

Parentes do comerciante Abraham Poinkines vinham participar das festividades do Natal com os familiares (A Crítica, 15 dez.). Seus corpos não foram resgatados; em razão disso, Abraham Jacob Cohen, esposo e pai das vítimas, endereçou uma carta a O Jornal (29 jan. 1963) e, na mesma data, concedeu entrevista para A Crítica.