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segunda-feira, fevereiro 05, 2024

WILLIAM ANTÔNIO RODRIGUES

Mineiro de São João Del Rei, onde nasceu em 1928, William Rodrigues resume a própria história do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), aonde chegou ainda nos primórdios (1954) para organizar o setor de Botânica. Criado por Getúlio Vargas, foi implantado em 27 de julho de 1954, pouco antes do suicídio de seu criador. O instituto completa, portanto, 70 anos em julho próximo.
W.A.Rodrigues, 2015

Lembro de ter frequentado o INPA, dez anos depois, então instalado precariamente na rua Guilherme Moreira, encaminhado para exame em feridas “brabas” adquiridas nas matas da estrada Manaus-Rio Branco (hoje BR-174). Realizada a biopsia, veio o diagnóstico: leishimaniose.

 

De volta ao botânico: dentre inúmeras outras espécies coletadas por ele e descritas por outros especialistas, um gênero novo da família das Lauráceas, Williamodendron, gênero próximo das itaúbas (Mezilaurus), foi descrito pelo botânico alemão Klaus Kubitzki em sua homenagem. A espécie tipo é uma portentosa árvore, de lindo aspecto, só conhecida nas florestas de terra firme ao longo da Rodovia AM-010, estrada Manaus-Itacoatiara, além do km 125. Trata-se de uma justa homenagem a um cientista da sua importância. (Entrevista de Regina Melo, publicada em Acta Amazônica 34, dez. 2004) 

Em 1970, conquistou a cadeira nº 38 da Academia Amazonense de Letras. Aposentado do INPA, foi professor emérito da Universidade Federal do Paraná. Estou em busca da data de seu falecimento.


 Fenômeno raro é constatado na flora amazônica causando repercussão em Congresso Científico

Botânico William Rodrigues localiza árvore que morre após a primeira frutificação 

Causou grande repercussão no XIII Congresso Nacional de Botânica, realizado em fins de fevereiro último no Recife, a comunicação apresentada pelo botânico William A. Rodrigues, do INPA, sobre uma árvore, pela primeira vez assinalada na região amazônica, que morre após a primeira frutificação.

A árvore é conhecida em Manaus pelo nome de “surucucumirá”. Seu nome científico é “Sohnreyia excelsa” e pertence à família das rutáceas, a mesma das nossas conhecidas laranjeiras, porém a forma da árvore é bastante diferente, lembrando mais uma grande palmeira pelo feixe, de folhas grandes no ápice do tronco. Ocorre mais comumente nas matas de terra firme em torno de Manaus. Floresce muito irregularmente.

O botânico William Rodrigues há mais de 7 anos que trabalha na Amazônia, só agora pode observar pela primeira vez a sua floração. Com interesse natural de um botânico colocou algumas árvores em observação, visto que sua inflorescência muito grande chama a atenção pela beleza, no ápice da copa, circundada pelas largas folhas verde-escuras formando como que um buquê.

Notou após algum tempo que todas as árvores que haviam florescido e frutificado estavam secas, só restando o tronco; e no ápice, o resto seco da inflorescência, tendo inclusive perdido já toda a folhagem. A frutificação da árvore é abundante e suas sementes são adaptadas para fácil dispersão pelo vento, o que impede a extinção da espécie.

Observações a respeito haviam sido referidas por Ducke, um dos maiores botânicos da Amazônia, porém ele mesmo confessava não ter tido oportunidade de surpreender uma árvore dessas morrendo após sua frutificação. Foram tiradas diversas fotografias, as quais serviam de documentação desse fenômeno da natureza.

FENÔMENO RARO

Fora da Amazônia e do Brasil conhecia-se uma palmeira que apresentava esse mesmo fenômeno. É a conhecida “ola” ou “talipod palm”, originária do Ceilão, cujo nome cientifico é “corypha umbraculifera”. No jardim do Museu Emilio Goeldi, em Belém, havia uma dessas palmeiras cultivada. Após sua frutificação morreu da mesma forma que a nossa “surucucumirá". Uma outra árvore também comum na parte oriental da Amazônia, especialmente do lado do Pará e Território do Amapá, foi observada por Ducke e Murça Pires, morrendo após também sua frutificação. Trata-se de uma leguminosa conhecida pelo nome de “tachi preto da mata” (tachigalia myrmecophila).

Há outras arvores na Amazônia que provavelmente apresentam o mesmo fenômeno, porém, até agora ainda não foram observadas, visto que muitas delas às vezes levam muitos anos até que floresçam. Nem todas essas árvores florescem e frutificam ao mesmo tempo, só chegando mesmo a florescer aquelas que atingiram o máximo de seu ciclo vital. A frutificação, geralmente abundante, não é mais do que uma defesa da espécie a sua sobrevivência. O motivo que causa a morte dessas árvores ainda não está bem explicado, porém admite-se que esteja relacionado com a fisiologia da espécie.

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