O saudoso acadêmico Raimundo Nonato Pinheiro, lembrando o centenário de nascimento do acadêmico José Chevalier (1882-1938), publicou sua homenagem no Jornal do Commercio (05 set. 1982)
Recorte do artigo publicado no JC, 05. set. 1982 |
No dia 13 de junho do corrente anunciava eu o centenário
de nascimento do professor José Chevalier, pelas colunas do Jornal do Commercio.
Era alagoano de Penedo, onde nasceu a 5 de setembro de 1882. Transferido para
Manaus, aqui se tornou professor de curso primário, aceitando aulas em domicílio.
Mais tarde adquiriu o Instituto Universitário Amazonense, na rua do Dr.
Moreira, prédio onde atualmente funciona a Hospedaria Garrido. Além de exercer
o magistério com exemplar devotamento, dedicou suas energias ao escotismo, no
que foi, no Amazonas, autêntico pioneiro. Lecionou português no Colégio Dom
Bosco, onde o tive como professor no ano de 1934.
Nutrindo maiores ambições, diplomou-se em Direito pela
Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Amazonas e pela Faculdade de
Direito do Rio de Janeiro. Exerceu alguns cargos públicos: diretor da Biblioteca
Pública e Arquivo (outrora funcionavam juntos) e do “Diário Oficial”.
José Chevalier Carneiro de Almeida era casado com a
professora Raimunda Paula e Souza de Chevalier. Desse conúbio nasceram dois
filhos: Walmiki Ramayana Paula e Souza de Chevalier e Wladimir Carlyle Paula e
Souza de Chevalier, ambos formados na Bahia: Ramayana em Medicina e Carlyle em
Direito. Foi observado que os filhos eram mais talentosos que seu genitor. Pelo
depoimento do escritor Péricles Moraes, tomei conhecimento de que Carlyle era
de inteligência superior à do irmão Ramayana, que entre nós deixou uma tradição
do mais vivo luzimento, assim nas letras como na oratória. Tenho em meu arquivo
algumas de suas produções mais refulgentes: páginas de ouro, recamadas de
pedrarias faiscantes. Foi um gigante da eloquência, caracterizando-se como admirável
criador de imagens empolgantes. Ofuscava e arrebatava.
Voltemos ao professor José Chevalier. Professor e
bacharel, também cultivava as letras e foi um dos sócios fundadores da Academia
Amazonense de Letras, fundada com a denominação de Sociedade Amazonense de
Homens de Letras. Ocupava a cadeira de Afonso Arinos e exerceu as funções de Secretário-Geral.
Péricles Moraes, evocando a figura de Benjamin Lima e os primórdios da
Academia, assim se pronunciou sobre Jose Chevalier:
“O outro, que se colocara ao nosso lado por forte imposição
temperamental e levado pela mesma comunhão espiritual e afetivas,
identificando-se por gestos de altruísmo e desprendimento, chamava-se José
Chevalier”.
Era meu amigo diletíssimo. Nascêramos exatamente no mesmo
ano, e eu o estremecia como a um irmão muito querido. Quando de sua morte, no
Rio, em 1938, tentei bosquejar-lhe o retrato nas molduras de “Paisagens de uma vida”
inserto em CONFIDÊNCIAS LITERÁRIAS, uma das páginas humanas e dilacerantes que
procuraram traduzir as angústias da minha emoção. Ainda agora, tanto tempo depois,
relendo-a comovidamente, sinto o amargor dos avatares que o acabrunharam, em desafio
à beleza moral do homem e às doçuras embevecedoras [sic] do seu coração”.
(Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 3, p. 8).
O professor Agnello Bittencourt também escreveu sobre José
Chevalier em seu Dicionário Amazonense de Biografias (pp. 297-299).
Estou vinculado a José Chevalier pelo discipulado (fui seu aluno de português
no Colégio Dom Bosco, em 1934) e pela sucessão acadêmica. Sucedi-lhe na cadeira
de Afonso Arinos, hoje de João Ribeiro, na Academia Amazonense de Letras. Essa mudança
de patrono requer uma elucidação. A Academia possuía 30 cadeiras. Mais tarde,
tornou-se imperioso aumentar o número para 40, imposição estatutária da Federação
das Academias de Letras do Brasil. Nessa altura, recebendo o sodalício mais 10
patronos, foi facultado aos acadêmicos permanecerem com seus patronos ou
escolherem novos. Alguns mudaram os patronos. O desembargador Arthur Virgílio,
cujo patrono era o Visconde de Taunay, tomou novo patrono: Tobias Barreto. Eu
deixei Afonso Arinos e tomei João Ribeiro, uma das maiores culturas deste país,
cuja grandeza me fascinava desde a adolescência, como gramático, filólogo,
historiador, folclorista e polígrafo.
Na Academia, não somente fui o sucessor de José Chevalier
na cadeira que ocupo, mais ainda nas funções de Secretário.
Sentir-me-ia mal, muito mal, se nesta data do centenário
de seu nascimento, não lhe prestasse esta homenagem póstuma “ab imo pectore”.
Consinta, prezado Mestre, “no assento etéreo aonde subiste”, que lhe deposite
sobre a lápide tumular, decorrido um século de sua nascença, estas humildes
flores, úmidas e viçosas de recordação e de saudade!...
Há cerca de 60 anos circulava por Manaus um certo Padre Nonato Pinheiro; poliglota, inteligentíssimo e obviamente culto, além de amante das libações etílicas e da poesia. Creio até que vez por outra frequentava o saudoso e hoje no ostracismo, "Clube da Madrugada". Era o tipo de sujeito que conversava sobre tudo, sabia tudo, discorria com maestria sobre tudo e à primeira vista parecia ser bom companheiro. Todavia, à "segunda vista!", às vezes ele passava o carro adiante dos bois e não raro dava problemas extra aos seus parceiros de farras. Sim! O padfre era farrista! Mas parece que o Vaticano suspendeu a ordem sacerdotal lá dele.
ResponderExcluirOra, os soldados PM Baiano e Anacleto eram melhores conhecedores desse tal padre Nonato e se ainda vivos, podem discorrer melhor sobre o mesmo.
Ou então, que o faça melhor o Coronel Robertinho, que é um historiador de truz.
Abração do Cabo PM De Moura da Volante de Coari