A postagem objetiva relembrar outro cultor das belas artes; refiro-me ao multiartista Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello (1927-2010), morto há 14 anos, em abril de 2010. A fim de recordar a amizade e nossas boas conversas, compartilho um registro do saudoso acadêmico Waldemar Batista de Salles. Salles publicou a crônica exaltando ao Anísio Mello, quando este promoveu sua primeira exposição. A amostra ocorreu na Biblioteca Pública, em 1952, mesmo ano em que Anísio publicou Minhas Vitórias Régias (poesia), e dois anos após sua estreia na literatura com Lira Nascente (poesia). (*)
(...)
Derrubando, esmagando, no entanto, este pesado véu e este ar provinciano, fomos
visitar na semana última, no andar térreo da Biblioteca Pública, a exposição de
quadros feita pelo pintor amazonense Anísio
Melo. O artista, na sua simplicidade e na sua modéstia, se nos
apresentou quadros admiráveis, nos quais se pode notar, desde logo, o brilho futuro
que o espera, nessa difícil arte de pintar. Aliás, coisa rara em pintor, além
de ser um artista de cores sóbrias e interessantes, é também poeta, pois tem
livros publicados, demonstrando, assim, que pode fazer versos e empunhar o
pincel.
Os
seus quadros, alguns dos quais de motivos locais e paisagens amazônicas, não desmerecem
qualquer artista do Sul e são expressões, sinceras, de seu gênio criador. Claro
que a pintura não pode apresentar, unicamente, modelos clássicos, à semelhança de
Rafael e tantos outros, pois a própria pintura também sofre a influência da civilização,
dessa civilização que reduziu modelos antigos e formas clássicas em monstrengos
da chamada arte moderna.
Acontece,
porém, que Anísio Mello, com rara habilidade, soube trazer aos seus quadros alguns
aspectos da natureza amazônica, trechos e ângulos de novas paisagens, vitórias
régias, igarapés e flores. Tudo enfim que serve para dar vida e beleza e que os
pinceis, pela magia do artista, apresenta aos nossos olhos ávidos de beleza.
Constituiu,
portanto, motivo de júbilo, assistir a exposição do jovem pintor amazonense,
que promete ter brilhante futuro ao lado dos melhores pintores nacionais. Não lhe
faltam talento, força de vontade, nem dotes artísticos, podendo prosseguir dando
vida e expressão, naquilo que nós outros, leigos e simples admiradores, sentimos,
mas não podemos fazer.
Não
obstante todo o barulho e gritaria que fazem em torno da chamada arte moderna,
na qual monstrengos e figuras irreconhecíveis são apresentadas como expressões de
arte, a pintura clássica ainda permanece na sua beleza e no seu esplendor,
porque se podemos hipertrofiar as cores e as figuras, não podemos alterar a própria
natureza, nem os seres que nela vivem. Assim o verdadeiro artista não procura
deformar o que na verdade não existe. Se há deformação, essa deformação existe
nos homens, não nas paisagens, na natureza.
Daí
a beleza sempre nova que encontramos na pintura, especialmente quando ela
espelha os anseios do povo ou a natureza. Há, mesmo, quadros bastante interessantes,
nos quais as tintas e as cores formam um todo harmonioso, bem expressivo, do espírito
estético do artista. E destacam-se entre esses, os denominados – Charco,
Amore, Psique, Quitunde, Paisagem amazônica e Primavera.
Enfim, um amazonense que procurou se destacar aqui mesmo, procurando fazer arte
usando a cabeça e a inteligência.
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