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terça-feira, maio 14, 2024

MANUEL BESSA FILHO (1931-2023) (2)

Renovo meus respeitos ao falecido Manoel Bessa Filho, que exerceu múltiplos encargos em nossa cidade, morto em agosto do ano passado, aos 92 anos. Sempre que encontrava o xará, repetia: não sei se lhe tomo a benção (devido ao sacerdócio) ou presto a regulamentar continência, por sua atuação no Auditoria Militar da Força Estadual. Guardo, todavia, não tanto em segredo, pois os livros de assentamentos registram, com gratidão a “meia condenação” que me aplicou, quando julgado na Auditoria.

Esta homenagem ocorre com a reprodução de uma carta aberta que o então reverendo, diretor do Colégio Estadual, publicou no Diário da Tarde, de 4 de agosto de 1956, dirigida ao coronel presidente da Petrobras.

Tópico do referido vespertino, 4 ago. 1956

Sei que V. Sa. não deve dar muita importância ao que se diz na imprensa. E quando esta é do Amazonas, aí então nem se fala. O Amazonas é pobre, não tem indústrias, não tem nada mesmo, nem sequer o direito de ser sede de coisa alguma da Amazônia. Só ainda é sede de missão religiosa e inspetorias de índios. Mas leia, em todo caso, Coronel, leia o que lhe vou escrever.

Não sou ninguém na vida para dirigir-me a V. Sa. Sou o Padre Bessa, só Padre Bessa, nada mais. Renunciei ser pai pela carne abraçando o sacerdócio católico, mas tenho mil e duzentos filhos no espírito. Raramente sirvo-me da imprensa escrita ainda que milite na falada. O tempo não chega para tudo. Nem para defender-me. Se me atacam, venho aos jornais. Mas, desta vez, o negócio mudou.

Mexeram com meus filhos, Coronel, e eu sou pai. Vou contar-lhe tudo direito e veia se não tenho razão. Estou dirigindo, há menos de dois anos, o Colégio Estadual do Amazonas. Viajei pelos Estados Unidos, não recuso “Coca-Cola” gelada, mas acho que “o Petróleo é nosso”. Tive sempre a veleidade de querer formar uma juventude sadia, patriota -- mesmo sendo brasileira — crente, ao menos, do futuro do Brasil. Sou admirador, defensor e propagandista da Petrobras. Já organizei quatro excursões a Nova Olinda, lá estive quando da visita do J.K., divulgo as publicações que recebo, sem contar as palestras na Polícia Militar, no Colégio ou nos programas de rádio.

A Petrobras, até mesmo na sua organização sempre me pareceu coisa séria. Mas desta vez não foi. E é por isso que dirijo a V. Sia. No começo deste ano (não me comprometo com datas) fui procurado pelo eng. Levindo Carneiro, diversas vezes na diretoria do Colégio. Falta de sorte, nunca nos avistamos. Telefonei enfim para o Hotel Amazonas. A Petrobras precisava uns vinte rapazes, que tivessem ao menos o curso ginasial. Um curso de sondadores, ao que parece. Lá, em Nova Olinda. No começo seria duro, mas depois as coisas iriam melhorar. Mandei uma dúzia de meus filhos. Não pense que é demagogia não. Pergunte a eles se não os estimo como filhos. Visitei-os quatro vezes. Cheios de patriótica alegria eles "davam um duro” como qualquer trabalhador braçal. Aguardavam o “curso”. Os meses passaram, o trabalho continuava, o tratamento piorava. Até hoje a única palavra que ouviram sobre o assunto foi de que era aquilo mesmo e se não quisessem...

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