Postado em um jornal pequeno, como tantos que circularam na primeira metade do século passado, o ALMOFADINHA trazia uma expressiva novidade, quem sabe ser o primeiro dirigido e de propriedade de uma mulher: Eulina Thomé de Souza. Muito comum na época, na primeira página encontrava-se o poema de Jonas da Silva, já consagrado poeta da cidade. oxalá seja o poema inédito, segundo assinalado no texto.
O Almofadinha circulou em primeira edição, em 2 de janeiro de 1922. Copiei o poema, adotando a ortografia vigente no país.
OLHOS
JONAS DA
SILVA
São teus olhos, de Santa entre os anjos descida,
Para levar-me ao Céu ou levar-me ao Pecado,
Venezianas que dão para um mar azulado,
Verde e duplo mirante aberto sobre a Vida.
Meu olhar é o de um
rei que depois de um reinado
Numa terra de Sonhos,
entre névoas perdida,
Morre como Saul, o
grande rei suicida,
Pelo gládio do Tédio agudo e lanceolado.
Que contraste entre os teus e os meus olhos e olheiras!
Os teus têm dos pombais a alegria sonora.
Os meus, fazem lembrar ogivas e seteiras
De um castelo feudal,
sobre o mar, num recife,
Onde um duende, uma
sombra, um prisioneiro, chora,
Como Edmond Dantès na fortaleza d’If...
(Inédito)
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