Costumo relatar que ingressei na PMAM quando esta se preparava
para comemorar seu 1º centenário, em 1966. O quartel da Praça da Policia
contava exatos 90 anos, pois a força estadual fora inaugurada em maio de 1876.
(O serviço de Bombeiros em julho do mesmo ano).
Todavia, quando em 1972, conforme conta o falecido cronista
Mario Ypiranga Monteiro, ao escrever a Síntese
Histórica da corporação, majorou a idade da Força para 135 anos, pois esta
“nasceu” em abril de 1837. E, dessa maneira, prossegue.
Por isso, a PMAM saltou o centenário para comemorar o
sesquicentenário. Aliás, o comandante-maior do festejo foi o coronel Pedro
Lustosa, que havia estimulado a publicação do “livrinho” de Monteiro, hoje obra
escassa.
O texto desta postagem foi retirado do matutino A Crítica (6.abril.1983), sendo
comandante-geral o coronel Hélcio Rodrigues Motta, no início do governo de
Gilberto Mestrinho (1983-87).
Polícia Militar do Estado
Mário Ypiranga Monteiro
Quando se comemorava o
aniversário de criação da Polícia Militar do Estado do Amazonas, calculando-se
apenas o evento do ato que criou o Regimento Militar, por Eduardo Gonçalves
Ribeiro, sugeri ao então coronel comandante Luci [Vicente Coutinho de Castro (1973-75)]
que a vida daquela corporação era mais dilatada e ofereci os subsídios mais ou
menos suficientes para que se houvesse uma noção do testemunho da força pública
da Província e do Estado nos eventos nacionais.
Coronel Luci Coutinho, recorte de A Crítica. |
Então eu já estava com uma
considerável cópia de fichas e de anotações e a história redatada em parte, só
esperando uma oportunidade para publicação. A oportunidade chegou quando o
coronel Pedro Lustosa [chefe da Casa Militar] mostrou-se interessado e concluí
a primeira redação.
O livrinho foi publicado
sob o título geral de Síntese Histórica
da Policia Militar do Estado, com apresentação de Genesino Braga, no
governo João Walter [de Andrade, 1971-75]. Foi sobre esse documentário que as
Relações Públicas da mesma corporação fez publicar nos jornais de Manaus uma
súmula, deixando de aparecer meu nome por mero esquecimento.
Entre os fatos mais
consagratórios da posição dessa milícia de que me honro de ser filiado por
condecorações e por amizade continuada, figuram a sua reação heroica às
turbulências provocadas no dia 8 de outubro de 1910 e a que me referi
recentemente numa série de artigos.
Foi a essa reação desigual
que me referi também no meu Elogio
Histórico da Policia Militar do Estado, palestra realizada a 4 de abril de
1973, no Teatro Amazonas. Elogio que de certa forma dependeu mais da atitude
sentimental do historiador sem que a história sofresse com os rasgos de
elevação retórica: não houve felizmente nenhuma influência.
Andava eu no primeiro ano
de idade quando a família foi obrigada, com milhares de outras, a procurar
refúgio nas matas distantes do bairro de São Raimundo Nonato, porque o
excelente senhor presidente Nilo Peçanha se dera ao luxo ignominioso de mandar
bombardear uma cidade pacífica.
O que ponho de relevo é
que foi nos ombros do miliciano Reis, músico, que me transportei, enquanto
horas depois e por todo o dia aziago a metralha assassina destruía propriedades
e ensanguentava lares inocentes, tudo isso sob a calma assistência do doutor Sá
Peixoto.
É daquele discurso no
Teatro Amazonas o trecho abaixo, transcrito das notícias publicadas nos jornais
quando da passagem dos 139 anos de existência da corporação:
Verdadeiros heróis do silêncio, às
vezes morriam abraçados ao silêncio, agônicos, febrentos, os olhos felizes
bebendo a alegria triunfante que cantava alto nas dobras do pavilhão nacional.
Heróis mudos da Pátria! trouxestes à nossa Polícia Militar as glórias que não
foram decantadas, mas eu imprimo na comovente comemoração desta história
singular a saudade do vosso destemor caboclo, da vossa bravura moral.
O texto acima, como outros
do meu discurso, constituem mais uma metáfora: explica-se que os componentes da
antiga Guarda Policial eram destacados para guarnecer as fronteiras e muitos
deles por lá morreram das febres sem largar o posto; ou então marcharam para a
guerra, aquela terrível guerra contra o Paraguai, cujo último herói andava
esmolando a caridade pública em 1921, e se chamava Francisco Maia.
Coronel Lustosa |
Talvez não fosse esse o
último herói, pois guardo uma entrevista realizada para o Jornal do Commércio, por mim, na sua primeira fase, com um veterano
que ainda possuía a belíssima farda e a ostentava nos dias consagrados à
Pátria.
De qualquer sorte, foi a
nossa Policia Militar, em todos os tempos, uma corporação que esteve presente
em todos os conflitos em que o Amazonas foi chamado a intervir: guerra contra o
Paraguai; guerra de Canudos; guerra contra o Acre; guerra contra o Pará;
revolução de 1924 e a última de 1930. Possui, portanto, um acervo de glórias e
a sua bandeira não foi ainda gratificada com outras condecorações merecidas.
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