O fato que compartilho
teve lugar no bairro da Matinha, ainda em fase de implantação, pois teve lugar
em meado de 1952. Uma senhora, recém chegada a Manaus, com fama de curadora de
diversos males, atraiu uma considerável multidão à sua porta. Os crentes a
chamavam de “santa” Ozita, seu nome de batismo.
A aglomeração também atraiu
a atenção policial, e Ozita foi levada à Chefatura de Polícia. O noticiário,
como este colhido de Diário da Tarde (22 julho) perdurou dias e dias, com isso aumentando a notoriedade da milagreira.
Recorte do vespertino da empresa Archer Pinto |
O noticiário da imprensa, em todos
os quadrantes do mundo, revela, vez por outra, o aparecimento de mortais, pecadores
como nós, dotados de virtudes especiais, de dons divinos, mercê dos quais, irradiam
bondade, distribuem benefícios, realizam milagres, conforme atestam aqueles
que, levados pela fé que remove montanhas, sentem os efeitos desse poder
sobrenatural.
Verdade ou não, os exemplos são
citados às dezenas, às centenas, aos milhares. Mudos falam, aleijados caminham
naturalmente, males crônicos encontram cura imediatamente, alicerçando a fé dos
que acompanham vivamente os movimentos dos novos santos ou das novas santas, e
levando à credulidade os céticos, os que vivem alheios a essas aparições, os
que não admitem a presença, entre nós, mormente na época em que vivemos, de seres
divinos ou dotados de qualquer dose de poder superior.
De qualquer maneira, porém, os
santos e as santas continuam aparecendo. Aqui, ali, alhures. Em toda parte.
UMA “SANTA”
EM MANAUS!
Na manhã de hoje, as autoridades
policiais foram surpreendidas, por uma aglomeração de pessoas em frente ao
prédio nº 250, da rua Boa Sorte, do bairro da Matinha. Tão grande era a
multidão que o delegado Ramiro Menezes determinou o envio ao local de vários
agentes para garantir a ordem, na suposição de que o povo estivesse decidido a
invadir a casa em apreço. Porém, entrando em sindicância, apurou a autoridade
que no local indicado residia uma senhora, de nome Ozita Lima, a qual, dotada
de virtudes sobrenaturais, vinha realizando uma série de milagres, sendo mesmo
chamada por todos de “Santa Ozita”.
QUEM É “SANTA
OZITA”
A reportagem dos nossos Diários
também foi atraída pela aglomeração e, no local, soube que “Santa Ozita”, Ozita
Lima — é pernambucana, tem 23 anos de idade, sendo filha de Manuel de Carvalho
e dona Jael de Carvalho Campos, tendo chegado a Manaus há cerca de 15 dias, em
companhia de seu esposo, Sr. Idalvo Corrêa Lima, viajando num dos aparelhos do
Lóide Aéreo, procedente de Belém do Pará.
Aqui chegada, "Santa Ozita"
foi residir no bairro da Matinha, à rua Boa Sorte, nº 250, onde vem realizando
"milagres", sem cobrar um centavo sequer das pessoas que a procuram,
nem sequer receita remédios, mas apenas conversa com aqueles que necessitam de
sua proteção.
OS
MILAGRES
Segundo apurou a reportagem dos
nossos Diários vários milagres foram obtidos por interferência de “Santa Ozita”.
Assim é que, há poucos dias fez andar um paralítico que a visitou, milagre que foi
confirmado à nossa reportagem pelo agente de polícia Alberto Lima. O policial
revelou que sua filha Eurideia Lima, com 18 anos de idade, estava paralítica há
15 anos e depois de visitar a milagrosa “Santa Ozita” apresenta considerável melhora.
Outro que atestou as virtudes de “Santa
Ozita”, foi o Sr. Condê Aires Pinto, funcionário do Juizado de Menores, o qual
informou ao repórter que, em 1949, sentindo fortes dores no estômago, escreveu
para “Santa Ozita”, no Estado do Ceará, onde se encontrava. E depois de receber
sua resposta se sentiu completamente curado.
LEVADA À
POLÍCIA
Face à aglomeração que aumentava minuto a minuto no bairro da Matinha,
as autoridades policiais conduziram “Santa Ozita” à repartição da rua Marechal
Deodoro, a fim de prestar declarações.
PROTESTA
O POVO DA MATINHA
Diante da atitude das autoridades policiais, dezenas
de populares protestaram, tendo, inclusive algumas pessoas comparecido à redação
dos nossos Diários, para lavrar seu protesto, o que registramos aqui. A
comissão que esteve em visita aos nossos Diários, era integrada de homens e
mulheres, tendo à frente o Sr. Roldão Horácio Ferreira, residente no Careiro, o
qual revelou-nos o seguinte: há vários anos estava prostrado numa rede acometido
de congestão. Tendo notícia da presença de “Santa Ozita” em Manaus, aqui veio trazido por sua esposa, para falar com a santa.
Roldão sentiu melhoras.
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