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sábado, maio 25, 2024

VOVÔ VASCO (1892-1969)

Vasco Faria
 Seu nome era Vasco José de Farias (1892-1969), nascido em Portugal e morto em Manaus. Marcou sua existência nesta cidade como sócio da Empresa A. Bernardino, cuidando com esmero do cinema Guarani, motivo pelo
qual, devido sua devoção e acolhimento ao público, recebeu a dadivosa alcunha de
Vovô Vasco. Quando de seu falecimento, um dos admiradores publicou em A Crítica (23 ago. 1969) a crônica aqui postada.

Do matutino A Crítica, Manaus, 23 ago. 1969

A respeito deste boníssimo lusitano, celebrado em seu profundo amor às crianças, em nosso Estado desde os treze anos de idade, ninguém diz novidade. E não porque, neste instante em que lhe deploramos o trespasse, aos setenta e sete anos bem vividos nesta Cidade de trezentos janeiros, que fez sua pelo coração, seu nome excede-se em repercussão e fixa-se nesta exata expressão de beleza, de título, de distinção e agradecimento de sucessivas gerações: VOVÔ VASCO. Reconhecê-lo, aclamá-lo assim numa apoteose de vulgarização citadina, expansiva, franca, é já de si realce, esplendor. Como bem se vê e entende, é criar em torno de sua vida, sem improvisação, sem falsas aparências, uma demonstração de louvores e agradecimentos. É dar-lhe espaço, horizonte na forma belíssima, acessível de nossa clarividência, de nossa ação, de nossa estima em tê-lo feito, através de nossos vereadores, CIDADÃO DE MANAUS.

VASCO FARIA teve uma vida de bondade monumental. Não chegou a ser rico, abastado. Não morava em palácio confortável. Trabalhou, fez-se presente ao seu querido Cinema Guarani, com aquela conhecida pontualidade, até ser atingido pela brutal doença que o levou, para sempre, de nosso convívio: da companhia de devotados amigos de longos anos como Alísio Chaves Ribeiro, os irmãos Cardoso da Editora Sérgio Cardoso, e os companheiro afeiçoados da empresa A. Bernardino & Cia. Ltda.

Da meninice à plena mocidade e desta à idade respeitável pela vetustez, nesta Terra outrora aceita como das patacas, não aprendeu a criar riqueza; ser, por exemplo, dono de grande casa comercial. Não, não aprendeu isso, é fato. Mas, sem dúvida, aprendeu a criar roteiros audiovisuais de fitas vistosas, ilustrativas, harmoniosas e de bom gosto para as crianças. Era um empolgado nesse cuidado de saber associar o mais arrebatador ao mais florido de boas ações nos filmes cinematográficos que oferecia aos frequentadores mirins do Guarani. Era, nessa soberbia de espírito, de argumentos revestidos de fatos educativos, um entendido de bons programas. Não foi homem despido do alto conhecimento das telas e das estátuas. Deu-nos, a ver, algumas vazes de rápida conversa, que, em sua bela e acessível humanização, soube abrir portas e janelas, respirar ao sol e dar-se na admiração de amplos espaços e horizontes. (...)

Soube viver, confundir-se, completar-se naqueles anos belíssimos de uma época faustosa. Manaus do seu tempo de mocidade, de seu mundo real e irreal em harmonia, misturado, conheceu-o, aplaudiu-o, gritou-lhe o nome, viveu com ele os quadros pomposos, risonhos, felizes de suas grandes alegrias. Foi um venturoso nessa satisfação que voa através das ótimas camaradagens de longos anos e de tantas coisas. Camaradagem que não se isola entre os espadachins românticos da sua fase cintilante. Que é história, lembrança de entusiasmos, de fatos agradáveis em encontros fortuitos de aniversários, de ruas e logradouros públicos. (...)

Já agora, nestes três últimos anos de sua vida, quando íamos ao Cinema Guarani, ao avistar-nos, fazia-nos o indefectível sinal. Parávamos. Conversávamos. Levantava-se, ia ao seu escritório e quando voltava passava-nos às mãos: jornais, revistas, boletins informativos e notícias de Portugal. Com o seu desaparecimento perco o boníssimo amigo e as ótimas e ilustrativas publicações que mas [a mim as] dava de sua extremosa Pátria do outro lado do Atlântico.

Congratulamo-nos, mais uma vez, com o fulgurante poeta Farias de Carvalho pelo belíssimo e carinhoso soneto [O Vasco do Guarani] que lhe ofereceu no magnifico PÁSSARO DE CINZA. Igualmente com os clarividentes e ilustres vereadores da Câmara Municipal de Manaus, e com o Sr. Prefeito [Paulo Pinto Nery], em face da adesão calorosa, pelo justo e digno título com que lhe homenagearam os méritos e lhe alegraram de boas recordações a alma e o coração. (...)

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