Cônego Walter Nogueira |
A Igreja católica em
Manaus, na década de 1950, produziu e distribuiu o semanário Universal. Circulava aos domingos, sob a
direção do padre, depois cônego, Walter Nogueira, vigário da Matriz.
Um dia, Arthur
Engrácio, conhecido intelectual da cidade, autor de Histórias de submundo, entre outros livros, espinafrou a Igreja e o
jornal do vigário. O padre Walter não titubeou, replicou com o texto abaixo, aqui
reproduzido para lembrar, entre outras práticas, que era comum esse tipo de debate
pelos matutinos de Manaus.
UM TOLO
A Crítica, 17 de julho de 1958
DESDE QUANDO percebi
que o Arthur Engrácio era um barco sem leme e uma ventoinha ao sabor dos ventos
de ideias e princípios mal assimilados e, pior, expostos nos cansativos
escritos que a tolerância de algumas redações de jornais acolhe, nunca mais perdi
tempo em 1ê-1o.
O Engrácio é
engraçado pelo ar de doutor que assume nos seus arrazoados. É poeta,
historiador, filólogo, teólogo, é divorcista e agora ímpio e inimigo da Igreja.
Mas, como ia dizendo, vai para mais de dois anos que, ao perceber uma peça
maçuda subscrita pelo Engrácio, passo adiante.
Foi o que aconteceu
com o artigo publicado por ele em A CRÍTICA de sábado último com o título:
"Um Poeta". Li, domingo, 13, por insistência de um amigo. O comentário
até não está ruim a respeito do livro de Hemetério Cabrinha, Frontões, que afora os senões
imperdoáveis e injustos do conteúdo de algumas poesias, não lhe nego méritos. Passemos
à razão principal destas linhas.
O Arthur Engrácio,
depois de tecer considerações sobre o livro de Cabrinha, assenta o pau neste
humilde sacerdote, no jornal católico Universal
e na Igreja. Para mim não constituem problemas os achincalhes pelo motivo óbvio:
não terei dificuldades em acreditar na minha mediocridade de espírito quando
homens de cultura sólida e de saber comprovado m’o afirmarem. Não posso é dar
fé a um simples secundarista que dogmatiza sobre o cepo movediço de pontos de
vista pessoais. A sabedoria sempre se sentiu mal em cabecinhas desarrumadas e
prenhas de vaidade e petulância. Suas afirmativas, Engrácio, ainda são anémicas
demais para se imporem à verdade e ao crédito público.
TODO MUNDO pode
compreender com meridiana clareza que NÃO SOU "um certo escriba" que,
não entende senão de movimentar a minha máquina de ganhar dinheiro: o Universal. Não sou
"futriqueiro", nem tenho a "língua suja". Isto NÃO,
historiador-filólogo-divorcista-filósofo-ímpio Arthur Engrácio! Indague do seu patrão
se jornal da índole do Universal é mina
de dinheiro. Sou um padre católico, jornalista e professor (só não fui mestre
do Engrácio porque a sua inteligência não se abalou no estudo do Grego, quando
aluno do Colégio Estadual) e que amo a Igreja e sei defendê-la tanto quanto sei
desfazer aleivosias contra o jornal que todo o Amazonas aprecia e respeita pela
seriedade de seus propósitos e pelo ideal elevado de sua missão.
Sei distinguir os
valores intelectuais do meio, como posso escorraçar a corja de petulantes
metidos a críticos sem bagagem literária comprovada. Quem se mete a entender de
tudo, acaba por não entender profundamente de nada. Fique com sua literatice
barata, Engrácio, e deixe-me com a convicção cada vez mais sólida de que a Igreja
não se molda ao torpe "Fiat Lux" de Hemetério Cabrinha e jamais
esteve "envolta em manto de mais hipócrita fantasia" de um coitado escrevinhador
provinciano como você.
A SANTA IGREJA paira
acima das mesquinhas considerações deste metediço comentarista que é o Engrácio.
Este sujeito nem percebe o ridículo da pretensão dele e do Cabrinha em
menosprezar a beleza da doutrina da Igreja, a única instituição humana a
resistir aos embalos dos séculos na sublimidade de sua função divina. Eles
pensam que se insurgir contra a secular Instituição, é galhardia, é coragem, é
originalidade. Não é, Engrácio. Tal procedimento não é inédito na História, nem
denota singularidade. Espíritos pujantes e inteligências de escol já se
torceram vencidos junto à rocha imortal das Sete Colinas, e, hoje, são fósseis
inglórios no mundo do pensamento.
Procure, Engrácio,
outro motivo menos batido para a glória literária tão cobiçada... com tão
pouco! Atacar sacerdotes, assacar infâmias contra a Igreja, é fadário muito
gasto; é lengalenga de todos os tempos, de todos os dias, dos espíritos
recalcados e invejosos de seu prestígio indesmentível e mundial. Não é
originalidade, Engracio. Não é, acredite. E deixe de ser tolo.
______________________
P.S. — Largue o Universal de mão. É muito perigoso
brigar com um jornal mesmo de orientação católica...
Padre
WALTER NOGUEIRA,
Diretor
do Universal.
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