CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, maio 15, 2024

VOLUNTÁRIOS DO COMANDANTE VENTURA

No século passado, Manaus foi assistida em duas oportunidades por Bombeiros Voluntários: no governo de Silvério Nery (1900-04) e, entre 1952-61, conduzida por entidade privada. Este segundo desempenho, seja pela duração, seja pela indigência que assolava o município, marcou sua presença. A sociedade era composta de autoridades e comerciantes, liderados por José Antonio Dias Loureiro Ventura (1897-1961), nascido em Porto (POR) e alcunhado de comandante Ventura.  A sede usava as dependências da Luzitana Industrial Ltda., pertencente ao comandante, em Aparecida, onde hoje funciona o Fórum Des. Mário Verçosa.

Criado em 1952, dois anos depois os Voluntários desfrutavam da confiança do povo e dos governantes. Tanto que lhe foi destinado pelo governo carros próprios de combate ao fogo. Nesse sentido, bem expressa o editorial do Diário da Tarde (11 jan. 1954), que aqui vai transcrito. 

Ilustração sobre o editorial do Diário da Tarde, 11 jan. 1954

Realmente notável é o papel que desempenha, em nossa capital, a Sociedade dos Bombeiros Voluntários. Fundada em 1952 por um grupo de homens idealistas, de cidadãos dotados dos mais elevados propósitos de servir à terra e ao povo, a entidade, hoje em dia, com menos de dois anos de existência, constitui em verdade a garantia única de nossa gente, nos duros combates contra os traiçoeiros incêndios.

Começando suas atividade com um carro pequenino, sob a descrença de muitos e o estímulo de poucos, a Sociedade, paulatinamente, foi vencendo as grandes dificuldades e, no momento, graças à cooperação emprestada pelo governador Gama e Silva, já dispõe de um patrimônio apreciável, tanto assim que, reforçado por mais alguns auxílios que não deixará de prestar s. exa., — ela, a Sociedade, ficará em condições de poder manter um carro em Constantinópolis (Usina “Labor”); outro em São Raimundo; outro na ilha de Monte Cristo (Usina “Estrela”); outro em Adrianópolis; outro na Cachoeirinha; e ainda outro no quartel central, no bairro de Aparecida, para maior e mais afetiva proteção de nossa coletividade.

ATIVIDADES GRANDIOSAS

Mesmo sem o auxílio governamental, expressivo, e condizente com o seu programa de tão alta envergadura, os Bombeiros Voluntários, no entanto, desde o seu surgimento, tendo um comandante com a disposição, o entusiasmo e a fibra de José Ventura, passaram a prestar à coletividade relevantes serviços, quer nas árduas lutas contra o fogo; sem equipamento adequado e eficiente, quer no fornecimento de água a hospitais, quer ainda em outras atividades de interesse do nosso povo.

Voluntários na expressão da palavra, sem visar em consequência qualquer remuneração, esses “soldados do fogo”, sob à direção de José Ventura, vêm cumprindo, com galhardia e sob os calorosos aplausos de sua população, o seu altruístico objetivo.

Dia e noite, eles estão alertas. E, ao menor sinal de incêndio, ou ao simples chamado de entidades ou particulares, para condução de água, eles saem velozes, alegres e dispostos a atender. Não há conveniência, da parte dos seus membros. A todos satisfazem, indistintamente, pondo inclusive, em perigo, suas preciosas vidas.

DEVE HAVER ESTÍMULO E APOIO  

Ninguém desconhece que, desde à sua organização, os Bombeiros Voluntários têm tomado parte ativa e decisiva, no combate aos últimos incêndios verificados em Manaus. E, mercê dessa interferência, imensos prejuízos têm sido evitados. Prestando, como vêm prestando e prestarão sempre, trabalho altamente meritório à nossa gente, os Voluntários fazem jus a toda sorte de estímulo, de incentivo e apoio, seja da parte do governo, seja da parte de entidades particulares, seja do próprio povo.

É certo que eles não pretendem, para si, pessoalmente, compensações. No entanto, desejam o fortalecimento de sua corporação, o que é muito justo e necessário, pois, dispondo de melhor equipamento, poderão prestar a todos nós um serviço mais eficiente, mais positivo. Assim, cada habitante de Manaus, deve ser um defensor, um incentivador dos Voluntários, para que eles, amparados e protegidos nas suas atividades, possam prosseguir na sua campanha, no seu movimento em favor da segurança e da tranquilidade de nossa população.

 

terça-feira, maio 14, 2024

ANÍSIO MELLO (1927-2010)

A postagem objetiva relembrar outro cultor das belas artes; refiro-me ao multiartista Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello (1927-2010), morto há 14 anos, em abril de 2010. A fim de recordar a amizade e nossas boas conversas, compartilho um registro do saudoso acadêmico Waldemar Batista de Salles. Salles publicou a crônica exaltando ao Anísio Mello, quando este promoveu sua primeira exposição. A amostra ocorreu na Biblioteca Pública, em 1952, mesmo ano em que Anísio publicou Minhas Vitórias Régias (poesia), e dois anos após sua estreia na literatura com Lira Nascente (poesia). (*)

 



(...) Derrubando, esmagando, no entanto, este pesado véu e este ar provinciano, fomos visitar na semana última, no andar térreo da Biblioteca Pública, a exposição de quadros feita pelo pintor amazonense Anísio Melo. O artista, na sua simplicidade e na sua modéstia, se nos apresentou quadros admiráveis, nos quais se pode notar, desde logo, o brilho futuro que o espera, nessa difícil arte de pintar. Aliás, coisa rara em pintor, além de ser um artista de cores sóbrias e interessantes, é também poeta, pois tem livros publicados, demonstrando, assim, que pode fazer versos e empunhar o pincel.

Os seus quadros, alguns dos quais de motivos locais e paisagens amazônicas, não desmerecem qualquer artista do Sul e são expressões, sinceras, de seu gênio criador. Claro que a pintura não pode apresentar, unicamente, modelos clássicos, à semelhança de Rafael e tantos outros, pois a própria pintura também sofre a influência da civilização, dessa civilização que reduziu modelos antigos e formas clássicas em monstrengos da chamada arte moderna.  

Acontece, porém, que Anísio Mello, com rara habilidade, soube trazer aos seus quadros alguns aspectos da natureza amazônica, trechos e ângulos de novas paisagens, vitórias régias, igarapés e flores. Tudo enfim que serve para dar vida e beleza e que os pinceis, pela magia do artista, apresenta aos nossos olhos ávidos de beleza.

Constituiu, portanto, motivo de júbilo, assistir a exposição do jovem pintor amazonense, que promete ter brilhante futuro ao lado dos melhores pintores nacionais. Não lhe faltam talento, força de vontade, nem dotes artísticos, podendo prosseguir dando vida e expressão, naquilo que nós outros, leigos e simples admiradores, sentimos, mas não podemos fazer.

Não obstante todo o barulho e gritaria que fazem em torno da chamada arte moderna, na qual monstrengos e figuras irreconhecíveis são apresentadas como expressões de arte, a pintura clássica ainda permanece na sua beleza e no seu esplendor, porque se podemos hipertrofiar as cores e as figuras, não podemos alterar a própria natureza, nem os seres que nela vivem. Assim o verdadeiro artista não procura deformar o que na verdade não existe. Se há deformação, essa deformação existe nos homens, não nas paisagens, na natureza.

Daí a beleza sempre nova que encontramos na pintura, especialmente quando ela espelha os anseios do povo ou a natureza. Há, mesmo, quadros bastante interessantes, nos quais as tintas e as cores formam um todo harmonioso, bem expressivo, do espírito estético do artista. E destacam-se entre esses, os denominados – Charco, Amore, Psique, Quitunde, Paisagem amazônica e Primavera. Enfim, um amazonense que procurou se destacar aqui mesmo, procurando fazer arte usando a cabeça e a inteligência.

(*) Publicado no DIÁRIO DA TARDE , –em 1º agosto 1952


MANUEL BESSA FILHO (1931-2023) (2)

Renovo meus respeitos ao falecido Manoel Bessa Filho, que exerceu múltiplos encargos em nossa cidade, morto em agosto do ano passado, aos 92 anos. Sempre que encontrava o xará, repetia: não sei se lhe tomo a benção (devido ao sacerdócio) ou presto a regulamentar continência, por sua atuação no Auditoria Militar da Força Estadual. Guardo, todavia, não tanto em segredo, pois os livros de assentamentos registram, com gratidão a “meia condenação” que me aplicou, quando julgado na Auditoria.

Esta homenagem ocorre com a reprodução de uma carta aberta que o então reverendo, diretor do Colégio Estadual, publicou no Diário da Tarde, de 4 de agosto de 1956, dirigida ao coronel presidente da Petrobras.

Tópico do referido vespertino, 4 ago. 1956

Sei que V. Sa. não deve dar muita importância ao que se diz na imprensa. E quando esta é do Amazonas, aí então nem se fala. O Amazonas é pobre, não tem indústrias, não tem nada mesmo, nem sequer o direito de ser sede de coisa alguma da Amazônia. Só ainda é sede de missão religiosa e inspetorias de índios. Mas leia, em todo caso, Coronel, leia o que lhe vou escrever.

Não sou ninguém na vida para dirigir-me a V. Sa. Sou o Padre Bessa, só Padre Bessa, nada mais. Renunciei ser pai pela carne abraçando o sacerdócio católico, mas tenho mil e duzentos filhos no espírito. Raramente sirvo-me da imprensa escrita ainda que milite na falada. O tempo não chega para tudo. Nem para defender-me. Se me atacam, venho aos jornais. Mas, desta vez, o negócio mudou.

Mexeram com meus filhos, Coronel, e eu sou pai. Vou contar-lhe tudo direito e veia se não tenho razão. Estou dirigindo, há menos de dois anos, o Colégio Estadual do Amazonas. Viajei pelos Estados Unidos, não recuso “Coca-Cola” gelada, mas acho que “o Petróleo é nosso”. Tive sempre a veleidade de querer formar uma juventude sadia, patriota -- mesmo sendo brasileira — crente, ao menos, do futuro do Brasil. Sou admirador, defensor e propagandista da Petrobras. Já organizei quatro excursões a Nova Olinda, lá estive quando da visita do J.K., divulgo as publicações que recebo, sem contar as palestras na Polícia Militar, no Colégio ou nos programas de rádio.

A Petrobras, até mesmo na sua organização sempre me pareceu coisa séria. Mas desta vez não foi. E é por isso que dirijo a V. Sia. No começo deste ano (não me comprometo com datas) fui procurado pelo eng. Levindo Carneiro, diversas vezes na diretoria do Colégio. Falta de sorte, nunca nos avistamos. Telefonei enfim para o Hotel Amazonas. A Petrobras precisava uns vinte rapazes, que tivessem ao menos o curso ginasial. Um curso de sondadores, ao que parece. Lá, em Nova Olinda. No começo seria duro, mas depois as coisas iriam melhorar. Mandei uma dúzia de meus filhos. Não pense que é demagogia não. Pergunte a eles se não os estimo como filhos. Visitei-os quatro vezes. Cheios de patriótica alegria eles "davam um duro” como qualquer trabalhador braçal. Aguardavam o “curso”. Os meses passaram, o trabalho continuava, o tratamento piorava. Até hoje a única palavra que ouviram sobre o assunto foi de que era aquilo mesmo e se não quisessem...

segunda-feira, maio 13, 2024

MANUEL BESSA FILHO (1931-2023)

 Ano passado, ao organizar um livro do desembargador Neuzimar Pinheiro (acerca dos 40 anos de magistratura), incluí uma homenagem ao padre-juiz Bessa Filho, transcrevendo na orelha do volume uma crônica dele sobre o amigo-xará, ex-presidente do TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas). A fim de requerer “autorização” do cronista, eram dois Manuel (Neuzimar e eu) em busca do terceiro: Manuel Bessa. E nada. Somente semana passada, revisando meu Blog do coronel Roberto, alcancei a notícia do falecimento dele, ocorrido em 7 de agosto do ano passado, aos 92 anos de idade. Bessa possui uma história multifacetada em nossa capital e outros recantos do Mundo, parte dela ele narrou em entrevista para este blogueiro.

Bessa, nascido em Manaus, encerrou sua preparação para o sacerdócio no Canada. Em 1954, tornou-se sacerdote na catedral de Nossa Senhora da Conceição. Logo ingressou no quadro de professores do Colégio Estadual e, em 1956, foi nomeado Diretor daquela Casa de Ensino. E, três anos depois, conforme esta postagem, foi eleito Vereador de Manaus.

 

Recorte de O Jornal, 30 out. 1959

À tarde de ontem, na Segunda Zona Eleitoral, foi realizada a diplomação dos candidatos eleitos para a Câmara Municipal de Manaus, no pleito que se realizou no dia 3 mês em curso.

Ao ato estiveram presentes os srs. Jair Cavalcante, Evandro das Neves Carreira, Manuel Rodrigues, Padre Manoel Bessa Filho, Rodolfo Vale, José Araripe, Albino Fortes, João Zany dos Reis, Walter Rayol e Raimundo Coelho, representando o sr. Francisco Plinio Coelho. Esteve ausente o sr. Xenofonte Antony que se encontra fora de nosso Estado.

A solenidade foi realizada com a presença de representante do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Orlando Soares Monteiro, e do juiz Raimundo Cordeiro de Magalhães, que dirigiu o pleito em nossa capital.

A partir de ontem, portanto, estão diplomados os novos vereadores do município de Manaus, eleitos à 3 de outubro corrente.

MARANHÃO SOBRINHO (1879-1915)

O texto aqui postado foi compartilhado de O Jornal, editado em Manaus a 12 de fevereiro de 1967, de autoria de Clovis Pereira Ramos (1922-2003). Pesquisador emérito de diversos ramos da literatura, ao mesmo tempo que de literatos, fez nesta página uma apreciação do poeta Maranhão Sobrinho, nascido em Barra do Corda - MA, em 1879, e morto em Manaus, no Natal de 1915. Tomei a iniciativa de adaptar o texto à ortografia corrente, acrescendo entre colchetes alguma informação que entendi relevante.


Quando se fizer o estudo da poesia mística do Brasil, tão belo e expressiva, José Américo dos Albuquerque Maranhão Sobrinho, terá um lugar de justo destaque. Também na poesia amorosa lírica, foi ele um mestre insigne.

Misticismo e sensualidade são traços evidentes no poeta de Estatuetas, Papéis Velhos e Victórias Régias, que, vindo do parnasianismo, encontrou na estética de [Stephane] Mallarmé o caminho certo de sua Arte: beleza, musicalidade, a harmonia do verso qualidades que soube irmanar ao rigor da forma, à elegância das ideias.

Para a leitura completa: Maranhão Sobrinho

domingo, maio 12, 2024

MAIS UMA HOMENAGEM

 

DIA DA MÃE

12.05.2024


Renato Mendonça

 Quando eu a vejo, paralisada dentro do belo quadro, fixado na parede azul claro do meu quarto, e olho em seus olhos, sinto que ela esteve conversando com o Senhor; intuo que ela quer me transmitir seus ensinamentos aprendidos na curta passagem pela vida terrena e os de agora, na vida espiritual. Não sei como isso pode acontecer, mas tenho certeza de que acontece...


Dona Dora

Recebo sua mensagem metafísica mesmo não estando mais ali na sua presença. E, às vezes, acredito que Deus quer me motivar, e a usa para isso: abastece-me com a força da sua fé; cumula-me com o discernimento para invocar a sacralidade das coisas, como se fosse um modo de escutá-Lo; faz-me compreender a emblemática da nossa natureza humana, a fim de percorrer o difícil caminho da felicidade.

Francisca P. Lima

É místico! É mágico e esplêndido sentir esses fluídos positivos invadindo a alma, apesar de parecer estranho para a maioria das pessoas. Porque esse comportamento transcende o entendimento habitual, as pessoas só acreditam em coisas palpáveis, e não percebem que o que movimenta o nosso corpo é o espírito. E esse espírito — imortal! — não tem idade, não se presta ao descanso; quer nos animar sempre, mesmo que as adversidades estejam ali presentes.

Não desejo individualizar esta homenagem, a despeito da introdução se referir apenas à minha mãe. Quem me deu à Luz, assim como a mãe de Jesus, representa todas as mães que pude conviver e me abastecer de seus carinhos, mimos e ensinamentos. E foram algumas, com os seus estereótipos diversos, mas com seus encantamentos únicos, sublimes. Eu sou fã de todas as mães verdadeiras, aquelas que sofrem ou se encantam com seus filhos, as que têm a empatia materna tatuada no coração; há aquelas que, além de cuidar e educar os filhos, ainda têm a sua função de filha dedicada, zelam por seus pais idosos ou doentes. Nutro por essas espetaculares criaturas humanas um sentimento de admiração, de carinho e, simbolicamente, quero consagrá-las no altar da glória de Deus. 

Neste dia, escolhido em um domingo do calendário, exclusivamente para homenagear essas altivas criaturas humanas, desejo me congratular com todas elas, com essa legião de anjos terrestres e celestes.

Além de minha mãe, não posso deixar de lembrar de minha avó, Dona Victoria Malafaya. Uma mulher iletrada, mas sábia na condução de uma família destroçada, que soube suprir como uma matriarca, a perda de minha mãe, falecida precocemente. Ensinou-me o caminho do discernimento juvenil e, também, o seu idioma castelhano, que ainda hoje carrego comigo na mente e no coração. Livrou-me muitas vezes dos castigos que meu pai queria me impor, por minhas peraltices. Com sua sabedoria inca, apenas fazia-o refletir que eu era um menino ainda, órfão, e necessitava de amor, carinho e compreensão. E ela soube, em raros momentos de sua vida, me doar esses sentimentos.

Dona Doroteia Santos, foi uma madrasta revestida com uma auréola de mãe verdadeira. Sofremos juntos as dificuldades de uma família humilde numa cidade sem perspectiva econômica dos anos 1960. Ela ensinou-se como lidar com as adversidades e me mostrou um estoicismo incomum para uma mulher com sua limitação cultural. Junto com ela, aprendi que o trabalho dignifica qualquer pessoa, em qualquer idade; aprendi como cuidar os meus irmãos menores, da nova geração; ao lado dela descobri que para ser feliz não necessariamente precisamos de bens materiais, precisamos ter fé no futuro e se rejubilar com o presente. Com aquilo que Deus nos oferece em cada etapa da nossa vida.

A todas essas mães, e outras que falarei em breve, minha gratidão e meu apreço.

Minha congratulação, Mães, em todas as dimensões! 

DIA DAS MÃES - 2024

Minha saudação às MÃES pelo seu DIA consagrado, às mães que me ajudaram neste caminhar; relembro as esposas e abraço as filhas que completam o bem viver.

Curitiba, 12 de maio


Composição do autor da postagem 

quinta-feira, maio 09, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (32)

Novo capítulo da história da Guarda Policial, atual Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

 

 

Jonathas Pedrosa, médico

 

Movimentações na Guarda em 1886

Em 19 de julho, o cidadão Teodoro Monteiro da Cunha é nomeado para o cargo de alferes quartel-mestre e secretário-ajudante, estabelecido pela Lei 730, de maio desse ano. Por cidadão, entenda-se uma pessoa sem qualificação militar, ou seja, o aproveitamento de elemento disponível e capacitado.

Em 11 de agosto – a presidência nomeia o capitão Miguel Victor de Andrade Figueira, o tenente Menandro Leandro Monteiro Tapajós e o bacharel Felipe de Azevedo Faro para, em comissão, propor alterações no Regulamento nº 51, de junho de 1884. O resultado já estabelecido pela comissão dependia de exame daquela autoridade.

Em 25 de agosto – são concedidos três meses de licença para tratar da saúde fora da província, ao Dr. Jonatas de Freitas Pedrosa, médico da Guarda. Para substitui-lo foi nomeado, a 3 de setembro, o Dr. Júlio Mário da Serra Freire, que adiante foi substituído pelo Dr. Joaquim Mariano Bayma do Lago (médico do Exército). Enfim, a licença do titular foi prorrogada por igual período, em 29 de novembro. São os primeiros médicos da corporação, ou, mais adequado, que apenas prestaram serviço ao corpo policial. Pedrosa foi senador e governador do Estado (1913-17).

Em 5 de outubro – foi nomeada a comissão composta de José Joaquim Pinto de França, 1º escriturário do Tesouro; Manoel Antônio Rodrigues Pará, tenente da Guarda; e Júlio Pinto de Almeida, oficial de Fazenda, para examinar as contas do ex-comandante da Guarda, Francisco Antônio Nepomuceno.

1887 - Inclusão de praças

Em Exposição ao Poder Legislativo, em 10 de março, o vice-presidente Comendador Clementino repete o mantra: o Corpo Policial encontra-se desfalcado de praças. E esse desfalque era de tal ordem que não permitia o policiamento da capital, pois “acha-se a maior parte da força destacada em diversas localidades do interior”. Para suprir a discrepância, aquela autoridade manda contratar fora da província novos Guardas. Repercute, porém, uma inovação com essa “importação”. O contratante toma rumo diferente, não o Nordeste, porém, as províncias do Sul para “contratar pessoal idôneo”. O encarregado dessa comissão foi o tenente José Soares de Souza Fogo, que embarcara um mês antes, a 11 de fevereiro.

Finalizando a exposição, o vice-presidente consignou a desditosa consideração acerca dos policiais: são difíceis os engajamentos e, quando tais acontecem, “se faz com pessoal pouco idôneo”. Em contraponto, ressalta que a cidade de Manaus oferece “tantos e melhores meios de vida aos que querem trabalhar”. Entenda-se como quiser.

sábado, maio 04, 2024

PREFEITO DE MANAUS: 1924

A duração do mandato deste Prefeito foi muitíssima curta, durou de 16 de fevereiro a 1º de abril de 1924, sem que eu conheça a motivação. Trata-se de Francisco das Chagas Aguiar, integrante do PRC (Partido Republicano Conservador), que enfrentou os "maus governantes" no tumultuado ano de 1924, marcado pela Rebelião das forças federais, cognominada de Ribeiro Junior (tenente EB),que foi  empossado no Poder Executivo, após defenestrado o titular Cezar do Rego Monteiro.
A postagem reproduz a lembrança ao falecido prefeito de Manaus, efetivada na revista Redempção, circulada em novembro de 1932.  
Francisco das Chagas Aguiar
revista Redempção
Dr. Francisco das Chagas Aguiar, o prefeito de Manaus durante a revolução [Ribeiro Junior] de [julho] 1924. Era realmente um amazônida — ninguém melhor definiu o neologismo de Álvaro Maia. O estomago, que lhe deu grandes aflições, nunca teve influência sobre a sua consciência, sempre rebelada contra os maus administradores da sua terra.

Foi um valor, feito aqui mesmo. Grande professor de topografia, mineralogia e geologia e autor aplaudido de vários trabalhos científicos, entre os quais se destacam ATLAS CELESTE AGUIAR, LUNÁRIO PERPÉTUO e os DISCOS HEMEREOLÓGICOS.

Pela Escola Agronômica de Manaus mereceu um prêmio de viagem à América do Norte. A Exposição do Centenário deu-lhe uma medalha de ouro, em virtude de um trabalho seu sobre astronomia. Nessa época, lá na metrópole [Rio de Janeiro], numa polemica pelas colunas de A Noite venceu o sábio Henrique Morize [francês, engenheiro industrial, 1860-1930].

Morreu, com 34 anos, respeitável e respeitado.

PS. Acrescentei entre colchetes algumas informações que julguei conveniente para melhor entendimento.


 


quarta-feira, maio 01, 2024

DOIS ACADÊMICOS AMAZONENSES

 O saudoso acadêmico Raimundo Nonato Pinheiro, lembrando o centenário de nascimento do acadêmico José Chevalier (1882-1938), publicou sua homenagem no Jornal do Commercio (05 set. 1982) 

Recorte do artigo publicado no JC, 05. set. 1982

No dia 13 de junho do corrente anunciava eu o centenário de nascimento do professor José Chevalier, pelas colunas do Jornal do Commercio. Era alagoano de Penedo, onde nasceu a 5 de setembro de 1882. Transferido para Manaus, aqui se tornou professor de curso primário, aceitando aulas em domicílio. Mais tarde adquiriu o Instituto Universitário Amazonense, na rua do Dr. Moreira, prédio onde atualmente funciona a Hospedaria Garrido. Além de exercer o magistério com exemplar devotamento, dedicou suas energias ao escotismo, no que foi, no Amazonas, autêntico pioneiro. Lecionou português no Colégio Dom Bosco, onde o tive como professor no ano de 1934.

Nutrindo maiores ambições, diplomou-se em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Amazonas e pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Exerceu alguns cargos públicos: diretor da Biblioteca Pública e Arquivo (outrora funcionavam juntos) e do “Diário Oficial”.

José Chevalier Carneiro de Almeida era casado com a professora Raimunda Paula e Souza de Chevalier. Desse conúbio nasceram dois filhos: Walmiki Ramayana Paula e Souza de Chevalier e Wladimir Carlyle Paula e Souza de Chevalier, ambos formados na Bahia: Ramayana em Medicina e Carlyle em Direito. Foi observado que os filhos eram mais talentosos que seu genitor. Pelo depoimento do escritor Péricles Moraes, tomei conhecimento de que Carlyle era de inteligência superior à do irmão Ramayana, que entre nós deixou uma tradição do mais vivo luzimento, assim nas letras como na oratória. Tenho em meu arquivo algumas de suas produções mais refulgentes: páginas de ouro, recamadas de pedrarias faiscantes. Foi um gigante da eloquência, caracterizando-se como admirável criador de imagens empolgantes. Ofuscava e arrebatava.

Voltemos ao professor José Chevalier. Professor e bacharel, também cultivava as letras e foi um dos sócios fundadores da Academia Amazonense de Letras, fundada com a denominação de Sociedade Amazonense de Homens de Letras. Ocupava a cadeira de Afonso Arinos e exerceu as funções de Secretário-Geral. Péricles Moraes, evocando a figura de Benjamin Lima e os primórdios da Academia, assim se pronunciou sobre Jose Chevalier:

“O outro, que se colocara ao nosso lado por forte imposição temperamental e levado pela mesma comunhão espiritual e afetivas, identificando-se por gestos de altruísmo e desprendimento, chamava-se José Chevalier”.

Era meu amigo diletíssimo. Nascêramos exatamente no mesmo ano, e eu o estremecia como a um irmão muito querido. Quando de sua morte, no Rio, em 1938, tentei bosquejar-lhe o retrato nas molduras de “Paisagens de uma vida” inserto em CONFIDÊNCIAS LITERÁRIAS, uma das páginas humanas e dilacerantes que procuraram traduzir as angústias da minha emoção. Ainda agora, tanto tempo depois, relendo-a comovidamente, sinto o amargor dos avatares que o acabrunharam, em desafio à beleza moral do homem e às doçuras embevecedoras [sic] do seu coração”. (Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 3, p. 8).

O professor Agnello Bittencourt também escreveu sobre José Chevalier em seu Dicionário Amazonense de Biografias (pp. 297-299). Estou vinculado a José Chevalier pelo discipulado (fui seu aluno de português no Colégio Dom Bosco, em 1934) e pela sucessão acadêmica. Sucedi-lhe na cadeira de Afonso Arinos, hoje de João Ribeiro, na Academia Amazonense de Letras. Essa mudança de patrono requer uma elucidação. A Academia possuía 30 cadeiras. Mais tarde, tornou-se imperioso aumentar o número para 40, imposição estatutária da Federação das Academias de Letras do Brasil. Nessa altura, recebendo o sodalício mais 10 patronos, foi facultado aos acadêmicos permanecerem com seus patronos ou escolherem novos. Alguns mudaram os patronos. O desembargador Arthur Virgílio, cujo patrono era o Visconde de Taunay, tomou novo patrono: Tobias Barreto. Eu deixei Afonso Arinos e tomei João Ribeiro, uma das maiores culturas deste país, cuja grandeza me fascinava desde a adolescência, como gramático, filólogo, historiador, folclorista e polígrafo.

Na Academia, não somente fui o sucessor de José Chevalier na cadeira que ocupo, mais ainda nas funções de Secretário.

Sentir-me-ia mal, muito mal, se nesta data do centenário de seu nascimento, não lhe prestasse esta homenagem póstuma “ab imo pectore”. Consinta, prezado Mestre, “no assento etéreo aonde subiste”, que lhe deposite sobre a lápide tumular, decorrido um século de sua nascença, estas humildes flores, úmidas e viçosas de recordação e de saudade!...