CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, setembro 28, 2017

CENTENÁRIO DE FRANCISCA LIMA MENDONÇA

Francisca Lima Mendonça
Estava com este texto pronto para publicar no dia do centenário de nascimento de minha mãe (28 de abril de 2017), quando o Google bloqueou este espaço. Depois de longa reza e muitas promessas, hoje tive a prazerosa revelação de que posso continuar a publicar esses “papéis”. 

Para melhor marcar esta efeméride, Pedro Renato escreveu o texto abaixo, cantando as virtudes de Francisca Lima Mendonça, sua Mãe. Pronto, meu irmão, cumpri a promessa.

ODE À MINHA MÃE

FRANCISCA MENDONÇA - 28/04/2017

Hoje é teu centenário de nascimento!
Não gostaria nem conseguiria esquecer jamais,
Mesmo porque, só fisicamente, ausente estais.
Porém, o olhar cândido e o teu semblante infinito
Incólume ficou, feito uma rocha ou um granito,
E quanto valor agregaste ao nosso discernimento!

Renato Mendonça


Destes teus cem longos anos de vida,
Em apenas um terço, Deus quis que ficasses entre nós.
E nesse fausto tempo, nos cedeste a luz de muitos sóis,
Com candura, ainda nos presenteaste com o dom da beleza.
Deixaste muita saudade, sim; e um vazio imenso, com certeza,
Que ainda sentimos no nosso cotidiano, no lar e na lida.



"Brava guerreira, herança do sangue nordestino, tenaz!"
Caçula de cearenses arredios da seca, no Careiro nasceu, longe da cidade,
Na porção rural do Amazonas, no fim de um ciclo de prosperidade,
Que o látex produzia. Para buscar um horizonte, deixou seu recanto.
Idealizou sua vida, sonhou a dois, desejando o amanhã sem pranto,
Sem imaginar as artimanhas da sorte e o destino fugaz.

Vicente, o pai, pôs fim a própria vida, num descontrole emocional.
Ficou órfã muito precoce, um desatino, uma fatalidade!
Antes mesmo que a menina Chicuta alcançasse a puberdade.
A dedicada mãe, Adelaide, teve que pôr as rédeas na mão,
Para não perder o controle da família. Sob sua condução
Embarcaram na lancha Xiborena, rumo a cosmopolita Manaus.

Na cidade, a jovem Francisca obteve colocação numa panificadora famosa.
A Rosas, seu único emprego, deu-lhe chance para trabalhar como balconista,
Ali também, já trabalhava Manuel, o futuro consorte, promissor pracista.
No mesmo lugar, sem atinarem, um projeto de Deus iria unir seus destinos.
Uma cerimônia, no fronteiro Peru, juntou suas almas, sob o badalar dos sinos.
Vida a dois, vida peregrina, em busca da felicidade venturosa.

Iniciaram por Iquitos, no vizinho país andino, suas andanças;
Voltaram a Manaus, o porto seguro, para ver a cegonha chegar:
Roberto e Henrique, foram os primeiros para a jovem senhora criar.
Sequenciando a vida nômade, rumaram para o Rio de Janeiro.
Assim, Francisca Lima, nascida no distante Careiro,
E Manuel, um intrépido peruano, experimentaram mais uma mudança.

Na então Capital Federal, ansiaram a estabilidade, um período duradouro.
Todavia, com familiares, tiveram dificuldades de relacionamento humano.
No convés do Almirante Alexandrino o amargo regresso, antes de um ano.
A pressa tinha outro motivo: a cegonha novamente chegaria.
O último filho de Francisca, muito em breve nasceria.
De volta a Manaus, Renato completou a prole, um novo tesouro.

Quando tudo parecia um regozijo e uma nova guinada,
A tuberculose, o mal da época, cruzou seu caminho.
Destino insano! nem podia acalentar seus filhos no ninho.
Dona Francisca lutou contra essa indômita doença, em vão.
Não adiantou a ajuda de médicos, nem o ar puro do seu torrão.
Sua luta acabou, aos 35 anos, mas, continua viva, venerada!

Para nosso bem, a semente do Amor é o teu legado!
Onde foi semeada, gerou uma árvore, bem fincada
Apenas a Natureza a alimenta, nem precisa ser regada.
Se, em determinados momentos, nos faltou o acalanto,
E em outros, nos sobrou algum pranto,
Esse Amor floresceu, não pode ser negado!

Para comemorar o teu centenário,
Nada melhor que deixar para a futura geração,
Esta simplória ode, como se fosse uma oração,
Dedicada com todo o amor e com afeto
Para ti, venerada mãe e teu amor dileto.

É meu presente pelo teu aniversário!

Fábrica Bijou, na Praça da Polícia, onde começou o romance 

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