Igreja de Lábrea (AM) |
Esta postagem saquei do extinto O Jornal (18 de abril de 1982), cuja edição
dominical circulava com páginas fartamente literárias.
À Margem de um Livro
Padre Nonato
Pinheiro
(da Academia
Amazonense de Letras)
Li o livro LÁBREA, de autoria do Irmão Sebastião A.
Ferrarini, religioso marista, membro de uma congregação fundada pelo padre
Marcelino Champagnat, em 1817. O autor versa sobre a cidade e município de
Lábrea, sua situação geográfica, a exploração do rio Purus, dados históricos,
homens ilustres, aspectos econômicos e recursos regionais, fauna, avifauna,
ictiofauna, flora, meios de comunicação, aspecto sanitário, a presença da Igreja
e da Congregação Marista. Um volume corográfico.
O próprio autor, em sua
introdução, ressaltou a escassez das fontes e de tempo, circunstâncias que
prejudicou a obra, que é comemorativa do centenário de Lábrea, ocorrido em
1981.
Sebastião Ferrarini |
Pesquisando há 40 anos,
desde 1942, quatro anos antes de minha ordenação sacerdotal (1946), sobre a
presença da Igreja Católica no Amazonas, até hoje não divulguei o produto de
tão jongas e pertinentes rebuscas. Uma publicação histórica envolve muita
seriedade porque a história se escreve com documentos, que exigem detido exame
e cotejo no que concerne à autenticidade dos mesmos, às datas etc.
A obra do Irmão Sebastião
é muito interessante, mas numa segunda edição mereceria alguns melhoramentos,
como mais nítidos enfoques. Algumas figuras estavam a exigir melhor relevo, com
tintas mais vivas e brilhantes. Na parte concernente à fauna e a flora, a obra
se valorizaria com a ilustração dos nomes científicos, como fez o autor com a
castanheira (bertholletia excelsa) e a sorveira (sorbus domestica),
esquecendo-se da denominação científica da seringueira (hevea brasiliensis).
Permito-me fazer ligeiras
considerações sobre a presença da Igreja em Lábrea. Escreve o autor: "A assistência
pastoral organizada no Purus só acontece quando D. Macedo Costa cria a Paróquia
a 6 de setembro de 1878." Lamento que o autor tenha omitido a presença do
referido bispo do Pará em Lábrea para instalar a Paróquia e fazer a Visita
Pastoral. O arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa informa em sua notável obra
Dom Macedo Costa: "A 5 de junho
(1878) Dom Antônio segue para Manaus; em outubro faz a Visita Pastoral às
povoações do rio Purus. Regressa em novembro." (p. 375).
O autor deu o devido
relevo ao longo paroquiato do sacerdote cearense padre Francisco Leite Barbosa,
distinguido com o título de monsenhor. Ele bem o mereceu.
Entretanto, teria
gostado que o Irmão Sebastião ressaltasse a figura do terceiro vigário de
Lábrea, padre Manuel Monteiro Silva, amazonense nativo do município de Lábrea,
no lugar Carmo. Padre Monteiro foi vigário de sua paróquia natal de 1912 a
1921, quando passou o governo da mesma ao italiano padre José Tito.
Monsenhor Manuel Monteiro
da Silva foi o mais ilustre filho de Lábrea. Em Manaus, foi catedrático de Latim
(defendeu tese) do antigo Ginásio Amazonense Pedro II; duas vezes vigário-capitular
da Diocese; Vigário-Geral da Arquidiocese; deputado estadual; presidente da
Assembleia Legislativa do Amazonas, tendo assumido o governo do Estado em 1936,
na ausência do governador Álvaro Maia.
Quando ele foi distinguido
pela Santa Sé com o título de monsenhor, o autor destas linhas, então Chanceler
do Bispado, organizou uma solenidade de homenagem ao novo Camareiro de Sua
Santidade o Papa Pio XII (doze). Saudou-o o eloquente salesiano padre Estélio D’Alison.
Dom José Alvarez Mácua, bispo prelado de Lábrea, compareceu e usou da palavra,
dirigindo-se ao homenageado como "o mais ilustre filho de sua Prelazia."
Irmão Sebastião informa
que o padre Francisco Leite Barbosa foi ordenado a 13 de junho de 1876 (p.158).
Dom José Alvarez Mácua diz o mesmo em sua obra Efemérides da Prelazia de Lábrea, à p.17. Dom Alberto Ramos, em sua
Cronologia Eclesiástica da Amazônia
concorda com o dia e o ano, mas dá o mês de fevereiro (e não o de junho) como o
da ordenação: "1876 — 13 de fevereiro - Dom Antônio ordena os padres Antônio
Nicolau Tolentino, Antônio Valente Flexa, Antônio da Silveira Franca, Domiciano
Perdigão Cardoso e Francisco Leite Barbosa (p.50).
Recorte do periódico |
A figura de monsenhor
Inácio Martins ficou nítida no aspecto missionário, mas um tanto esmaecida no
plano intelectual. Foi um primoroso homem de letras, poeta inspirado e orador
de grandes remígios. Também gostaria de ver bem colorida a imagem de Dom José
em tão longo ministério pastoral e a parte saliente que teve na ida dos Irmãos
Maristas para sua Prelazia (Carta
Pastoral de Despedida, p.8).
Que me perdoe o ilustre Irmão
Sebastião A. Ferrarini! Estas notas foram sugeridas pela seriedade de sua obra,
publicada sob os auspícios do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Com
algumas restrições, considero a obra digna de leitura e apreço.
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