1º comandante dos Bombeiros amazonenses |
O Corpo de Bombeiros do Amazonas foi criado em julho de 1876. O documento
que chancela esse feito foi assinado pelo vice-presidente da Província, no
exercício do cargo superior, Nuno Cardoso. Trata-se de um oficial da Marinha,
que durante décadas permaneceu na região, tendo ocupado cargos de relevo e adquirido
vastas propriedades.
O saudoso cronista Mário Ypiranga Monteiro é o autor das notas
aqui postadas, e que foram sacadas da edição do jornal A Crítica (14.setembro.1982)
Algumas notas sobre o capitão-tenente
Nuno Alves Cardoso
Sabe-se há muito que o
capitão-tenente Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso foi Capitão dos Portos do
Amazonas, em consequência da criação de companhias de navegação a vapor e,
consequentemente, a motivação maior do comércio fluvial entre Manaus e Belém,
Manaus-Loreto, Nauta, Laguna e Iquitos, no Peru, e Manaus-Europa-América do
Norte. Ignora-se, pelo visto, o trabalho social e humanitário desenvolvido por
aquele cavalheiro, numa época em que os surtos epidêmicos locais e introduzidos
matavam a população ainda desassistida de hospitais, de médicos e de
enfermeiros, além da carência de boticas em número compensador.
Estas notas pretendem
dizer algo mais que deixou de ser abonado pelos escassos biógrafos do ilustre
marinheiro; inclusive a sua primeira participação na Assembleia Legislativa Provincial como deputado eleito
e reconhecido por ato do presidente da Província do Amazonas, a 23 de junho de
1860, em vista de haver requerido licença ao ministro do Império para tomar
assento.
No jornal amazonense Estrela do Amazonas, de 1860, aparecem
várias notícias a respeito do lazareto de Paricari, no Pará. Naquele ano, o
capitão-tenente Nuno Cardoso havia contraído uma obrigação moral-social para
com os hansenianos do Pará, qual fosse a de arranjar por meio de subscrição
pública, algum numerário.
Fê-lo desinteressadamente,
da mesma maneira como fez a doação de suas imensas terras em [bairro] São Raimundo Nonato, para a
construção do cemitério e lazareto denominado Umirizal, mandado arrasar pelo
governador Álvaro Maia.
Fê-lo, como fez a doação
das suas terras para a construção da Vila Operária Municipal no antigo bairro
da Vila Municipal, hoje Adrianópolis. A arrecadação importou em 456$734 réis
antigos, que o capitão-tenente Nuno Cardoso encaminhou ao Governo provincial,
em vista da dissolução, mais logo, do referido lazareto, pelo governo paraense.
A importância reverteu, pois, em benefício do Colégio Nossa Senhora dos
Remédios.
O que mais nos surpreendeu
nessa coleta de dados, foi saber que o capitão-tenente Nuno Alves Pereira de
Melo Cardoso exerceu o comando de navios da Companhia de Navegação, conforme
este "Aviso", estampado no mesmo órgão amazonense, edição de 24 de
outubro de 1861: "Agência da Companhia de Navegação e Comércio do
Amazonas. O paquete a vapor Ince
comandante o capitão-tenente Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso, sairá para Laguna e portos intermediários às 5
horas da tarde de 1º de novembro vindouro. Recebe cargas para os portos do Peru
nos dias 26 e 28 e para os do Brasil 29 e 30 do corrente. As encomendas e
passagens serão recebidas até às 2 horas da tarde de 31 do corrente em que se
fecha o expediente. Manaus, 24 de outubro de 1861."
Também foi ele excelente
observador, como oficial de Marinha, dos fenômenos hídricos. No mesmo jornal,
edição de 23 de novembro de 1861, vem ele fazendo as seguintes declarações:
"a vazante do Solimões foi extraordinária", por isso que o vapor (Ince) não pôde entrar em Tefé e Coari, o
"que não havia acontecido antes com navios a vapor".
Diz que a corrente do rio
Amazonas era de quatro milhas horárias e que achou dez braças de fundo na foz
do rio Negro e "como a vazante fora de cinco braças", seguia-se que
nas enchentes o fundo era de cento e cinquenta palmos.
Não termino estas nótulas
sem precisar que encontrei naquele jornal, de sete de junho de 1862,
referências a um Nuno Alves Pereira, segundo tenente do Terceiro Batalhão de
Artilharia-a-Pé, fazendo permuta de corpos com outro segundo tenente do Corpo
de Artilharia da Província. Parece que foi mesmo em dezembro ou novembro de
1882 que faleceu o irmão do capitão-tenente, Caetano José Cardoso, pois
encontrei um agradecimento do Nuno Cardoso às pessoas que compareceram à missa
do sétimo dia.
O Comandante Nuno tem nome
de rua no Plano Inclinado [bairro de Aparecida].
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