Major Djalma Passos, membro da Diretoria e autor da Exposição |
Em
final de Governo sempre aparecem as maracutaias administrativas, são arrumações
quase sempre para beneficiar aos assessores que se despedem. Isso sempre
reflete no órgão de origem e repercute de forma negativa na imprensa. Os exemplos
estão no noticiário jornalístico de todos os meios.
Assim aconteceu em 1954, no encerramento do derrotado governo de Álvaro Maia, às vésperas da posse de Plínio Coelho (31 janeiro 1955), quando uma sobreposição de governadores interinos causou imensos quebra-cabeças. Um deles, afetou a Polícia Militar do Amazonas.
A lei
de promoção sancionada em dezembro de 1954 amparava aos oficiais servindo na
Casa Militar, em detrimento dos da caserna, os do batente, que se insurgiram, levando
a questão ao público por intermédio do Clube dos Oficiais.
Mais
de 60 anos depois, é possível entender a posição do Clube dos Oficiais diante
dos acordos palacianos. Somente ainda não “encontrei” o oficial que assinou
como presidente do Clube. A exposição associativa foi divulgada no Jornal do Commercio (14 janeiro 1955).
O
Clube dos Oficiais da Policia Militar do Estado, com base no artigo 2º de seus
Estatutos, vem com o mais alto respeito à presença de Vexa. expor o seguinte,
visando salvaguardar os interesses desta PM, de gloriosas tradições, bem assim
colocar o Governo a cavaleiro para melhor conceituar a Polícia Militar do
Estado perante a opinião pública:
a) —
O quadro de fixação do efetivo da PM (Lei nº 177, de 21/12/1954) alterou
sensivelmente o quadro anterior e foi executado sem a audiência do órgão
técnico competente e fugiu, portanto, aos princípios e normas militares,
tomando aspecto desprimoroso, o que motivou censuras públicas da imprensa;
b) —
Em face do exposto acima, este Clube, em sessão extraordinária em sua sede provisória,
às 14 horas de hoje, por unanimidade de votos da Diretoria, resolveu dirigir a
Vexa. o presente memorial pedindo que não sejam preenchidas as vagas
existentes pela Lei nº 177 e que, tão logo seja possível, a mesma mereça uma
revisão criteriosa de parte do Legislativo, ouvido naturalmente o órgão técnico
desta Polícia Militar que poderá apresentar um quadro isento de injunções
políticas;
c) —
O Clube, que representa o pensamento sincero e honesto de grande parte da
oficialidade do Estado, pensa que a Polícia Militar não deve ficar à mercê
dessas flutuações perigosas à disciplina e ao bom nome da Corporação e da
classe e entende perfeitamente que V. Exa. não tem nenhum objetivo em
contribuir para tais medidas, e, somente por dever do elevado cargo em que se
encontra investido, assinaria atos de tal natureza, servindo, sem uma melhor
orientação, aos interesses individuais e a manifestações de egoísmo,
incompatíveis com o decoro e a austeridade militar;
d) —
Cumpre ressaltar a V. Exa. a maneira altamente dignificadora com que dois
membros da Diretoria do Clube, que seriam promovidos a major e a capitão
respectivamente, por disposição da Lei nº 177, renunciaram plenamente a esse
direito, por entenderem que o bom nome da Polícia Militar está acima de suas
situações individuais e se declararam capazes de maiores sacrifícios assim
exija a PM, a fim de se colocar muito bem no conceito público;
e) —
Pede também não seja dado cumprimento à Lei nº 171, de 17/12/54, que modificou
a Lei nº 21, de 12/05/52 (Lei de Promoções), que subordina o merecimento dos
Oficiais ao vergonhoso processo do elogio gracioso, colocando aqueles que ainda
não possuem uma alta formação espiritual e princípios fundamentais da ética militar
e do dever, na situação deprimente de pedir elogios ou galgar a hierarquia
militar à sombra de pessoas influentes;
f) —
Pede ainda que não sejam mais concedidas promoções ao pessoal inativo desta PM
(Reserva Remunerada e Reformados), senão em virtude da Lei, promoções essas que
sem nenhum amparo legal têm onerado extraordinariamente os cofres públicos e
transformado a inatividade da Polícia Militar em uma nova e rendosa indústria.
Estas
exposições, que o Clube em boa hora faz a VExa., visam tão somente reerguer a
Polícia Militar do declínio em que vai na opinião pública e consideram também a
sua oportunidade em face da crise econômico-financeira em que se debate o
Estado, numa hora de graves preocupações em que não se justificam favores nem
agraciamentos extemporâneos. Sabendo que
elas se coadunam perfeitamente com os propósitos sadios de VExa., que tudo
tem feito para superar injunções e vencer obstáculos à frente da pública
administração de nosso Estado, subscrevemo-nos atenciosamente.
Manaus,
13 de Janeiro de 1955
Pela
Diretoria:
Capitão José Ribas, Presidente
Tenente-coronel Antonio Hosanah
Silva, Vice-presidente [médico, patrono do IML, onde serviu por décadas]
Major Djalma Passos [deputado estadual e federal]
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