Capa do folheto |
A reprodução deste será feita em etapas.
Título geral do capítulo |
Limitar-me-ei,
todavia, a uma simples enumeração de fatos, expostos à luz da verdade sabida de
todos, com referência precisa a datas, figuras e documentos, mas em geral
desacompanhados de quaisquer comentários, que, aliás, não comportaria a
natureza sucinta desta narrativa.
Trata-se
apenas de avivar, na justa oportunidade, o que está na consciência dos bons
amazonenses, sem atenção e com desprezo absoluto aos desmemoriados, que se
negam a si mesmos, negando a própria evidência do dia de ontem.
* * *
Cheguei
a Manaus em abril de 1896, com 17 anos de idade apenas e sem nenhuma carta de apresentação
ou recomendação, como um pobre imigrante que era, dentro do meu país. E aqui
aportando, iniciei desde logo a minha vida, muito modestamente, como mero
aprendiz de tipógrafo nas oficinas do Diário Oficial do Estado. Mas, logo no ano
seguinte, regressava ao Rio, precisamente quando mais intensa ia a luta de
Canudos, entre os fanáticos de Antonio Conselheiro e as tropas do governo, constituídas
de batalhões do Exército e das forças policiais de diferentes unidades da República.
Moço, cheio de ardente civismo, imediatamente ingressei na coluna Arthur Oscar,
seguindo para a Bahia incorporado ao 22° BI, sob o comando do coronel Bento
Thomaz Gonçalves e, em seguida, por substituição, do seu bravo fiscal, major
Lydio Porto, debaixo de cujos ordens servi até vitória final dos legais. Terminada
essa sangrenta biela, de tão doloroso registro na história dos primeiros dias
do regime, voltei ao Amazonas.
Dispondo,
já então, de um círculo maior de relações, fui convidado pelo major Euzébio Caldas,
gerente do jornal “Amazonas”, para incumbir-me, como repórter, da parte
noticiosa daquela folha, dirigida e redigida, à época, pelos saudosos
amazonenses, coronéis Antonio Bittencourt e Antonio Salgado dos Santos. Fastidioso
fora rememorar, nestas linhas, a crônica do velho e tradicional órgão de publicidade,
que durante certa fase foi forçado a suspender sua publicação. Seria necessário
volver toda uma página movimentada da vida política do Estado. É tarefa para o
historiador de amanhã.
Entre
1898 e 1899, no governo Ramalho Junior, partia eu para o Acre, em companhia de
Luiz Galvez Gonçalves d'Arias, afim de tomar parte na reação que, sob a
orientação do mesmo Galvez, ali se organizou para expulsar os bolivianos que
haviam invadido a região, de lá desalojando grande número de famílias brasileiras,
cearenses, naquelas paragens radicadas desde muitos anos.
Não
há lugar também, aqui, para a rememoração desse capítulo.
Gravemente
enfermo, desci do Acre, diretamente com destino ao Rio de Janeiro, de onde
tornei a estas plagas, de meados para o fim de 99, retomando o meu obscuro
posto de auxiliar da imprensa, na redação do “Amazonas”.
Eis
que, já no governo Silvério Nery, são os acreanos de novo deslocados de suas
antigas propriedades, vindo refugiar-se nas cercanias de Puerto Alonso, um
pouco abaixo da linha Cunha Gomes, em Caquetá, Esperança e outros pontos. Tangiam-nos,
ainda uma vez, os bolivianos, comandados pelo general Rojas, com a presença até
dos generais Pando e Monte, aquele presidente e este ministro da guerra da Bolívia.
A
opinião brasileira, como é natural, alvoroçou-se com esses sucessos de
repercussão viva e imediata na capital amazonense, onde para logo se formou uma
expedição patriótica, sob os auspícios do governador Silvério Nery e direção do
denodado Dr. Orlando Corrêa Lopes.
Não
vacilei em participar espontânea e entusiasticamente dessa coluna, que se
compunha de elementos de escol no jornalismo e nas letras, e tenho o orgulho de
ter sido nela o voluntário número 1, ao lado de vultos brilhantes, logo depois
incorporados, tais, entre muitos outros, o grande Plácido de Castro, que viria
mais tarde a desempenhar papel de extraordinária relevância nos acontecimentos
do Acre; João Barreto de Menezes, José Maria dos Santos, comandante Pery
Delamare, Trajano Chacon, Ribeiro de Castro, José dos Anjos, Arnaldo Machado,
Guilherme Souto, Inácio José de Carvalho, Gentil Norberto, Avelino Chaves, para
citar dos maiores alguns já desaparecidos, e bem assim o atual diretor-proprietário
da “União Portugueza”, senhor Manoel Domingos dos Passos Gomes na gloriosa jornada,
dizem mais alto que tudo as promoções que sucessivamente obtive, passando de
cabo-sargenteante da primeira guerrilha, posto em que daqui saíra, a capitão
assistente do cominando geral de todas as forças acicatais, e sempre por atos
de bravura em árduas refregas e no desempenho de arriscadas missões de que fui
encarregado.
Em princípios de 1901, baixava, porém, a Manaus, com outros
companheiros na causa comum, e isto por solidariedade ao comandante em chefe
das nossas tropas, Dr. Orlando Lopes, em divergência, com o comando de algumas
unidades provisórias organizadas pelos próprios elementos da região.
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