CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, setembro 25, 2017

REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR

Ao tempo em que Eneida Ribeiro Ramos lançou em Manaus um livro (foto) sobre seu genitor – Ribeiro Junior – narrando a trajetória dele na história amazonense, escrevi um texto sobre a Rebelião de 1924. Movimento militar que, na esteira do tenentismo, desalojou o governador amazonense, que foi substituído pelo tenente Alfredo Augusto Ribeiro Junior (1887-1938).

Para escrever, tomei o testemunho de quem, naquele dia nefasto, se encontrava no interior do quartel da Praça da Polícia. Nessa noite, aconteceu: a Força perdeu sua força!

Minha apologia foi publicada na edição de 24 de julho de 1998, do Amazonas em Tempo, contígua à matéria sobre o lançamento da obra, que aconteceu no Palácio Rio Negro. A SEC ainda elaborou um folheto com este material que circulou nessa festa literária e até a conclusão do estoque.

Reproduzo neste espaço (em duas partes), admitindo ter realizado alguns oportunos reparos.      


A Força Policial e a Rebelião de 1924

O calendário das melhores reminiscências da Cidade reserva à Rebelião de 24 julho de 1924, chefiada por oficiais do lendário 27° BC, um lugar proeminente, a despeito de transcorrido, então, mais de sete decênios. Não intento relembrar o acontecimento apenas para repetir os encômios aos seus mentores. Com excelência, os pormenores do evento foram dissecados pela professora Mestra Eloina Monteiro, em seu livro de Mestrado.

Sou sabedor de que à mestra se juntaram nomes das letras de Manaus, bem como os privilegiados cidadãos que vivenciaram aquele momento de capacidade cívica, representado pela retomada do poder político. Melhor ainda, retomar o exercício da cidadania, para resumir em bordão hodierno.

Membro da Polícia Militar, tive unicamente este aprendizado: a milícia estadual, derrotada pelos insurretos, foi por um ato de bravata destes extinta e substituída pela Guarda Cívica.

Recorte do matutino Amazonas Em Tempo (24 julho 1998)

Ambiciono, no entanto, relatar a resistência imposta aos vitoriosos pelos ocupantes do quartel da Praça da Polícia, sob o comando do coronel Pedro José de Souza, nascido no Piauí, em 15 de agosto de 1866. Ainda que estivesse reformado por “asterio Scloraz” (nomenclatura de época, talvez a arteriosclerose moderna) exercia o comando da Força pela terceira vez (em todas foi destituído por movimentos insurrecionais), conduzido pela amizade com o governador César do Rego Monteiro (1921-24). Por essa singular razão, o comandante foi acusado de estar mancomunado com a oligarquia dominante.

Autoridades do governo

Somente para entronizar os demais personagens deste acontecimento. Governava o Estado interinamente o deputado Turiano Meira, na condição de presidente do Poder Legislativo. Era médico de profissão e da Força Policial, no posto de capitão. No outro extremo, os tenentes do Exército Ribeiro Júnior, Magalhães Barata e Aloísio Ferreira. Estes se consagraram: o primeiro no Amazonas; com o advento da Revolução de 1930, Barata no Pará (onde foi interventor e governador), em cuja capital recebeu de seus conterrâneos um Memorial; e Aloísio, no então Território Federal de Guaporé, hoje Estado de Rondônia.

Até os paralelepípedos da cidade sabiam que os tenentes chegaram na guarnição do Amazonas transferidos por "castigo", pelo cometimento de infrações disciplinares. Ao menos um, tenente Barata, já havia tentado semelhante proeza em outra praça militar. Portanto, a situação caótica reinante no Estado forneceu o pretexto para a tomada do Poder Executivo, reflexo da movimentação político-militar corrente no país, conhecida na historiografia pátria como tenentismo.

Juntou-se, pois, em Manaus — como a ilustrar o adágio — a fome do povo amazonense por liberdade e progresso, com a saciedade de militares em novas sortidas no campo político. (segue)

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