A respeito da evolução da Polícia Militar do Amazonas no período provincial, compartilho novo tópico do meu pretendido livro Guarda Policial (1837-1889).
Fragmento da capa do pretendido livro |
1858
Relatório à Assembleia Provincial
No Relatório apresentado à
Assembleia Provincial, em 7 de setembro, o presidente Francisco José Furtado
enfatiza as dificuldades enfrentadas pela tropa do Exército disposta na
Guarnição do Amazonas. Um dos mais graves entraves era o efetivo: do previsto
de 529 praças, existia muito próximo da metade, exatos 259 soldados. Também
faltavam nove oficiais, sob o comando do coronel José Vicente de Amorim
Bezerra, desde 10 de março.
Outro empecilho: “não havendo força de polícia”, era forçoso continuar
operando com a Guarda Nacional, em especial nos destacamentos de fronteiras.
Obviamente, o serviço policial na capital era precariamente realizado, por
deficiência de efetivo do Exército. Para suprir o impasse, o policiamento tanto
da capital quanto de outros pontos da província do Amazonas recebia o reforço
de 195 praças da Guarda Nacional. Em síntese, estava extinta, não mais existia
qualquer “comando parcial” da Guarda Policial, fundado a partir de 1837, e
acolhido por ocasião da instalação da província. Anote: um lapso de mais de 15
anos vai demandar até o retorno da Guarda Policial.
Este mesmo presidente, ao abrir a Assembleia Legislativa em 3 de maio
seguinte, enfatizou aos congressistas o surpreendente, bem reduzido número de
ocorrências policiais na província. Para sustentar sua reflexão, comparou que
“os ódios e malquerenças, a intolerância, a irritação e a inquietação, que
geram os partidos em luta, produzem muitos crimes e, algumas vezes, desfecham
revoltas declaradas – entre povos civilizados,” o que esperar de uma população
“onde dois terços dela nem ler sabem!”. Ao meu ver, politicamente incorreta tal
declaração presidencial, pois denominou os provincianos amazonenses de
incivilizados, em suma, de índios.
1860
Substituição presidencial
Na Falla presidencial abrindo
a 1ª sessão da 5ª Legislatura, em 3 de novembro, a autoridade anota que, à
falta de número adequado de tropa de linha, “continua a Guarda Nacional em
serviço de destacamento em vários pontos”. Não existe mais qualquer menção à
Guarda Policial.
Em 24 de novembro, foi empossado na presidência do Amazonas o bacharel
Manoel Clementino Carneiro da Cunha (1825-1899), oriundo da Paraíba, graduado pela
Faculdade de Direito do Recife na turma de 1848. Seu governo estende–se até 7
de janeiro de 1863, secundado por outro bacharel da Escola do Recife, da turma
de 1853, Sinval Odorico de Moura, nascido em Caxias (MA), e que também governou
as províncias da Paraíba, Piauí e Ceará.
Manuel Clementino Carneiro da Cunha |
1861
Força Pública (II)
Ao abrir a sessão ordinária da Assembleia Legislativa, em 3 de maio, o
bacharel Carneiro da Cunha, presidente provincial, esclarece sobre a Força
Pública, que fora reformulada em dezembro anterior, passando a dispor de dois
corpos, um de infantaria, outro de artilharia. Prosperava a mesma defasagem de
50% da tropa prevista para o serviço, agravada pelo efetivo do corpo de
artilharia que possuía apenas dez do previsto de 84 praças.
No mesmo tópico, alinha outro dos estorvos: “em uma província como esta,
onde não há força de polícia (destaquei) para acudir aos reclamos das autoridades
policiais e judiciárias, e existem fronteiras para serem observadas e
guardadas” (...), certamente, concluía pesaroso, esta ausência “cria muitos
embaraços à administração”. Todavia, era a única força na região.
Ainda outro atropelo. A Guarda Nacional, dispensada pelo atual governo,
deixa de atuar “no serviço diário da guarnição” da capital da Província. Um ano
depois, em semelhante solenidade, Carneiro da Cunha em Relatório aos
deputados fundamenta sua motivação em não instalar o Corpo de Trabalhadores,
conservando a prática de seus antecessores. Eis o motivo básico: esta
instituição não se coadunava “com os princípios cardeais do sistema liberal”. E
cita as restrições à Constituição do Império, como a liberdade do trabalho e da
indústria, permitindo, assim, abusos e vícios, que não se podem prevenir.
Enfim, assegura que o Corpo se encontra extinto.
Não diz, mas
não se vislumbra mais qualquer sinal da Guarda Policial, estando o policiamento
a cargo da Força Terrestre, mesmo com suas acentuadas carências. Por esse fato,
a Guarda é reclamada em toda a rovíncia, e essa necessidade de policiamento
segue incomodando aos presidentes. (segue)
Nenhum comentário:
Postar um comentário