Acerca do salão de ensaio e dos espaços ocupados pela Banda de
Música em quartéis da Polícia Militar do Amazonas, escrevi este capítulo para
um pretendido livro sobre esta corporação musical.
AQUARTELAMENTOS
& SALÃO DE ENSAIO
Antigo quartel da Praça da Polícia, onde a
Banda de Música ocupava a sala limitada
pela três janelas do térreo
A fim de melhor expandir este tópico, reitero: quando do surgimento
da Banda em meado de 1893, a Polícia Militar do Amazonas (PMAM) já ocupava o
quartel da Praça da Polícia. Ainda com a estrutura bem acanhada, bem provincial,
mas certamente capaz de acomodar o reduzido Corpo Policial, nele inserido o ofício
musical. O prédio adquirido pelo governo provincial e herdado pela cidade serve
atualmente de sede ao Palacete Provincial. É fácil, portanto, imaginar a arquitetura
ocupada pela Polícia Estadual. Olhando-se de frente, a partir da direita, contando-se três janelas, tem-se o primitivo Palacete Garcia, que existiu até 1895, quando
o governador Eduardo Ribeiro inaugurou a expansão conhecida.
Isso dito, é fácil concluir que a partir da expansão a Banda
de Música dispunha de uma sala adequada para os ensaios e para a guarda do
instrumental. Mesmo que duas Bandas tenham servido à corporação, o número
desses artistas (ainda incerto) não era expressivo. Como se reconhece, um mesmo
regente ocupava a direção dos dois conjuntos, enquanto estes existiram. E não
foram por muitos anos.
A decadência estadual em função da bancarrota da borracha
também quebrou a Força Estadual e sua corporação musical. Disso resultou a
redução do número de policiais e, desse processo, tornou o aquartelamento
bastante espaçoso. Era desse modo que a Banda prosseguia ensaiando no quartel
da Praça da Polícia. Tamanha extensão no local possibilitou ao governo estadual,
encampando o serviço de Bombeiros, abrigar este no mesmo quartel, ao findar dos
anos 1910. Em 1924, a Rebelião de Ribeiro Junior apoderou-se do Palácio do
Governo e do quartel da Praça, porém, somente transmudou a denominação da
Polícia Militar. Tudo persistiu como dantes no quartel do capitão PM Martins da
Silva, galgado ao posto de coronel pelo Governador Militar.
A ditadura de Vargas extinguiu a Força Policial do Amazonas,
no final de 1930. Sem dúvida, a música atravessou o ritmo ao perder o local de
trabalho, a sala de ensaio e, pior, o soldo. Os músicos, que não se retiraram
de Manaus ou assumiram outros empregos, como um bando, seguiram tocando para
sustentar a si e aos familiares. Contam as pontes de Manaus que estes se
apresentavam até nas esquinas, daí a alcunha granjeada: “banda dos abandonados”.
Decorridos seis anos, a Força Policial foi restaurada. Consolidado
o decreto governamental, o comandante da corporação, entusiasmado ao extremo
pela venturosa conquista, deu-se conta de que não possuía quartel. O da praça
transmudara-se em Escola Normal e Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Restava somente a Invernada, espaço localizado
na Praça 14 de Janeiro, onde funcionara a cavalaria e, em razão disso, era conhecido
por “Piquete”. Ponto de referência: área da Maternidade Balbina Mestrinho e do, em nossos dias, quartel do CPM (Comando do
Policiamento Metropolitano), que já foi da Rádio Patrulha, do 4º BPM e outros
quejandos.
O jeito manauara, todavia, funcionou para aquartelar os
policiais, tão reduzidos por ocasião dessa restauração. O comando da corporação
ocupou o quartel do Corpo de Bombeiros, então funcionando na avenida Sete de
Setembro. Lembro que este edifício foi ocupado por estes abnegados até o ano de
1974 e que, atualmente, o prédio arruinado encontra-se bloqueado por tapumes, em
vias de desmoronar.
Diverso do
quartel da Praça da Polícia, o da avenida Sete era bastante acanhado para o
efetivo que foi obrigado acolher. Por isso, não tenho como assegurar que a
Banda ali se instalou e, pior, se pode ensaiar, mesmo que precários fossem os
músicos. Dois anos adiante, porém, o quartel da Praça foi parcialmente
liberado, quando o Grupo Escolar foi transferido para a avenida Joaquim Nabuco,
onde ainda se encontra. A tropa da Polícia, então, retornou ao térreo do velho
“ninho”, com a atravancada situação de que o salão superior seguia tomado pelas
normalistas. Como ensaiar? Sem perturbar as alunas da Escola Normal? Não há
informação. Apenas conjecturas.
Músicos posam para foto na década de 1950 |
É sabido que, em 1940, o Governo deu início à construção do
Instituto de Educação do Amazonas (IEA), concluído dois ou três anos depois. E
mais. Os policiais deram substancial ajuda na edificação, a fim de se verem libertos
das normalistas. Ufa... Em 1942, no comando do major EB Gentil João Barbato, a
Banda de Música ocupou então uma ampla sala de “canto”, da qual se divisava
Praça da Polícia e a Rua José Paranaguá. Salão de cerca de 90 metros quadrados,
suscetível de abancar com relativa comodidade e técnica os músicos nos ensaios
e apresentações. O salão dispunha ainda de uma reserva para a guarda de
instrumentos e materiais administrativos. Finalmente, um salão para chamar de “seu”.
A despeito de oferecer restritos elementos técnicos e
básicos, este espaço atendeu à corporação musical por extenso período. Acola a
encontrei ao ingressar na PMAM, em 1966, sob a regência do tenente Ernani Puga
(1963-67). O comandante-geral, tenente-coronel EB Paulo Figueiredo, rearranjando
as dependências internas, em 1972, repaginou o centenário edifício. À ocasião,
a Banda iniciou um périplo sinistro, ao ser transferida para o quartel construído
no bairro de Petrópolis, destinado à sede da corporação. (segue)
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