Semana passada, postei
um artigo do padre Walter Nogueira que bronqueava com o contista Arthur Engrácio, em disputa que envolvia o saudoso poeta Hemeterio Cabrinha. Abaixo
vai o direito de resposta do acusado, publicada (interessante) no mesmo jornal A Crítica, do dia imediato, 18 de julho
de 1958.
A Crítica, 18 de julho de 1958 |
O PADRE Walter BRAZ
GONÇALVES Nogueira é desses tipos que, a exemplo dos símios enraivecidos (que mordem
a cauda quando nada encontram para morder), brigaria com a própria sombra se
não achasse com quem pudesse derramar a sua fermentada bílis. Pequenino, ar
humilde, ninguém supõe o de que é capaz esse campeão da sapiência no campo da insídia
e da futrica. Pode passar sem um bom perfume para borrifar a sua bata elegante,
mas o que não poderá passar é sem uma pendência, uma querela, uma lengalenga
qualquer.
Vai daí ter ele,
ontem, no seu espernegado neste jornal, se saído com quatro pedras na mão
contra o pobre signatário destas linhas pelo simples fato de havermos publicado
um artigo LITERÁRIO no qual comentamos, ligeiramente, o livro do poeta
Hemetério Cabrinha, intitulado "Frontões". Doeu-se o minúsculo
Guliver com umas referências que ali fizemos à sua castíssima pessoa e,
doendo-se, escoiceou, esbravejou, puxou faca, numa demonstração clara de que é
mesmo afeito a barulho.
*
* *
MAS se o padre Walter
BRAZ GONÇALVES Nogueira gosta de uma brigazinha, nem sempre escolhe uma arma
adequada, limpa, honesta, digamos assim, com que enfrente o adversário. Se é
desleal na vida comum, nos entreveros que provoca, para se safar, essa
deslealdade, então, assume proporções avantajadas. É bem o que se poderia
chamar de um Maquiavel-mirim de saias. Note o leitor que nos teve sob a vista
que não fizemos a mínima alusão à Igreja. Falamos, isto sim, de "certos
espíritos medíocres”; de um “jornaleco rotulado de católico, propugnador da
verdade..."; de um “frutriqueiro das esquinas" etc., palavras essas
cuja veracidade provaremos mais adiante, e as quais nada têm a ver com a sublime
Instituição de Cristo, pelo menos no entender dos coerentes, dos sensatos.
Todavia, se a
Coerência e o Bom Senso assim preceituam, já o professorzinho de Grego do
Colégio Estadual pretende que, com aquelas nossas frases, tenhamos atacado a
Igreja, o que, sobre ser uma saída pouco decente e viril, é uma forma sórdida,
de atirar-nos à odiosidade dos católicos, o que não conseguirá, felizmente.
Sem argumentos honestos
para debater assuntos honestos e à semelhança do garoto safado que, para
livrar-se dos safanões de um adversário, corre a proteger-se na saia da mãe, o reverendozinho,
temendo o nosso revide, trata de ocultar-se sob o nome da Santa Igreja. Mas é
assim. Essa gente faz o diabo, pinta os
canecos, prevarica à vontade, e, chamada a prestar conta dos seus atos, é o
nome da Igreja que logo invoca.
MAS vamos deixar a
Igreja de lado, que nada tem a ver com as futricas gonçalvinas desse Torquemada
de araque, "doublé" de jornalista e professor de Grego. Trataremos
diretamente de alguns tópicos do seu arrazoado, provando, inclusive, o que
linhas atrás prometêramos fazê-lo. A dois pontos apenas nos reportaremos: 1°
PONTO: — Nega-se o padre Walter BRAZ GONÇALVES Nogueira a acoitar o título de
"espírito medíocre" que lhe demos. Agora perguntamos: não é espírito
medíocre quem, não entendendo de um assunto se mete a falar do mesmo?
Ilustremos o caso. O padre Walter BRAZ GONÇALVES Nogueira, pelo fato de ser
católico, tratou de arrasar, de pulverizar o livro do poeta Hemetério Cabrinha por
este professar o espiritismo, simplesmente. Isto, sem se dar ao trabalho de ler
a obra, analisá-la literariamente como
seria o justo e o correto. Um espírito superior, padre Walter, que não fosse
medíocre jamais teria esse gesto. E você o teve.
2° PONTO: Pisou na
brasa o padre Walter BRAZ GONÇALVES Nogueira por o havermos chamado de
"frutiqueiro das esquinas". Ora, o Pai-dos-Burros, entre outras
definições, diz: FUTRICAR – "intrometer-se (em alguma coisa para atrapalhar)".
Logo, futriqueiro... é quem, não sendo nem literato nem crítico literário, mas
apenas movido por paixões religiosas, se
intromete na vida de um consagrado poeta com o fim exclusivo de atrapalhá-lo. Querem uma prova? Tome-se
o número de o "Universal" do dia 25 de maio, e na coluna
"Conversa de Esquina" vamos surpreender dois futriqueiros em animado
bate-papo. Falam do livro "Frontões", de Hemetério Cabrinha, e à
certa altura, um dos interlocutores, interpelado pelo outro, responde: – "A pura verdade. Não lhe aconselho a
comprar o livro (Frontões), pois não vale a metade do preço que pedem.
Refiro-me ao conteúdo, está claro...".
Um jornal sério,
zeloso sacerdote de Cristo, que se prezasse; que cumprisse realmente a
finalidade de "orientador católico", jamais estamparia em suas
páginas escrito, de tal ordem; jamais manteria a torpe campanha de infâmia e de
descrédito contra um pobre escritor que, enfermo além do mais, é do produto do seu
labor que se mantém. Onde está a orientação católica desse jornal? Ele orienta
ou desorienta os católicos? Faz ou não faz.
Responda a essas
perguntas, se puder, o ingênuo BRAZ GONÇALVES das futricas.
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P.S.
– Quanto às suas ameaças, não nos infundem o menor temor. Não somos contra a
Igreja, repetimos. Somos, sim, contra os seus falsos apóstolos, os seus adeptos
mascarados. E quando vier, venha com jeito, pois que já pegamos muito bicho bom
pelo pé, e não nos custara agarrar mais uma gralha e depená-la toda.
Hemetério Cabrinha realmente teve uma trajetória fascinante: foi escritor, carpinteiro, espírita e militante das causas sociais.
ResponderExcluirRecentemente escrevi um artiguinho sobre ele e outros migrantes nordestinos. Caso alguém se interesse: https://www.academia.edu/resource/work/73833782