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sexta-feira, maio 31, 2024

"OLHOS" DE JONAS DA SILVA

 Postado em um jornal pequeno, como tantos que circularam na primeira metade do século passado, o ALMOFADINHA trazia uma expressiva novidade, quem sabe ser o primeiro dirigido e de propriedade de uma mulher: Eulina Thomé de Souza. Muito comum na época, na primeira página encontrava-se o poema de Jonas da Silva, já consagrado poeta da cidade. oxalá seja o poema inédito, segundo assinalado no texto. 

O Almofadinha circulou em primeira edição, em 2 de janeiro de 1922. Copiei o poema, adotando a ortografia vigente no país.

OLHOS

JONAS DA SILVA

São teus olhos, de Santa entre os anjos descida,

Para levar-me ao Céu ou levar-me ao Pecado,

Venezianas que dão para um mar azulado,

Verde e duplo mirante aberto sobre a Vida. 

Meu olhar é o de um rei que depois de um reinado

Numa terra de Sonhos, entre névoas perdida,

Morre como Saul, o grande rei suicida,

Pelo gládio do Tédio agudo e lanceolado. 

Que contraste entre os teus e os meus olhos e olheiras!

Os teus têm dos pombais a alegria sonora.

Os meus, fazem lembrar ogivas e seteiras 

De um castelo feudal, sobre o mar, num recife,

Onde um duende, uma sombra, um prisioneiro, chora,

Como Edmond Dantès na fortaleza d’If... 

(Inédito)

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