Dias desses, transitando pela Praça da Polícia tive
a atenção voltada para um centenário edifício situado na avenida Sete, onde funciona no
térreo uma loja da TVLar. O prédio parece entrar em recuperação, com isso, mostrando
sua fachada nos consente algumas recordações. Eu sabia que ali funcionara a Fábrica
Rosas. Sabia eu, por dois motivos: um muito especial, pois meu falecido pai ali
trabalhou por muitos anos como balconista, em especial na turbulência da 2ª
Guerra Mundial. E ele me recordava esse local com reverência extremada, como se
aquele estabelecimento tivesse sido um templo.
Revista Cá e Lá, maio de 1917 |
O segundo agente chega agora pelo texto – abaixo
transcrito, de Robério Braga, em seu livro Manáos...
Manaos.. Manaus. (Manaus: Reggo Edições, 2013).
FÁBRICA BIJOU
No
correr dos anos atuais, nos quais muito se tem falado e agido na recuperação do
patrimônio histórico e tradicional do nosso Estado, com esforços e ações
crescentes em Manaus, e que vão ser feitas obras no antigo Quartel do Comando
Geral da Polícia Militar, o tradicional Palacete do centro histórico, vale a
pena tratar de uma empresa que tinha sede bem na vizinhança mais próximo do
Quartel, a Fábrica Bijou – Panificação Amazonense –, seja pelos seus salões
elegantes com mobiliário especial e a importância da fachada do prédio, ou
pelos produtos que fabricava e eram bem colocados no mercado. E não é coisa do
passado muito distante, que se possa dizer que foi retirada do fundo do baú,
porque se estendeu ainda aos meus anos de menino e jovem rapaz.
Inicialmente
era empresa local, de propriedade de Pereira, Santos & Cia., conforme os
registros de 1914, e conseguira prêmios nas Exposições do Rio de Janeiro e
Bruxelas. Estava instalada a Rua Municipal, 129, atual Avenida Sete de
Setembro, valendo-se da Caixa Postal 36 e do endereço telegráfico Bijou, que
eram coisas modernas e chiques, feitas para empreendimentos de porte. Seus
serviços eram movidos à eletricidade,
outra grande novidade que fazia questão de ressaltar nas propagandas. Para
melhor servir, a panificadora mantinha várias filiais, embora a cidade ainda
fosse acanhada, o que, de certo modo, bem caracteriza sua hegemonia na praça
comercial: Fábrica Universal (rua
Henrique Antony); Padaria Amazonense (rua
Marquês de Santa Cruz); Padaria São Sebastião (rua Costa Azevedo); Padaria Dois Irmãos (Rua dos Barés); e, Frigorífico Bohêmia (rua Marechal Deodoro), que eram seus
principais pontos de venda.
Vendia
pão fresco – tanto pela manhã quanto pela parte da tarde; rosca comum e à barão; farinha de trigo e de milho;
bolachas e biscoitos variados; doces secos e finos, bombons, amêndoas, bebidas
finas, conservas, massas alimentícias, chocolates de puro cacau em pães e em
pó. Além disso, ainda fazia torração de café especial e Moka, e refinação de
açúcar. Seus proprietários se orgulhavam de ostentar o título de confeitaria
mais bem montada no Norte do Brasil e, como tratava de comércio, indicavam para
todos os lados que praticavam preços sem concorrência.
Quem
passasse por ali, nas imediações do Gimnásio Amazonense D. Pedro II, descendo
pelas calçadas de lioz do lado direito da Avenida Sete de Setembro em direção à
Catedral de Manaus, veriam um belo salão com ventiladores de madeira no teto,
lustres em forma de pera, piso em ladrilho bem à moda daqueles anos de vésperas da 1ª Grande Guerra Mundial com
paredes recheadas de pinturas decorativas, colunas centrais e mesas para quatro
lugares em madeira, com pernas torneadas, rodeadas de cadeiras com forração em
palhinha da Índia. Ao redor das colunas estavam os balcões de apoio com louças
e peças para serviços de atendimento aos clientes. Era lugar de classe, lugar
fino, por onde circulavam os que tinham paladar exigente, mas ao mesmo tempo
era um ponto de encontro sem ostentação que incomodasse as pessoas simples ou
afastasse qualquer freguês.
Jornal A Tarde, novembro de 1940 |
Vendida depois
para a forte empresa de J.G. Araújo e Companhia Ltda., transformou-se na
Fábrica Rosas e nos primeiros anos de 1950 estava com suas atividades
encerradas. Em 1954 a firma J. Barbosa Grosso e Companhia Ltda. iniciou sua
atuação restabelecendo o nome de Panificadora Bijou, funcionando no mesmo
casarão alugado até 1974, passando-se depois para a Rua Ajuricaba com a Av.
Castelo Branco, na Cachoeirinha, local em que a empresa parou de funcionar nos
anos 1980, sendo o nome concedido ao antigo funcionário Luís Alberto Farias que
ainda manteve a fábrica funcionando por mais ou menos dez anos. Quem sabe ao
menos o prédio possa voltar aos tempos áureos de sua presença na paisagem da
nossa cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário