Depois de largo tempo bem longe – cinco
anos – voltei ao Milenium para uma
consulta com o oftalmologista. Duas surpresas me aguardavam: como sempre, uma
deleitosa e a outra nem tanto. Começo por esta. A catarata precisa ser operada.
Confesso que nem me foi um sobressalto, pois, na última consulta, a médica já
me apontara esta direção. Era somente questão de tempo, e este bendito chega com arrojo.
Aluno 111 Roberto (1966) |
Dr. Cavalcanti foi enfático, e já marcava
a cirurgia para duas semanas depois, tão logo desembarcasse de suas férias em
Portugal. Todavia, não foi possível, pois também eu estava viajando à Brasília para
rever alguns de meus amores. De retorno, outros agradáveis empecilhos vem
adiando a intervenção.
Um salto no calendário para relembrar
meus problemas com os olhos, e desse modo contar um pouco dessa evolução da
oftalmologia. Há 50 e poucos anos, quando fui prestar serviço militar tive que
enfrentar a inspeção de saúde, então realizada em grupo e em pelo. Éramos vinte
e poucos candidatos ao NPOR e, na enfermaria do 27º BC, fomos dispostos para a
famigerada seleção sanitária.
A chamada era feita por ordem alfabética.
Para minha fortuna, por me chamar Manoel, fui observando o exame dos
concorrentes, todos jovens de dezoito anos. E depois de sopra daqui, olha
dacolá, o candidato tinha sua visão examinada. Como? Não havia material
adequado na sala, como impresso alfabético afixado na parede, de maneira que o
médico (não sei se especialista) mandava o candidato ler o nome de remédios
expostos num armário envidraçado encostado em uma parede.
Quartel do 1º BIS, antigo 27BC |
Nessa ocasião, descobri minha deficiência
visual (deveria ser no plural, como foi diagnosticada muito depois). Ao
perceber o embaraço para ler as marcas ou os nomes de medicamentos expostos
adiante, passei – aproveitando as dicas dos colegas anteriores – a decorar
tudo. Assim, quando o Manoel foi chamado para o exame visual, ele o “matou de
primeira”. Saí aprovado, contente, pensando que esse subterfúgio não traria efeito.
E logo teve, bastou efetuar o treinamento
de tiro. Após o ensinamento teórico, no campo, ao praticar o alinhamento da
mira, veio o desastre: o projetil caiu alguns metros depois, antes do alvo.
Diria, foi um tiro no pé. Interrogado pelo instrutor, sargento Fraga Dantas, disse
não desconfiar da minha imperícia. Ainda assim, conclui o curso e, com a mesma
insuficiência, fui incluído na Policia Militar do Estado.
Na Força Estadual, a minha admissão em
1966 foi menos traumática. Sequer houve exame médico, ao atravessar o
centenário portão do quartel da Praça da Polícia, fui encaminhado em conjunto
com os colegas à alfaiataria do subtenente Nonato. Logo, equipado com o
famigerado cáqui, estava pronto para o serviço. E assim se passaram seis
anos... até eu desembarcar na PM cearense para um curso policial, aos 26 anos
de idade.
Obviamente, sem tratamento corretivo a crise
visual foi se agravando. Quase ao final de 1972, levado quem sabe pelo embaraço
para ler o nome do ônibus destinado a Academia
de Polícia Edgard Facó, na avenida
Mister Hall, ou as legendas de filmes rodados em cinemas da praça do Futuro, ou
a televisão que se inaugurava a cores, recorri ao especialista, que então era
nomeado de Oculista.
Aconteceu no hospital da Polícia Militar
do Ceará meu primeiro exame de vista, há 45 anos! Como gostaria de registrar o
nome desse facultativo, todavia, o implacável tempo desmanchou seu nome da
minha memória. O exame, de então, era rematado pela leitura de letras de
diversos tamanhos postadas em cartaz na parede ao fundo. A minha situação estava
para um conhecido chiste: interrogado pelo oculista pelas letras, o paciente
devolve, “mas, que parede?”.
Estava quase de tal modo, tanto que recordo
do espanto dele ao concluir o exame: “você nunca usou óculos? Seu grau de
miopia e de astigmatismo e outro desvios são acentuados”. Para encurtar a
consulta: receitou-me óculos com três graus em cada lente. E recomendou: vamos
aguardar a evolução do desvio. Quando recebi os óculos em ótica situada na
Praça do Futuro, ainda revejo minha admiração em poder tudo ler, ao vivo e a
cores.
Ainda agora são usadas letras para esse
exame, mesmo com tecnologia mais apurada.
Passei a valorizar as lentes. E, de modo
óbvio, a frequência aos exames periódicos, pois a recomendação do oculista
cearense me “perseguia”. Já em Manaus, consultei certa ocasião a um oculista: o
saudoso Dr. Avelino Pereira, que era mais político que facultativo, cujo
consultório encontrava-se na rua Henrique Martins, ali no extinto Canto do Fuxico, andar acima da A
Favorita. Atendia em uma sala bem acanhada e com equipamentos elementares.
Acredito que ele já estivesse no “terceiro tempo”.
Ao ingressar na PM, estabeleci contato
por imposição funcional com o oculista Dr. Calil Nadaf (ainda vivo). Este médico
pertencia ao Serviço de Saúde da corporação, com o posto de major. Como o SS nada
possuía de equipamentos, nenhum exame era possível ser realizado. De fato, era
uma sinecura, que o próprio Nadaf logo tratou de dispensar, passando a cuidar
de seus imóveis, onde se deu muito bem. (segue)
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