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quarta-feira, maio 01, 2024

DOIS ACADÊMICOS AMAZONENSES

 O saudoso acadêmico Raimundo Nonato Pinheiro, lembrando o centenário de nascimento do acadêmico José Chevalier (1882-1938), publicou sua homenagem no Jornal do Commercio (05 set. 1982) 

Recorte do artigo publicado no JC, 05. set. 1982

No dia 13 de junho do corrente anunciava eu o centenário de nascimento do professor José Chevalier, pelas colunas do Jornal do Commercio. Era alagoano de Penedo, onde nasceu a 5 de setembro de 1882. Transferido para Manaus, aqui se tornou professor de curso primário, aceitando aulas em domicílio. Mais tarde adquiriu o Instituto Universitário Amazonense, na rua do Dr. Moreira, prédio onde atualmente funciona a Hospedaria Garrido. Além de exercer o magistério com exemplar devotamento, dedicou suas energias ao escotismo, no que foi, no Amazonas, autêntico pioneiro. Lecionou português no Colégio Dom Bosco, onde o tive como professor no ano de 1934.

Nutrindo maiores ambições, diplomou-se em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Amazonas e pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Exerceu alguns cargos públicos: diretor da Biblioteca Pública e Arquivo (outrora funcionavam juntos) e do “Diário Oficial”.

José Chevalier Carneiro de Almeida era casado com a professora Raimunda Paula e Souza de Chevalier. Desse conúbio nasceram dois filhos: Walmiki Ramayana Paula e Souza de Chevalier e Wladimir Carlyle Paula e Souza de Chevalier, ambos formados na Bahia: Ramayana em Medicina e Carlyle em Direito. Foi observado que os filhos eram mais talentosos que seu genitor. Pelo depoimento do escritor Péricles Moraes, tomei conhecimento de que Carlyle era de inteligência superior à do irmão Ramayana, que entre nós deixou uma tradição do mais vivo luzimento, assim nas letras como na oratória. Tenho em meu arquivo algumas de suas produções mais refulgentes: páginas de ouro, recamadas de pedrarias faiscantes. Foi um gigante da eloquência, caracterizando-se como admirável criador de imagens empolgantes. Ofuscava e arrebatava.

Voltemos ao professor José Chevalier. Professor e bacharel, também cultivava as letras e foi um dos sócios fundadores da Academia Amazonense de Letras, fundada com a denominação de Sociedade Amazonense de Homens de Letras. Ocupava a cadeira de Afonso Arinos e exerceu as funções de Secretário-Geral. Péricles Moraes, evocando a figura de Benjamin Lima e os primórdios da Academia, assim se pronunciou sobre Jose Chevalier:

“O outro, que se colocara ao nosso lado por forte imposição temperamental e levado pela mesma comunhão espiritual e afetivas, identificando-se por gestos de altruísmo e desprendimento, chamava-se José Chevalier”.

Era meu amigo diletíssimo. Nascêramos exatamente no mesmo ano, e eu o estremecia como a um irmão muito querido. Quando de sua morte, no Rio, em 1938, tentei bosquejar-lhe o retrato nas molduras de “Paisagens de uma vida” inserto em CONFIDÊNCIAS LITERÁRIAS, uma das páginas humanas e dilacerantes que procuraram traduzir as angústias da minha emoção. Ainda agora, tanto tempo depois, relendo-a comovidamente, sinto o amargor dos avatares que o acabrunharam, em desafio à beleza moral do homem e às doçuras embevecedoras [sic] do seu coração”. (Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 3, p. 8).

O professor Agnello Bittencourt também escreveu sobre José Chevalier em seu Dicionário Amazonense de Biografias (pp. 297-299). Estou vinculado a José Chevalier pelo discipulado (fui seu aluno de português no Colégio Dom Bosco, em 1934) e pela sucessão acadêmica. Sucedi-lhe na cadeira de Afonso Arinos, hoje de João Ribeiro, na Academia Amazonense de Letras. Essa mudança de patrono requer uma elucidação. A Academia possuía 30 cadeiras. Mais tarde, tornou-se imperioso aumentar o número para 40, imposição estatutária da Federação das Academias de Letras do Brasil. Nessa altura, recebendo o sodalício mais 10 patronos, foi facultado aos acadêmicos permanecerem com seus patronos ou escolherem novos. Alguns mudaram os patronos. O desembargador Arthur Virgílio, cujo patrono era o Visconde de Taunay, tomou novo patrono: Tobias Barreto. Eu deixei Afonso Arinos e tomei João Ribeiro, uma das maiores culturas deste país, cuja grandeza me fascinava desde a adolescência, como gramático, filólogo, historiador, folclorista e polígrafo.

Na Academia, não somente fui o sucessor de José Chevalier na cadeira que ocupo, mais ainda nas funções de Secretário.

Sentir-me-ia mal, muito mal, se nesta data do centenário de seu nascimento, não lhe prestasse esta homenagem póstuma “ab imo pectore”. Consinta, prezado Mestre, “no assento etéreo aonde subiste”, que lhe deposite sobre a lápide tumular, decorrido um século de sua nascença, estas humildes flores, úmidas e viçosas de recordação e de saudade!...

Um comentário:

  1. Há cerca de 60 anos circulava por Manaus um certo Padre Nonato Pinheiro; poliglota, inteligentíssimo e obviamente culto, além de amante das libações etílicas e da poesia. Creio até que vez por outra frequentava o saudoso e hoje no ostracismo, "Clube da Madrugada". Era o tipo de sujeito que conversava sobre tudo, sabia tudo, discorria com maestria sobre tudo e à primeira vista parecia ser bom companheiro. Todavia, à "segunda vista!", às vezes ele passava o carro adiante dos bois e não raro dava problemas extra aos seus parceiros de farras. Sim! O padfre era farrista! Mas parece que o Vaticano suspendeu a ordem sacerdotal lá dele.
    Ora, os soldados PM Baiano e Anacleto eram melhores conhecedores desse tal padre Nonato e se ainda vivos, podem discorrer melhor sobre o mesmo.
    Ou então, que o faça melhor o Coronel Robertinho, que é um historiador de truz.
    Abração do Cabo PM De Moura da Volante de Coari

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